Civilizações primitivas

 

 

Flausino Torres

Flausino Torres (*)

 

 

Introdução

 

O aparecimento da Vida na terra foi um sucesso de alta importância. Importância na Terra, claro está. A importância da vida em relação ao Cosmos é mínima. James Jeans chama-lhe subproduto do Universo: a porção de espaço que os sêres vivos ocupam é tão insignificante que a sua acção no todo não poderá ser grande. Já vai longe o tempo em que a Vida se colocava no centro do Universo e em que o Homem ocupava o primeiro lugar entre os sêres vivos. Copérnico e Galileu fizeram ruir esta concepção para sempre. O lugar do Homem é hoje, não o do centro do mundo, mas o de elo na cadeia dos fenómenos que o constituem. A acção daquilo que o envolve é tão grande que êle é pouco mais que um prolongamento de tudo que o antecedeu e um reflexo do que o envolve. Mesmo na Terra que lugar ocupa o Homem? Apenas a superfície lhe é acessível. Não pode ainda descer às grandes profundidades e voar às grandes altitudes. E assim, somente a camada superior da crusta é conhecida directamente por êle. Apesar da impossibilidade física de sair para além das muralhas que lhe impôs a natureza, consegue saber o que se passa fora de sua casa. Os olhos transportam-no a distâncias de forma alguma comparáveis àquelas que podem ser percorridas por êle. Os olhos são o seu mais aperfeiçoado agente de ligação com o ambiente. São o maravilhoso instrumento que faz do Homem, pobre provinciano da Terra, cidadão do Universo. Os olhos do Homem vêem mais longe que êle julgou a princípio. Quando aprendeu a medir as distâncias imensas que o separam do que vê mais ao longe, ficou maravilhado. Maravilhado e orgulhoso. Foi assim que nem reparou no trono vago que ocupava antes de Galileu. O trono em que se sentara não lhe interessa mais. Não ambiciona já ser o «enfant gaté» dos deuses. O mundo que o envolve é belo de mais para que o não absorva. E se e não absorve totalmente é porque outros problemas o chamam para outros lados. Problemas prementes, terrivelmente prementes. Há centenas de milhares de anos que êstes problemas se põem, e estão ainda por resolver. Quanto tempo será ainda preciso para alguns deixarem de o preocupar? É possível que alguns dêles sejam insolúveis: a idéia da morte, com muita ou pouca metafísica à mistura, será talvez sempre algo de torturante. Mas a possibilidade, que a ciência nos anuncia, de prolongar a vida e manter a saúde e o vigor é de certa maneira lenitivo. Pelo que o Homem luta de há tempos para cá é por evitar que outras preocupações sejam o obstáculo no caminho que certamente é o melhor. Mas enquanto cada um tiver como a mais importante dificuldade da vida a de se alimentar a si e ao pequeno grupo que tem a seu cargo, não poderá virar-se inteiramente para os pontos que mais o deslumbram. Os problemas sociais têm sido, desde sempre, de importância primordial. Vê-lo-emos através da evolução da Humanidade, que vamos desenhar e que abre com êste volume. A história do Homem é a história das lutas sociais. O lugar que o económico e o social ocupam na luta diária tem sido até hoje quási absorvente. As preocupações científicas, artísticas, religiosas, filosóficas e outras têm sido sempre condicionadas por aquelas. No entanto, a evolução do Homem é um facto, e a História está aí para o comprovar. Que arma maravilhosa foi a que contribuiu para que a evolução se fizesse? O trabalho. O trabalho que tem servido não poucas vezes de maldição, contribue duplamente para a ascensão humana: primeiro, porque é trabalhando que se dominam e que se aproveitam as potencialidades do ambiente natural; segundo, e não nos cansaremos de insistir neste ponto, porque a acção do trabalho faz-se sentir naquele mesmo que o realiza; isto é: trabalhar é agir e pensar simultâneamente, e esta colaboração do pensamento e da acção transforma Homem E, assim, o Homem, ao mesmo tempo que vai pondo natureza ao seu serviço, vai-se transformando a si mesmo. Por estas e outras razões, dar-se-á o máximo relevo à evolução da Técnica, quere dizer, à história dos instrumentos de que o Homem se tem servido na grande luta pela vida. E assim saltar-nos-á aos olhos que a Ciência nasceu e evoluciona mais em função da Técnica e das condicões de trabalho que de quaisquer outros factores. A história do trabalho humano e das condições em que se tem realizado, das transformações que provoca nas coisas e na própria mentalidade humana, e dos resultados de que se fez acompanhar – é verdadeiramente a história completa da Humanidade.

 

Chega-se assim ao ponto de partida desta introdução: a posição do Homem no Universo.

 

Vê-lo-emos sair da animalidade; conquistar e povoar a Terra; lançar com curiosidade os olhos para o que o envolve e tentar explicações; e também lutar e morrer para que as condições sociais e econômicas não o atirem novamente para aquela animalidade donde saíra. A situação do Homem vai melhorando. O trono está vago; e um dia voltará a ser o centro do mundo.

 

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Não é possível deixar de estudar a geografia física, porque sem ela não se poderiam compreender os primeiros acontecimentos que interessam à vida do Homem. Ver-se-á que as influências do meio geográfico são tanto maiores quanto mais longe dos tempos actuais está o período que se estuda. A libertação do meio é um dos aspectos mais impressionantes da luta do Homem com a Natureza.

 

Depois seguir-se-á o estudo rápido da fauna e da flora em tudo aquilo que interesse às origens humanas. Isto é indispensável à compreensão dos géneros de vida primitivos: alimentação, vestuário, as próprias idéias estão inteiramente relacionadas com as plantas e os animais com que vive ou de que se serve. Seria impossível apresentar os seus caracteres físicos sem fazer ràpidamente a história do aparecimento dos principais mamíferos. Reservar-se-á lugar primacial aos Primatas, de cujo tronco rebenta em certa altura o ramo Homem, cuja evolução, espécies e desenvolvimento serão estudados. Passa-se em seguida ao capítulo que se intitula - Géneros de vida. As dificuldades aumentam progressivamente; mas quando se entra neste assunto, o salto é tão grande, sobretudo pela falta de documentos, que tivemos de socorrer-nos do que se sabe àcêrca dos Primitivos actuais.

 

É esta a altura de lembrar que são conhecidos imensamente menos documentos àcêrca destas primeiras civilizações, cuja duração é de centenas de milhares de anos, que de qualquer curto período da história moderna.

 

Foi principalmente no Capítulo final - A mentalidade do Primitivo - que o auxílio dêstes estudos foi precioso. Não se esqueceu, entretanto, que a diferença de tempo entre os Primitivos actuais e os pré-históricos é enorme.

 

[…]

 

8 - Organização totémica

 

Não é fácil meter numa definição todo o conjunto de instituições e crenças da sociedade primitiva. Passemos em revista alguns dos seus aspectos mais salientes para podermos ficar a fazer uma idéia dessa organização social. Há-de ser sempre difícil a indivíduos com uma mentalidade altamente evoluída, penetrar bem no âmago da concepção totémica do mundo e da vida, tão diferentes são dos nossos os princípios em que assenta. Comecemos por o que é mais fácil de apreender:

 

a) A técnica e a concepção do trabalho

 

A indústria primitiva é, em princípio, familiar; mas, muito mais depressa do que podia esperar-se, as actividades se especializam. As primeiras grandes classes especializadas são os dois sexos e os grupos constituídos por indivíduos de idades diferentes. Entre os primitivos, procede-se a cerimónias de iniciação, antes das quais é vedado ao indivíduo o conhecimento de certas coisas de alta importância.

 

Os géneros de vida têm enorme importância na técnica e na sua evolução. Por exemplo: a navegação tem influência tão grande nos progressos da técnica, e portanto da ciência, que nas ilhas Marshall e Carolinas os habitantes sabem construir cartas de navegação com escala. E como os processos de orientação são as estrêlas e suas rotas aparentes, a ciência, que é conhecimento do mundo, sofre a acção dêstes conhecimentos práticos.

 

A evolução técnica faz-se, o mais das vezes, por transformações das características dum objecto sob a acção doutros objectos. Dá-se também, por vezes, a decadência duma indústria ou até o seu desaparecimento total, quando se extinguem as famílias que fabricam os instrumentos, tal o grau de sigilo que guarda o primitivo. Não se trata do segredo comercial. Estes segredos estão relacionados com a sua mentalidade. A fabricação de qualquer instrumento é acompanhada de certos ritos que se consideram como infalíveis. As práticas mágicas estão, pois, ligadas à técnica, mas tão intimamente ligadas que verdadeiramente se não distinguem. Extinguem-se certas técnicas porque apenas certas famílias conhecem as práticas mágicas que as acompanham.

 

Até certa fase do desenvolvimento da utensilagem, aos progressos técnicos correspondem formas mágicas mais complexas. Mas, de certa altura em diante, continuam os progressos da técnica e acentua-se a decadência da magia. Como explicar o facto constatado por todos os sociólogos? As práticas mágicas criam a confiança naqueles que as praticam, e essa confiança vai ao ponto de negar toda a evidência. Apesar do pouco valor da experiência para o primitivo, a certeza de que vai ser bem sucedido e de que o esfôrço não só não é perdido como é indispensável, vai a pouco e pouco subtituindo a crença de que depende de certos ritos. A confiança do artista na sua habilidade e nos seus instrumentos substitue a confiança em certos gestos e atitudes.

 

A sua concepção de trabalho também é totalmente diferente da da nossa civilização industrial. A forma de trabalho depende do género de vida; e, dentro do mesmo género de vida, do grau de conhecimentos técnicos. Assim, por exemplo, nas mais primitivas formas de agricultura, aquelas em que o único instrumento de revolver a terra é um simples pau ou essa forma primitiva de enxada em que se falou, os cultores são as mulheres. Esta prática está relacionada com a crença no valor do sangue, como se disse. A confiança na eficácia do trabalho feminino é tão grande que quando a mulher, em certas civilizações, é substituída por escravos, êstes têm de vestir-se de mulher durante o trabalho. Um dia descobre-se a charrua, e, então, quer o homem queira, quer não, é ele que tem de trabalhar nos campos, pela razão de que a mulher não tem a fôrça física para a conduzir. A técnica forçou o homem a modificar as suas crenças. E forçou-o também a organizar-se de forma diferente. A cada passada na história da técnica corresponde um movimento de recomposição social. Qualquer invenção provoca sempre a perda do equilíbrio social, a que só se volta algum tempo depois. Se se analisar a organização posterior, descobre-se uma nova profissão. O desenvolvimento da técnica tem como corolário a divisão do trabalho. Por outro lado ainda, o próprio aumento da população depende não só da riqueza do solo, mas da utensilagem que crie facilidades de vida.

 

O respeito que o primitivo tem pelo artista depende do estado de adiantamento em que se contra. Naquela fase em que técnica e magia se fundem, o artista é não só respeitado, mas temido pois que é capaz de dominar a natureza e conseguir o que a maioria não pode. Mas conforme as fórmulas mágicas vão cedendo terreno à técnica, o primitivo respeito vai desaparecendo e o seu lugar é preenchido pelo mais olímpico desprezo. Só se compreende êste fenómeno se se atender ao facto de que a orgânica social se transforma constantemente em obediência ao princípio da divisão de trabalho. E assim se começa a distinguir o agricultor do tecelão, do oleiro, do escultor, do pintor e do lutador. É este último que domina, quando se trata de defender ou conquistar territórios, pastos, gados, etc.. E como a técnica exige especialização, quem trabalha não tem tempo de se treinar no ofício das armas. Daí, não só incapacidade para a luta, mas timidez; e portanto inferioridade. Por outro lado, em grande número das culturas primitivas são as mulheres que se encarregam da cerâmica, tecelagem, agricultura, etc.. O homem que pratica tais ofícios é colocado na mesma situação de inferioridade em que a constituição biológica a colocou a ela. Por outro lado ainda, quando a actividade comercial começa a crescer, o artista depende inteiramente da venda dos seus instrumentos. E assim se foi formando aquela concepção do trabalho manual que encontramos plenamente elaborada na República de Platão e no Génesis: o trabalho degrada quem o pratica; por isso, os que trabalham formam uma classe à parte; mas não é a ela que cabe a direcção da sociedade; para mandar não se pode ter as mãos manchadas por certos ofícios!...

 

b) O regime de propriedade

 

Na forma mais primitiva de sociedade a que é possível chegar, não se encontra propriedade privada. Que precisa o arborícola para se alimentar, além de frutos e raízes? Não é possível ainda fazer reservas de alimentos, pela razão de que se não conservariam. Dormir, dorme em qualquer ramo ou tronco carcomido de árvore. Mas, com a caça, surge a necessidade de apropriação: a primeira forma de propriedade é constituída pelas armas e instrumentos necessários à luta com os animais. Trata-se, portanto, de propriedade mobiliária. As crenças mágicas apoiam esta apropriação, pois o instrumento fabricado por um indivíduo é, a princípio, considerado como um prolongamento dêle mesmo.

 

Falou-se atrás na apropriação do solo. Primeiro foi explorado colectivamente. Depois passou a sê-lo em regime misto, com tendência crescente para a divisão da terra.

 

Uma forma mais complexa de propriedade privada surgiu no momento em que certas mercadorias, por grande número de motivos, se tornam o centro de tôda a actividade econômica e adquirem propriedades de moeda. É claro que isto não sucede nas mais antigas civilizações que conhecemos. Para que este produto se pudesse impor como moeda em tôdas as transações, era preciso uma garantia; e essa só podia ser fornecida no momento em que alguém se pudesse impor econòmicamente. E, como o poder económico arrastava consigo o poder político, a existência da moeda apenas foi possível numa sociedade com certa centralização política. A forma de propriedade privada que então surgiu consistiu na apropriação de grande quantidade de moeda. No entanto, esta espécie de capitalismo financeiro primitivo não é muito vulgar. A terra é que passou a ser a grande fôrça económica logo que se distribuiu.

 

c) O regime social

 

Como se disse atrás, a sociedade totémica, no mais primitivo estádio de desenvolvimento em que foi possível até hoje encontrá-la, é uma sociedade organizada democraticamente e comunitáriamente: todos os membros do clã se encontram em situação de igualdade em relação ao antepassado comum – o animal-homem, o tótem E a razão por que todos são iguais é que todos participam igualmente da substância dêsse tótem. O clã é a mais rudimentar forma de organização. Não se trata duma organização local, nem tão pouco, como a tribo, de organização politica. Verdadeiramente, um clã é uma família, mas no sentido moderno da palavra; a família com pátrio poder não existia ainda. Só mais tarde havia de surgir. O que dá a todos os membros do clã o parentesco com o tótem é o sangue no qual corre a substância totémica que se transmite, assim, de geração em geração. Uma das consequências mais importantes dêste papel que desempenha o sangue é que, em grande parte dos clãs primitivos australianos, o regime de filiação é uterino; são as mãis que transmitem aos filhos a herança totémica. Existe também o regime de filiação paterna, mas apenas numa fase posterior da organização social. Há ainda um outro regime de filiação: é aquele em que o recem-nascido adopta o totem do local em que a mãi julga ter concebido. Uma outra consequência da importância do sangue é a impossibilidade de os indivíduos descendentes do mesmo tótem poderem casar-se Portanto, a prática de escolher mulher fora do grupo totémico a que pertence o homem - a exogamia - é um dos mais rigorosos preconceitos do totemismo O incesto era rigorosamente proibido.

 

Este igualitarismo totémico está na base dum certo número de práticas posteriores, aparentemente contraditórias. A antropofagia é uma delas. Devora-se um homem, ou pelo menos certas partes do seu corpo, porque, fazendo-o, o devorador se apropria de todas as qualidades herdadas pela vítima do antepassado místico.

 

Por outro lado, a organização totémica mais primitiva é incompatível com qualquer forma de escravidão. Foi preciso que o totemismo primitivo se transformasse, sob a acção das mudanças de vida, para que nascesse a escravatura.

 

d) A escravatura

 

Está relacionada com os géneros de vida e sua evolução, e com o desenvolvimento das técnicas. As mais primitivas civilizações de caçadores e pescadores não possuem escravos. A fabricação dos objectos indispensáveis à caça está tão intimamente ligada à magia, conservando portanto um carácter tão secreto e muitas vezes tão monopolizado que nela se não poderiam empregar estranhos. A recolha de frutos e raízes e as formas rudimentaríssimas de agricultura, praticadas por povos fundamentalmente caçadores, são atributo das mulheres do grupo.

 

Mas foi exactamente o cultivo da terra que abriu a porta a esta instituïção. E com a exploração metódica, quer em regime colectivo, quer em regime individual, mas muito principalmente neste, atinge grandes proporções. Nas antigas civilizações históricas encontra-se sempre uma numerosa classe de escravos.

 

A acção exercida pelo desenvolvimento da técnica sôbre a evolução da escravatura é bastante contraditória. Os primeiros instrumentos contribuíram por vezes para a extensão da escravatura ou até mesmo para o seu aparecimento. É este o caso dos primeiros instrumentos agrícolas e dos primeiros aperfeiçoamentos da navegação. A explicação do facto é a seguinte: os primitivos instrumentos agrícolas, se trouxeram uma garantia de vida mais firme ao homem, exigiram dele mais aturado esfôrço, pois não foram mais que o prolongamento do seu braço, requerendo uma assistência permanente para renderem alguma coisa. Antes de o aliviar, os instrumentos fizeram do homem seu escravo. A maquinaria só toma um carácter verdadeiramente libertador no dia em que se descobrem instrumentos com alguma autonomia, isto é, sem que seja precisa a colaboração constante da força humana. Quando o homem conseguiu canalizar estas fôrças naturais no sentido de fazerem o que ele até então fazia, tinha ganho a mais retumbante vitória. Mas isso, como se sabe e como será salientado nos volumes que se seguem, só em grau adiantado da evolução humana se verificou.

 

e) A natureza e o sobrenatural

 

Para o primitivo, os objectos, plantas, animais ou outros quaisquer seres têm, por assim dizer, dupla personalidade: além das propriedades e caracteres visíveis, possuem natureza invisível. E das duas partes do animal, se se trata dum animal, é esta última a mais temível, pois o domínio que se pretenda exercer sôbre ele não resulta simplesmente da observação e do perfeito conhecimento que se possa ter àcêrca das suas qualidades: para conseguir exercer influência sôbre o invisível do animal é preciso recorrer a certas fórmulas, que são a chave com que se penetra no mundo das temerosas fôrças ocultas. É sôbre esta concepção mística da natureza que assentam os ritos mágicos. É a eles que se recorre quando se quere diminuir a velocidade na corrida da presa, quando se quere evitar os perigos da reacção do animal, ou quando o caçador pretende reconciliar-se com o «espírito» dos animais mortos na caça.

 

Desta concepção da realidade resultam dois conceitos de experiência: a positiva e a mística. A mística tem para ele muito mais importância e valor. Não seria assim se o primitivo tivesse uma idéia simplesmente botânica da planta ou zoológica do animal. Mas, na realidade, o animal e a planta são um composto no qual impera o invisível. No entanto, as duas formas de experiência encontram-se muitas vezes associadas, por exemplo: numa doença adaptam-se simultâneamente dois processos de cura: o indicado pela prática e o da magia, sem que possa distinguir-se bem o que se deve à «medicina» do que se deve às práticas mágicas. Já se disse mais de uma vez atrás que o primitivo põe o maior cuidado na preparação das suas tarefas, estudando minuciosamente o que vai fazer. Mas nem por isso dispensa certos ritos, que considera indispensáveis ao sucesso da empresa.

 

Mas, não é apenas o conceito de natureza que é diferente do nosso. As relações entre o natural e o sobrenatural são também diferentes. Para os metafísicos da nossa civilização, os dois mundos, o da natureza e o do sobrenatural, são separados e mesmo opostos. Entre os dois há uma barreira que não pode transpor-se à vontade. Quem vive num não pode viver ao mesmo tempo no outro. Não se penetra num com a mesma facilidade, pelos mesmos caminhos e usando os mesmos meios de transporte, com que se penetra no outro. Para o primitivo, ao contrário, os dois mundos interpretam-se de tal forma que se pode viver simultâneamente em ambos: um animal que se vê com os olhos da cara, que está ao alcance da nossa seta e que podemos comer, é muitas vezes o portador dum indivíduo morto pouco antes e com quem convivemos. Assim se vive, no mesmo momento, em dois mundos, qual deles mais real.

 

Os locais sagrados são muitas vezes os mesmos em que decorrem os mais banais acontecimentos. Só o iniciado nos mais secretos ritos sabe que se encontra em local de sobrenatural. A passagem dum mundo para o outro é fácil porque entre os vivos e os mortos não há a diferença que há no Ocidente civilizado. O mundo do sobrenatural é preenchido quási inteiramente com os antepassados místicos, esses mistos de animal e de homem, ou de planta e de homem, dos quais derivaram os homens. Mas esses antepassados continuam vivendo com os homens, embora não sejam visíveis senão em ocasiões excepcionais. E como é deles que tudo depende, é preciso atraí-los, conciliá-los e não os irritar. Daí, o grande número de cerimónias a que se procede em tôdas as circunstâncias, em qualquer sociedade verdadeiramente primitiva.

 

Nas sociedades mais primitivas não se dispensam nunca as práticas mágicas no início de qualquer obra, seja ela qual fôr. Mas nas sociedades um pouco mais adiantadas, sòmente as empresas mais arriscadas são acompanhadas de cerimónias mágicas; como, por exemplo, em certas sociedades, a pesca do tubarão, a construção duma canoa, etc.. Vê-se, por esta preciosa informação que nos dá Lévy-Bruhl, como a experiência positiva vai levando de batida a experiência mística. Ora, esta hegemonia progressiva da experiência positiva não pode atribuir-se a outra razão senão ao sucesso duradoiro e constante dos resultados dessa experiência. O sucesso está tanto mais assegurado quanto mais rigoroso, isto é, mais mecânicos forem os processos adoptados E a mecanização do trabalho depende da perfeição dos instrumentos empregados.

 

Assim, insensivelmente, mas persistentemente, os progressos da utensilagem vão provocando modificações na mentalidade do primitivo. A experiência positiva vai substituindo lentamente a experiência mística, devido à sua poderosa arma - a técnica.

 

f) Pré-história da religião

 

Uma religião implica um culto, uma união íntima com a divindade, mas, ao mesmo tempo, uma distinção entre o deus ou herói adorado e o adorador. Aparentemente, o primitivo presta culto a certas entidades, por exemplo, aos seus mortos; e a fusão do primitivo com o seu animal ou planta tótern é completa. Por estas razões e outras, resultado duma observação apressada (não falando nos motivos não científicos), tem-se afirmado muitas vezes que o primitivo tem uma religião, tendo-se levado a «política religiosa» até ao ponto de falar em «vestígios de monoteísmo».

 

Pelo que hoje sabemos do totemismo, não é possível considerá-lo como uma religião. Naquele famoso debate que Mortillet sustentou quási sòzinho no século XIX contra meio mundo, era afinal ele quem mais se aproximava da interpretação científica dos factos.

 

Lembremo-nos de tudo que se disse atrás àcêrca de animais totémicos e antepassados místicos. O parentesco entre esses antepassados, o animal tótem e o homem é tão próximo como nós mal podemos imaginar. Ele, o tótem e o antepassado confundem-se absolutamente, a ponto de o primitivo se dar a ele mesmo o nome do seu tótem e de se considerar arara, cangurú, corvo, tão sinceramente como nós nos consideramos homens. O que lhe dá o direito a julgar-se assim é a participação na substância do tótem. Ora aqui está o equívoco dos que consideravam o totemismo como uma religião: essa participação não é do género da das religiões históricas em que o indivíduo que recebe um pouco de substância divina é beneficiado e aperfeiçoado por um favor da divindade, mantendo-se no entanto a distinção entre o divino e o humano. Não é este o caso do totemismo: não há, dum lado, o sagrado e, do outro, o profano; dum lado, o homem e, do outro, o objecto adorado. O que há verdadeiramente é uma substância única que se manifesta no animal-tótem e no grupo a que ele corresponde. Trata-se duma «simbiose mística». E para que esta combinação se não desfaça, não é preciso mais que um conjunto de cerimónias.

 

Exemplifiquemos com um caso concreto: - o «culto» dos mortos. Os mortos, para o primitivo, não diferem fundamentalmente dos vivos: a única verdadeira diferença é quanto ao corpo; de resto, continuam a viver, e a viver no meio dos seus parentes, podendo ser visíveis, não apenas por pessoas com dons especiais, mas por todos em certas circunstâncias: cortam relações e estabelecem-nas novamente com os vivos; travam diálogos com eles; fazem-se temer ou dispensam a sua protecção, conforme os casos.

 

Como já teve ocasião de se dizer, a sociedade primitiva é, apesar de igualitária, grandemente hierarquizada; e um dos critérios de constituição de classes é o da idade: até à puberdade, depois da puberdade, o período de homens adultos e a velhice, são outros tantos grupos hierárquicos. Ora os mortos constituem também uma das classes da tribo, que se não distingue, pela sua essência, das dos vivos. Rigorosamente, a separação entre os velhos e os mortos é tão grande como a que há entre os jovens antes e depois das cerimónias da puberdade. O «morto» também só entra na classe dos mortos depois das cerimónias fúnebres, que, como as da puberdade, não têm outro fim em vista senão abrir as portas duma categoria social a um indivíduo que tem direito a ela. As festas da puberdade não são, assim como os funerais, outra coisa senão ritos de passagem. Isto quere dizer muita coisa, e ajuda a compreender muitas outras. Em primeiro lugar: se entre os antepassados (incluídos os antepassados místicos) e os vivos, não há senão uma separação idêntica à que existe entre dois indivíduos de classe diferente, mas do mesmo organismo, que admira que eles se considerem e, portanto, se intitulem com tôda a naturalidade, serpentes, araras, cães selvagens, etc.? Em segundo lugar: assim como o caçador distribue pelos velhos da tribo um quinhão que não é dos menores, pagando assim os conselhos que a sua experiência lhe ditou, assim também o morto, o «ultra-velho», tem direito à sua parte. Os sacrifícios em honra dos mortos não têm outro significado entre os primitivos: sacrificar aos mortos é partilhar com êles qualquer coisa.

 

É claro que estes antepassados, e sobretudo os antepassados-animais, vão transformar-se; e o que se considera uma classe social passa, em certa altura, a constituir, ao fim de lenta transformação, um grupo de seres à parte - as divindades. As primeiras fases desta evolução podem ainda hoje estudar-se ao vivo em civilizações como as australianas e a papua, que se encontram ainda numa etapa em que não há pessoas divinas. As sociedades africanas e algumas americanas são mais evoluídas.

 

É a pouco e pouco que os mitos primitivos se vão transformando em histórias de personagens divinos, os quais se vão gradualmente metendo numa hierarquia, com exigências de culto que, como é natural, pois que se complica cada vez mais, começa a necessitar de «especialistas», - os sacerdotes. E, assim, o chefe da tribo, que nas sociedades mais primitivas nenhuma função desta natureza desempenha, atribue-se a si o papel de intermediário entre os mortos e os vivos, os heróis e as divindade e os homens.

 

A-pesar desta transformação da «pre-religião» em religião, nem tudo o que era primitivo desapareceu. As primeiras religiões históricas estão cheias de figuras animais com órgãos ou atitudes humanas, ou figuras humanas com certas partes animais. E nenhuma das que conseguiu chegar até aos nossos dias foi capaz de limpar completamente as suas divindades e os seus mitos, das persistências totémicas.

 

g) A linguagem e a expressão do pensamento

 

O estudo da linguagem é dos mais proveitosos para o conhecimento da mentalidade do primitivo. A linguagem é não só a expressão do pensamento mas também a expressão dos estados emocionais, o que, no caso do primitivo, é de grande importância, pois a vida emotiva domina em muitas circunstâncias a capacidade de representação objectiva do ambiente que o envolve. O primitivo além do desenho e da pintura, exprime-se por gestos e pela linguagem oral. Já sabemos que a pintura e o desenho não são uma linguagem conceptual; aquelas composições estão cheias de intenções e significados indecifráveis à luz dos nossos conceitos artísticos.

 

A linguagem dos gestos é muito diferente de tudo o que se possa imaginar, por confronto com a nossa mímica e gestos. Estes são, na nossa maneira de nos exprimirmos, simples colaboradores da palavra falada. Para o primitivo, a importância e influência da língua oral são tanto maiores quanto menos adiantada fôr a civilização de que se tratar.

 

Seria impossível na nossa sociedade, isto, por exemplo: em certos povos são muito vulgares conversações em que entram várias pessoas e em que poucas palavras se pronunciam; tudo se exprime por gestos. Não é permitido, em certa civilização primitiva, às viúvas empregarem durante alguns meses a linguagem oral, sendo-lhes apenas possível fazerem-se entender por gestos. Pois acontece muitas vezes que essas mulheres não voltam a recorrer, na maior parte das circunstàncias, à linguagem falada. Com a linguagem por gestos consegue o primitivo exprimir tudo aquilo de que necessita. Se tivessem que exprimir idéias abstratas, seria muito mais difícil falar por gestos. Mas a análise das suas línguas orais mostra-nos a ausência quási completa de conceitos abstratos. A característica fundamental destas línguas é a sua extrema especialização e individualização. Isto é, os têrmos gerais quási que não existem; alguns conceitos não têm plural, dizendo-nos apenas se os objectos são dois, três, quatro, etc., se estão separados ou se encontram juntos, servindo-se sempre de uma palavra diferente para cada caso; a cada animal, cada casa, árvore, parte de braço humano, rochedo, etc., corresponde uma palavra diferente; e, assim, um simples rio, para o qual nós temos apenas um nome, tem entre os primitivos uma quantidade imensa de nomes, correspondendo cada um dêles a seu trecho. Não há um têrmo que exprima a idéia geral de árvore, mas tantas palavras quantas as árvores que o indivíduo conhece. O número de palavras que constitue uma língua destas é imenso, e em nada se compara às duma língua evoluída como qualquer das europeias.

 

Como estas línguas exprimem quási que simplesmente idéias concretas, é fácil arranjar gestos correspondentes. Pelo que se sabe hoje, na linguagem mais primitiva predominavam os gestos. A pouco e pouco, é que a linguagem oral se vai impondo, embora em grande parte das línguas dos primitivos actuais ainda se encontrem as duas intimamente fundidas. Como é natural, a influência que a linguagem por gestos exerceu sôbre a oral é enorme. Cushing, que estudou profundamente este assunto, verificou isto mesmo, mostrando que muitos dos conceitos orais dos primitivos tinham tido origem na linguagem por gestos, e deu-lhes o expressivo nome de conceitos manuais.

 

h) A Mentalidade do primitivo

 

A sobrecarga de palavras com que o primitivo agüenta é incalculável. A sua memória é prodigiosa. A aprendizagem da língua e aquilo a que chamamos educação revestem aspectos totalmente diferentes dos das sociedades europeïzadas. Para nós, educar é transmitir os nossos conceitos, ligados em sistemas coordenados, e explicar-lhes o significado, a origem e o papel que desempenham uns em relação aos outros, deixando, no entanto, o campo aberto à entrada de novos conceitos, de nova coordenação e de explicações mais completas que as que temos hoje. Entre os primitivos, educar é apenas transmitir o significado das palavras, pois a cada uma corresponde sempre o mesmo objecto.

 

Poderíamos nós, homens de mentalidade diferentíssima desta, pensar que o primitivo tem o gôsto da análise e da minúcia, do concreto, do visível; mas na realidade não é assim. Lembremo-nos que ao sensível, ao material dos objectos, se juntam qualidades místicas, E estas qualidades místicas dominam as outras e lhes impõem carácter místico. Assim, o que mata no veneno o que cura no remédio, o que faz com que a arma fira o inimigo ou a presa, o que evita que o nadador se afogue, o que provoca a morte de determinado indivíduo, são sempre «espíritos», qualidades invisíveis dos objectos, propriedades místicas. As nossas idéias científicas não nos permitiriam interpretar os factos desta maneira. O que para nós tem valor são as propriedades físicas dos objectos e o que delas pode resultar. O primitivo não tem consciência do valor destas propriedades. A nossa experiência é limitada ao visível e ao palpável, que são exactamente para ele os aspectos secundários das coisas. Portanto, a experiência, que é para nós fundamental não tem qualquer significado para ele, sendo, por exemplo, impossível que uma «verdade mística» sela desmentida pelos factos. Por exemplo: em certas regiões, as chuvas são tão irregulares e insuficientes que os campos secam e os animais morrem aos milhares. Recorre-se então aos «fazedores» de chuva. Quantas vezes não são desmentidos os seus poderes místicos na vida duma geração? Aceita esta gente o resultado desta experiência, falhada sempre que realizada?

 

Portanto, ao contrário do que pode parecer-nos, se fizermos um estudo superficial da sua linguagem, o primitivo não tem o gôsto do concreto; a sua mentalidade é impermeável à experiência, como diz Lévy-Bruhl.

 

Esta impermeabilidade à experiência está intimamente ligada a outra característica da sua mentalidade; os seus conceitos, as suas sínteses, não são o resultado da observação: analisar e tirar conclusões não é para a sua maneira de pensar. Não possue o espírito analítico-sintético que é uma das facetas mais representativas dos hábitos mentais da civilização europeia. A sua mentalidade é apenas sintética: os conceitos, as sínteses que a constituem foram herdadas já completamente elaboradas, e serão transmitidas, tanto quanto possível intactas.

 

Esta incapacidade para aproveitar a lição da experiência e para observar a natureza tem como conseqüência inevitável a insensibilidade à contradição: um objecto pode estar simultâneamente num lugar e no outro, um homem pode ao mesmo tempo ser animal e agir com essa dupla personalidade em dois lugares diferentes, etc., etc..

 

Lévy-Bruhl resume tudo o que se disse àcêrca da mentalidade do primitivo no seguinte: «os objectos, os seres, os fenómenos podem ser, ao mesmo tempo, eles mesmos e coisa diferente de eles mesmos. Emitem e recebem fôrças, virtudes, qualidades, acções místicas que se fazem sentir fora dêles, sem que deixem de estar onde estão».

 

É a isto que ele chama a lei da participação e que considera como o princípio básico da mentalidade primitiva.

 

 

 

 

  

 

Flausino Torres - Civilizações Primitivas

 

(*) Flausino Torres (1906-1974) é beirão de gema, vivendo desde tenra idade em Tondela, no concelho de Viseu, localidade a que se manteve sempre ligado e onde teve residência até ao final da sua vida. Foi um homem da província com um percurso universal. Como estudante na Universidade de Coimbra assistiu ao golpe militar e ligou-se à primeira vaga de resistência à nascente ditadura, incluindo batalhas de rua. Foi membro da direcção e director-bibliotecário da Associação Académica, secretário da loja maçónica A Revolta e revisor da Imprensa da Universidade até ao seu encerramento compulsivo por ordem de Salazar. A partir de 1930 aproxima-se do ideário comunista e milita na Liga contra a guerra e contra o fascismo. Concluído o curso de Histórico-Filosóficas, emprega-se como professor no Colégio Portugal, recomendado por Tomás da Fonseca. A partir de 1937, e por uma década, viveu em Lisboa, onde foi ativista do MUNAF e do MUD, aderindo ao PCP. Foi conferencista na Universidade Popular e o autor mais prolífico na Biblioteca Cosmos, ganhando algum prestígio como sendo o intelectual tipo da “cultura integral” defendida por Bento de Jesus Caraça. De regresso a Tondela cultiva a terra com as suas próprias mãos. Foi aí também professor e jornalista, sempre ativo na oposição democrática, sobretudo nos embates “eleitorais” de 1949 e 1958 e no primeiro congresso republicano de Aveiro. Afastado do ensino por pressão da PIDE, foi preso e passou pelo Aljube em 1962-63. Ativista no interior da Frente Popular de Libertação Nacional (FPLN), para evitar nova prisão passou para o exílio em finais de 1965. Em trânsito por Paris, fixou-se em Argel, sede operacional da FPLN e capital da oposição portuguesa. Passou pela Roménia e deteve-se em Praga, onde foi professor de Cultura e Língua Portuguesa na Universidade Karlova, para cujos estudantes escreveria uma História de Portugal. Aí foi testemunha da “primavera” de 1968 e seu esmagamento pelos tanques soviéticos. Desafiou diretamente Álvaro Cunhal sobre estes acontecimentos, numa reunião tumultuosa com quadros comunistas portugueses, tendo posteriormente sido afastado do PCP. Regressou a Portugal em 1970, à sua Quinta do Fojo, em Tondela, doente e debilitado, no contexto da falsa abertura marcelista. Pôde ainda assistir à queda da ditadura, em abril de 1974, falecendo no final desse ano.

Sobre a sua vida e circunstâncias há agora uma fonte de preciosa valia: Paulo Torres Bento, Flausino Torres. Documentos e Fragmentos Biográficos de um Intelectual Antifascista, Edições Afrontamento, Porto, 2006. De entre a sua bibliografia ativa, podemos destacar: Civilizações Primitivas, Biblioteca Cosmos, Lisboa, 1943; Religiões Primitivas, Biblioteca Cosmos, Lisboa, 1944; O Mundo Mideterrânico do séc. XII a. c. ao século III d. c., Biblioteca Cosmos, Lisboa, 1945; uma série de cinco livros em parceria com Antonino de Sousa publicados, em 1946, na Empresa Contemporânea de Edições - Sociedades Primitivas, Civilizações Fluviais, Civilizações de Nómadas Sedentarizados, Primeiras Sociedades Comerciais, Primeiro Império Comercial; As origens da República. Leituras históricas, Prelo, Lisboa, 1965; Notas acerca da geração de 70, Portugália, Lisboa, 1967; História Contemporânea do Povo Português, 3 Volumes, Prelo Editora, Lisboa, 1968-70; Portugal: uma perspectiva da sua história, Afrontamento, Porto, 1973; Diário da Batalha de Praga, Afrontamento, Porto, 2008. Tem centenas de artigos publicados no jornal República e em revistas como Ver e Crer, Seara Nova e Vértice.