Partindo para outra

 

 

Terry Eagleton (*)

 

 

Walter Benjamin observou uma vez que o que levou, até hoje, homens e mulheres à revolta, não foram sonhos de netos libertados, mas memórias de antepassados oprimidos. Visões de felicidade futura estão todas muito bem; mas a felicidade é uma palavra fraca, tipo campo de férias, ressonante de sorrisos maníacos e casacos multicoloridos, sobretudo quando comparada com o tipo de passado que, como comentou Marx, pesa como um tormento sobre o cérebro dos vivos. Benjamin não era totalmente cético em relação ao futuro, como bem salienta Fredric Jameson neste monumental estudo. Pelo contrário, ele discerniu nele um poder messiânico para perturbar o presente. Mesmo assim, trata-o com uma certa cautela judaica: é proibido esculpir imagens gravadas do futuro porque fazê-lo é usá-lo como fetiche ou totem para manipular o presente. Tal como não se pode nomear Deus, também não se pode pôr um rosto no seu reino futuro. Especular sobre o futuro é o oposto da fé Abraâmica. Benjamin lembrou-nos que nem mesmo os mortos estão a salvo do fascismo, que muito simplesmente os apagará do registo histórico; e pode-se igualmente afirmar que nem mesmo o futuro está a salvo daqueles que o vêm como não mais do que o presente estendendo-se até ao infinito. Ou, como disse um comentador cáustico, o presente e mais umas tantas opções de investimento. Nesta perspetiva, o futuro já chegou, e o seu nome é o presente.

 

Contudo, a aversão de Benjamin a imagens do futuro pertence tanto ao seu marxismo como ao seu judaísmo. Embora Marx tivesse alguns comentários positivos a fazer sobre pensadores utópicos, ele começou a sua carreira em combate com esta corrente de pensamento, e é notoriamente silencioso sobre como seria uma futura ordem socialista. Era a atitude indicativa e não a subjuntiva que o preocupava. Qualquer fantasista ocioso poderia sonhar com uma sociedade ideal, mas foi preciso um materialista histórico para identificar aquelas contradições no presente que poderiam eventualmente levar à sua negação. Uma vez feito isto, não havia logicamente mais nada a dizer. Podia-se falar daquilo a que Marx chamou 'pré-história' (ou seja, toda a história até à data), também conhecido como o reino da necessidade, porque a necessidade tem uma forma tediosa e previsível nela própria. Mas não se poderia falar do que realmente importa - o reino futuro da liberdade - uma vez que a liberdade, por definição, não tem uma forma previsível. Quanto à transição de um reino para o outro, pode (deve) dizer-se que arranjos políticos seriam necessários para fazer arrancar a verdadeira história; mas não se pode predeterminar como será essa história, assim que seja lançada. Se pudesse, então o futuro seria apenas uma projeção em fantasia do presente, e todo o projeto naufragaria.

 

Marx, portanto, ao mesmo tempo acredita e não acredita em receitas para o futuro (“blueprints”), uma possibilidade que Jameson não tem plenamente em conta. O fundador do marxismo consegue, assim, escapar ao movimento de pinça a que os seus seguidores são frequentemente sujeitos: se conseguir descrever um futuro desejável, em qualquer pormenor, então você é prisioneiro de alguma dessecada receita; se não conseguir, então é um sonhador patético. Quanto ao futuro, escreve Marx, "o conteúdo vai além da forma", o que significa, talvez, que não se pode, simplesmente, ler a natureza da sociedade justa a partir das instituições criadas para a estabelecer. A tarefa dos socialistas termina com a própria transição. Nessa altura, eles podem despojar-se das suas crenças, voltar a entrar na raça humana e falar de algo mais interessante do que o modo de produção asiático.

 

Um contraste entre forma e conteúdo assombra o livro de Jameson. O tipo de utopia que menos lhe interessa é a do género programático, com a sua "solução única para todos os nossos males", os seus esquemas obsessivos e excêntricos para vestuário higiénico e arranjos sanitários eficientes. Muitas utopias literárias são lugares inodoros, antissépticos, intoleravelmente sensatos e lineares, nos quais os nativos tagarelam durante horas sobre os seus métodos impecáveis de aquecimento por baixo do pavimento. Em contraste com estes modelos sombrios, Jameson oferece-nos uma versão desafiadoramente formalista do futuro, na qual o que capta a nossa atenção, na ficção utópica, é a pura possibilidade de tentar imaginar uma rotura radical com o presente. Esta figuração, acredita Jameson, está condenada ao fracasso; mas ao falhar, atrai ainda assim o nosso olhar para as limitações do presente, atuando deste modo como uma crítica negativa do mesmo. O futuro, portanto, é uma espécie de sublimidade, no sentido em que, para Kant, a natureza sublime da Razão é revelada exatamente na nossa incapacidade de a representar. A vocação da utopia é confrontar-nos com a nossa incapacidade em a imaginar. A ficção científica mais típica, argumenta Jameson, numa bela frase, não tenta seriamente imaginar um futuro real, mas "transformar o nosso próprio presente no passado determinado de algo que ainda está para vir".

 

Existe, de facto, uma rica tradição de um tal utopianismo negativo, muito da qual Jameson, estranhamente, passa ao lado. Uma veia especificamente judaica, que vai de Ernst Bloch e Gustav Landauer a Martin Buber e Herman Cohen, foi recentemente escavada por Russell Jacoby no seu livro Picture Imperfect. Curiosamente, nem Jacoby nem Jameson mencionam o último pensador judeu a herdar esta tradição, Jacques Derrida. Theodor Adorno, de quem efetivamente Jameson fala, é outra figura distinta nesta linhagem, um filósofo para quem o pessimismo era mais utópico do que o otimismo, porque mantinha a fé com um sofrimento tão insuportável que clamava por redenção. Na opinião de Adorno, pensadores de olhar sombrio, como Freud, servem a causa do esclarecimento com mais lealdade do que os seus insensíveis campeões progressistas. A utopia negativa, na obra de Adorno, toma o nome da arte, que expõe as linhas de falha do presente sem lhe propor uma alternativa. Qualquer alternativa deste tipo seria simplesmente outra dose de consolo ideológico. O presente deve ser deixado em pedaços, não remendado, pois que, para o judaísmo, um tal restauro pertence apenas a Deus. Em qualquer caso, como comenta Adorno, uma sociedade emancipada não seria, de forma alguma, uma totalidade.

 

A única imagem do futuro, portanto, é o fracasso do presente. O profeta não é um clarividente de fato às riscas, que nos assegura que o nosso futuro está seguro, mas sim um pária esfarrapado, clamando no deserto, advertindo-nos de que, a menos que mudemos de caminhos, é muito pouco provável que tenhamos qualquer futuro que seja. Os idealistas de olhar selvagem são aqueles que esperam que o futuro se apresente praticamente como o presente; os pragmáticos empedernidos são aqueles que sabem que será muito diferente, o que não é necessariamente dizer grandemente melhorado.

 

Archaeologies of the Future (As Arqueologias do Futuro) vê que o problema está em abrir caminho entre uma rotura tão radical que dificilmente nos poderíamos reconhecer a nós próprios do outro lado e aquelas imagens utópicas que espelham os nossos desejos apenas porque estão vinculadas ao presente. Numa esplêndida passagem, Jameson escreve, sobre o olho de Ernst Bloch para reconhecer a utopia nos lugares mais triviais e discretos - "até mesmo nos produtos mais subordinados e acanhados da vida quotidiana, tais como aspirinas, laxantes e desodorizantes, transplantes de órgãos e cirurgia plástica, todos abrigando promessas silenciosas de um corpo transfigurado". Jameson está demasiado pronto para acreditar, juntamente com Bloch, que todo o pensamento orientado para o futuro é inerentemente utópico, esquecendo que, se Blake era um visionário, Pol Pot também o era. Também não está suficientemente alerta para um problema lógico com aquilo a que por vezes chama uma rotura histórica "total": com que critérios poderíamos identificar o futuro que se seguiu a uma tal rotura como o futuro do nosso próprio presente? Como pode haver uma diferença absoluta, tal como uma absoluta alteridade? Jameson, ocasionalmente, escreve como se esta última fosse possível, elevando o tema algo sujo da alteridade da algazarra (“ruck”) do pensamento pós-moderno.

 

Marx tinha uma espécie de solução para este dilema, que dava pelo nome de proletariado. Para ele, era a classe trabalhadora que proporcionava a ponte vital do presente para o futuro. Era, simultaneamente, uma realidade atual e o prenúncio de uma sociedade transformada. O futuro podia, assim, ser visto como imanente no presente, o que, na opinião de Marx, era o único tipo de futuro que valia a pena ter. Ele garantia que o socialismo era tanto viável como desejável, evitando assim o perigo de adoecer de anseios infrutíferas. Dados os problemas que a visão de Marx do mundo encontrou, não é surpreendente que Jameson se encontre com futuros inimagináveis, por um lado, e com laxantes, por outro. Mesmo assim, ele tenta, com um otimismo americano bastante cativante, fazer uma virtude da necessidade, argumentando, com uma certa engenhosidade bem desperta (“wide-eyed ingenuity”), que a própria falta de uma alternativa política ao capitalismo, neste momento, torna a utopia, que criativamente desacredita tais alternativas, ainda mais relevante.

 

Nada, na opinião de Jameson, está mais ligado ao presente do que as nossas visões do que poderia transcendê-lo. Isto é o que torna as utopias "positivas" tão ideológicas. Como Karl Kraus observou, falando sobre a psicanálise, elas são parte do problema para o qual se colocam como solução. Isto é, com certeza, suficientemente óbvio, em relatos de raptos por extraterrestres, nos quais somos transportados para o que parece, a toda a gente, como o seu próprio departamento local de Acidentes e Emergências, exceto que os médicos mascarados e vestidos que estão ocupados a examinar os seus genitais têm apenas meio metro de altura e emitem um curioso cheiro a enxofre. Mesmo assim, Jameson exagera um pouco este argumento. Pois não é como se houvesse um monólito chamado presente, que as visões do futuro devem todas refletir de forma deprimente. O presente é um conjunto de forças conflituosas, algumas das quais permitem projeções mais esperançosas do que outras. Não é, como por vezes Jameson parece implicar, uma casa prisional que nos separa e isola do futuro. Pelo contrário, uma abertura para o futuro é, na realidade, constitutiva do presente, o qual aponta para além de si próprio em virtude daquilo que é. É tanto um horizonte como uma barreira.

 

Jameson é notoriamente avesso ao pensamento moral, e, a um dado momento deste livro, desabafa a sua hostilidade em relação a ele. A ética, na sua opinião, é uma oposição simplista entre o bem e o mal, que se substitui uma investigação histórica e política. Deste modo, ele partilha a visão de George W. Bush sobre a ética, sendo a única diferença existente entre o marxista e o neoconservador, neste aspeto, que Bush aprova tais oposições simplistas, enquanto Jameson não o faz. Uma e outra vez, neste seu trabalho, ele monta este homem de palha esfarrapado do pensamento ético, em parte para ter o prazer de derrubar (“bowling it over”) com um floreado materialista. Ele não parece compreender que a linguagem moral inclui termos que este livro usa em abundância, tais como "belo", "catástrofe", "terrível" e "repelente". É difícil perceber porque é que um antimoralista se deve opor à pobreza ou ao desemprego, ou como pode explicar, em linguagem não moral, porque é que acha o impulso utópico tão precioso. Será que Jameson imagina que noções como justiça, liberdade, solidariedade e emancipação são não morais? A certa altura, ele apela, de forma bastante desavisada, à inevitabilidade histórica como alternativa à moralidade; mas o inevitável não é, de modo algum, sempre desejável. Na verdade, é geralmente tudo menos isso. Mesmo que o socialismo seja tão predestinado como a gripe das aves, continua a existir o problema de explicar por que razão devemos saudá-lo.

 

Enquanto Aristóteles via a ética como um sub-ramo da política, Jameson confunde a moralidade com o moralismo, o que lhe permite depois anulá-la. A sua alternativa à moralidade é realmente o historicismo: em vez de fazermos julgamentos absolutos sobre as coisas, deveríamos devolvê-las aos seus contextos históricos. Agarrar o seu significado histórico, ou mesmo vê-las como historicamente inevitáveis, substitui a retórica santimonial (“self-righteous”) de as elogiar ou condenar. Ou, enfim, de avaliar da sua verdade, uma palavra que Jameson começou agora ominosamente a colocar entre aspas. O caso é vergonhosamente próximo da velha fórmula liberal de que compreender tudo é tudo perdoar. Devemos compreender os nazis em vez de os condenar?

 

Não existe, de facto, um conflito essencial entre história e moralidade. Pelo contrário, moralistas clássicos como Aristóteles e Marx pensam que os julgamentos morais só podem ser formulados quando se consegue ver os objetos de julgamento em toda a sua complexidade social. São os modernos pós-Kantianos, como Jameson, que colocam uma cunha entre o moral e o histórico. Será que o objetivo da investigação histórica é, simplesmente, ver as coisas de forma constante e vê-las inteiras? O que fazer então da sátira radical, da polémica e da denúncia, qualidades de que a escrita própria de Jameson carece, de forma demasiado palpável?

 

Existe uma relação submersa entre o pouco à-vontade (“nervousness”) com a moral, por parte de Jameson, e o seu estilo literário. Ele é, como Perry Anderson observou, um dos grandes escritores do nosso tempo, e não apenas um dos nossos mais formidavelmente dotados críticos e teóricos culturais. Tal como Barthes ou Foucault, ele é um caso de teórico como poeta ou romancista. Há muitas passagens neste livro densamente figurativo em que o soberbamente talentoso artista literário, que espreita dentro do crítico, emerge num lampejo deliciosamente tantalizante, apenas para se apagar quase de imediato. No entanto, embora haja algo de magnífico nos períodos de desenrolar autoritário de Jameson, com as suas intrincadas subcláusulas proustianas e o seu virtuosismo metafórico, há também neles algo de sem remorsos. É como se este grande escavador (“bulldozer”) de estilo literário, com a sua sintaxe curiosamente uniforme e as suas cadências invariantes, percorresse o seu caminho numa paisagem intelectual que vai nivelando por baixo de si, emulsificando tudo até as ligações se tornarem mais insistentes do que os conflitos. Jameson é um crítico assombrosamente erudito, que parece ter lido todos os textos significativos da história da civilização ocidental; mas é também um compulsivo tuteador intelectual, que tece estas várias obras e autores numa totalidade triunfante em que o que importa não são os ásperos julgamentos polémicos, mas a arquitetura de cortar a respiração do todo. O seu estilo pode ser uma maravilha de retórica bruxuleante, cintilante de perspicácia e inteligência, mas também carece de um gume político.

 

Pode até haver um sentido em que esta totalidade seja a alternativa utópica pessoal de Jameson à totalidade bastante menos atraente que dá pelo nome de globalização. O seu método grandemente panótico, que vai de Parménides à ficção científica soviética, de Leibniz a Ursula Le Guin, representa uma espécie de transcendência do tempo e do espaço, enquanto ele próprio se torna uma espécie de super-cérebro de ficção científica, que preside à história e puxa os seus pedaços e peças despedaçados para a unidade. Há algo de americano no seu voraz impulso para absorver todo este material cultural, como se uma daquelas inocentes de olhos esbugalhadas de Henry James, ávida de experiência, tivesse sido cruzada com um dos seus sofisticados exploradores europeus.

 

Apesar de todos os seus pontos cegos teóricos, Archaeologies of the Future está certamente entre os mais espantosos estudos de utopia e ficção científica alguma vez produzidos. Trata-se de um vasto tesouro de um livro, recheado de brilhantes vislumbres (a ideia de progresso como uma tentativa de 'colonizar o futuro'; utopia como 'uma mensagem a partir do futuro'), bem como de algumas análises teóricas, porventura, demasiado pesadas e definitivas. Jameson é um dos teóricos culturais mais eminentes do mundo, mas é também um crítico literário inigualável no sentido clássico do termo, cuja força sempre foi a de compreender a história ou a ideologia como forma, género e estilo, postos secretamente a trabalhar no grão e na textura da linguagem literária. Juntamente com as suas reflexões sobre a ideia de utopia, o livro tem algumas leituras subtis e notavelmente poderosas a oferecer, de Le Guin, Brian Aldiss, Philip K. Dick ("o Shakespeare da ficção científica"), A. E. Van Vogt, Kim Stanley Robinson e uma série de outros. Jameson tem sido sempre um enérgico recuperador de negligenciados e caluniados. Um brilhante trabalho de salvamento aqui feito sobre Charles Fourier reflete esta tendência. Nesse mesmo modo, de forma menos feliz, faz uma longa dissecação de Back to Methuselah, de George Bernard Shaw, que ele descreve como um dos seus livros favoritos, e que Franco Moretti, mais apropriadamente, considerou "talvez a maior peça de lixo da literatura universal".

 

Precisamos, afirma Jameson, num comentário marcante, "de desenvolver uma ansiedade sobre a perda do futuro que é análoga à ansiedade de Orwell sobre a perda do passado, da memória e da infância". Uma das formas de desencaminhar o futuro é anunciar o fim da história, que foi uma retórica apelativa nos anos 1990. O fim da história, ou pelo menos da ideologia, já tinha de facto sido proclamado, algumas décadas antes de Francis Fukuyama aparecer no horizonte (poder-se-ia pensar que errar, duas vezes seguidas, sobre a morte da história, é uma gritante falta de cuidado). A segunda proclamação, no entanto, provou ser ironicamente autodestrutiva. Pois que o triunfalismo da afirmação de que o capitalismo era o único jogo que restava na cidade refletia o comportamento arrogante do próprio sistema, o que ajudou a criar o efeito de ricochete do radicalismo islâmico. A declaração de que todas as grandes narrativas tinham terminado, em suma, esteve intimamente ligada ao lançamento de mais uma, que colocou o capital contra o Alcorão. Ou, no que diz respeito a este último, uma leitura errada do mesmo, de sentido fundamentalista.

 

Pode, no entanto, revelar-se, na mais sombria das estimativas, que a utopia é quase inevitável. Talvez seja apenas quando ficamos completamente sem petróleo, ou quando o sistema mundial se desmoronar por outras razões, ou quando a catástrofe ecológica finalmente nos atingir, que seremos forçados a uma espécie de comunidade cooperativa do tipo que William Morris poderia ter admirado. Talvez a utopia seja desencadeada por um regresso ao cavalo e à carroça, juntamente com a troca de legumes por aulas de violino. Com o tempo, uma vez que a espécie humana tenha saído dos seus abrigos, esta cooperação primitiva poderá reproduzir-se a um nível superior de desenvolvimento material, num mundo onde o "capitalismo" se tornará um termo tão desacreditado como o estalinismo é na nossa própria época. Alternativamente, todo o tedioso ciclo pode recomeçar - e nesse caso precisaremos dos nossos Jamesons para nos lembrarem como conceber a criação de uma alternativa a toda esta triste confusão, sem realmente o fazer.

 

 

 

 

 

 

(*) Terry Eagleton (n. 1943) é originário dos subúrbios de Manchester de uma família de classe trabalhadora de origem irlandesa. Teve uma educação católica e tornou-se marxista enquanto estudante em Cambridge, sob a supervisão de Raymond Williams. Formou-se na área da Teoria da Literatura, tendo sido professor nas Universidades de Oxford e Manchester. Atualmente está colocado na Universidade de Lancaster como professor de Literatura Inglesa. Animou vários órgãos de estudos literários críticos e formou parte do grupo da New Left Review, mantendo sempre o catolicismo muito presente nas suas reflexões. Colaborou ativamente com organizações revolucionárias trotskistas como os International Socialists e a Workers' Socialist League. Entre as suas largas dezenas de livros podemos aqui destacar The Body as Language: Outline of a New Left Theology (1970), Criticism & Ideology (1976), Marxism and Literary Criticism (1976), Literary Theory: An Introduction (1983), Nationalism, Colonialism, and Literature (1990), Ideology: An Introduction (1991-2007), The Illusions of Postmodernism (1996), After Theory (2003), Reason, Faith, and Revolution: Reflections on the God Debate (2009), Why Marx Was Right (2011) e Materialism (2017). O presente artigo, que é uma recensão crítica ao livro de Fredric Jameson, Archaeologies of the Future: The Desire Called Utopia and Other Science Fictions, Verso Books, 2005, foi originalmente publicado na London Review of Books. A tradução é de Ângelo Novo.