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A nova negação do imperialismo na esquerda ocidental
John Bellamy Foster (*)
É um sinal da profundidade da crise estrutural do capital no nosso tempo que, desde o início da Primeira Guerra Mundial e da dissolução da Segunda Internacional - durante a qual quase todos os partidos social-democratas europeus se juntaram à guerra interimperialista do lado dos seus respetivos Estados-nação -, a divisão sobre o imperialismo na esquerda tenha assumido dimensões tão sérias (1). Embora as secções mais eurocêntricas do marxismo ocidental tenham procurado, durante muito tempo, atenuar a teoria do imperialismo de várias formas, a obra clássica de V. I. Lenine, Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo (escrita em janeiro-junho de 1916) manteve, no entanto, a sua posição central em todas as discussões sobre o imperialismo durante mais de um século, devido não só ao seu acerto, na explicação da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais, mas também à sua utilidade para explicar a ordem imperial do pós-Segunda Guerra Mundial (2). No entanto, longe de estar isolada, a análise global de Lenine foi complementada e atualizada em várias ocasiões pela teoria da dependência, a teoria da troca desigual, a teoria dos sistemas mundiais e a análise da cadeia de valor global, tendo em conta novos desenvolvimentos históricos. Através de tudo isto, tem havido uma unidade básica na teoria marxista do imperialismo, informando as lutas revolucionárias globais.
No entanto, hoje em dia, esta teoria marxista do imperialismo está a ser comummente rejeitada, em grande parte, se não na totalidade, por autoproclamados socialistas do Ocidente com um viés eurocêntrico. Assim, o fosso entre as perspetivas do imperialismo defendidas pela esquerda ocidental e as dos movimentos revolucionários do Sul global é maior do que em qualquer outra altura do século passado. Os fundamentos históricos desta divisão residem no declínio da hegemonia dos E.U.A. e no enfraquecimento relativo de toda a ordem mundial imperialista centrada na tríade Estados Unidos da América, Europa e Japão, confrontada com a ascensão económica das antigas colónias e semicolónias do Sul global. O declínio da hegemonia norte-americana tem sido acompanhado, desde o desaparecimento da União Soviética, em 1991, pela tentativa dos E.U.A./NATO de criar uma ordem mundial unipolar dominada por Washington. Neste contexto de extrema polarização, muitos na esquerda negam agora a exploração económica da periferia pelos países imperialistas centrais. Além disso, este facto tem sido acompanhado, mais recentemente, por fortes ataques à esquerda anti-imperialista.
Assim, somos agora frequentemente confrontados com proposições contraditórias, emanadas da esquerda ocidental, tais como (1) uma nação não pode explorar outra; (2) não existe o capitalismo monopolista como base económica do imperialismo; (3) a rivalidade imperialista e a exploração entre nações foram substituídas por lutas de classe globais no âmbito de um capitalismo transnacional totalmente globalizado; (4) todas as grandes potências atuais são nações capitalistas empenhadas numa luta interimperialista; (5) as nações imperialistas devem ser julgadas, principalmente, num espetro que vai do democrático ao autoritário, de modo que nem todos os imperialismos são criados iguais; (6) o imperialismo é simplesmente uma política de agressão de um Estado contra outro; (7) o imperialismo humanitário destinado a proteger os direitos humanos é justificado; (8) as classes dominantes do Sul global já não são anti-imperialistas e têm uma orientação transnacionalista ou subimperialista; (9) a “esquerda anti-imperialista” é “maniqueísta” no seu apoio ao moralmente “bom” Sul global contra o moralmente “mau” Norte global; (10) o imperialismo económico foi agora “invertido”, com o Leste/Sul global a explorar agora o Oeste/Norte global; (11) a China e os Estados Unidos da América encabeçam blocos imperialistas rivais; e (12) Lenine foi sobretudo um teórico do interimperialismo e não do imperialismo entre o centro e a periferia (3).
Para compreender as complexas questões teóricas e históricas aqui envolvidas, é importante voltar à análise de Lenine sobre o imperialismo, concebendo-a não apenas em termos de Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo, mas com referência a todo o seu conjunto de escritos sobre o imperialismo de 1916-1920. Será então possível perceber como é que a teoria do sistema mundial imperialista se desenvolveu, ao longo dos últimos cem anos, com base na análise de Lenine e nos primórdios da Internacional Comunista (Comintern), seguida de novos aperfeiçoamentos teóricos, após a Segunda Guerra Mundial, no trabalho dos principais teóricos da dependência, das trocas desiguais, do sistema-mundo capitalista e das cadeias globais de valor. Esta história irá preparar o terreno para criticar a atual negação do imperialismo por grande parte da esquerda.
A teoria geral de Lenine sobre o imperialismo
É uma indicação do enorme poder da análise de Lenine em Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo, que os pensadores de esquerda que afirmam que o imperialismo foi transcendido não deixem de fazer referência à obra clássica de Lenine. Assim, é hoje comummente defendido pela esquerda eurocêntrica que Lenine não se centrou nas questões da desigualdade entre países colonizadores e colonizados ou entre centro e periferia. Em vez disso, dizem-nos que ele via o seu trabalho como estando principalmente relacionado com o conflito horizontal entre as grandes potências capitalistas (4). Assim, William I. Robinson, um distinto professor de Sociologia da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, e membro do conselho executivo da Associação de Estudos Globais da América do Norte (GSA), chega ao ponto de insistir que a teoria do imperialismo de Lenine nada tinha a ver com a exploração de uma nação por outra.
“A ideia que predomina entre os militantes de esquerda é a de que Lenine avançou com uma teoria do imperialismo baseada no Estado-nação ou no território. Isso é fundamentalmente errado. Ele propôs uma teoria baseada na classe. Uma nação não pode explorar outra nação - isso é apenas uma reificação absurda. O imperialismo sempre foi uma relação de classe violenta, não entre países, mas entre o capital global e o trabalho global.... A maioria da esquerda vê o explorador como uma “nação imperialista”. Trata-se de uma reificação, na medida em que as nações não são nem nunca foram macro-agentes. Uma nação não pode explorar ou ser explorada” (5).
No entanto, longe de a exploração de uma nação por outra ser fundamentalmente oposta ao marxismo, Karl Marx não exibiu mais do que desprezo por todos aqueles que, segundo ele, não conseguiam ver “como é que uma nação pode enriquecer à custa de outra” (6). Do mesmo modo, Lenine defendeu explicitamente, em Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo, que a tendência dominante do imperialismo era “a exploração de um número crescente de nações pequenas ou fracas por um grupo extremamente pequeno das nações mais ricas e poderosas”. Mais tarde, afirmou que “a exploração das nações oprimidas... e especialmente a exploração das colónias por um punhado de Grandes Potências” era a raiz económica do imperialismo. Lenine deixou absolutamente claro que referir-se à exploração neste contexto significava que uma nação imperialista no centro do sistema mundial capitalista “retira lucros excedentários” de uma nação oprimida no mundo colonial/semicolonial/dependente (7).
Ainda assim, segundo Vivek Chibber, professor de Sociologia na Universidade de Nova Iorque e editor da revista Catalyst, toda a conceção de Lenine do imperialismo económico como capitalismo monopolista era “imperfeita”, tal como as noções de Lenine de que o imperialismo era económico (e não simplesmente político) e de que havia um estrato superior da classe trabalhadora (a aristocracia operária) nos países capitalistas ricos que beneficiava do imperialismo. Em todos estes aspetos, sugeriu Chibber, a análise de Lenine estava errada, enquanto o significado da sua teoria se confinava principalmente ao domínio da concorrência intercapitalista (8).
Estes graves equívocos relativamente à teoria de Lenine e à sua relevância contemporânea devem-se, em parte, à tendência dos académicos radicais do Ocidente para estudarem o seu Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo abstraindo dos seus outros escritos importantes sobre o imperialismo. Estes incluem seis peças-chave, escritas entre 1916-1920: ‘A Revolução Socialista e os Direitos das Nações à Autodeterminação (Teses)’ (escrito em janeiro-fevereiro de 1916); ‘O Imperialismo e a Cisão no Socialismo’ (escrito em outubro de 1916); ‘Discurso ao Segundo Congresso de Organizações Comunistas dos Povos do Leste de Toda a Rússia’ (novembro de 1919); ‘Anteprojeto de Teses Sobre as Questões Nacional e Colonial’ (para o Segundo Congresso da Internacional Comunista [junho de 1920]); ‘Prefácio às edições francesa e alemã’ do seu livro sobre o imperialismo (6 de julho de 1920); e ‘Relatório da Comissão para as Questões Nacional e Colonial’ (26 de julho de 1920) (9). Estes escritos adicionais de Lenine, na sua maioria posteriores, sobre as questões nacional e colonial complementam Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo, centrando-se diretamente na questão da exploração dos países subdesenvolvidos pelas grandes potências imperialistas, principalmente os Estados Unidos da América, a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, a Itália e o Japão (que hoje, com a adição do Canadá, constituem o Grupo dos Sete, ou G7) (10).
“Se fosse necessário dar a definição mais breve possível de imperialismo”, escreveu Lenine em Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo, “teríamos de dizer que o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo”. A ascensão da acumulação monopolista tinha suplantado a era da livre concorrência, criando uma esfera de enormes lucros excedentes em relativamente poucas corporações, que vieram a dominar a economia (11). Nas cinco caraterísticas do imperialismo que Lenine enumerou logo a seguir, enfatizou a concentração e centralização do capital à escala nacional e mundial como a principal caraterística do imperialismo. A segunda caraterística era a fusão do capital industrial e bancário para formar o capital financeiro e uma oligarquia financeira. A terceira foi a exportação de capital, distinta da exportação de mercadorias, ou seja, a deslocação do capital para um campo de operação global. A quarta, que resume as três anteriores, foi o domínio do mundo por um número relativamente pequeno de monopólios capitalistas internacionais. A quinta foi a conclusão da “divisão territorial do mundo entre as grandes potências capitalistas” (12).
A análise de Lenine opunha-se fortemente à de Karl Kautsky, o principal teórico do Partido Social-Democrata Alemão, que defendia que o imperialismo evoluiria para um “ultraimperialismo”, em que os principais países capitalistas se unificariam através de uma “federação dos mais fortes”, tese que viria a ser desmentida pela Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Embora os principais Estados capitalistas tenham criado uma frente imperialista mais coletiva após a Segunda Guerra Mundial, tal resultou da hegemonia global dos Estados Unidos da América, que reduziu os outros principais Estados capitalistas ao estatuto de parceiros menores. De um modo geral, a visão de Kautsky do imperialismo como política tem-se revelado incomensuravelmente mais fraca do que a visão de Lenine do imperialismo como sistema (13).
Como observou a Research Unit for Political Economy (RUPE, Índia), “o foco do Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo, de Lenine, centrava-se na descoberta do carácter da [Primeira] guerra mundial e das suas raízes no próprio capitalismo; assim, não explorou nesse trabalho específico o impacto do imperialismo nas colónias e semicolónias“ (14). Para chegar a essa parte da sua análise, é necessário olhar para os outros escritos de Lenine sobre o imperialismo, na sua maioria posteriores, numa altura em que ele foi diretamente confrontado com a luta anti-imperialista nas nações da periferia, particularmente na Ásia, no contexto da formação do Comintern. Após a Revolução de Outubro, a Rússia Soviética foi imediatamente confrontada com as intervenções militares das potências imperiais ao lado das forças brancas na Guerra Civil Russa. Winston Churchill, observou Lenine, proclamou alegremente que a Rússia estava a ser invadida por “uma campanha de catorze nações”, principalmente as grandes potências imperiais dos Estados Unidos da América, Grã-Bretanha, França, Itália e Japão, que estavam unidas na sua oposição à Revolução de Outubro (15). Ao mesmo tempo, a Revolução Russa inspirou grandes insurreições na Ásia, como o movimento do 4 de maio na China (1919), a agitação anti-Rowlatt Act na Índia (1919) e a Grande Revolução Iraquiana (1920) (16).
Lenine era, evidentemente, um pensador político demasiado hábil para não reconhecer as implicações destes novos movimentos revolucionários. Por isso, concentrou-se ainda mais na exploração das economias subdesenvolvidas, que sempre foi a principal contradição histórica subjacente à sua análise do imperialismo como um todo. A exploração das colónias, semicolónias e dependências pelas potências imperiais já era visível nos escritos de Lenine em 1916. Em ‘A Revolução Socialista e os Direitos das Nações à Autodeterminação’, argumentou que era possível um certo grau de autodeterminação para algumas nações colonizadas/dependentes sob o capitalismo, mas apenas se isso fosse conseguido por meio de revoluções. Essas revoluções na periferia do sistema acabaram por exigir revoluções nas metrópoles. “Nenhuma nação”, escreveu, referindo-se a uma afirmação anterior de Marx, “pode ser livre se oprimir outras nações” (17).
Em ‘O Imperialismo e a Cisão no Socialismo’, Lenine afirmou:
“Um punhado de países ricos - há apenas quatro deles, se nos referirmos à riqueza independente, realmente gigantesca e “moderna”: Inglaterra, França, Estados Unidos da América e Alemanha - desenvolveram o monopólio em vastas proporções, obtêm sobrelucros que atingem centenas, se não milhares, de milhões, “cavalgam nas costas” de centenas e centenas de milhões de pessoas noutros países e lutam entre si pela divisão dos despojos particularmente ricos, particularmente gordos e particularmente fáceis. Isto [a exploração e os despojos que ela proporciona], de facto, é a essência económica e política do imperialismo” (18).
Lenine não só argumentou que o capital monopolista explorava as colónias, semicolónias e dependências, obtendo por estes meios sobrelucros, mas que isso, como Friedrich Engels já tinha insinuado, lhe permitia “subornar” uma pequena parte da classe trabalhadora (o estrato superior do trabalho), uma proposição conhecida como a tese da aristocracia do trabalho (19). Reiteraria este facto de forma enfática no seu prefácio de 1920 a Imperialismo: O Estádio Supremo do Capitalismo (20). Era isto, argumentava ele, que explicava a natureza mais conservadora do movimento britânico da classe trabalhadora, bem como o de todos os países imperialistas centrais. A resposta aqui, “se quisermos permanecer socialistas”, escreveu ele, é “descer cada vez mais fundo”, abaixo do estreito estrato superior da classe trabalhadora, “até às massas reais; este é todo o significado e todo o objetivo da luta contra [o] oportunismo” da aristocracia operária e da social-democracia (21).
No seu ‘Discurso ao Segundo Congresso de Toda a Rússia das Organizações Comunistas dos Povos do Leste’, Lenine sublinhou como uma “secção insignificante da população mundial” se tinha dado “o direito de explorar a maioria da população do globo”. Nestas circunstâncias, a luta contra o imperialismo chegou mesmo a ter prioridade sobre a luta de classes, embora permanecessem intrinsecamente ligadas. “A revolução socialista não será apenas, ou principalmente, uma luta dos proletários revolucionários em cada país contra a sua burguesia - não, será uma luta de todas as colónias e países oprimidos pelo imperialismo, de todos os países dependentes, contra o imperialismo internacional.... A guerra civil do povo trabalhador contra os imperialistas e exploradores em todos os países avançados está a começar a ser combinada com guerras nacionais contra o imperialismo internacional” (22).
Lenine avançou ainda mais esta posição no ‘Anteprojeto de Teses sobre as Questões Nacional e Colonial’. Ele traçou uma distinção nítida entre as “nações oprimidas, dependentes e sujeitas” e “as nações opressoras, exploradoras e soberanas”. Aqui ele deixou claro que “o internacionalismo proletário exige... que os interesses da luta proletária em qualquer país sejam subordinados à luta em escala mundial”. O capitalismo, argumentou ele, procurava muitas vezes disfarçar o nível de exploração internacional através da criação de Estados que eram nominalmente soberanos, mas que estavam de facto dependentes dos países imperiais “económica, financeira e militarmente” (23).
O ‘Relatório da Comissão sobre as Questões Nacional e Colonial’, redigido por Lenine, reiterou estes pontos e concluiu que, nas atuais condições de subdesenvolvimento das nações oprimidas, “qualquer movimento nacional só pode ser um movimento democrático-burguês”. Estas lutas “nacional-revolucionárias”, apesar do seu caráter de classe predominante, precisam de ser apoiadas, mas apenas enquanto forem lutas “genuinamente revolucionárias”. Rejeitou veementemente o ponto de vista de que tais revoluções “têm inevitavelmente de passar pela fase capitalista”, argumentando antes que, dada a sua composição de classe anti-imperialista e complexa, e com o exemplo da União Soviética perante elas, poderiam antes desenvolver-se em movimentos genuínos em direção ao socialismo, que realizariam muitas das tarefas de desenvolvimento associadas ao capitalismo em termos não capitalistas” (24).
O ‘Anteprojeto de Teses sobre as Questões Nacional e Colonial’ de Lenine, quando apresentado ao Segundo Congresso do Comintern, foi seguido, com o apoio de Lenine, por ‘Teses Suplementares sobre a Questão Nacional e Colonial’, escritas pelo marxista indiano M. N. Roy, que foram adotadas juntamente com o ‘Anteprojeto’ de Lenine. A passagem chave nestas ‘Teses Suplementares’ era a declaração explícita de que o imperialismo tinha distorcido o desenvolvimento económico nas colónias, semicolónias e dependências. Colónias como a Índia tinham sido desindustrializadas, bloqueando o seu progresso. As potências imperiais tinham extraído sobrelucros dos “países economicamente atrasados” e das colónias:
“A dominação estrangeira obstrui constantemente o livre desenvolvimento da vida social; portanto, o primeiro passo da revolução deve ser a remoção dessa dominação estrangeira. A luta para derrubar a dominação estrangeira nas colónias não significa, portanto, subscrever os objetivos nacionais da burguesia nacional, mas muito mais aplanar o caminho para a libertação do proletariado das colónias.... A verdadeira força, a base do movimento de libertação, não se deixará forçar a entrar no quadro estreito do nacionalismo democrático-burguês nas colónias. Na maior parte das colónias já existem partidos revolucionários organizados que trabalham em estreito contacto com as massas trabalhadoras” (25).
Dois anos mais tarde, nas ‘Teses sobre a Questão Oriental’ do Quarto Congresso do Comintern, em 1922, foram introduzidas algumas das noções centrais associadas à teoria da dependência:
“Foi este enfraquecimento [pós-Primeira Guerra Mundial] da pressão imperialista nas colónias, juntamente com a rivalidade cada vez maior entre os diferentes grupos imperialistas, que facilitou o desenvolvimento do capitalismo autóctone nos países coloniais e semicoloniais, que se expandiu e continua a expandir para além dos limites estreitos e restritivos do domínio imperialista das grandes potências. Anteriormente, o capitalismo das grandes potências procurava isolar os países atrasados do comércio económico mundial, para assim assegurar o seu estatuto de monopólio e obter sobrelucros com a exploração comercial, industrial e fiscal desses países. O crescimento das forças produtivas autóctones nas colónias está em contradição irreconciliável com os interesses do imperialismo mundial, cuja essência é tirar partido da variação do nível de desenvolvimento das forças produtivas em diferentes áreas da economia mundial para obter sobrelucros monopolistas” (26).
As ‘Teses sobre o Movimento Revolucionário nas Colónias e Semicolónias’ do Sexto Congresso do Comintern, em 1928, representaram um ponto alto na teoria do imperialismo no período entre guerras. Aí se afirmava que “Toda a política económica do imperialismo em relação às colónias é determinada pelo seu esforço para preservar e aumentar a sua dependência, para aprofundar a sua exploração e, tanto quanto possível, para impedir o seu desenvolvimento independente.... A maior parte da mais-valia extorquida da… mão de obra barata” nas colónias e semicolónias é exportada para o estrangeiro, resultando numa “sangria da riqueza nacional dos países coloniais” (27).
O problema teórico e prático mais difícil era a base de classe da revolução anti-imperialista nos países subdesenvolvidos. Lenine tinha sublinhado que a revolta contra o imperialismo teria de realizar os objetivos de desenvolvimento normalmente associados à burguesia nacional, mas que a natureza da luta “nacional revolucionária” não seria necessariamente determinada pela burguesia nacional. Mao Zedong viria a dar um importante contributo para a luta anti-imperialista e para a revolução socialista na sua ‘Análise das Classes na Sociedade Chinesa’, em 1926. Aqui Mao argumentou que a grande burguesia monopolista-capitalista, juntamente com a classe dos proprietários rurais, constituía uma formação de classe compradora que servia de apêndice do capital internacional. A diminuta burguesia nacional, por sua vez, era demasiado fraca e procurava sobretudo transformar-se numa grande burguesia. As forças revolucionárias dependiam assim da pequena burguesia, do semiproletariado, do proletariado e, em última análise, dos camponeses (28).
Todos estes e a maioria dos desenvolvimentos subsequentes na teoria do imperialismo tiveram as suas raízes em Lenine. Como escreveu Prabhat Patnaik,
“O significado do Imperialismo de Lenine reside no facto de ter revolucionado totalmente a perceção da revolução. Marx e Engels já tinham visualizado a possibilidade de os países coloniais e dependentes terem as suas próprias revoluções, mesmo antes da revolução proletária na metrópole, mas estes dois conjuntos de revoluções eram vistos como sendo desarticulados; e tanto a trajetória da revolução na periferia como a sua relação com a revolução socialista na metrópole permaneciam pouco claras. O Imperialismo de Lenine não só ligava os dois conjuntos de revoluções, como também fazia da revolução nos países periféricos uma parte do processo de evolução da humanidade para o socialismo. Assim, o processo revolucionário era visto como um todo integrado (29).
Dependência, troca desigual, o sistema mundial imperialista e as cadeias de valor globais
Após a Segunda Guerra Mundial, o sistema mundial imperialista tinha evoluído historicamente para além das condições geopolíticas do tempo de Lenine. Os Estados Unidos da América eram agora a potência hegemónica inquestionável do sistema mundial capitalista e lançaram imediatamente uma Guerra Fria dedicada a “conter” a União Soviética, ao mesmo tempo que reprimiam a revolução em todo o mundo. No entanto, uma vaga revolucionária descolonizadora, em grande parte inspirada no marxismo, varreu a Ásia e a África, após o triunfo da Revolução Chinesa, em maio de 1949.
Ao contrário da Ásia e da África, a América do Sul e Central incluíam relativamente poucas colónias oficiais, devido às suas revoltas anticoloniais do século XIX contra Espanha e Portugal, que levaram à formação de Estados soberanos. No entanto, os Estados latino-americanos estavam há muito reduzidos a dependências económicas ou neocolónias, primeiro da Grã-Bretanha e depois dos Estados Unidos da América. Assim, a principal questão na região era ultrapassar a dependência económica, política e cultural imposta pelo imperialismo norte-americano. Pode dizer-se que a teoria marxista latino-americana, particularmente no que diz respeito ao imperialismo, teve as suas raízes no trabalho do marxista peruano José Carlos Mariátegui, que escreveu em 1929: “Somos anti-imperialistas porque somos marxistas, porque somos revolucionários, porque nos opomos ao capitalismo com o socialismo... e porque na nossa luta contra o imperialismo estrangeiro estamos a cumprir o nosso dever de solidariedade com as massas revolucionárias da Europa” (30). Na altura em que Mariátegui escrevia isto, a luta de Augusto César Sandino contra a intervenção dos E.U.A. na Nicarágua estava a despertar a consciência anti-imperialista em toda a América Latina. Mais tarde, a vitória da Revolução Cubana em 1959, inspirada no anti-imperialismo de José Martí, e evoluindo para uma luta pelo socialismo, trouxe mais uma vez à tona a revolução contra o imperialismo na América Latina, que se juntou à Ásia e à África a este respeito (31).
Devido à onda revolucionária em todos os três continentes do Terceiro Mundo nas primeiras décadas do período pós-Segunda Guerra Mundial, a análise original de Lenine sobre o imperialismo foi aprofundada e ampliada, desenvolvendo-se numa rica tradição global que reflete muitas condições históricas e vernáculos diferentes – mas apontando sempre para a necessidade da luta revolucionária.
Uma figura importante no desenvolvimento da teoria do imperialismo e da teoria da dependência após a Segunda Guerra Mundial foi Paul A. Baran, autor de A Economia Política do Crescimento (1957) (32). Baran nasceu em Nikolaev, na Ucrânia, no Império Russo Czarista em 1910. Mais tarde, emigrou para os Estados Unidos da América e estudou Economia na Universidade de Harvard durante a revolução keynesiana. Durante a Segunda Guerra Mundial e imediatamente a seguir, trabalhou com o gabinete de estudo de bombardeamento estratégico, na Alemanha e no Japão. Após a guerra, trabalhou para o Conselho da Reserva Federal e, mais tarde, obteve um cargo efetivo como professor de Economia na Universidade de Stanford. Antes da publicação de A Economia Política do Crescimento, Baran apresentou uma série de palestras na Universidade de Oxford, onde grande parte do livro foi preparado, e foi contratado pelo Instituto Indiano de Estatística em Calcutá (33). Foi um forte defensor da Revolução Cubana e exerceu uma influência importante sobre Che Guevara. Em 1966, Baran e Paul M. Sweezy escreveram Capitalismo Monopolista: Um ensaio sobre a ordem social e económica americana (34).
Refletindo esta formação extremamente ampla, Baran incorporou no seu trabalho não só as teorias imperialistas de Lenine, do Comintern e de Mao, mas também as experiências de planeamento económico soviético e indiano. Ao mesmo tempo, integrou isto com as novas condições do período pós-Segunda Guerra Mundial. Estava, portanto, bem colocado para emergir como um pensador fundamental na teoria marxista da dependência. Defendia que o imperialismo tinha “distorcido imenso” e bloqueado o desenvolvimento em todo o mundo subdesenvolvido (35). Em 1830, os países do que seria depois chamado o “Terceiro Mundo” representavam 60,9 por cento do potencial industrial mundial. Em 1953, este valor tinha caído para 6,5 por cento (36). Ao introduzir o seu conceito de excedente económico (na sua forma mais simples, “a diferença entre a produção corrente real da sociedade e o seu consumo corrente real”), Baran explicou que a raiz do problema que impede o desenvolvimento nos países subdesenvolvidos foi o desvio do excedente pelas principais potências imperialistas, que depois investiram esse excedente apropriado nas suas próprias economias, ou então na periferia, de modo a aumentar a sua exploração a longo prazo dos países subdesenvolvidos (37). Tal como aconteceu com Engels e Lenine, Baran argumentou que uma camada superior de trabalhadores nos países do centro imperial beneficiou indiretamente do imperialismo, e formou assim uma “‘aristocracia operária’ que recolhe as migalhas da mesa monopolista”, em dissonância com a maior parte da classe trabalhadora (38).
Uma componente importante da teoria da dependência de Baran foi a comparação do Japão com a Índia. O Japão representou um exemplo singular de desenvolvimento económico fora da Europa ou das colónias europeias de colonização branca. As potências imperialistas concentraram os seus esforços na Ásia Oriental no século XIX, principalmente na subjugação da China, e assim não conseguiram colonizar o Japão. Com a Restauração Meiji em 1868, que ocorreu em resposta às crescentes ameaças militares e à imposição nascente de tratados desiguais por parte do Ocidente, o Japão foi capaz de criar a base social interna para a rápida industrialização, facilitada pela apropriação do conhecimento tecnológico ocidental. Em 1905, a entrada do Japão no estatuto de grande potência foi assinalada pela sua vitória na Guerra Russo-Japonesa. Em contraste, a Índia, que tinha sido colonizada pelos britânicos no século XVIII, viu a sua indústria destruída pelos britânicos e foi colocada num estado permanente de subdesenvolvimento ou desenvolvimento dependente (39).
Seguindo Mao, Baran insistiu que uma classe compradora ou grande burguesia (aliada aos grandes latifundiários) nos países subdesenvolvidos estava diretamente ligada ao capital internacional e desempenhava um papel parasitário em relação às suas próprias sociedades (40). “A principal tarefa do imperialismo no nosso tempo”, escreveu, era “prevenir ou, se tal for impossível, abrandar e controlar o desenvolvimento económico dos países subdesenvolvidos”. Explicou que, “Embora tenha havido grandes diferenças entre os países subdesenvolvidos”, a este respeito, “o mundo subdesenvolvido como um todo tem enviado continuamente uma grande parte do seu excedente económico para países mais avançados por conta de juros e dividendos. O pior de tudo, porém, é que é muito difícil dizer qual foi o maior mal no que diz respeito ao desenvolvimento económico dos países subdesenvolvidos: a remoção do seu excedente económico pelo capital estrangeiro ou o seu reinvestimento por empresas estrangeiras” (41). Em quase todos os aspectos, a economia dependente era um mero “apêndice do ‘mercado interno’ do capitalismo ocidental” (42). O único recurso, então, era a revolução contra o imperialismo e a criação de uma economia socialista planificada. Aqui Baran apontou o exemplo da China, que, ao sair “da órbita do capitalismo mundial”, se tornou uma fonte de “encorajamento e inspiração para todos os outros países coloniais e dependentes” (43).
A Economia Política do Crescimento foi publicada apenas dois anos depois da Conferência de Bandung de 1955, que lançou o Movimento Não-Alinhado dos Estados do Terceiro Mundo, revelando-se enormemente influente (44). Embora os países latino-americanos não fizessem parte da Conferência de Bandung, a nova perspetiva do Terceiro Mundo ajudou a gerar uma explosão de trabalho no marxismo e na análise radical da dependência na América Latina, que foi inspirada muito mais concretamente pela Revolução Cubana. Baran visitou Cuba em 1960, juntamente com Leo Huberman e Paul Sweezy, tendo conhecido o Che, então presidente do Banco Nacional. Che envolvou-se estreitamente com a análise geral do subdesenvolvimento de Baran. Como Che viria a declarar em 1965: “Desde que o capital monopolista dominou o mundo, tem mantido a maior parte da humanidade na pobreza, dividindo todos os lucros entre o grupo dos países mais poderosos” (45). Alguns dos principais contribuintes para a análise da dependência na América Latina e Caraíbas foram Vânia Bambirra, Theotônio Dos Santos, Rodolfo Stavenhagen, Fernando Henrique Cardoso, Pablo González Casanova, Ruy Mauro Marini, Walter Rodney (cujo trabalho mais conhecido se centrou no subdesenvolvimento de África), Clive Thomas, e Eduardo Galeano (46). O economista germano-americano Andre Gunder Frank teve também um impacto profundo a partir da publicação, em 1967, do seu livro Capitalismo e Subdesenvolvimento na América Latina, que sublinhou “o desenvolvimento do subdesenvolvimento” (47).
Em África, Samir Amin, um jovem economista marxista egípcio-francês, introduziu uma crítica em grande escala à análise do desenvolvimento dominante, na sua dissertação de doutoramento de 1957 (concluída aos 26 anos no mesmo ano em que o livro de Baran foi publicado), que mais tarde foi publicada sob o título Acumulação à Escala Mundial. Posteriormente, contribuiu enormemente para as teorias da dependência, da troca desigual e dos sistemas-mundo. Grande parte da análise de Amin centrou-se na distinção entre, por um lado, economias “autocêntricas” no centro do sistema capitalista mundial, orientadas para as suas próprias lógicas internas e reprodução expandida, e, por outro, as economias “desarticuladas” da periferia, onde a produção se estruturava em função das necessidades das economias imperiais. A natureza desarticulada das economias periféricas, sob o imperialismo, deixou uma “desconexão” revolucionária em relação à lógica da ordem imperialista mundial como a única alternativa real. Para Amin, contudo, a desconexão não se tratava de uma separação absoluta da economia mundial ou de uma “retirada autárquica”. Pelo contrário, significava a desligação do sistema mundial de valor-trabalho organizado em torno de um centro dominante e de uma periferia dominada, com transição para um mundo mais “policêntrico” (48).
Um contributo fundamental para a teoria do imperialismo foi o livro Troca Desigual: Um estudo sobre o imperialismo do comércio (1969), do economista marxista grego Arghiri Emmanuel (49). Defendia que, na era do neocolonialismo, a relação entre os países centrais e os da periferia era de desigualdade nas trocas, de tal forma que um país obtinha mais valor-trabalho do que outro, devido à mobilidade global do capital aliada à imobilidade global do trabalho. Esta obra de Emmanuel desencadeou um longo debate, que foi essencialmente resolvido por Amin, com a sua proposição de que existem trocas desiguais quando a diferença nos salários entre o Norte global e o Sul global for maior do que a diferença nas suas produtividades. Prosseguiu argumentando que a lei do valor operava agora a nível mundial sob o capital financeiro monopolista globalizado (50).
A realidade da classe dominante no mundo subdesenvolvido, segundo Amin, era de “compradorização e transnacionalização”, exigindo novas estratégias revolucionárias anti-imperialistas, uma vez que já não existia uma burguesia nacional como tal. Uma estratégia revolucionária de desconexão nestas circunstâncias dependeria da “construção de um bloco social anti-comprador” com o objectivo de viabilizar um projecto soberano, divorciado do controlo do sistema mundial imperialista. No que diz respeito ao imperialismo e às classes nos Estados capitalistas avançados, Amin sugeriu que a teoria da aristocracia operária de Lenine não foi suficientemente longe para abordar a forma como toda a “divisão internacional desigual do trabalho” criou amplas estruturas de apoio ao imperialismo, dentro dos principais Estados imperialistas, que não bastava desejar que desaparecessem. Aqui o que era necessário era a “construção de um bloco anti-monopólio” (51).
Grande parte da teoria marxista da dependência, a partir da década de 1970, fundiu-se na teoria do sistema-mundo (mais tarde sistemas-mundo), iniciada por Oliver Cox, Immanuel Wallerstein, Frank, Amin e Giovanni Arrighi (52). A teoria do sistema-mundo ultrapassou algumas das limitações da teoria da dependência, ao conceber os Estados-nação como parte de um sistema mundial capitalista. O sistema-mundo tornou-se assim a principal unidade de análise, visto como dividido entre centros e periferias (ao mesmo tempo que prevê semiperiferias e áreas exteriores). No entanto, em algumas versões da teoria do sistema-mundo, nomeadamente na obra de Arrighi, verificou-se uma divergência relativamente à teoria do imperialismo, reduzindo as relações político-económicas internacionais simplesmente a hegemonias mutáveis, em linha com a economia política internacional dominante (53).
Já na década de 1960, os economistas políticos radicais passaram a centrar-se na crítica das empresas multinacionais, vistas como a forma global assumida pelo capital monopolista e, portanto, as principais correias de transmissão do imperialismo económico. Aqui, a análise pioneira emanou de Stephen Hymer, que escreveu, em 1960, a sua inovadora dissertação sobre As Operações Internacionais das Empresas Nacionais: Um estudo do investimento directo estrangeiro, fornecendo, no mesmo ano em que o termo apareceu pela primeira vez, uma teoria das “corporações multinacionais”, baseada na organização industrial e na teoria do monopólio. Seguiu-se o tratamento do papel das empresas multinacionais e do imperialismo em Capitalismo Monopolista de Baran e Sweezy e em “Notas sobre a Empresa Multinacional” de Harry Magdoff e Paul Sweezy (1969). A trajetória mundial de tais corporações tornou-se central em toda a teoria do imperialismo, como em A Era do Imperialismo: A economia da política externa dos EUA (1969), de Magdoff (54).
Nas décadas de 1970 e 1980, grande parte da investigação em curso sobre o imperialismo deslocou-se do domínio da economia política para o da cultura. Em linha com as críticas anteriores de Joseph Needham ao “Europocentrismo”, na década de 1960, Amin em 1989 apresentou a sua muito influente crítica ao Eurocentrismo, enquanto Edward Said produziu os seus ensaios Orientalismo (1978) e Cultura e Imperialismo (1993) (55). Com a ascensão do ecossocialismo, a crítica ao imperialismo estendeu-se também à questão do imperialismo ecológico (56).
No século XXI, a maior parte da análise do imperialismo económico centrou-se na traficância laboral global (“global labor arbitrage”) e nas cadeias de valor globais. Nunca antes a extracção de excedentes ao Sul global pelo Norte Global fora demonstrada de forma tão completa em estudos empíricos. Isto deriva do facto de a exploração internacional ser agora mais sistemática do que nunca: enraizada nas cadeias de valor do sistema global e incorporada na exportação de bens manufacturados da periferia para a semiperiferia e para o centro (57). O resultado tem sido a crescente proeminência de teorias de “sobrexploração” (i.e., níveis de exploração no Sul global que excedem a média global e minam as necessidades essenciais de subsistência dos trabalhadores do Sul) desenvolvidas no trabalho de pensadores como Marini, Amin, John Smith e Intan Suwandi (58).
Hoje, sabemos, através da investigação de Jason Hickel e dos seus colegas, que em 2021 o Norte global foi capaz de extrair do Sul global 826 mil milhões de horas em trabalho líquido apropriado. Isto representa 18,4 biliões de dólares medidos em salários do Norte. Por detrás disto está o facto de os trabalhadores do Sul global receberem salários 87-95 por cento mais baixos por trabalho equivalente com os mesmos níveis de qualificação. O mesmo estudo concluiu que a disparidade salarial entre o Norte global e o Sul global estava a aumentar, com os salários no Norte a aumentarem onze vezes mais do que os salários no Sul entre 1995 e 2021 (59). Esta investigação sobre a traficância laboral global contemporânea é conjugada com o recente trabalho histórico de Utsa Patnaik e Prabhat Patnaik, que documentou a fuga astronómica de riqueza durante o período do colonialismo britânico na Índia. O valor estimado desta drenagem durante o período de 1765-1900, acumulado até 1947 (a preços de 1947) com um juro de 5 por cento, foi de 1,925 mil biliões de dólares; acumulado até 2020, equivale a 64,82 mil biliões de dólares (60).
Deve ser realçado que a drenagem contemporânea do excedente económico do Sul global pelo Norte global através da troca desigual de trabalho incorporado nas exportações do primeiro, é já um acréscimo ao fluxo líquido normal de capital dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos registado nas contas nacionais. Isto inclui o saldo do comércio de mercadorias (importação e exportação), pagamentos líquidos a investidores e bancos estrangeiros, pagamentos de frete e seguros, e uma vasta gama de outros pagamentos feitos ao capital estrangeiro, tais como royalties e patentes. De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), as transferências líquidas de recursos financeiros dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos, só em 2017, ascenderam a 496 mil milhões de dólares. Na economia neoclássica, isto é conhecido como o paradoxo do fluxo inverso do capital, ou do fluxo ascendente do capital (“capital flowing uphill”), que ela tenta ineptamente explicar por vários factores contingentes, em vez de reconhecer a realidade do imperialismo económico (61).
No que diz respeito à dimensão geopolítica do imperialismo, o foco neste século tem sido o declínio contínuo da hegemonia dos E.U.A.. A análise tem-se centrado nas tentativas de Washington, desde 1991, apoiadas por Londres, Berlim, Paris e Tóquio, para inverter esta situação. O objetivo é estabelecer a tríade dos Estados Unidos da América, Europa e Japão – com Washington proeminente – como a potência global unipolar através de um “imperialismo mais nu”. Esta dinâmica contra-revolucionária acabou por conduzir à actual Nova Guerra Fria (62).
No entanto, apesar de todos os ricos desenvolvimentos na teoria do imperialismo, ao longo dos últimos cem anos, não é tanto a teoria do imperialismo, mas a verdadeira intensificação da exploração do Sul global pelo Norte global, juntamente com a resistência deste último, que se tem destacado. Como Paul Sweezy argumentou, em Modern Capitalism and Other Essays (1972), o ponto agudo da resistência proletária mudou decisivamente, no século XX, do Norte global para o Sul global (63). Quase todas as revoluções desde 1917 ocorreram na periferia do sistema capitalista mundial e têm sido revoluções contra o imperialismo. A grande maioria destas revoluções ocorreu sob os auspícios do marxismo. Todas foram submetidas a acções contra-revolucionárias por parte das grandes potências imperiais. Só os Estados Unidos da América intervieram militarmente no estrangeiro centenas de vezes, desde a Segunda Guerra Mundial, principalmente no Sul global, resultando na morte de milhões de pessoas (64) No final do século XX e no início do século XXI, as principais contradições do capitalismo têm sido as do imperialismo e classe.
A crescente negação do imperialismo na esquerda
A negação da realidade do imperialismo, no todo ou em parte, tem uma longa história na esquerda eurocêntrica ocidental, começando com o total “social-imperialismo” da Sociedade Fabiana na Grã-Bretanha, e reflectindo-se no chauvinismo social de todos os principais partidos social-democratas europeus. No entanto, com o ressurgimento da esquerda ocidental no período pós-Segunda Guerra Mundial, particularmente nas décadas de 1960 e 1970, os socialistas ocidentais adotaram uma postura fortemente anti-imperialista, apoiando as lutas de libertação nacional em todo o mundo. Isto começou a desaparecer com o declínio do movimento anti-Guerra do Vietname no início da década de 1970 (65).
Em 1973, Bill Warren introduziu na New Left Review a noção de que Marx, no seu artigo “Os Resultados Futuros do Domínio Britânico na Índia” (1853), via o imperialismo como uma força progressista, uma visão que, declarou Warren, foi mais tarde erradamente revertido por Lenine (66). A interpretação de Marx aqui feita por Warren estava em desacordo com o tratamento muito mais completo dado por teóricos dos Estados Unidos da América, da Índia e do Japão, a partir da década de 1960, que demonstraram que Marx, a partir do início da década de 1860, tinha reconhecido a forma como o colonialismo bloqueava o desenvolvimento nas colónias (67). No entanto, a noção de que Marx, e mesmo Lenine, tinham adoptado a visão do Imperialismo [como o] Pioneiro do Capitalismo – o título/subtítulo do livro de Warren publicado postumamente em 1980 – tornou-se um postulado comummente aceite na esquerda (68).
Subjacente a esta análise estava a rejeição pela esquerda eurocêntrica da conclusão de que os países do centro capitalista exploravam os da periferia, através de taxas mais elevadas de exploração dos trabalhadores nos países dependentes, e a resultante apropriação de uma grande parte deste enorme excedente pelos países imperialistas no centro do sistema. Há muito que os socialistas eurocêntricos argumentam – contrariando a análise de figuras como Lenine, Baran e Amin – que uma taxa de produtividade mais elevada no Norte global anulava o diferencial salarial entre o Norte e o Sul, ao ponto de o nível de exploração no Norte ser na realidade mais elevada do que no Sul (69). No entanto, esta tese de uma taxa de exploração mais elevada no Norte foi agora definitivamente refutada, em resultado da investigação empírica sobre os custos unitários do trabalho e o valor capturado pelo centro de trabalho na periferia (e semiperiferia) através da troca desigual. Estudo após estudo mostraram que, mesmo tendo em conta os níveis de produtividade/competência, que são agora comparáveis, na indústria transformadora para exportação no Sul global e no Norte global (uma vez que é utilizada a mesma tecnologia, introduzida por empresas multinacionais), a taxa de a exploração é muito maior no Sul global, com custos unitários de trabalho muito mais baixos. Na verdade, a tendência atual para a negação total da teoria do imperialismo pode ser atribuída, em parte, a uma tentativa, face a esta evidência crescente, de evitar a realidade da sobrexploração da periferia pelo centro, abandonando de todo a questão do imperialismo.
Na raiz das críticas ao imperialismo económico emanadas dos círculos eurocêntricos ocidentais está a rejeição da tese da aristocracia operária de Engels e Lenine. Assim, toda a noção de que uma secção da classe trabalhadora no núcleo imperialista da economia global beneficia do imperialismo foi geralmente colocada fora dos limites como politicamente objetável. No entanto, a existência de uma aristocracia operária a algum nível é difícil de negar com qualquer base realista. Um indício disto é que estudo após estudo confirmou que a liderança sindical da AFL-CIO nos Estados Unidos da América tem sido historicamente orientada para o sindicalismo empresarial e está intimamente ligada ao complexo militar-industrial. Assim, foi cúmplice da ordem estabelecida. A liderança da AFL-CIO trabalhou com a CIA durante a era pós-Segunda Guerra Mundial, para reprimir os sindicatos progressistas em todo o Sul global, apoiando os regimes mais exploradores. Não há dúvida de que, nestes e noutros aspectos, o estrato superior do trabalho (ou os seus representantes) se opôs de forma oportunista às necessidades, tanto da maioria dos trabalhadores nos Estados Unidos da América, como do movimento proletário mundial como um todo. A liderança trabalhista na Europa, associada aos partidos sociais-democratas, tem exibido, historicamente, propensões semelhantes. A esmagadora brancura das lideranças da maioria dos sindicatos nos países ocidentais, e o racismo tão evidente nas mesmas, ajudam ainda mais a explicar o apoio reaccionário às políticas imperialistas praticadas pelos seus governos (70).
Face a tais contradições históricas, uma nova abordagem para a negação imperialista na esquerda foi introduzida na obra Geometria do Imperialismo de Giovanni Arrighi (1978), que, apesar do título, procurou usar o conceito de hegemonia (parte da teoria do imperialismo) para desalojar no seu todo o conceito de imperialismo, reduzindo-o aos seus aspectos geopolíticos e evitando a questão da exploração económica internacional. Para Arrighi, as velhas teorias do imperialismo, a começar por Lenine, estavam “obsoletas”. O que ficou foi um sistema mundial composto por Estados-nação, todos a lutar pela hegemonia. Em O Longo Século XX (1994), Arrighi absteve-se completamente de se referir ao termo “imperialismo” em relação ao mundo do pós-Segunda Guerra Mundial; ao mesmo tempo que abandonou o conceito de capital monopolista através da teoria neoclássica dos custos de transação (71).
Mas foram os efeitos combinados da queda do Muro de Berlim, em 1989, da subsequente onda de globalização e do impulso agressivo de Washington para uma ordem unipolar que levaram a negações muito mais abertas do imperialismo na esquerda. Ironicamente, numa altura em que os liberais celebravam um novo imperialismo nu, grande parte da esquerda global descartou todas as noções críticas da teoria do imperialismo, chegando mesmo, em alguns casos, a oferecer apoio à ideologia do novo império (72). Aqui a hegemonia ideológica exercida pelo capital sobre a esquerda ocidental estava em plena demonstração (73). No seu artigo “Whatever Happened to Imperialism?”, em 1990, Prabhat Patnaik sugeriu que o “silêncio ensurdecedor” sobre a economia política do imperialismo entre os marxistas europeus e norte-americanos, nas décadas de 1980 e 1990, que constituiu uma rotura acentuada com os anos 1960 e 1970, não foi o produto de um extenso debate teórico no seio do marxismo. Pelo contrário, poderia ser atribuído, isso sim, ao “próprio fortalecimento e consolidação do imperialismo” (74).
Um exemplo do recuo da esquerda ocidental na teoria do imperialismo foi Empire, de Michael Hardt e Antonio Negri, publicado pela Harvard University Press em 2000, e elogiado em todos os meios de comunicação dominantes nos Estados Unidos da América, incluindo o New York Times, Time, e Foreign Affairs. Adotando uma explícita perspetiva de mundo plano, não totalmente diferente daquela que foi mais tarde promovida pelo colunista do New York Times Thomas L. Friedman, na sua obra de 2005, The World Is Flat, Hardt e Negri defenderam que o imperialismo hierárquico de outrora tinha sido agora substituído pelo “espaço tranquilo do mercado mundial capitalista”. “Já não era possível”, afirmaram, “demarcar grandes zonas geográficas como o centro e a periferia, o Norte e o Sul”. Na verdade, o “imperialismo”, chegaram ao ponto de afirmar, “cria de facto um colete-de-forças para o capital”, ao interferir com as propensões do capitalismo para o mundo plano. Hardt e Negri dariam à sua noção de uma ordem constitucional global baseada em regras, modelada nos Estados Unidos da América, que era ao mesmo tempo descentralizada e desterritorializada, o nome de “Império”, para a distinguir do imperialismo (75).
O trabalho de Hardt e Negri ajudou a inspirar O Novo Imperialismo do geógrafo marxista David Harvey, publicado originalmente em 2003. Aqui, Harvey redirecionou a teoria do imperialismo, com recurso ao conceito de Marx de “expropriação original” (ou “a chamada acumulação primitiva”), renomeando-o como “acumulação por desapropriação” (76). A expropriação, associada ao roubo ou à despossessão, em vez da exploração interna ao processo económico, tornou-se a essência do “novo imperialismo”. O papel da exploração na teoria do imperialismo de Lenine, que a ligava diretamente ao capitalismo monopolista, foi posto de lado na análise de Harvey, levando à sua fantasia de um “Imperialismo de ‘New Deal’” ou de uma Política de Boa Vizinhança renovada, como sendo a solução para o conflito internacional. Esta visão não conseguiu ver o imperialismo como dialeticamente ligado ao capitalismo e tão básico para este sistema como a própria procura de lucros (77).
Embora muitas vezes caracterizado como um importante teórico do imperialismo, Harvey abandonou explicitamente o núcleo da teoria desenvolvida por Lenine, Mao e os teóricos da dependência, das trocas desiguais e do sistema mundial, classificando toda esta tradição de quase um século como a perspetiva da “esquerda tradicional”. Em vez disso, apresentou a sua própria perspetiva como semelhante à do Império de Hardt e Negri, que, segundo ele, apresentava “uma configuração descentralizada de império que tinha muitas qualidades novas e pós-modernas” (78). Na medida em que ainda se baseava na teoria do imperialismo do marxismo clássico, filiava-se na noção de imperialismo de Rosa Luxemburgo, como a conquista e expropriação de setores não capitalistas, particularmente em áreas externas, proporcionando assim novos mercados para apoiar a acumulação, que são então absorvidos pelo sistema capitalista global. O imperialismo, nesta visão, constituía uma realidade auto-aniquiladora. Embora a renovada ênfase na expropriação, na análise de Harvey, fosse importante, a sua introdução desse tema de uma tal forma que desalojou o papel da exploração internacional, foi um retrocesso (79).
Em 2010, na sua obra O Enigma do Capital, Harvey foi ainda mais longe, argumentando que tinha ocorrido uma “mudança sem precedentes” que tinha “revertido a drenagem de longa data de riqueza do Leste, Sudeste e Sul da Ásia para a Europa e a América do Norte, que se verifica desde o século XVIII – uma drenagem que Adam Smith observou com pesar em A Riqueza das Nações…. “[Isto] alterou o centro de gravidade do desenvolvimento capitalista” (80). O seu apoio para esta afirmação foi um relatório de 2008 do Conselho Nacional de Inteligência dos E.U.A. sobre Tendências Globais 2025, que projectava um mundo mais multipolar. Mas embora este relatório previsse que as economias asiáticas continuariam a crescer relativamente mais rapidamente do que os Estados Unidos da América e a Europa até 2025, consistente com o declínio da hegemonia dos E.U.A. e a crescente multipolaridade, não apontava para aquilo a que Harvey chamou de “reversão” nos fluxos de capitais a nível global, muito menos a qualquer inversão da fuga histórica de capitais do Leste/Sul para o Oeste/Norte (81).
A estimativa recente, acima referida, por Hickel e os seus colegas, de 18,4 mil biliões de dólares extraídos pelo Norte global do Sul global no processo de troca desigual em 2021 – mais as centenas de milhares de milhões de dólares na transferência de recursos financeiros dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos todos os anos (que, segundo a UNCTAD, ascenderam a 977 mil milhões de dólares só em 2012) – deixa claro que a noção de Harvey de uma “reversão” na fuga histórica de capital é infundada. De acordo com um estudo de Mateo Crossa, a transferência de valor através de trocas desiguais no sector industrial de exportação do México para os Estados Unidos da América, só em 2022, foi de 128 mil milhões de dólares (82).
Em 2014, Harvey não incluiu o imperialismo nas suas Dezassete Contradições do Capitalismo. Em 2017, anunciou que o “imperialismo” deveria ser visto como “uma espécie de metáfora, em vez de algo real” (83). Um ano depois, prosseguiu afirmando que preferia a abordagem geométrica do sistema mundial de Arrighi, que “abandona o conceito do imperialismo (ou, para o caso, a rígida geografia do centro e da periferia estabelecida na teoria dos sistemas-mundo) em favor de uma análise mais aberta e fluida das hegemonias em mudança dentro do sistema mundial” (84). Desta forma, a análise do “novo imperialismo” de Harvey, que, desde o início, foi concebida para abandonar a maior parte da teoria marxista clássica do imperialismo, foi integrado na análise geopolítica dominante, excluindo noções de centro-periferia, Norte-Sul e qualquer conceção coerente de imperialismo económico.
O historiador e sociólogo canadiano Moishe Postone, hoje mais conhecido pelo seu livro Time, Labour and Social Domination (1993), apresentou em 2006 uma análise criticando duramente a teoria e a política anti-imperialistas. “Muitos que se opuseram às políticas norte-americanas” no Médio Oriente e noutros lugares, escreveu,
“recorreram a…quadros conceptuais e a posições políticas “anti-imperialistas” inadequadas e anacrónicas. No cerne deste neo-anti-imperialismo está uma compreensão fetichista do desenvolvimento global – isto é, uma compreensão concretista dos processos históricos abstratos em termos políticos e agenciais. A dominação abstrata e dinâmica do capital tornou-se fetichizada a nível global como a dos Estados Unidos da América, ou, em algumas variantes, como a dos Estados Unidos da América e de Israel…. Aponta para a sobreposição de entendimentos fetichizados do mundo e sugere que tais entendimentos têm hoje consequências muito negativas para a constituição de uma política anti-hegemónica adequada. Este maniqueísmo redespertado, que está em desacordo com outras formas de antiglobalização… não é adequado ao mundo contemporâneo e, em alguns casos, pode até servir de ideologia legitimadora para aquilo a que há cem anos se teria chamado rivalidades imperialistas” (85).
Mas uma vez que os Estados Unidos da América constituem inquestionavelmente o centro hegemónico do capital financeiro monopolista global, empenhado agora numa guerra permanente no Sul global, a afirmação de Postone de que uma perspetiva que se concentre nisto é “fetichista” termina num labirinto de contradições das quais não pode escapar (86). A noção de que a política anti-imperialista deve ser substituída por uma política contra-hegemónica e antiglobalização é, ela própria, passível de ser acusada de fetichizar uma globalização abstrata, perdendo de vista toda a realidade histórica do imperialismo até aos dias de hoje.
Os desenvolvimentos mais recentes na negação da teoria do imperialismo por parte da esquerda eurocêntrica ocidental, agora envolvendo também críticas à esquerda anti-imperialista, têm um paralelo próximo com as mudanças na ordem global associadas ao declínio da hegemonia dos E.U.A.. Após a Grande Crise Financeira de 2007-2009 e a contínua ascensão da China, Barack Obama instituiu o seu “Pivô para a Ásia”. Seguiu-se a Nova Guerra Fria contra a China, iniciada pela administração Donald Trump, que foi levada avante pela administração Joe Biden. Washington recorreu à crescente utilização do poder financeiro dos E.U.A. para implementar sanções maciças contra países vistos como exteriores e desafiantes ao poder norte-americano. Isto foi agravado pelo início da Guerra Ucrânia-Rússia (ou guerra por procuração NATO-Rússia) em 2022. Como resultado disso, as opiniões de vários pensadores de esquerda sobre o imperialismo foram radicalmente reconfiguradas, levando a um abandono mais aberto da crítica tradicional do imperialismo.
É neste contexto histórico que Vivek Chibber, numa entrevista de 2022 à revista Jacobin, optou abertamente por rejeitar todos os elementos fundamentais da teoria do imperialismo de Lenine. Começou por defender que “o imperialismo deveria ser diferenciado do capitalismo”. Além disso, declarou, a noção de imperialismo como capitalismo monopolista de Lenine era “falha”, pois “no final do século XX e no início do século XXI, não existe uma tendência sistémica para o monopólio”. Aqui, o ataque de Chibber ao próprio conceito de capital monopolista revelou a sua ignorância do enorme crescimento nas últimas décadas na concentração e centralização do capital, associado a sucessivas vagas de fusões, levando ao aumento contínuo do poder monopolista, juntamente com a centralização das finanças. Em 2012, as duzentas maiores empresas (todas elas corporações) dos Estados Unidos da América – de um total de 5,9 milhões de empresas, 2 milhões de parcerias, 17,7 milhões de empresas individuais não agrícolas e 1,8 milhões de empresas individuais agrícolas – representavam cerca de 30% da economia dos E.U.A. e esta quota tem estado a aumentar rapidamente. As receitas das quinhentas principais empresas globais equivalem agora a cerca de 35-40 por cento do rendimento mundial total (87).
Em 2020, as transacções da cadeia de valor global (CVG) efetuadas por empresas multinacionais representaram a maior parte do comércio mundial. A “intensificação em CVG” de um país, segundo o Banco Mundial, é reforçada na medida em que as exportações desse país incorporam factores de produção importados de outros países. Como é explicado no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2020: Comércio para o Desenvolvimento na Era das Cadeias de Valor Globais, “os principais contribuintes [do mundo] para a intensificação das CVG [em 1990-2015] foram a Alemanha, os Estados Unidos da América, o Japão, a Itália e a França”, com o Reino Unido não muito atrás. No centro das cadeias de valor globais estão, portanto, as mesmas grandes potências imperiais (sede de empresas monopolistas globais) como nos tempos de Lenine (88).
Tendo, uma vez, descartado a noção de capital monopolista, Chibber está capacitado para pôr fim a qualquer noção coerente de exploração internacional ou imperialismo. “Os fluxos internacionais de capital não constituem imperialismo”, escreve ele, “isso é apenas capitalismo” – como se o imperialismo estivesse totalmente divorciado das leis económicas de movimento do capitalismo. A teoria de Lenine, diz-nos ele, era mais política do que económica, principalmente sobre a “competição interestatal”. Além disso, a análise de Lenine era fatalmente “falha” também noutros aspetos. Assim, somos informados de que a análise de Lenine (juntamente com a dos leninistas posteriores) era linear e estagista, tendo todos os países de passar “através de uma fase capitalista” – posição, no entanto, que, como vimos, Lenine rejeitou explicitamente. Pior de tudo, a crítica de Lenine ao imperialismo incluía a noção de aristocracia operária, que, segundo Chibber, “não tem qualquer significado para uma análise geral do Norte ou do capitalismo global” (89).
Na opinião de Chibber, “anti-imperialismo” pode ser definido como qualquer “acção colectiva no seu [próprio] país contra o militarismo do seu [próprio] governo e a agressão contra outros países”. Isto constitui uma definição puramente político-nacional, separada tanto do internacionalismo proletário como de qualquer resistência direta às leis de movimento do próprio capitalismo na sua fase monopolista. Daqui se conclui, de acordo com esta definição, que o anti-imperialismo é uma luta nacional contra uma política agressiva e militarista, e não uma oposição ao imperialismo enquanto sistema. No geral, conclui Chibber, houve uma mudança de “um mundo leninista para um mundo kautskiano”. Assim, o imperialismo deve ser visto em termos kautskianos como uma mera política nacional, abrangendo a unidade dos países no centro do sistema, e logicamente desligada da questão da exploração mundial (90). Não é de estranhar, então, que no livro de Chibber de 2022, The Class Matrix, focado nas relações de classe na sociedade capitalista avançada, não haja qualquer tratamento do imperialismo, do capitalismo monopolista ou mesmo do militarismo (91).
Na mesma linha, o capítulo de William I. Robinson “Beyond the Theory of Imperialism” no seu livro Into the Tempest, de 2018, afirma: “A imagem clássica do imperialismo como uma relação de dominação externa está agora ultrapassada…. O fim do extenso alargamento do capitalismo é o fim da era imperialista do capitalismo mundial. O sistema ainda conquista o espaço, a natureza e os seres humanos…. Mas não é o imperialismo no antigo sentido de capitais nacionais rivais ou a conquista por Estados centrais de regiões pré-capitalistas” que deveria ser objecto de análise hoje. Em vez disso, o que é necessário é uma teoria do capitalismo global que substitua tudo isto, concentrando-se principalmente nas “dinâmicas espaciais” em mutação (92).
Mais recentemente, em artigos com títulos como “O insuportável maniqueísmo da esquerda ‘anti-imperialista’” e “A farsa do ‘anti-imperialismo’”, Robinson procurou substituir o imperialismo pela sua noção de um capitalismo totalmente globalizado governado por uma classe capitalista transnacional. Visando figuras como Vijay Prashad, do Instituto Tricontinental, Robinson condena qualquer noção de exploração pelo Norte global do Sul global ou “antigo Terceiro Mundo”. Uma nação, defende, desafiando a teoria marxista do imperialismo em geral, não pode explorar outra nação (93). “Por imperialismo”, proclama Robinson, queremos apenas dizer “a violenta expansão externa do capital com todos os mecanismos políticos, militares e ideológicos que isso envolve”. A teoria do imperialismo de Lenine, afirma, tinha a sua “essência” na “rivalidade...das classes capitalistas nacionais” e não na luta pela exploração das nações da periferia do mundo capitalista – aquilo que o próprio Lenine, ao contrário de Robinson, designou como “a essência económica e política do imperialismo” (94).
Para Robinson, as condições do capitalismo global alteraram-se agora de tal forma que não há qualquer relação com a “estrutura anterior, onde o capital colonial metropolitano simplesmente [!] desviava a mais-valia das colónias e depositava-a de volta nos cofres coloniais”. É certo que os Estados Unidos da América se envolvem em intervenções militares pelo mundo. “Se quisermos chamar a isto imperialismo”, diz ele, então “tudo bem”, mas não devemos confundir isto com a teoria marxista tradicional do imperialismo como exploração internacional (95).
Da mesma forma, Gilbert Achcar, professor de desenvolvimento na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, publicou um artigo em The Nation, em 2021, intitulado “Como evitar o anti-imperialismo dos tolos”. Aqui acusou toda a esquerda anti-imperialista de “campismo”, isto é, de lealdade a um determinado campo ou bloco, na medida em que se opunha inequivocamente ao imperialismo híbrido (económico, militar, financeiro e político) dirigido pelos Estados Unidos da América e pelos seus aliados dentro da tríade contra os países do Sul global. Aqueles socialistas que se mantinham firmemente unidos aos povos da periferia, por princípio, e contra todas as intervenções militares e sanções económicas, foram acusados de fornecer assim “apologéticas aos ditadores pintadas de vermelho”. Ao mesmo tempo, Achcar indicou, aqui e noutros lugares, que é perfeitamente apropriado, na sua opinião, que os “anti-imperialistas progressistas” apoiem as intervenções militares das potências imperialistas ocidentais a favor de mudança de regime, como ele próprio fez, no caso da intervenção de 2011 na Líbia, se esse apoio for concebido para ajudar movimentos supostamente progressistas, no terreno (96).
Militantes de esquerda ocidentais, geralmente sociais-democratas, dirigiram duras críticas contra a Cuba e a Venezuela pós-revolucionárias, pelas suas alegadas falhas morais, políticas e económicas. Tais acusações são feitas fora de qualquer contexto político significativo, baseadas principalmente na aceitação acrítica de relatórios propagandísticos dos meios de comunicação social dos E.U.A. e da Europa, ignorando em grande parte os enormes sucessos destes Estados. As críticas minimizam invariavelmente o facto de ambas as nações estarem atualmente sujeitas às formas mais severas de guerra de cerco internacional alguma vez desenvolvidas. Os bloqueios económicos e as sanções financeiras destinam-se a negar a estas sociedades até mesmo os alimentos e medicamentos mais essenciais, juntamente com tentativas periódicas de golpe de Estado – todas arquitetadas pela CIA e pela Casa Branca. No entanto, toda a extensão do papel dos E.U.A. é contornada por uma esquerda que parece operar de acordo com as regras daquilo a que a Instituição Hoover chamou de “imperialismo democrático” (97).
Alguns críticos da esquerda anti-imperialista visam hoje Samir Amin, argumentando que a desconexão em relação ao imperialismo não pode acontecer de todo – mesmo no sentido de Amin de criação de um “mundo mais policêntrico”, que já não seja dominado pelas metrópoles imperiais da economia global. Não pode haver dúvidas de que está hoje a emergir um mundo mais multipolar. No entanto, Jerry Harris, secretário organizacional da Global Studies Association (GSA), afirmou, numa entrevista conduzida por Bill Fletcher, um sindicalista de longa data e membro do conselho executivo da GSA, que o movimento em direcção a um mundo multipolar é impossível no actual mundo totalmente globalizado ou capitalismo transnacional, governado por uma classe capitalista transnacional. Nesta visão, que é idêntica à de Robinson, não há saída para a atual ordem mundial, uma vez que já não existem quaisquer divisões imperialistas reais ou Estados-nação autónomos (excepto talvez alguns Estados renegados restantes) e, portanto, não há possibilidade de alguma coisa existir fora da totalidade do capitalismo global (98). Aqui, a análise dos teóricos do capital transnacional de esquerda não consegue compreender que o capital, por mais que se globalize, é incapaz de constituir um Estado global. Por conseguinte, não pode existir uma classe capitalista verdadeiramente global ou um Estado capitalista transnacional. O sistema capital, como observou István Mészáros, é inerentemente centrífugo e antagónico a nível global, estando inevitavelmente dividido em Estados-nação concorrentes. A natureza desta contradição manifesta-se hoje pela tentativa vã pelos Estados Unidos da América de criarem um sistema unipolar à sua volta, mesmo quando a sua hegemonia se desvanece, apontando para a fase mais mortífera do imperialismo (99).
Outro desenvolvimento teórico caraterístico da esquerda eurocêntrica ocidental foi a adoção, de forma simplificada, da teoria do imperialismo de Lenine, vista como um mero modelo de conflito inter-imperialista horizontal entre grandes potências. Aqui, a China e a Rússia são retratadas como constituindo um bloco único (embora representando sistemas político-económicos muito diferentes), envolvido numa rivalidade imperialista com a tríade dos Estados Unidos da América, Europa e Japão (100). Países de nível médio ou semiperiféricos, no Sul global, entram em cena como potências “subimperialistas” – um conceito introduzido pela primeira vez por Marini, no contexto da teoria da dependência, mas que é agora utilizado de uma forma muito diferente (101). O imperialismo, nesta nova visão, já não está associado principalmente ao papel explorador global das grandes potências imperiais, como os Estados Unidos da América, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a França, a Itália e o Japão, que, constituindo o centro do sistema mundial capitalista, dominaram a história secular do imperialismo. Em lugar disso, a caraterização dos Estados imperialistas é alargada às economias semiperiféricas e emergentes, agora classificadas como imperialistas ou subimperialistas, no espírito de ver o imperialismo principalmente em termos horizontais e não verticais.
De acordo com Ashley Smith, editora-chefe da revista Spectre, escrevendo para a Tempest, os Estados Unidos da América “estão presos à competição”, não só com a China e a Rússia e os seus aliados, mas também com “Estados subimperiais como Israel, Irão, Arábia Saudita, Índia e Brasil” (102). (A ideia de que os Estados Unidos da América estão em concorrência com Israel surpreenderá, sem dúvida, alguns!) No entanto, como afirmou convincentemente o economista marxista Michael Roberts,
“Tenho dúvidas de que o subimperialismo nos ajude a compreender o capitalismo contemporâneo. Enfraquece a delimitação entre o bloco imperialista central e a periferia dos países dominados. Se cada país for “um pouco imperialista”… esta expressão começa a perder a sua validade como conceito útil. Os países ditos subimperialistas não recebem transferências enormes e sustentadas de valores e recursos provenientes de economias mais fracas. No nosso próprio trabalho [Roberts e Guglielmo Carchedi] sobre o imperialismo e no trabalho empírico de outros, esta estrutura hierárquica de transferência de valor não é revelada. A Índia, a China e a Rússia transferem, na realidade, quantidades de valor muito maiores para o bloco imperialista do que a América do Sul. Tomemos como exemplo os BRICS, os melhores candidatos a serem considerados “subimperialistas”. Não há provas de transferências para eles de valores significativamente grandes e duradouros, provenientes de economias mais fracas ou vizinhas” (103).
O argumento inter-imperialista depende, hoje em dia, de se apresentar a República Popular da China como uma potência imperialista (e abertamente capitalista), no mesmo sentido que os Estados Unidos da América, desprezando o papel do “socialismo com características chinesas” e todo o caminho chinês para o desenvolvimento, bem como os processos de troca desigual. Robinson vai ainda um passo mais além, não só argumentando fervorosamente que a China é imperialista, mas também juntando-se ao New York Times na impugnação da integridade de alguns dos membros da esquerda anti-imperialista, como Prashad e o Instituto Tricontinental de Investigação Social, que expressam solidariedade com a China, enquanto país em desenvolvimento pós-revolucionário, alinhado com o Sul global contra o imperialismo (104).
No entanto, tais tentativas da esquerda eurocêntrica ocidental de designar a China como imperialista não conseguem encontrar mais fundamento para tal do que apontar o rápido crescimento económico deste país; a expansão das suas exportações de capitais; as suas medidas para reforçar a sua própria segurança regional (face a um cerco por parte de bases militares e alianças dos E.U.A.); e o seu questionamento da ordem imperial baseada em regras sob o domínio dos Estados Unidos da América e do Ocidente. Pierre Rousset, na revista International Viewpoint, declara que “não existe grande potência capitalista que não seja imperialista. A China não é exceção”. Mas o seu esforço para fornecer exemplos concretos disto, no que diz respeito à China, resvala para a insignificância quando colocado em contraste com o sistema mundial imperialista comandado pelos Estados Unidos da América e pela tríade como um todo. Assim, somos levados a acreditar que a China é imperialista, uma vez que “ocupa um espaço marítimo significativo” na sua região; governa Hong Kong (já não é uma colónia britânica, mas regressou à China); interfere noutros países através da sua Iniciativa Faixa e Rota, que visa promover o desenvolvimento económico; e é conhecido por utilizar a dívida como meio de alavancagem político-económica (105).
Mais difícil ainda, para aqueles que procuram caracterizar a China como imperialista no sentido clássico, é que, em vez de procurar aderir à ordem imperial baseada em regras dominada pelos E.U.A. ou substituí-la por aquilo que poderia ser considerada uma nova ordem imperialista, a política externa chinesa tem sido orientado para promover a autodeterminação das nações, ao mesmo tempo que se opõe à geopolítica de blocos e às intervenções militares. A tripla proposta de Pequim constituída pela Iniciativa de Segurança Global, pela Iniciativa de Desenvolvimento Global e pela Iniciativa de Civilização Global constitui, no seu conjunto, o principal projeto para a paz mundial na nossa era (106). A República Popular da China tem poucas bases militares fora do seu país, não realizou quaisquer intervenções militares no estrangeiro e não se envolveu de todo em guerras, excepto com respeito à defesa das suas próprias fronteiras.
Contrariamente às sugestões de Harvey, a China não se tem apropriado do excedente económico gerado nos Estados Unidos da América. Em vez disso, verifica-se o inverso. Os baixos custos unitários de trabalho dos bens produzidos no Sul global levaram ao alargamento das margens de lucro bruto para as multinacionais do centro do sistema, cujas mercadorias são produzidas na China e noutros países em desenvolvimento e depois exportadas para serem consumidas no Norte global. O preço final de venda das mercadorias no Norte global multiplica várias vezes o preço de exportação das mercadorias nos países produtores.
Como Minqi Li demonstrou, a China registou em 2017 uma perda líquida de trabalho no comércio externo (“calculada como o trabalho total incorporado nos [seus] bens e serviços exportados menos o trabalho total incorporado nos [seus] bens e serviços importados”), que era igual a quarenta e sete milhões de anos de trabalho; enquanto os Estados Unidos da América registaram um ganho líquido de trabalho no mesmo ano de sessenta e três milhões de anos de trabalho (107). A China desenvolveu-se rapidamente nestas circunstâncias de sobrexploração internacional devido à sua abertura ao mercado mundial, à alavancagem do seu poderoso sector estatal, a uma abordagem relativamente planeada ao desenvolvimento e outros factores-chave. Ao mesmo tempo, grande parte do excedente gerado no setor da indústria transformadora de exportação da sua economia foi drenado, enchendo os cofres das empresas multinacionais sediadas no centro da economia mundial. Atualmente, o rendimento per capita nos Estados Unidos da América é 6,5 vezes superior ao da China. Neste aspeto fundamental, a China é ainda um país em desenvolvimento (108).
Tudo isto não pretende negar que a China emergiu como uma grande potência económica que, em virtude da sua dimensão e da sua própria dinâmica de crescimento interno, ameaça a hegemonia global dos E.U.A., particularmente no que diz respeito à produção económica real. No entanto, os Estados Unidos da América e a tríade no seu todo, as grandes potências imperiais no centro do sistema capitalista mundial, ainda mantêm (mesmo que em rápida diminuição) a hegemonia tecnológica, financeira e militar em todo o mundo e continuam a contar com a rede de extração de excedentes económicos do Sul global.
Em nítido contraste com a China, os Estados Unidos da América, ao longo da sua história, intervieram militarmente em 101 países, alguns deles múltiplas vezes. Desde a Segunda Guerra Mundial, realizou centenas de guerras, intervenções militares ou golpes de Estado nos cinco continentes. Estas intervenções aceleraram-se desde a dissolução da União Soviética e o fim da Guerra Fria. Hoje, no contexto de uma Nova Guerra Fria, Washington está a expandir a sua cadeia de alianças militares explicitamente destinadas a assegurar a sua preeminência militar em todas as regiões do mundo. Os Estados Unidos da América têm 902 bases militares no estrangeiro (cerca de quatrocentas destas cercam a própria China). Entretanto, o Reino Unido, atuando como parceiro júnior, tem 145 bases militares no exterior (109).
Um artigo de julho de 2024 intitulado “O ‘mundo multipolar’: um eufemismo para apoiar múltiplos imperialismos”, escrito por Frederick Thon Ángeles e os seus colegas, publicado no jornal The Call, dos Socialistas Democráticos da América, acusa os anti-imperialistas que expressam simpatia pela China e pelo Sul global de repetir os erros da II Internacional. Dizem-nos que “A esquerda que apoia este novo ‘mundo multipolar’, e até simpatiza com as novas potências imperialistas (China, Rússia) ou com os seus aliados [como Cuba e Venezuela], não está a fazer mais do que repetir os erros da ala direita da social-democracia na era das guerras mundiais e do imperialismo, na primeira metade do século XX”. Aqueles que apoiam um mundo policêntrico ou multipolar “distorcem os princípios revolucionários do marxismo de tal forma que os afastam [a esquerda anti-imperialista] da luta pelo socialismo e abrem caminho à guerra e à destruição” (110).
Aqui a história foi virada completamente de pernas para o ar. Nenhum dos partidos social-democratas da II Internacional que se uniram aos seus respectivos Estados, numa guerra pela divisão do mundo, particularmente pela exploração das colónias, simpatizava com “os miseráveis da terra” (111). Apenas os bolcheviques na Rússia, bem como a pequena Liga Spartacus formada por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, na Alemanha, se opuseram à Primeira Guerra Mundial e alinharam com o mundo subdesenvolvido. Seguir Lenine e Luxemburgo não é repetir o erro dos sociais-democratas da II Internacional. Pelo contrário, a situação está noutro pé (“the shoe is on the other foot”): estar do lado das nações imperialistas contra os países subdesenvolvidos é cometer uma ofensa contra a humanidade semelhante à da maior parte dos partidos sociais-democratas da II Internacional. Apoiar o Sul global não pode ser visto como uma deturpação “dos princípios revolucionários do marxismo”. O locus da revolução durante mais de um século tem sido a periferia, e não o centro do mundo capitalista.
Assumir uma posição anti-imperialista não significa, naturalmente, abandonar a luta de classes nas próprias nações capitalistas centrais – muito pelo contrário. Como argumentou Lenine, dada a realidade inescapável de uma aristocracia operária que constitui o estrato superior do movimento operário nos países imperialistas, é necessário ir mais a fundo, para conhecer a luta precisamente nos termos daqueles que são mais oprimidos pelo capitalismo e pelo colonialismo. Não é por acaso que o movimento anti-imperialista nos Estados Unidos da América sempre teve as suas raízes mais profundas na tradição radical negra, exemplificada no início do século XX por W. E. B. Du Bois, e hoje representada pela Aliança Negra para a Paz. O racismo e o imperialismo sempre estiveram intrinsecamente ligados, pelo que qualquer movimento anti-imperialista genuíno é um movimento contra o capitalismo racial (112).
Comemorando Lenine no centenário da sua morte, Ruth Wilson Gilmore observou quão crucial tem sido, historicamente, a crítica de Lenine ao imperialismo para a luta radical negra nos Estados Unidos da América. “Universal e internacionalista na sua ambição, este movimento [radical negro] ligou-se e partilhou inspiração e análise com movimentos globais de libertação anti-imperial…. A violência organizada do imperialismo continua a percorrer a Terra, sob a forma dos seus vestígios carnudos e fantasmagóricos - o subdesenvolvimento acumulado - e visceralmente nas relações desiguais de poder contemporâneas, que fazem ascender o valor, através das elites, para o “norte económico”, onde quer que residam os proprietários. As populações indígenas de todo o mundo têm estado invariavelmente na linha da frente da oposição ao colonialismo/imperialismo. Como Roxanne Dunbar-Ortiz explicou em Uma História Popular Indígena dos Estados Unidos, as guerras coloniais genocidas contra os povos indígenas dos Estados Unidos da América fundiram-se simplesmente com o imperialismo ultramarino dos E.U.A. (113).
Hoje, o sistema mundial imperialista está a intensificar a exploração mundial e a levar-nos à beira da aniquilação global, por meio de uma emergência ecológica planetária e da crescente probabilidade de uma guerra termonuclear sem limites. Para os pensadores de esquerda, nestas circunstâncias, argumentar que o anti-imperialismo é o inimigo, é votar a favor do imperialismo, da barbárie e do exterminismo. Como disse Mariátegui: “Somos anti-imperialistas porque somos marxistas, porque somos revolucionários, porque nos opomos ao capitalismo com o socialismo” – e porque defendemos a humanidade mundial no seu todo.
(*) John Bellamy Foster (n. 1953) é professor de Sociologia na Universidade de Oregon (E.U.A.) e o atual diretor da indispensável revista marxista norte-americana Monthly Review. Discípulo de Paul Sweezy e continuador da escola de pensamento crítico por este fundada (com Paul Baran e Harry Magdoff), tem publicado numerosos livros sobre a crise ecológica e sua interseção com a economia política do capitalismo, bem como sobre história do pensamento, desenvolvimentos científicos, atualidade política e muitos outros temas. Merecem destaque: The Vulnerable Planet: A Short Economic History of the Environment (1994); Marx’s Ecology: Materialism and Nature (2000); Ecology Against Capitalism (2002); Naked Imperialism: The U.S. Pursuit of Global Dominance (2006); The Great Financial Crisis: Causes and Consequences, com Fred Magdoff (2009); The Ecological Revolution: Making Peace with the Planet (2009); The Ecological Rift: Capitalism's War on the Earth, com Brett Clark e Richard York (2010); What Every Environmentalist Needs To Know about Capitalism: A Citizen's Guide to Capitalism and the Environment, com Fred Magdoff (2011); The Endless Crisis, com R. W. McChesney (2012); The Theory of Monopoly Capitalism (2014); Marx and the Earth, com Paul Burkett (2016); Trump in the White House: Tragedy and Farce (2017); The Robbery of Nature: Capitalism and the Ecological Rift (2020), com Brett Clark; The Return of Nature: Socialism and Ecology (2020); Capitalism in the Anthropocene: Ecological Ruin or Ecological Revolution, com Hannah Holleman (2022) e The Dialectics of Ecology: Socialism and Nature (2024). O presente artigo foi publicado originalmente no N.º 6 do Volume 76 (novembro de 2024) da revista Monthly Review. Todos os direitos reservados. A tradução é de Ângelo Novo.
___________________ NOTAS:
(1) A oposição à Primeira Guerra Mundial incluía o Partido Socialista Italiano e o Partido Socialista da América, juntamente com o Partido Bolchevique de V. I. Lenine e a Liga Spartacus de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Sobre a relação entre a dissolução da Segunda Internacional e as controvérsias actuais, ver Zhun Xu, “The Ideology of Late Imperialism: The Return of the Geopolitics of the Second International”, Monthly Review 72, n.º 10 (March 2021): pp. 1–20.
(2) V. I. Lenin, Imperialism: The Highest Stage of Capitalism (New York: International Publishers, 1939). Ao empregar “O Estágio Mais Elevado” no seu subtítulo, Lenine não negava a existência de formas de imperialismo anteriores a esta etapa histórica. Pelo contrário, sublinhava o facto de que, nos últimos anos do século XIX, tinha surgido toda uma nova fase monopolista ou imperialista do capitalismo, representando uma transformação qualitativa da produção capitalista. Utilizou o termo imperialismo para se referir, simultaneamente, a um fenómeno genérico presente em toda a história do capitalismo e a uma fase historicamente específica. Ver Lenine, Imperialism, pp. 81-82. O livro de Lenine começou por ter o subtítulo ‘O Último Estágio do Capitalismo’ e foi depois alterado para ‘O Estágio Mais Elevado do Capitalismo’, de acordo com o que parece ter sido sempre a sua intenção. Ambos os subtítulos, Último e Mais Elevado, deixavam espaço para a emergência histórica de fases de transição mais degeneradas do capitalismo, durante o seu longo declínio e queda - um declínio que Lenine acreditava já ter começado. Embora Victor Kiernan argumentasse que a referência à fase mais elevada podia ser vista como “implicando” que esta era a “fase final”, também estava aberta a uma interpretação mais historicamente contingente. V. I. Lenine, Collected Works (Moscovo: Progress Publishers, s.d.), 192-93; Victor Kiernan, Marxism and Imperialism (Londres: Edward Arnold, 1974), p. 39.
(3) Trabalhos representativos que promovem uma ou mais destas visões incluem: William I. Robinson entrevistado por Frederico Fuentes, “Capitalist Globalization, Transnational Class Exploitation and the Global Police State,” Links, October 19, 2023; William I. Robinson, “The Unbearable Manicheanism of the ‘Anti-Imperialist Left,” The Philosophical Salon, August 7, 2023; William I. Robinson, “The Travesty of ‘Anti-Imperialism,'” Journal of World-Systems Research 29, n.º 2 (2023), pp. 587–601; William I. Robinson, Into the Tempest (Chicago: Haymarket, 2018), pp. 99–121; Vivek Chibber entrevistado por Alexander Brentler, “To Fight Imperialism Abroad, Build Class Struggle at Home,” Jacobin, October 16, 2022; Gilbert Achcar, “How to Avoid the Anti-Imperialism of Fools,” The Nation, April 6, 2021; Jerry Harris entrevistado por Bill Fletcher, “Why Doesn’t the World Make Sense Any More?, ” Znetwork.org, May 1, 2024; Jerry Harris, “Multi-Polarity: A New Realignment?”, Against the Current, July–August 2024; Ashley Smith, “As US-China Tensions Mount We Must Resist the Push Toward Interimperialist War,” Truthout, May 4, 2023; David Harvey, “A Commentary on A Theory of Imperialism,” in Utsa Patnaik and Prabhat Patnaik, A Theory of Imperialism (New York: Columbia University Press, 2017), pp. 169, 171; Ho-fung Hung, Clash of Empires: From “Chimerica” to the “New Cold War” (Cambridge: Cambridge University Press, 2022); Ho-fung Hung, “Rereading Lenin’s Imperialism at the Time of US-China Rivalry,” Spectre, December 10, 2021, spectrejournal.com.
(4) Hung, “Rereading Lenin’s Imperialism at the Time of US-China Rivalry”; Hung, Clash of Empires, pp. 62, 65.
(5) Robinson, “Capitalist Globalization, Transnational Exploitation and the Global Police State.”
(6) Karl Marx, “On the Question of Free Trade,” in Karl Marx, The Poverty of Philosophy (New York: International Publishers, 1963), 223.
(7) V. I. Lenin, Imperialism, pp. 107–8, 124; V. I. Lenin, “Imperialism and the Split in Socialism,” Collected Works, vol. 23, pp. 106–7.
(8) Chibber, “To Fight Imperialism Abroad, Build Class Struggle at Home.”
(9) Lenin, “Imperialism and the Split in Socialism”; V. I. Lenin, “The Socialist Revolution and the Right of Nations to Self-Determination (Theses),” Collected Works, vol. 22, pp. 143–56; V. I. Lenin, “Address to the Second All-Russia Congress of the Communist Organizations of the Peoples of the East,” Collected Works, vol. 30, pp. 151–62; V. I. Lenin, “Preliminary Draft Theses on the National and Colonial Questions,” Collected Works, vol. 31, pp. 144–51; V. I. Lenin, “Report of the Commission on the National and the Colonial Questions,” Collected Works, vol. 31, pp. 240–45. Um panfleto útil publicado na China inclui o segundo, quarto e quinto destes ensaios: V. I. Lenin, Lenin on the National and Colonial Questions: Three Articles (Beijing: Foreign Languages Press, 1975). O Imperialismo: A Fase Suprema do Capitalismo, de Lenine, como explica Prabhat Patnaik, deve ser lido juntamente com os escritos acima “para qualquer apreciação geral da sua teoria do imperialismo” (Prabhat Patnaik, Whatever Happened to Imperialism and Other Essays [New Delhi: Tulika, 1995], p. 80).
(10) Para uma breve análise que tem em conta esta parte da teoria geral de Lenine e enfatiza a sua relação com o desenvolvimento da teoria da dependência, ver Claudio Katz, Dependency Theory After Fifty Years: The Continuing Relevance of Latin American Critical Thought (Boston: Brill, 2022), pp. 26–29.
(11) Lenin, Imperialism, p. 88; Lenin, “Imperialism and the Split in Socialism,” p. 105.
(12) Lenin, Imperialism: The Highest Stage of Capitalism, pp. 89–90. Um erro económico comum, defendido sobretudo pelos teóricos marxistas ocidentais, foi sugerir, sem qualquer suporte real, que Lenine via o imperialismo como um produto da exportação de capital, ou ele tinha a sua causa nalgum tipo de teoria da crise económica, quer no subconsumo, quer na tendência de queda da taxa de lucro. Em contraste, o próprio Lenine, de facto, argumentou que o imperialismo era o estádio monopolista do capitalismo e, por isso, era tão básico para o sistema como a procura de lucros. Portanto, não precisou de nenhuma explicação económica especial. Como escreveu Oskar Lange: “A procura de lucros monopolistas excedentários [por parte do capital monopolista] é suficiente para explicar a natureza imperialista do capitalismo actual. Consequentemente, teorias especiais do imperialismo, que recorrem a construções artificiais, como a teoria de Rosa Luxemburgo… são completamente desnecessárias” (Oskar Lange, citado em Harry Magdoff, Imperialism: From the Colonial Age to the Present [New York: Monthly Review Press, 1978], p. 279). Para uma crítica da visão economicista estreita da obra de Lenine sobre o imperialismo, ver Prabhat Patnaik, Whatever Happened to Imperialism and Other Essays, pp. 80–101.
(13) Lenin, Imperialism, pp. 88–89, 94–95; Karl Kautsky, “Ultra-Imperialism,” New Left Review 1/59 (January–February 1970): pp. 41–46; Paul A. Baran, The Political Economy of Growth (New York: Monthly Review Press, 1957), p. vii.
(14) Research Unit for Political Economy (RUPE), “On the History of Imperialism Theory”, Monthly Review 59, n.º 7 (December 2007): p. 50.
(15) Lenin, “Address to the Second All-Russia Congress of the Communist Organizations of the Peoples of the East,” pp. 151, 158.
(16) RUPE, “On the History of Imperialism Theory”, p. 43.
(17) Lenin, “The Socialist Revolution and the Right of Nations to Self-Determination (Theses),” p. 149; Tom Lewis, “Marxism and Nationalism, Part 1” International Socialist Review 14 (October–November, 2000).
(18) Lenin, “Imperialism and the Split in Socialism”, p. 115.
(19) Ver Eric Hobsbawm, “Lenin and the ‘Aristocracy of Labor’”, Monthly Review 21, n.º 11 (April 1970): pp. 47–56.
(20) Lenin, Imperialism, pp. 13–14.
(21) Lenin, “Imperialism and the Split in Socialism,” p. 120.
(22) Lenin, “Address to the Second All-Russia Congress of the Communist Organizations of the Peoples of the East,” pp. 151, 158–60.
(23) Lenin, “Preliminary Draft Theses on the National and Colonial Questions,” pp. 145, 148, 150.
(24) Lenin, “Report of the Commission on the National and Colonial Questions,” 240–45; V. I. Lenin, “Comments to the Second Congress of the Communist International on the National and Colonial Question,” Minutes of the Second Congress of the Communist International, Fourth Session, July 25, 1920, Marxists Internet Archive.
(25) M. N. Roy, “Supplementary Theses on the National and Colonial Questions”, Minutes of the Second Congress of the Communist International, July 25, 1920, Marxists Internet Archive; RUPE, “On the History of Imperialism Theory”, p. 44.
(26) “Theses on the Eastern Question”, Resolutions 1922, Fourth Congress of the Communist International, 1922.
(27) “Theses on the Revolutionary Movement in the Colonies and Semi-Colonies”, Sixth Congress of the Communist International, 1928, revolutionarydemocracy.org.
(28) Mao Zedong, “Analysis of the Classes in Chinese Society,” March 1926, Marxists Internet Archive; RUPE, “On the History of Imperialism Theory”, pp. 46–50.
(29) Prabhat Patnaik, “The Theoretical Significance of Lenin’s Imperialism”, People’s Democracy, January 21, 2024.
(30) José Carlos Mariátegui, “Anti-Imperialist Viewpoint”, First Latin American Communist Conference, June 1929, Marxists Internet Archive; José Carlos Mariátegui, An Anthology, Harry E. Vanden e Marc Becker, eds. (New York: Monthly Review Press, 2011).
(31) Ver José Martí, Our America (New York: Monthly Review Press, 1977).
(32) Baran, The Political Economy of Growth.
(33) Sobre a vida e obra de Baran, ver John Bellamy Foster, introduction to Paul A. Baran e Paul M. Sweezy, The Age of Monopoly Capital: Selected Correspondence, 1949–1964, Nicholas Baran e John Bellamy Foster, eds. (New York: Monthly Review Press, 2017), pp. 13–48.
(34) Paul A. Baran e Paul M. Sweezy, Monopoly Capital: An Essay on the American Social and Economic Order (New York: Monthly Review Press, 1966).
(35) Baran, The Political Economy of Growth, p. 162.
(36) David Christian, Maps of Time (Berkeley: University of California Press, 2004), pp. 406–9, 435; Paul Bairoch, “The Main Trends in National Economic Disparities since the Industrial Revolution,” in Bairoch e Maurice Lévy-Leboyer, eds., Disparities in Economic Development since the Industrial Revolution (New York: St. Martin’s Press, 1981), pp. 7–8.
(37) Baran, The Political Economy of Growth, pp. 22–43.
(38) Baran, The Political Economy of Growth, p. 119.
(39) Baran, The Political Economy of Growth, pp. 140–61; Jon Halliday, A Political History of Japanese Capitalism (New York: Monthly Review Press, 1975), pp. 17–18.
(40) Baran, The Political Economy of Growth, pp. 170, 195–98, 205, 214–58.
(41) Baran, The Political Economy of Growth, pp. 184, 197.
(42) Baran, The Political Economy of Growth, p. 174.
(43) Baran, The Political Economy of Growth, p. 10. (44) Vijay Prashad, The Darker Nations (New York: New Press, 2007), pp. 31–50. Partes deste e dos próximos parágrafos baseiam-se em John Bellamy Foster, “The Imperialist World System: Paul Baran’s The Political Economy of Growth After Fifty Years”, Monthly Review 59, n.º 1 (May 2007): pp. 1–16.
(45) Che Guevara, “Speech at the Afro-Asian Conference in Algeria”, 24 de fevereiro de 1965, Marxists Internet Archive; “Statement on Paul A. Baran,” Monthly Review 16, n.º 11 (March 1965): pp. 107–8.
(46) Ver, em especial Eduardo Galeano, Open Veins of Latin America (New York: Monthly Review Press, 1973); Walter Rodney, How Europe Underdeveloped Africa (Washington, DC: Howard University Press, 1981; publicado originalmente em 1972); K. T. Fann e Donald Hodges, eds., Readings in U.S. Imperialism (Boston: Porter Sargent, 1971); Ruy Mauro Marini, The Dialectics of Dependency (New York: Monthly Review Press, 2022, edição original, 1973).
(47) Andre Gunder Frank, Capitalism and Underdevelopment in Latin America (New York: Monthly Review Press, 1967).
(48) Samir Amin, Delinking: Toward a Polycentric World (London: Zed Books, 1990), pp. vii, xii, 62–66; Samir Amin, Accumulation on a World Scale (New York: Monthly Review Press, 1974); Samir Amin, Unequal Development (New York: Monthly Review Press, 1976); “Samir Amin (Born 1931),” in A Biographical Dictionary of Dissenting Economists, Philip Arestis e Malcolm Sawyer, eds. (Cheltenham: Edward Elgar, 2000), 1.
(49) Arghiri Emmanuel, Unequal Exchange: A Study of the Imperialism of Trade (New York: Monthly Review Press, 1972). Emmanuel é também conhecido pelo seu artigo de 1972, “Colonialismo de povoamento branco e o mito do imperialismo dos investimentos”. O colonialismo de povoamento foi originalmente um conceito marxista, desenvolvido em consonância com Marx, Baran, Maxime Rodinson e outros. Arghiri Emmanuel, “White-Settler Colonialism and the Myth of Settler Colonialism,” New Left Review 1/73 (May–June 1972): pp. 35–57; Maxime Rodinson, Israel: A Colonial Settler-State? (New York: Monad Press, 1973). Sobre Marx e colonialismo de povoamento, ver Editors, “Notes from the Editors,” Monthly Review 75, n.º 8 (January 2024). Para o tratamento por Baran do colonialismo de povoamento branco, ver Baran, The Political Economy of Growth.
(50) Samir Amin, “Self-Reliance and the New Economic Order”, Monthly Review 29, n.º 3 (July–August 1977): p. 6; Samir Amin, Imperialism and Unequal Development (New York: Monthly Review Press, 1977), pp. 215–217; Samir Amin, Modern Imperialism, Monopoly Finance Capital, and Marx’s Law of Value (New York: Monthly Review Press, 2018).
(51) Amin, Delinking, pp. 33, 90–91, 157–58; Samir Amin, The Long Revolution of the Global South (New York: Monthly Review Press, 2019), pp. 401–2; Aijaz Ahmad, introdução a Samir Amin, Only People Make Their Own History (New York: Monthly Review Press, 2019), pp. 27–28.
(52) Ver em especial Oliver Cox, Capitalism as a System (New York: Monthly Review Press, 1964); Immanuel Wallerstein, The Modern World-System (Orlando, Florida: Academic Press Inc., 1974), pp. 2–13, 347–57; Immanuel Wallerstein, The Capitalist World-Economy (Cambridge: Cambridge University Press, 1979); Samir Amin, Giovanni Arrighi, Andre Gunder Frank e Immanuel Wallerstein, Dynamics of Global Crisis (New York: Monthly Review Press, 1982).
(53) Giovanni Arrighi, The Geometry of Imperialism (London: Verso, 1983), pp. 171–73.
(54) Stephen Herbert Hymer, The International Operation of National Firms (Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 1976); Stephen Herbert Hymer, The Multinational Corporation: A Radical Approach (Cambridge: Cambridge University Press, 1979); Harry Magdoff e Paul M. Sweezy, “Notes on The Multinational Corporation, Part I,” Monthly Review 21, n.º 5 (October 1969): pp. 1–13; Harry Magdoff e Paul M. Sweezy, “Notes on The Multinational Corporation, Part II,” Monthly Review (November 1969): pp. 1–13.
(55) Joseph Needham, Within Four Seas: The Dialogue of East and West (Toronto: University of Toronto Press, 1969); Samir Amin, Eurocentrism (New York: Monthly Review Press, 1989, 2009); Edward Said, Orientalism (New York: Pantheon, 1978); Edward Said, Culture and Imperialism (New York: Vintage, 1993). A questão do eurocentrismo na teoria marxista foi abordada em Mariátegui, “Anti-Imperialist Viewpoint,” em 1929.
(56) Ver, por exemplo, John Bellamy Foster e Brett Clark, “Ecological Imperialism: The Curse of Capitalism,” in Socialist Register 2004: The New Imperial Challenge, Leo Panitch e Colin Leys, eds. (New York: Monthly Review Press, 2003), pp. 186–201.
(57) John Smith, Imperialism in the Twenty-First Century (New York: Monthly Review Press, 2016); Intan Suwandi, John Bellamy Foster e R. Jamil Jonna, “Global Commodity Chains and the New Imperialism” Monthly Review 70, n.º 10 (March 2019): pp. 1–24; Intan Suwandi, Value Chains (New York: Monthly Review Press, 2019), pp. 1–24; Jason Hickel, Morena Hanbury Lemos e Felix Barbour, “Unequal Exchange of Labour in the World Economy,” Nature Communications 15 (2024); Jason Hickel, Christian Dorninger, Hanspeter Wieland e Intan Suwandi, “Imperialist Appropriation in the World Economy: Drain from the Global South through Unequal Exchange, 1990–2019,” Global Environmental Change 72 (March 2022): pp. 1–13; Zak Cope, Divided World Divided Class (Montreal: Kersplebedeb, 2015); Mateo Crossa, “Unequal Value Transfer from Mexico to the United States”, Monthly Review 75, n.º 5 (October 2023): pp. 42–53; Michael Roberts, “Further Thoughts on the Economics of Imperialism”, The Next Recession, April 23, 2024; John Bellamy Foster e Robert W. McChesney, The Endless Crisis (New York: Monthly Review Press, 2012).
(58) Marini, The Dialectics of Dependency, 130–36; Smith, Imperialism in the Twenty-First Century, 219–23.
(59) Hickel, Lemos e Barbour, “Unequal Exchange of Labour in the World Economy”; Phie Jacobs, “Rich Countries Drain ‘Shocking’ Amount of Labor from the Global South”, Science, August 6, 2024.
(60) Utsa Patnaik and Prabhat Patnaik, “The Drain of Wealth: Colonialism Before the First World War” Monthly Review 72, n.º 9 (February 2021): p. 15.
(61) United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), “Topsy-Turvy World: Net Transfer of Resources from Poor to Rich Countries,” Policy Brief no. 78 (May 2020); Harry Magdoff, “International Economic Distress and the Third World”, Monthly Review 33, n.º 11 (April 1982) 8–13; Robert Lucas, “Why Doesn’t Capital Flow from Rich to Poor Countries?”, American Economic Review 80, n.º 2 (May 1990): pp. 92–96.
(62) John Bellamy Foster, Naked Imperialism (New York: Monthly Review Press, 2006); John Bellamy Foster, John Ross, Deborah Veneziale e Vijay Prashad, Washington’s New Cold War: A Socialist Perspective (New York: Monthly Review Press, 2022); John Bellamy Foster, “The New Cold War on China”, Monthly Review 73, n.º 3 (July–August 2021): pp. 1–20.
(63) Paul M. Sweezy, Modern Capitalism and Other Essays (New York: Monthly Review Press, 1972), 147–65.
(64) U.S. Congressional Research Services, Instances of Use of United States Armed Forces Abroad, 1798–2023, June 7, 2023; David Michael Smith, Endless Holocausts (New York: Monthly Review Press, 2023).
(65) Bernard Semmel, Imperialism and Social Reform (Garden City, New York: Doubleday, 1960).
(66) Bill Warren, “Imperialism and Capitalist Industrialization,” New Left Review 181 (1973): pp. 4, 43, 48, 82, Karl Marx and Friedrich Engels, On Colonialism (New York: International Publishers, 1972), pp. 81–87.
(67) Horace B. Davis, Nationalism and Socialism (New York: Monthly Review Press, 1967), pp. 59–73; Kenzo Mohri, “Marx and ‘Underdevelopment’”, Monthly Review 30, n.º 11 (April 1979): pp. 32–43; Sunti Kumar Ghosh, “Marx on India”, Monthly Review 35, n.º 8 (January 1984): pp. 39–53.
(68) Bill Warren, Imperialism: Pioneer of Capitalism (London: Verso, 1980): pp. 97–98. A noção errada de que Lenine também via o imperialismo como o pioneiro do desenvolvimento pode ser encontrada em Albert Szymanski, The Logic of Imperialism (New York: Praeger, 1983), p. 40.
(69) Por exemplo, Geoffrey Kay, então professor de Economia na Universidade de Londres, escreveu que, com base na sua maior produtividade (e ênfase na mais-valia relativa), “a taxa de exploração nos países avançados é, em termos gerais, mais elevada do que no mundo subdesenvolvido”. Geoffrey Kay, The Economic Theory of the Working Class (New York: St. Martin’s Press, 1979), p. 52. Ver tambem Ernest Mandel, Late Capitalism (London: Verso, 1975), p. 354; Charles Bettelheim, “Appendix I: Theoretical Comments,” in Arghiri Emmanuel, Unequal Exchange, pp. 302–4; Alex Callinicos, Imperialism and Global Political Economy (London: Polity, 2009), pp. 179–81; e Joseph Choonara, Unraveling Capitalism (London: Bookmarks, 2009), pp. 34–35. Para uma refutação geral de tais pontos de vista, ver Smith, Imperialism in the Twenty-First Century.
(70) Jeff Schuhrke, Blue-Collar Empire: The Untold Story of Labor’s Global Anticommunist Crusade (London: Verso, 2024); Kim Scipes, The AFL-CIO’s Secret War Against Developing Country Workers (Lanham, Maryland: Lexington Books, 2011); Paul Buhle, Taking Care of Business: Samuel Gompers, George Meany, Lane Kirkland, and the Tragedy of American Labor (New York: Monthly Review Press, 1999).
(71) Arrighi, The Geometry of Imperialism, pp. 171–73; Giovanni Arrighi, The Long Twentieth Century (London: Verso, 1994). Para uma crítica da teoria dos custos de transação neste contexto, ver John Bellamy Foster, Robert W. McChesney e R. Jamil Jonna, “Monopoly and Competition in Twenty-First Century Capitalism”, Monthly Review 62, n.º 11 (April 2011): pp. 27–31.
(72) Para uma crítica ao imperialismo humanitário, ver Jean Bricmont, Humanitarian Imperialism (New York: Monthly Review Press, 2006).
(73) Sobre a natureza da submissão da esquerda à hegemonia ideológica do capital no que diz respeito ao imperialismo, ver Domenico Losurdo, Western Marxism: How It Was Born, How It Died, and How It Can Be Reborn (New York: Monthly Review Press, 2024), pp. 75–77, 188–89, 209–10, 227.
(74) Prabhat Patnaik, “Whatever Happened to Imperialism?,” Monthly Review 42, n.º 6 (November 1990): p. 4.
(75) Michael Hardt and Antonio Negri, Empire (Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2000), pp. 178, 234, 332–35; John Bellamy Foster, “Imperialism and ‘Empire’”, Monthly Review 53, n.º 7 (December 2001): pp. 1–9; Atilio A. Boron, “‘Empire’ and Imperialism: A Critical Reading of Michael Hardt and Antonio Negri (London: Zed, 2005); Losurdo, Western Marxism, pp. 184, 209–11, 230, 255. A hipótese do mundo plano foi ampliada por Friedman, que afirmou enganosamente que isto também estava de acordo com Marx e Engels. Thomas Friedman, The World Is Flat (New York: Farar, Strauss, and Giroux, 2005).
(76) David Harvey, The New Imperialism (Oxford: Oxford University Press, 2003), pp. 137–82. Sobre a preferência de Marx pela expressão “expropriação original” em vez da “chamada acumulação primitiva [original]” da economia política liberal clássica, ver Ian Angus, “The Meaning of ‘So-Called Primitive Accumulation’”, Monthly Review 74, n.º 11 (April 2023): pp. 54–58.
(77) Harvey, The New Imperialism, p. 209.
(78) Harvey, The New Imperialism, pp. 6–7, 137–40, 137–49; David Harvey, The Limits to Capital (London: Verso, 2006), pp. 427–45; Rosa Luxemburg, The Accumulation of Capital (New York: Monthly Review Press, 1968).
(79) A teoria da acumulação de Rosa Luxemburgo baseava-se na noção de que o capitalismo não podia existir como um sistema auto-contido e necessitava de conquistar “terceiros mercados” para se reproduzir. Harvey, The New Imperialism, pp. 6–7,137–40, 137–49, 299; Harvey, The Limits to Capital, pp. 427–45; Luxemburg, The Accumulation of Capital. Sobre as diferenças entre as teorias do imperialismo de Lenine e de Luxemburgo, ver Magdoff, Imperialism: From the Colonial Age to the Present, pp. 263–73.
(80) David Harvey, The Enigma of Capital (Oxford: Oxford University Press, 2010), pp. 34–35; David Harvey, “A Commentary on A Theory of Imperialism,” pp. 169–71.
(81) U.S. National Intelligence Council, Global Trends 2025 (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, November 2008): 4.
(82) Hickel, Lemos e Barbour, “Unequal Exchange of Labour in the World Economy,” pp. 15–17; Crossa, “Unequal Value Transfer from Mexico to the United States,” 50; UNCTAD, “The Topsy-Turvy World.”
(83) David Harvey citado em Salar Mohandesi, “The Specificity of Imperialism,” Viewpoint, February 1, 2018.
(84) David Harvey, “Realities on the Ground: David Harvey Replies to John Smith,” Review of African Political Economy, February 5, 2018, roape.net.
(85) Moishe Postone, “History and Helplessness: Mass Mobilization and Contemporary Forms of Anticapitalism,” Public Culture 18, n.º 1 (2006): pp. 96–97; Moishe Postone, Time, Labor, and Social Domination: A Reinterpretation of Marx’s Critical Theory (Cambridge: Cambridge University Press, 1996).
(86) A argumentação de Postone destacou Noam Chomsky e Naomi Klein para críticas, centrando-se nos seus relatos sobre o papel dos E.U.A. e de Israel no Médio Oriente.
(87) Foster, McChesney e Jonna, “Monopoly and Competition in Twenty-First Century Capitalism.”
(88) World Bank, World Development Report 2020: Trading for Development in the Age of Global Value Chains (Washington, DC: International Bank for Reconstruction and Development, 2020), pp. 15, 19, 26; Benjamin Selwyn e Dara Leyden, “World Development under Monopoly Capitalism”, Monthly Review 73, no. 6 (November 2021): pp. 21–24.
(89) Chibber, “To Fight Imperialism Abroad, Build Class Struggle at Home.”
(90) Chibber, “To Fight Imperialism Abroad, Build Class Struggle at Home.” A análise de Chibber segue a teoria do ultra-imperialismo de Kautsky, que separou o conceito de imperialismo do de exploração mundial. Ver Anthony Brewer, Marxist Theories of Imperialism (London: Routledge, 1990), 130.
(91) Vivek Chibber, The Class Matrix (Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2022).
(92) Robinson, Into the Tempest, pp. 99–121. Sobre as fragilidades empíricas da tese do capital transnacional, ver Samir Amin, “Transnational Capitalism or Collective Imperialism?,” Pambazuka News, March 23, 2011; Ha-Joon Chang, Things They Don’t Tell You About Capitalism (New York: Bloomsbury, 2010), pp. 74–87; Ernesto Screpanti, Global Imperialism and the Great Crisis (New York: Monthly Review Press, 2014), 57–58.
(93) Robinson, “The Unbearable Manicheanism of the ‘Anti-Imperialist’ Left,”; Robinson, “Capitalist Globalization, Transnational Class Exploitation, and the Global Police State”; Robinson, “The Travesty of ‘Anti-Imperialism,'” p. 592.
(94) William I. Robinson, Global Capitalism and the Crisis of Humanity (Cambridge: Cambridge University Press, 2014), 126; Lenin, “Imperialism and the Split in Socialism,” p. 115.
(95) Robinson, “Capitalist Globalization, Transnational Class Exploitation, and the Global Police State.”
(96) Gilbert Achcar, “How to Avoid the Anti-Imperialism of Fools,” The Nation, April 6, 2021; Roger D. Harris, “Anti-Anti-Imperialism: Gilbert Achcar’s Leftist Imperialism with Caveats,” Mint Press, June 1, 2021; Gilbert Achcar, “Reflections of an Anti-Imperialist After Ten Years of Debate,” New Politics, September 2021, newpol.org; Gilbert Achcar, “Libya: A Legitimate and Necessary Debate from an Anti-Imperialist Perspective,” Le Monde diplomatique, March 28, 2011, mondediplocom.
(97) Gabriel Hetland, “Why Is Venezuela Spiraling Out of Control?” NACLA, April 15, 2017, nacla.org; Jordan Woll, “Jacobin Magazine Attacks Venezuela, Cuba, and TeleSur,” Liberation News, June 12, 2017, liberationnews.org. Num artigo recente em Sidecar, uma publicação online associada à New Left Review, Gabriel Hetland não só repete as críticas extremamente distorcidas do sistema mediático imperial sobre as eleições de 2024 na Venezuela, como deixa claro que a principal preocupação é “que as políticas social-democratas” sejam vistas como “insustentáveis no século XXI”. Qualquer apoio à Venezuela deve, por isso, ser abandonado em prol da política social-democrata, mesmo que se reconheçam as sanções extremas dos E.U.A. e as tentativas de golpe. Gabriel Hetland, “Fraud Foretold?,” Sidecar, August 21, 2024. Para uma visão alternativa ver Drago Bosnic, “Venezuelan Presidential Election from a Serbian Observer’s Perspective—Interview,” BRICS Portal, August 26, 2024. Sobre o “imperialismo democrático” ver Stanley Kurtz, “Democratic Imperialism: A Blueprint,” Hoover Institution, April 1, 2003.
(98) Harris, “Why Doesn’t the World Make Sense Any More?”; Alessandro Borin, Michelle Mancini e Daria Taglioni, “Measuring Countries and Sectors in GVC”, World Bank Blogs, November 22, 2021.
(99) István Mészáros, “The Uncontrollability of Global Capital”, Monthly Review 49, n.º 9 (February 1998): p. 32; István Mészáros, Socialism or Barbarism (New York: Monthly Review Press, 2001), pp. 28–29. Robinson abandona completamente o reino da realidade na sua teoria do “Estado capitalista transnacional emergente.” Robinson, Global Capitalism and the Crisis of Humanity, pp. 65–69.
(100) Hung, “Rereading Lenin’s Imperialism at the Time of U.S.-China Rivalry”; Hung, Clash of Empires, pp. 62, 65.
(101) Ruy Mauro Marini, “Brazilian Sub-Imperialism”, Monthly Review 23, n.º 9 (February 1972): pp. 14–24.
(102) Ilya Matveev, “We Live in a World of Growing Interimperialist Rivalries,” Jacobin, May 2024; Ashley Smith, “Imperialism and Anti-Imperialism Today,” Tempest, May 24, 2024.
(103) Michael Roberts, “50 Years of Dependency Theory”, The Next Recession, November 4, 2023; Guglielmo Carchedi e Michael Roberts, “The Economics of Modern Imperialism,” Historical Materialism 29, n.º 4 (2021): pp. 23–69; Andrea Ricci, “Unequal Exchange in the Age of Globalization,” Review of Radical Political Economics 51, n.º 2 (2019).
(104) Escrevendo sobre “A farsa do ‘anti-imperialismo’” no The Journal of World-Systems Research, Robinson repete calúnias contra Prashad feitas por órgãos de comunicação social estabelecidos, incluindo The Daily Beast e a New Lines Magazine (e mais recentemente, desde que o artigo de Robinson foi publicado pela primeira vez, pelo The New York Times), envolvendo consideráveis doações financeiras ao Instituto Tricontinental de Investigação Social, onde Prashad é diretor executivo. Os donativos em causa são de Roy Singham, presidente do conselho consultivo internacional da Tricontinental e uma figura notável com uma longa história de ativismo antirracista-capitalista, anti-imperialista e socialista nos Estados Unidos da América e em todo o mundo, que fez fortuna no desenvolvimento de software. Baseando-se nos ataques ao estilo macartista da Nova Guerra Fria dos media corporativos, no facto de Singham ter simpatias pelo socialismo com características chinesas, e no apoio financeiro deste à Tricontinental e a outras organizações de esquerda em todo o mundo, Robinson afirma que Prashad "parece estar politicamente comprometido" devido à aceitação de donativos de Singham pela Tricontinental. É certo que, vistas do ponto de vista imperialista, tais doações serão ilegítimas, na medida em que entram em conflito com os objetivos da Nova Guerra Fria de Washington. No entanto, a acusação de Robinson de que Prashad está, portanto, “politicamente comprometido” não faz sentido de um ponto de vista anti-imperialista, onde a aceitação de tal financiamento está inteiramente de acordo com uma crítica fundamental do sistema mundial imperialista. Robinson, “The Travesty of ‘Anti-Imperialism,'” 592; “A Global Web of Chinese Propaganda Leads to a U.S. Tech Mogul,” The New York Times, August 10, 2023; Vijay Prashad, “My Friends Prabir and Amit and in Jail in India for their Work in the Media”, Counterpunch, October 4, 2023.
(105) Pierre Rousset, “China: A New Imperialism Emerges,” International Viewpoint, November 18, 2021.
(106) Ver Editors, “Notes from the Editors”, Monthly Review 75, n.º 6 (November 2023).
(107) Minqi Li, “China: Imperialism or Semi-Periphery?”, Monthly Review 73, n.º 3 (July–August 2021): p. 57. Um erro no texto original referia-se aos cálculos da perda líquida de trabalho da China para incluir “não apenas a transferência líquida de trabalho que resulta dos termos de troca desfavoráveis de trabalho da China, mas também o trabalho incorporado nos ‘superávits comerciais’ da China” (Li, “China: Imperialism or Semi-Periphery?,” 56). Sobre a metodologia, ver Minqi Li, China in the 21st Century (London: Pluto, 2015): pp. 200–2. Ver também Foster e McChesney, The Endless Crisis, pp. 165–74; Suwandi, Jonna e Foster, “Global Commodity Chains and the New Imperialism.”
(108) “Comparing United States and China by Economy,” Statistics Times, August 29, 2024.
(109) “Hyper-Imperialism: A Decadent New Stage,” Tricontinental Institute, January 23, 2024; U.S. Congressional Research Service, Instances of Use of United States Armed Forces Abroad, 1798–2023, June 7, 2023; John Pilger, “There Is a War Coming Shrouded in Propaganda”, John Pilger (blog), May 1, 2023, braveneweurope.com.
(110) Frederick Thon, Manuel Rodríguez Banchs e Jorge Lefevre Tavárez, “The ‘Multipolar World’: A Euphemism for Multiple Imperialisms,” The Call, July 6, 2024, socialistcall.com.
(111) Frantz Fanon, The Wretched of the Earth (New York: Grove Press, 1963).
(112) “Principles of Unity”, Black Alliance for Peace. Para os ensaios anti-imperialistas de Du Bois durante a Primeira Guerra Mundial e posteriormente, notáveis como críticas ao capitalismo racial e ao imperialismo, ver W. E. B. Du Bois, Darkwater (Mineola, New York: Dover, 1999): Charisse Burden-Stelly, “Modern U.S. Racial Capitalism: Some Theoretical Insights”, Monthly Review 72, n.º 3 (July–August 2020): pp. 8–20.
(113) Ruth Wilson Gilmore, “On the Centenary of Lenin’s Death”, Verso (blog), January 25, 2024; Roxanne Dunbar-Ortiz, An Indigenous Peoples’ History of the United States (Boston: Beacon, 2014), pp. 162–77.
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