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Porquê os homens? Uma história humana de violência e desigualdade
Elaine Graham-Leigh (*)
Apelos a ideias sobre a natureza humana são comuns no pensamento conservador e liberal. Quer justifiquem a opressão das mulheres, as desigualdades de classe ou o racismo, não faltam argumentos de que tais coisas são inevitáveis porque os humanos são naturalmente assim. Alguns argumentaram mesmo que, longe de a violência e a desigualdade serem a criação de uma sociedade de classes, as democracias liberais são as únicas estruturas que nos salvam dos piores efeitos do nosso comportamento produto da evolução (1). Esta não é simplesmente uma questão de debate académico, mas uma ideologia que está profundamente presente nas nossas vidas pessoais. E quando a desigualdade é naturalizada tão profundamente em todos os nossos relacionamentos, ficamos emaranhados em nós de amor, e torna-se quase impossível dizer: “'Não, a desigualdade não é natural, mas beneficia algumas pessoas e prejudica muitas outras'” (p. 12).
Nancy Lindisfarne e Jonathan Neale, Why Men? A Human History of Violence and Inequality, Hurst & Company 2023, 444 pp..
A tentação, em resposta a isto, é argumentar contra a existência de uma natureza humana, considerarmo-nos, a nível individual ou social, como alguém que está para além de quaisquer tendências ou restrições inatas. Esta foi, por exemplo, essencialmente, a posição assumida por David Graeber e David Wengrow em The Dawn of Everything, argumentando que cada sociedade humana teve uma escolha entre a desigualdade e o igualitarismo (2). Lindisfarne e Neale não têm contemplações para com este tipo de negação, comentando assim a questão de saber se existe algo chamado natureza humana: “mas é claro que existe, e todos sabem disso” (p. 4). O seu objetivo, aqui, é considerar a sociedade humana à luz das condições materiais da pré-história humana, mas argumentar que isto não significa admitir que somos todos inerentemente violentos e hierárquicos.
Uma posição alternativa seria, naturalmente, na linha da visão de Rousseau da humanidade caída de um estado infantil de inocência pré-lapsariano. Lindisfarne e Neale evitam isto, postulando que, tal como acontece com outras espécies de primatas, a humanidade primitiva teria sido hierárquica em vez de igualitária. Na sua opinião, a cooperação e a igualdade são comportamentos aprendidos pelos humanos, comportamentos que adotamos, que nos permitiram ter sucesso como caçadores de emboscadas e retidos a partir daí, pois que as vantagens do cuidado partilhado e dos laços afetivos nos ajudaram a sobreviver e a proliferar.
Como argumento, isto parece dever algo à visão antiquada da caça como “o comportamento dominante da espécie humana” (3), salientando a caça grossa em vez de fontes de proteína menos arriscadas. Lindisfarne e Neale, no entanto, rejeitam a ideia, frequentemente concomitante com esta, de que a caça, como reserva masculina, teria dado origem ao domínio masculino sobre as mulheres, sendo explícitos em como a carne obtida através da caça cooperativa seria depois partilhada cooperativamente com todo o bando. A mulher paleolítica como dona de casa dos anos 1950, à espera que o seu homem trouxesse para casa os bifes de auroque, não tem lugar aqui.
Potencial contraditório
Apesar deste igualitarismo aprendido, no entanto, para a humanidade, o potencial para um regresso à desigualdade está sempre presente, espreitando sob a superfície dessas sociedades cooperativas de caçadores-coletores.
“No entanto, a tendência para criar hierarquias de dominação também fazia parte da nossa herança primata. Não desapareceu, mas foi reprimida. Criar e submeter-se a uma hierarquia continuou a fazer parte da nossa natureza humana. Compreender esta aparente contradição – a nossa disposição simultânea tanto para a igualdade como para a desigualdade – é fundamental para nos compreendermos como seres humanos” (p. 2).
Isto tornou-se importante com o início da agricultura e o desenvolvimento de sociedades com produção excedentária, propriedade privada, classe e opressão das mulheres, levantando a questão “porquê os homens?”
Lindisfarne e Neale são claros quanto à ligação existente entre a opressão de classe e a das mulheres, revendo e descartando uma série de exemplos frequentemente citados como prova em contrário. Nalguns casos, como o de alguns povos tribais da Nova Guiné, sociedades que, muito claramente, têm realmente opressão das mulheres, também podem ser vistas como tendo desigualdades económicas e políticas, pelo que a ideia de que representam sociedades não-classistas com opressão das mulheres não parece ser válida. ser sustentável. Noutros, como o das sociedades aborígenes australianas, é a extensão da liberdade e independência das mulheres nas sociedades tradicionais que tem sido minimizada ou mal compreendida pelos investigadores. É claro que essas sociedades tradicionais também foram seriamente afetadas pelo colonialismo, pelo que é possível que antes do contacto europeu, as sociedades aborígenes australianas não tivessem opressão de classe nem de mulheres.
Que a opressão das mulheres surge do desenvolvimento de sociedades de classes foi defendido por Engels em A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Lindisfarne e Neale são explícitos na sua rejeição de Engels, e também de grande parte de Marx. A Origem da Família, de Engels, é “um livro muito mau” com “mais de cem passagens ilógicas ou ofensivas”, incluindo racismo e homofobia (p. 335). Isto é injusto para com Engels (4), que, como é aqui observado, juntamente com Marx, era “marcadamente não-racista pelos padrões do seu tempo e lugar” (p. 339), e não é surpreendente que as compreensões antropológicas e históricas da pré-história humana tenham mudado um pouco desde a década de 1870. As objeções de Lindisfarne e Neale às ideias de Engels vão aqui, no entanto, além da sua apresentação, para representarem uma visão substancialmente diferente das origens da opressão de classe e das mulheres.
Uma diferença, que não é explicitamente declarada na secção sobre Engels, é que enquanto Engels falava sobre a opressão das mulheres, “a derrota histórica mundial do sexo feminino” (5), Lindisfarne e Neale falam sobre a desigualdade de género. Precisamente o que isso significa não está explicado. Só gradualmente se torna evidente que a “desigualdade de género” não é simplesmente um sinónimo de opressão das mulheres, mas pretende abranger a opressão com base na identidade de género e, nalguns lugares, também na sexualidade.
Que isto é significativo para o argumento torna-se claro em vários pontos, como na secção sobre várias comunidades das Primeiras Nações nas Grandes Planícies, após o fim do estado de Cahokian, nos finais do século XIII. Lindisfarne e Neale indicam que algumas destas comunidades tinham efetivamente opressão das mulheres: “as hierarquias de género caracterizavam a organização social de alguns grupos de índios guerreiros das planícies” (p. 252). No entanto, porque aceitavam a fluidez de género e um leque de comportamentos sexuais, são aqui vistos como igualitários: “emergiu um espaço igualitário e fluido de género diferente [após a queda de Cahokia]” (p. 264).
O aparente argumento de que a tolerância a diferentes sexualidades ou a fluidez de género (seja qual for a sua definição) significa que as provas da opressão das mulheres, de alguma forma, já não contam, é estranho e não será fácil de defender em diferentes sociedades. Devemos considerar as antigas cidades-estado gregas, por exemplo, como modelos de igualdade de género? Presumivelmente não, mas é difícil escapar à conclusão de que estas passagens demonstram a confusão que pode surgir quando os argumentos históricos são conduzidos em termos estabelecidos pelos debates atuais e não pela natureza da evidência. Isto é sublinhado pelo comentário de que estas sociedades das Grandes Planícies tinham “uma tolerância para com… prostituta/os masculinos e femininas” (p. 251), sem qualquer explicação de como é que a existência de pessoas que vendem sexo é consistente com uma sociedade sem classes, na qual, certamente, não se esperaria nem a mercantilização do sexo nem disparidades significativas de riqueza.
Família, propriedade e opressão
Contudo, ao considerarem as origens da “desigualdade de género”, Lindisfarne e Neale parecem estar a considerar especificamente a opressão das mulheres e, de facto, avançam uma teoria baseada explicitamente nas diferenças entre a biologia masculina e feminina. Esta teoria, porém, não é a de Engels. Para Engels, a opressão das mulheres desenvolveu-se juntamente com a propriedade privada porque os homens, nas novas sociedades de classes, tinham de dominar as mulheres para identificar os seus filhos e garantir que herdariam a sua propriedade. O desenvolvimento de um sistema de classes significou que a reprodução do trabalho era agora um assunto privado de cada família, em vez de uma preocupação coletiva, e para que os homens pudessem controlá-la, tinham de controlar as mulheres. Lindisfarne e Neale argumentam contra esta tese que ela “exigiria que os humanos não tivessem tido qualquer tipo de família antes da sociedade de classes” (p. 339) e que a ligação entre a família e o controlo e herança da propriedade foi refutada pelo facto de que a opressão das mulheres não foi eliminada entre pessoas que não possuem pessoalmente propriedades significativas.
Nenhuma destas refutações parece ser particularmente eficaz. A primeira depende da definição de família. No sentido de que a família na sociedade de classes é uma instituição destinada à manutenção da hierarquia e à transmissão do poder e da propriedade, seria bem surpreendente que ela existisse nas sociedades igualitárias. Isto não é o mesmo que argumentar que as pessoas nas sociedades pré-classistas não tivessem já laços especiais com os seus familiares. A segunda refutação cai na armadilha de ver numa base individual estruturas que funcionam ao nível de uma sociedade. Na verdade, os indivíduos podem não possuir muito que valha a pena transmitir aos seus herdeiros, mas numa sociedade estruturada em torno da família, não é prova de nada o facto de eles continuarem, ainda assim, a viver em famílias. Se pudéssemos identificar sociedades inteiras que eliminaram com sucesso e permanentemente a propriedade privada, mas que ainda mantêm estruturas familiares patriarcais, isso seria alguma coisa, mas essa experiência social ainda está por ser conduzida.
Em vez da herança de propriedade, Lindisfarne e Neale identificam a violência como sendo a razão para o desenvolvimento da opressão das mulheres, como resultado do surgimento das classes. As primeiras sociedades de classes eram extremamente violentas, dependendo da coerção tanto para extrair trabalho das suas populações como para capturar novos trabalhadores, para permitir a expansão ou apenas para substituir os trabalhadores que lhes escapavam. Há aqui um argumento claro sobre a importância da violência no avanço e na manutenção da desigualdade e sobre o papel da violência nos rituais para impor o poder de classe. Contudo, é menos claro que a violência possa ser razoavelmente vista como a base para a opressão das mulheres, para além de uma forma de impor a divisão em classes.
Lindisfarne e Neale argumentam que teriam sido os homens que, com a sua maior força física, em média, teriam sido procurados pelas elites nas novas sociedades de classes para agirem como seus executores, exercendo a violência que sustentava o seu poder de classe. Isto pode ser verdade, embora, face às provas de que um pequeno número de mulheres atuou também como guerreiras, mesmo em sociedades de classes, no período histórico, possa não ser uma suposição inteiramente segura. No entanto, é difícil perceber como se passa de uma minoria de homens atuando como capangas do senhor para um sistema em que as mulheres em toda a sociedade são oprimidas, ou por que razão isso seria benéfico para as elites.
Lindisfarne e Neale comentam que “sendo a violência um pré-requisito, faz sentido colocar os homens na posição de guerreiros e usar a diferença de género para dividir e dominar ainda mais” (p. 147), mas isto não é particularmente convincente. Vale a pena notar que, embora fosse claramente do interesse das elites, a opressão das mulheres não é precisamente uma estratégia de dividir para dominar. Por exemplo, um homem chefe de família, em virtude da sua posição patriarcal, esperaria certamente que as mulheres do seu agregado familiar o apoiassem, por exemplo, abandonando com ele a sua cidade para aderir à sociedade sem classes mais próxima. No entanto, o controlo que a opressão das mulheres deu ao chefe de família, sobre a reprodução do trabalho e a transmissão da propriedade, poderá torná-lo menos propenso a considerar esse abandono, permanecendo antes sob a proteção de um Estado patriarcal. Esse seria um argumento que valeria a pena prosseguir, mas não é a hipótese apresentada aqui.
A guerra de classes era inevitável?
Para ser justo, Lindisfarne e Neale parecem, em alguns pontos, apresentar a hipótese da violência de forma bastante provisória, comentando que “a razão pela qual a ideologia favorece os homens em detrimento das mulheres é uma questão enorme e sem possibilidade de uma resposta definitiva” (p.125). É claro, porém, que eles consideram a violência das sociedades de classes não apenas como algo que as sociedades desenvolveram com as classes, mas como o ressurgimento de uma característica humana básica que as sociedades igualitárias de caçadores-coletores vinham suprimindo. A resposta à pergunta “porquê os homens?” deve, argumentam eles, “ser encontrada tanto entre a nossa herança primata como nas caraterísticas da sociedade de classes” (p. 3).
É claro que nenhuma sociedade pode desenvolver formas de comportamento que estejam fora do alcance da espécie humana. Nós nos desenvolvemos, como seres sociais, dentro da nossa biologia. Lindisfarne e Neale, no entanto, estão a sugerir algo diferente: que em vez de as primeiras sociedades de classes fazerem uso da capacidade dos humanos para serem violentos, estavam a libertar uma tendência inerente à violência que os indivíduos retinham em si desde um passado distante. Ver a violência utilizada na imposição da sociedade de classes como uma questão individual, faz com que ela passe de uma questão estrutural para uma questão da natureza humana. Como comentam Lindisfarne e Neale: “tudo o que é necessário é que as pessoas que dirigem o sistema dependam tanto da violência como de uma acentuada divisão de género para manter a hierarquia no lugar. E para fazer isso eles podem recorrer a aspetos da nossa herança primata que outrora deixáramos para trás” (p. 151).
Se a violência das sociedades de classes é uma questão de regresso dos humanos ao seu tipo, então isto também levanta a questão de saber se devemos ver o desenvolvimento das sociedades de classes como inevitável. Se a classe se desenvolve quando se tem um excedente acima das necessidades básicas de subsistência da população, isso significa que é impossível manter o igualitarismo e um padrão de vida decente? A natureza humana simplesmente proíbe isso?
Lindisfarne e Neale observam corretamente que a classe não se espalhou automaticamente a partir do coração da revolução agrícola neolítica e que o desenvolvimento da classe foi um processo contestado:
“Desses primeiros centros, a ideia da agricultura se espalhou pelo mundo. Mas a sociedade de classes não a seguiu automaticamente. Em alguns lugares, as pessoas às vezes cultivaram durante milhares de anos antes de desenvolverem classes e Estados. O crescimento da sociedade de classes nunca foi direto, linear ou simples” (p. 104).
Podemos mudar o mundo?
Apesar disso, a impressão geral dada pela discussão que se segue é antes a oposta, de que o igualitarismo é determinado tecnologicamente e que, uma vez obtida a agricultura, obtém-se a classe. Esse parece ser o ponto da discussão sobre os Chumash, da costa do Pacífico dos E.U.A.. Ao argumentar que o excedente agrícola que produz as classes não tem de ser um excedente de cereais – o salmão também funciona muito bem – parece apoiar-se a ideia geral da inevitabilidade das classes. Que classe e agricultura estão inextricavelmente ligadas fica também implícito neste comentário sobre como as formas de agricultura praticadas por povos não sedentários poderiam representar uma fuga dela:
“Em vez da agricultura de cereais, do desenvolvimento da hierarquia de classes e do domínio masculino, podemos ver a inversão esperançosa desse processo nas ligações existentes entre a agricultura de corte e queimada, o escape à hierarquia de classes e as relações de género igualitárias” (p. 195).
Este é um argumento crucial, devido às suas implicações para a nossa esperança de construir uma sociedade mais igualitária no futuro. Lindisfarne e Neale reconheceram isto claramente, comentando que Graeber e Wengrow estavam a tentar, em The Dawn of Everything, afastar a conclusão de que “uma vez que a desigualdade apareceu como resultado da agricultura, da vida urbana e da complexidade económica, não houve – não há – nenhuma esperança de mudar o mundo” (p. 344).
Dada a sua centralidade, Lindisfarne e Neale são surpreendentemente vagos sobre o que consideram ser a resposta a esta questão. Resta-nos especular sobre o que eles pensam serem as implicações das “condições materiais do planeta e das alterações climáticas” (p. 346) que Graeber e Wengrow são acusados de ignorarem. Seria possível interpretar o seu argumento aqui como apoiando a ideia de que derrubar a sociedade de classes e enfrentar a crise climática são ambos impossíveis, a menos que voltemos a viver em pequenos grupos de caçadores-coletores. Se é isso que se pretende, é estranhamente difícil dizer.
Ao considerar o desenvolvimento das classes, é importante compreendê-lo não apenas como contestado, mas como contingente. As sociedades de classes acabaram por vencer porque são inerentemente expansionistas, de uma forma que as sociedades igualitárias não o são, e porque não podem viver lado a lado com sociedades livres que ofereçam uma saída permanente para as suas populações oprimidas. A difusão das classes por todo o mundo não demonstra que ela fosse inevitável ou que tenha surgido naturalmente da natureza humana. A existência bem documentada, não discutida aqui, de sociedades sedentárias com padrões de vida relativamente elevados mas sem classes, em locais como a antiga Anatólia e o Vale do Indo, indica que não há nada de inerente na ligação entre a geração de excedentes e a geração de desigualdade.
A lição da pré-história humana não é que somos naturalmente violentos e opressivos, nem que estamos habituados a sê-lo mas podemos superá-lo, com muito esforço dirigido. Essa lição é antes a de que somos adaptáveis. Não é negar a existência da natureza humana observar, como disse Marx, que os humanos, e apenas os humanos, trabalham propositadamente para moldar o nosso ambiente, ou que podemos trabalhar de forma semelhante para moldar as nossas sociedades. As sociedades de classes e a violência que as suas elites usam para manter a sua posição não estavam à espreita na nossa natureza, esperando para surgir assim que nos sentíssemos demasiado confortáveis. Foram desenvolvimentos históricos, e essa compreensão é o que mantém a esperança de que possamos, algum dia, fazer das classes e da opressão história passada.
(*) Elaine Graham-Leigh é uma historiadora, contabilista, escritora e ativista ambiental inglesa, residente no norte de Londres. Fala e escreve amplamente sobre questões de mudanças climáticas e justiça social, sendo membro do coletivo editorial e militante Counterfire. É autora de The Southern French Nobility and the Albigensian Crusade (Boydell and Brewer 2005), A Diet of Austerity, Class, Food and Climate Change (Zero Books 2015), Marx and the Climate Crisis, (Counterfire 2020) e da novela The Caduca (The Conrad Press 2021). As suas histórias de ficção científica apareceram em zines como Jupiter SF, The Harrow, Bewildering Stories e Theaker's Quarterly Fiction. Esta recensão crítica foi originalmente publicada em Counterfire. A tradução é de Ângelo Novo. Nancy Lindisfarne e Jonathan Neale são autores já publicados anteriormente em O Comuneiro, nomeadamente com uma crítica muito bem fundada às ideias histórico-antropológicas de David Graeber. De todo o corpus da obra dos fundadores do marxismo, a peça mais problemática, face às investigações acumuladas posteriores, é, sem dúvida, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Há, indiscutivelmente, uma ligação profunda entre os alvores da opressão de classe e a opressão da mulher. Mas as coisas passaram-se de uma forma bem mais complicada e multímoda do que foi esquematizado por Engels, exigindo um escrutínio muito mais aturado.
_____________________ NOTAS:
(1) Leia-se Dominic Alexander, “The Darker Angels of our Nature: refuting the Pinker theory of history and violence – book review”, Counterfire, 16 December 2021.
(2) Leia-se Dominic Alexander, “The Dawn of Everything: A New History of Humanity – book review”, Counterfire, 10 February 2022.
(3) Roger Lewin, Bones of Contention. Controversies in the Search for Human Origins, (Simon & Schuster, New York 1987), pp. 315-7.
(4) Leia-se Elaine Graham-Leigh, “Engels was right, class society and women’s oppression aren’t inevitable or irreversible”, Counterfire, 17 May 2020.
(5) Frederick Engels, The Origins of the Family, Private Property and the State, (Pathfinder Press 1972), p. 85.
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