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A Dialética da Natureza de Engels no Antropoceno
John Bellamy Foster (*)
Em "O papel do trabalho na hominização do macaco", da sua obra Dialética da Natureza, Friedrich Engels declarou: "Tudo afeta e é afetado por tudo o resto" (1). Hoje, duzentos anos após o seu nascimento, Engels pode ser visto como um dos pensadores ecológicos fundacionais dos tempos modernos. Se a teoria da fratura metabólica de Karl Marx está no centro da ecologia histórico-materialista dos nossos dias, não deixa de ser verdade que as contribuições de Engels para a nossa compreensão do problema ecológico global continuam a ser indispensáveis, enraizadas nas suas próprias investigações profundas sobre o metabolismo universal da natureza, que reforçaram e alargaram a análise de Marx. Como postulou Paul Blackledge, num estudo recente sobre o pensamento de Engels, "a conceção de Engels de uma dialética da natureza abre um lugar através do qual as crises ecológicas" podem ser entendidas como radicadas na "natureza alienada das relações sociais capitalistas" (2). É devido à própria abrangência da sua abordagem da dialética da natureza e da sociedade que o trabalho de Engels pode ajudar a clarificar os grandes desafios que a humanidade enfrenta na época do Antropoceno e na atual era de crise ecológica planetária.
Corrida à ruína
Alguma sugestão do significado contemporâneo da crítica ecológica de Engels pode ser obtida começando com a célebre tirada de Walter Benjamin, de 1940, muitas vezes citada por ecossocialistas, dos "Paralipómenos" (ou notas laterais) ao seu "Sobre o Conceito de História". Aí, Benjamin afirmou: "Marx diz que as revoluções são a locomotiva da história mundial. Mas talvez tudo se passe de outra forma. Talvez as revoluções sejam uma tentativa por parte dos passageiros deste comboio - nomeadamente, a raça humana - de ativar o freio de emergência". Na conhecida interpretação de Michael Löwy da declaração de Benjamin: "A imagem sugere implicitamente que se a humanidade deixasse o comboio seguir o seu curso - já mapeado pela estrutura de aço do carril - e se nada parasse o seu ímpeto precipitado, estaríamos a dirigir-nos diretamente para o desastre, para um acidente ou um mergulho no abismo" (3).
A imagem dramática de Benjamin de uma locomotiva desgovernada e, consequentemente, a necessidade de conceber a revolução como um puxão do travão de emergência, recordou uma passagem semelhante no Anti-Dühring de Engels, escrito no final da década de 1870, uma obra com a qual Benjamin, como todos os socialistas da sua época, estava familiarizado. Aqui, Engels tinha indicado que a classe capitalista era "uma classe sob cuja direção a sociedade está a correr para a ruína como uma locomotiva cuja válvula de segurança encravada o condutor é demasiado fraco para abrir". Era precisamente a incapacidade do capital para controlar "as forças produtivas, que cresceram para além do seu poder", incluindo os efeitos destrutivos impostos às suas "cercanias" naturais e sociais, que estava "a conduzir toda a sociedade burguesa para a ruína, ou a revolução". Assim, "para que toda a sociedade moderna não pereça", argumentou Engels, "uma revolução no modo de produção e distribuição deve ter lugar" (4).
A primeira metáfora de Engels diferia ligeiramente da posterior de Benjamin, na medida em que o objetivo era aí abrir a válvula de segurança a fim de evitar uma explosão da caldeira e um acidente - uma causa bastante comum de descarrilamentos de comboios em meados do século XIX (5). Se o sistema pode ser visto como "correndo para a ruína", a revolução aqui tem menos a ver simplesmente com parar o impulso para a frente do que com exercer controlo sobre as desgovernadas forças da produção. De facto, o argumento ecológico e económico de Engels não se baseava, como seria o caso hoje, na noção de que havia demasiada produção em relação à capacidade global de sustentação do planeta, uma perspetiva que quase não estava presente na altura em que ele escrevia. Em vez disso, a sua principal preocupação ecológica tinha a ver com a destruição irresponsável causada pelo capitalismo em ambientes locais e regionais - mesmo que numa base cada vez mais global. Os efeitos visíveis disto eram evidentes na poluição industrial, na desflorestação, na degradação do solo, e na deterioração geral das condições ambientais (incluindo as epidemias periódicas) da classe trabalhadora. Engels apontou também a devastação de ambientes inteiros (e dos seus climas) - como na destruição ecológica que desempenhou um papel tão importante na queda das antigas civilizações, devido principalmente à desertificação - e para os danos ambientais impostos pelo colonialismo às culturas e modos de produção tradicionais (6). Tal como Marx, Engels estava profundamente preocupado com os "holocaustos vitorianos" do colonialismo britânico, incluindo a geração de grandes surtos fome na Índia, através da destruição da sua ecologia e infraestrutura hidrológica, bem como a expropriação e extermínio ruinosos infligidos à ecologia e à população da Irlanda (7).
É verdade que também podemos encontrar, nestas mesmas páginas, nas quais se levanta a questão "ruína ou revolução", a passagem mais produtivista (e, neste sentido, aparentemente prometaica) a ser encontrada em qualquer parte das obras de Marx e Engels (8). Assim, Engels declarou em Anti-Dühring que o advento do socialismo tornaria possível o "desenvolvimento constantemente acelerado das forças produtivas, e… um aumento praticamente ilimitado da própria produção" (9). No entanto, no contexto em que Engels estava a escrever, isto não apresenta nenhuma contradição particular. A opinião de que uma sociedade futura, libertada da irracionalidade da produção capitalista, permitiria aquilo que, pelos padrões do século XIX, teria parecido um desenvolvimento quase ilimitado da produção era, na altura, praticamente universal entre os pensadores radicais. Isto era um reflexo natural do nível ainda baixo de desenvolvimento material na maior parte do mundo na época da Revolução Industrial, quando comparado com a escala ainda imensamente vasta da própria Terra. A produção industrial mundial haveria de aumentar "cerca de 1.730 vezes" nos cento e cinquenta anos entre 1820, quando nasceu Engels, na altura da Revolução Industrial do início do século XIX, e 1970, quando nasceu o movimento ecológico moderno, na altura do primeiro Dia da Terra (10). Além disso, na análise de Engels (como na de Marx), a produção nunca foi vista como um fim em si mesma, mas sim como um mero meio para a criação de uma sociedade mais livre e mais igualitária, dedicada a um processo de desenvolvimento humano sustentável (11).
Dois séculos após o seu nascimento, a profundidade da compreensão de Engels sobre a natureza sistemática da destruição do ambiente natural e social pelo capitalismo, juntamente com o seu desenvolvimento de uma perspetiva naturalista dialética, tornam o seu trabalho, juntamente com o de Marx, um ponto de partida para uma crítica ecossocialista revolucionária nos dias de hoje. Como observou a antropóloga marxista Eleanor Leacock, Engels, em A Dialética da Natureza, procurou desenvolver a base conceptual para compreender "a completa interdependência entre as relações sociais humanas e as relações humanas com a natureza" (12).
A vingança da natureza
Os problemas ecológicos são o produto da inter-relação entre o sistema e a escala. Na análise da Engels, é o sistema que é enfatizado acima de tudo. No seu grande trabalho, A Condição da Classe Trabalhadora em Inglaterra, escrito quando ainda estava nos seus vinte e poucos anos, concentrou-se nas condições ambientais e epidemiológicas destrutivas da Revolução Industrial nas grandes cidades produtoras, particularmente Manchester. Destacou as horrendas condições ecológicas impostas aos trabalhadores pelo novo sistema industrial da fábrica, evidentes na poluição, contaminação tóxica, deterioração física, epidemias periódicas, má nutrição e elevada mortalidade da classe trabalhadora, todas associadas a uma exploração económica extrema. A Condição da Classe Trabalhadora em Inglaterra permanece uma obra única na sua poderosa acusação do "assassinato social" infligido pelo capitalismo à grande massa populacional na época da Revolução Industrial (13). Marx, para quem o livro de Engels foi o ponto de partida para os seus próprios estudos epidemiológicos em O Capital, prosseguiria, nesta base, a designar as "epidemias periódicas", juntamente com a destruição do solo, como prova da fratura metabólica do capitalismo. Na Alemanha, o tratamento dado por Engels à etiologia da doença em A Condição da Classe Trabalhadora em Inglaterra exerceu uma influência que se estendeu muito para além dos círculos socialistas. Rudolf Virchow, o médico e patologista alemão, famoso como autor de Patologia Celular (1858), referiu-se favoravelmente ao livro de Engels no seu próprio trabalho pioneiro em epidemiologia social (14).
Esta compreensão das condições materiais da sociedade de classes capitalista como ambientais, tanto como económicas, era evidente em toda a obra de Engels. Além disso, ao procurar constantemente fundir perspetivas materialistas e dialéticas da natureza e da sociedade, Engels acabou por chegar à tese de que a "natureza", da qual os seres humanos eram uma parte emergente, era a "prova da dialética" - uma afirmação que hoje em dia será melhor compreendida se dissermos que a ecologia é a prova da dialética (15).
Na perspetiva evolutivo-ecológica desenvolvida por Engels, evidente nas suas obras maduras como A Dialética da Natureza e Anti-Dühring, o que distinguia os seres humanos dos animais não humanos era o papel do trabalho na transformação e domínio do ambiente, tornando possível ao "homem" tornar-se o "verdadeiro, consciente, senhor da natureza, porque ele agora [numa sociedade futura] torna-se senhor da sua própria organização social" (16). No entanto, juntamente com esta tendência para um maior domínio da natureza em alguns aspetos, já manifestada sob o capitalismo, foi ocultada uma tendência sistemática para a expansão das crises ecológicas, uma vez que todas as tentativas de conquista da natureza em desafio das leis naturais dos limites, só poderiam conduzir, no final, a catástrofes ecológicas. Isto podia ser visto, antes de mais, em meados do século XIX, na devastação ecológica desencadeada pelo colonialismo. Como ele exclamou:
“O que importava aos plantadores espanhóis em Cuba, que queimavam florestas nas encostas das montanhas e obtinham das cinzas fertilizante suficiente para uma geração de árvores de café muito rentáveis - o que lhes importava que as chuvas tropicais fortes depois lavassem o estrato superior desprotegido do solo, deixando para trás apenas rocha nua! Em relação à natureza, como à sociedade, o atual modo de produção está predominantemente preocupado apenas com o resultado imediato, o mais tangível; e depois expressa-se surpresa por os efeitos muitas vezes remotos das ações conduzidas para esse fim acabarem por ser bastante diferentes, na maior parte das vezes de carácter bastante oposto” (17).
Para Engels, o ponto de partida para uma abordagem racional do ambiente foi encontrado na famosa máxima de Francis Bacon de que "a natureza só é vencida obedecendo-lhe" - ou seja, descobrindo e cumprindo as suas leis (18). No entanto, na opinião de Marx e Engels, o princípio de Bacon, na medida em que foi aplicado na sociedade burguesa, foi tratado principalmente como um "estratagema" para conquistar a natureza de modo a colocá-la sob as leis de acumulação e competição do capital (19). A ciência foi transformada num mero apêndice do lucro, encarando os limites da natureza como meras barreiras a serem ultrapassadas. Em vez disso, a aplicação racional da ciência na sociedade como um todo só será possível num sistema em que os produtores associados regulem a relação metabólica humana com a natureza numa base não alienada, de acordo com as necessidades e potenciais humanos genuínos e as exigências de reprodução a longo prazo. Isto apontava para a contradição entre, por um lado, a própria dialética da ciência, que cada vez mais reconhecia a nossa "unicidade com a natureza" e a necessidade associada de controlo social, e, por outro lado, a vontade míope do capitalismo de acumular ad infinitum, com a sua incontrolabilidade inata e negligência das consequências ambientais (20).
Foi esta perspetiva profunda e crítico-materialista que levou Engels a salientar a falta de sentido da noção prevalecente de conquista da natureza - como se a natureza fosse um território estrangeiro a ser sujeito à vontade, e como se a humanidade não existisse no seio do metabolismo da Terra. Tal tentativa de conquistar a Terra só poderia levar ao que ele referiu, metaforicamente, como sendo a "vingança" da natureza, uma vez que vários limiares críticos (ou pontos de viragem) forem ultrapassados:
“Não nos lisonjeemos, porém, por causa das nossas vitórias humanas sobre a natureza. Por cada uma dessas vitórias, a natureza vinga-se de nós. Cada vitória, é verdade, em primeiro lugar traz os resultados que esperávamos, mas em segundo e terceiro lugares tem efeitos bastante diferentes, imprevistos, que demasiadas vezes anulam o primeiro. As pessoas que, na Mesopotâmia, Grécia, Ásia Menor, e noutros lugares, destruíram as florestas para obter terras cultiváveis, nunca sonharam que ao removerem juntamente com as florestas os centros de recolha e reservatórios de humidade estavam a lançar a base para o atual estado de desolação desses países. Quando os italianos dos Alpes esgotaram as florestas de pinheiros nas encostas do sul, tão cuidadosamente acarinhadas nas encostas do lado norte, não tinham qualquer indício de que, ao fazê-lo, estavam a cortar nas raízes da indústria leiteira na sua região; tinham ainda menos indícios de que estavam assim a privar as suas montanhas das nascentes de água durante a maior parte do ano, e a permitir-lhes verter torrentes ainda mais furiosas nas planícies durante as estações chuvosas... Assim, a cada passo somos lembrados de que não governamos de modo algum sobre a natureza como um conquistador sobre um povo estrangeiro, como alguém que esteja postado fora da natureza - mas que nós, com carne, sangue e cérebro, pertencemos à natureza, existimos no seu seio, e que todo o nosso domínio da mesma consiste no facto de que temos a vantagem sobre todas as outras criaturas de poder aprender as suas leis e aplicá-las corretamente” (21).
Através de uma ação consciente de acordo com a ciência racional, os seres humanos foram capazes de se erguer em grande medida acima "da influência de efeitos imprevistos e forças descontroladas", percebendo "as consequências mais remotas da nossa interferência com o curso tradicional da natureza". No entanto, mesmo em relação aos "povos mais desenvolvidos da atualidade", podia-se constatar "uma desproporção colossal entre os objetivos propostos e os resultados alcançados", tal "que os efeitos imprevistos predominam e… as forças descontroladas são mais poderosas do que as desencadeadas de acordo com o plano". As economias mercantis baseadas no domínio de classe alcançaram "o fim desejado apenas por via de exceção", produzindo mais frequentemente "o oposto exato". Assim, era impossível, sob o capitalismo, uma abordagem racional, científica e sustentável da relação humana com a natureza e com a sociedade (22).
É significativo que este mesmo ponto de vista geral sobre capitalismo e ecologia, articulado por Engels, fosse ecoado, algumas décadas mais tarde, por Ray Lankester, que era um protegido de Charles Darwin e Thomas Huxley, amigo íntimo de Marx (e conhecido de Engels), o principal biólogo britânico da geração após Darwin. Lankester era um socialista ao estilo fabiano, que tinha lido e sido influenciado por O Capital de Marx. No seu livro de 1911, The Kingdom of Man (O Reino do Homem) - que reuniu a sua palestra Romanes de 1905 em Oxford, “O filho insurgente da natureza", o seu discurso presidencial de 1906 na British Association for the Advancement of Science, e o seu artigo "As vinganças da natureza" centrado na doença do sono africana - Lankester insistiu em que o crescente domínio humano sobre a Terra estava a dar origem, de forma contraditória, a um potencial crescente de desastres ecológicos à escala planetária. Assim, no seu capítulo sobre "As vinganças da natureza", referiu-se à humanidade como o "perturbador da Natureza" e, portanto, como o criador de doenças epidémicas periódicas que ameaçam a humanidade juntamente com outras espécies. "Parece ser uma opinião legítima", escreveu Lankester, "que qualquer doença a que os animais [incluindo o animal humano] (e provavelmente também as plantas), sejam passíveis, exceto como um acontecimento transitório e muito excecional, é devido à interferência do Homem" (23). Além disso, isto poderia ser atribuído a um sistema dominado por "mercados" e "negociantes cosmopolitas nas finanças" que minavam qualquer abordagem racional e científica para reconciliar a natureza e a produção humana (24). Lankester mais tarde desenvolveria este argumento, escrevendo sistematicamente sobre "O apagamento da natureza pelo homem" (25).
Tal como Marx e Engels, no final das suas vidas, Lankester viu o "reino do homem" como a instauração, para a humanidade, de um estado ecológico permanentemente no fio da navalha, engendrado pelo capitalismo, que, se as condições naturais fossem continuamente espezinhadas pela acumulação do capital rapace, levaria a um declínio ambiental humano catastrófico. Se não quisesse destruir as próprias bases da sua existência, a humanidade não teria, portanto, outra escolha senão controlar a sua produção, superando os estreitos ditames da acumulação de capital e adotando os ditames de uma ciência racional, de acordo com o desenvolvimento coevolucionário.
A dialética da natureza e da história
Os conhecimentos ecológicos de Engels são inseparáveis dos seus inquéritos sobre a dialética da natureza, dos quais surgiram. No entanto, o primeiro princípio do que ficou conhecido como a tradição filosófica do marxismo ocidental foi que a dialética não podia ser aplicada à natureza externa, ou seja, não existia aquilo a que Engels se referia como "dialética objetiva" para além do domínio ativo do sujeito humano (26). As relações dialéticas, e mesmo os objetos do raciocínio dialético, estavam assim confinados à esfera humano-histórica, onde se podia dizer que a identidade sujeito-objeto se aplicava, uma vez que toda a realidade não-reflexiva (transfatual) fora da consciência humana e da ação humana era excluída da análise (27). Com a completa rejeição da dialética da natureza dentro da tradição marxista ocidental, o extraordinário poder das explorações de Engels nesta área e a enorme influência que exerceram no pensamento evolutivo e ecológico dentro das ciências naturais e no marxismo perderam-se, exceto para um número relativamente pequeno de cientistas e materialistas dialéticos de esquerda. Incapaz de ver a dialética como relacionada com a natureza material, a tradição filosófica marxista ocidental tendeu a relegar tanto a ciência natural como a própria natureza externa para o reino do mecanismo e do positivismo. O resultado foi criar um abismo profundo entre a conceção dominante da filosofia marxista no Ocidente após a Segunda Guerra Mundial e a ciência natural (e entre o marxismo ocidental e a conceção materialista da natureza) no preciso momento, ironicamente, em que o movimento ecológico estava a emergir como uma grande força política (28).
A restauração dos conhecimentos do materialismo histórico clássico nesta área requer assim a recuperação, a algum nível, da conceção de Engels da dialética da natureza (29). Isto requer, por sua vez, reconsiderar as rejeições sumárias, superficiais e frequentemente mal concebidas da abordagem de Engels à dialética da natureza, geralmente em polémica contra as suas três muito amplas "leis" dialéticas, que ele adquiriu de G. W. F. Hegel e às quais deu um novo significado materialista: (1) a transformação da quantidade em qualidade e vice-versa, (2) a identidade ou unidade dos opostos, e (3) a negação da negação (30). Ao escrever sobre A Filosofia da Ciência de Engels, Peter T. Manicas, por exemplo, queixou-se da natureza "quase vazia" destas leis (31). No entanto, na análise de Engels, estas não foram entendidas como leis estritas e fixas no sentido positivista, mas sim, na terminologia atual, como "princípios ontológicos" amplos e dialeticamente concebidos, equivalentes a propostas tão básicas como o princípio da uniformidade da natureza, o princípio da perpetuidade da substância e o princípio da causalidade. De facto, a abordagem de Engels à dialética desafiou de várias maneiras a compreensão destes mesmos princípios tal como eles foram avançados pela ciência da sua época (32).
Talvez a avaliação mais sucinta e penetrante das contribuições de Engels para a dialética da natureza oferecida por um cientista natural possa ser encontrada num panfleto de 1936 intitulado Engels as a Scientist do célebre cientista marxista J. D. Bernal, professor de física e cristalografia de raios X no Birkbeck College, Universidade de Londres. Bernal descreveu Engels como um filósofo e historiador da ciência, alguém que não se podia "dizer que tenha sido um amador", dada a amplitude dos contactos científicos que tinha desenvolvido em Manchester, e que tinha atingido um nível de análise muito superior ao dos filósofos profissionais da ciência da sua época, tais como Herbert Spencer e William Whewell em Inglaterra e Friedrich Lange na Alemanha (33). Por detrás da profunda compreensão de Engels sobre o desenvolvimento histórico da ciência no seu tempo, segundo Bernal, estava uma perceção dialética em que o "conceito de natureza era sempre como um todo e como um processo" (34). Nisto, Engels tinha pedido emprestado criticamente a Hegel, reconhecendo que, por detrás da apresentação idealista da mudança dialética por este último, na sua Lógica, estavam processos que se podia dizer que eram objetivamente inerentes à natureza, tal como esta é capturada na cognição humana.
Ao abordar a primeira das três "leis" dialéticas ou princípios ontológicos que Engels tinha retirado de Hegel - como as mudanças na quantidade podem levar a transformações qualitativas e o seu oposto - Bernal enfatizou o seu carácter essencial para o pensamento científico natural. "Com notável discernimento, Engels diz - «As chamadas constantes da física não são, na sua maioria, mais do que designações de pontos nodais onde a adição quantitativa ou a retirada de movimento provoca uma mudança qualitativa no estado do organismo em questão».... Só agora começamos a apreciar a justiça essencial destas observações e o significado de tais pontos nodais". A este respeito, Bernal salientou a referência de Engels à tabela periódica de Dmitri Mendeleev como sendo exemplar das transformações qualitativas decorrentes das contínuas mudanças quantitativas, bem como a relação das noções básicas de Engels com as descobertas associadas à ascensão da teoria quântica (35). A abordagem de Engels, como indicou o matemático marxista britânico Hyman Levy, apontou para o conceito de "mudança de fase", empregue na física moderna (36).
Hoje, sabemos que este princípio dialético também se aplica à biologia. Por exemplo, o aumento da densidade populacional de microrganismos (um aumento quantitativo) pode causar uma mudança na expressão genética, levando à formação de algo novo (uma mudança qualitativa). À medida que as populações bacterianas aumentam, os sinais (químicos) emitidos por cada organismo acumulam-se a um nível que ativa os genes, levando à produção de uma fase de biofilme mucilaginoso, na qual os organismos se tornam incorporados. Os biofilmes podem ser compostos por uma série de organismos e prender organismos a quase qualquer superfície, desde tubos de água a rochas em cursos de água até aos dentes e raízes no solo (37).
A segunda lei de Engels, a interpenetração de opostos, foi mais difícil de definir num sentido operacional, mas é, ainda assim, de suprema importância para a investigação científica. Na explicação de Bernal, isto representava dois princípios relacionados: (1) "tudo implica o seu oposto" e (2) não existiam "linhas rígidas e rápidas na natureza". Engels ilustrou este último ponto referindo-se à famosa descoberta de Lankester de que o caranguejo ferradura (Limulus) era um aracnídeo, parte da família da aranha e do escorpião, uma revelação que tinha assustado o mundo científico e posto em causa as classificações biológicas anteriores (38). Na sua aplicação deste princípio dialético à física e à questão da matéria e do movimento (ou energia), afirmou Bernal, "Engels aproximou-se muito das ideias modernas de relatividade" (39). A noção de Engels da unidade dos opostos é frequentemente vista, na atual dialética marxista, em termos do papel das relações internas, em que pelo menos um dos relata depende do outro (40). Como o próprio Engels observou, o reconhecimento de que as relações mecânicas com "a sua rigidez imaginada e validade absoluta foram introduzidas na natureza apenas pelas nossas mentes reflexivas... é o cerne da conceção dialética da natureza" (41).
A negação da negação, a terceira lei dialética informal de Engels, que, como observou Bernal, parecia literalmente tão paradoxal, destinava-se a transmitir que, no decurso do seu desenvolvimento histórico ou evolução ao longo do tempo, qualquer coisa dentro do mundo objetivo é levada a gerar algo diferente, uma nova realidade emergente, representando novas relações materiais e níveis emergentes, muitas vezes através da ação de fatores recessivos ou elementos residuais, anteriormente ultrapassados, que ainda são inerentes ao presente. A existência material, como um todo, poderia ser vista como levando a uma hierarquia de níveis organizacionais, enquanto que a mudança transformadora significava frequentemente a mudança de um nível organizacional para outro, como na semente para a planta (42).
O desenvolvimento das chamadas "propriedades emergentes" é agora considerado um conceito biológico e ecológico básico. Num contexto ecológico, ocorre quando comunidades de espécies interagem de forma a produzir novas características, na sua maioria imprevisíveis, decorrentes do comportamento de cada espécie individual na comunidade (43). Um campo agrícola de dois hectares com uma mistura de quatro espécies diferentes (uma policultura) pode levar a um rendimento total superior a dois hectares dedicados apenas ao cultivo de cada uma das espécies individuais separadamente. Isto pode ocorrer por várias razões: por exemplo, uma melhor utilização da luz solar e da água, e uma diminuição dos danos causados pelos insetos no campo de policultura.
A coevolução dos organismos também produz novas propriedades. Por exemplo, ao longo do tempo evolutivo, os insetos que se alimentam de folhas de plantas levam ao desenvolvimento de numerosos mecanismos de defesa nas plantas. Estes incluem a produção de químicos que inibem a alimentação do inseto e a emissão de químicos que recrutam organismos (frequentemente vespas pequenas) que depositam os seus ovos no inseto, que são depois mortos à medida que os ovos se desenvolvem. Mas o vai e vem continua. Em pelo menos um caso, o da lagarta do tomate, a vespa tem também de injetar um vírus que desativa o sistema imunitário da lagarta para permitir que os ovos da vespa se desenvolvam. A evolução está constantemente a criar algo diferente, por vezes dramaticamente, à medida que os organismos interagem. Em alguns casos, isto leva a mudanças fundamentais em ecossistemas inteiros e à ascensão de novas espécies dominantes em ambientes particulares. Como escreveu Engels, a emergência, no sentido de "a negação da negação, tem realmente lugar em ambos os reinos [vegetal e animal] do mundo natural" (44).
Como historiador da ciência, Engels, segundo Bernal, destacou-se pelos seus conhecimentos sobre as três grandes revoluções científicas do século XIX: (1) a termodinâmica - as leis da conservação e permutabilidade das formas de energia, e da entropia; (2) a análise da célula orgânica e o desenvolvimento da fisiologia; e (3) a teoria da evolução de Darwin baseada na seleção natural por variação inata (45). Como iria mais tarde a observar Ilya Prigogine, vencedor do Prémio Nobel da Química de 1977, a grande visão de Engels foi reconhecer que estas três revoluções na ciência física "rejeitaram a visão mecanicista do mundo" e aproximaram-se "da ideia de um desenvolvimento histórico da natureza" (46).
No relato de Bernal, entre as preocupações de Engels, estava a busca da "síntese de todos os processos que afetam a vida, a ecologia animal e a distribuição [biológica]" (47). O que tornou possível esta síntese foi a sua conceção de movimento dialético e da mudança, enfatizando a complexidade das interações materiais e a introdução de novos poderes emergentes, num processo de origem, desenvolvimento e declínio. "A ideia central no Materialismo Dialético", declarou Bernal, "é a de transformação.... A tarefa essencial da dialética materialista é a explicação do qualitativamente novo", desvendando as condições que regem a emergência de uma nova "hierarquia organizacional" (48).
A este respeito, a realização pioneira de Engels foi utilizar a sua conceção dialética da natureza para lançar luz sobre os quatro problemas materialistas de "origem" que ficaram depois de Darwin: (1) a origem do universo (em que Engels insistiu ser uma auto-origem, como previsto na hipótese nebular de Immanuel Kant e Pierre-Simon Laplace); (2) a origem da vida (em que Engels refutou a noção de Justus von Liebig e Hermann Helmholtz sobre a eternidade da vida e apontou, em vez disso, para uma origem química centrada no complexo de substâncias químicas subjacentes ao protoplasma, particularmente proteínas); (3) a origem da sociedade humana (na qual Engels foi mais longe do que qualquer outro pensador do seu tempo ao explicar a evolução da mão e dos instrumentos através do trabalho, e com eles do cérebro e da linguagem, antecipando descobertas posteriores em paleoantropologia); e (4) a origem da família (na qual ele explicou a base matrilinear original da família e a ascensão da família patriarcal com a propriedade privada) (49).
Desta forma, Engels, insistiu Bernal, tinha antecipado ou prefigurado muitos dos desenvolvimentos da ciência materialista. "Engels, que saudou o princípio da conversão de uma forma de energia em outra, teria igualmente saudado a transformação da matéria em energia. O movimento como o modo de existência da matéria [o grande postulado de Engels] adquiriria aqui a sua verdade final" (50). Como Bernal observou noutro lugar, Engels "viu mais claramente do que a maioria dos físicos distintos do seu tempo a importância da energia e a sua inseparabilidade da matéria. Nenhuma mudança na matéria, declarou ele, poderia ocorrer sem uma mudança na energia, e vice-versa... [A] substituição do movimento pela força, pela qual Engels sempre se bateu, foi o ponto de partida da própria crítica da mecânica por Einstein" (51).
No entanto, foi a perspetiva ampla da ecologia emanada da dialética de Engels que constituiu a visão mais crítica de A Dialética da Natureza e é a razão pela qual um regresso ao modo de pensar de Engels continua a ser tão importante. Como argumentou Bernal, uma das contribuições cruciais de Engels foi a sua crítica às noções de conquista absoluta da natureza pelo homem. Engels tinha diagnosticado poderosamente o fracasso da sociedade humana, e em particularmente do modo de produção capitalista, em prever as consequências ecológicas das suas ações, traçando "os efeitos das consequências físicas indesejáveis da interferência humana na natureza, tais como o abate de florestas e a propagação dos desertos" (52).
Outros importantes cientistas socialistas britânicos dos anos 1930 e 40 ficaram igualmente impressionados com as advertências ecológicas de Engels. Para o grande bioquímico e historiador da ciência Joseph Needham, Engels poderia ser descrito como alguém "a quem nada escapou". Engels salientou assim que, nas palavras de Needham, "poderá chegar um dia em que a luta da humanidade contra as condições adversas da vida no nosso planeta se terá tornado tão severa que se tornará impossível uma maior evolução social", referindo-se à eventual extinção da espécie humana (53). Para Needham, um ponto de vista tão crítico, que rejeitou a hipótese grosseira do progresso linear, serviu também para iluminar o extraordinário desperdício e a destruição ecológica da sociedade capitalista – em que o café era cultivado para alimentar as fornalhas das locomotivas. Isto levantou a questão de uma "interpretação termodinâmica da justiça", uma vez que a alienação da natureza (incluindo a alienação da energia), tal como Engels tinha anunciado, estava a "desperdiçar" reais possibilidades humanas no presente e no futuro (54).
O biólogo J. B. S. Haldane - uma das duas principais figuras britânicas (juntamente com R. A. Fisher) na síntese neodarwiniana, conciliando a biologia darwiniana com a revolução da genética - via Engels como "a principal fonte" da dialética materialista. Comparando Engels com Charles Dickens em relação à Revolução Industrial, Haldane enfatizou que Engels viu mais profundamente e mais longe. "Dickens tinha um conhecimento em primeira mão destas condições [de pobreza e poluição]. Ele descreveu-as com indignação ardente e em grande detalhe. Mas a sua atitude foi de piedade e não de esperança. Engels viu a miséria e a degradação dos trabalhadores, mas ele viu para além dela. Dickens nunca sugeriu que, para serem salvos, eles deveriam salvar-se a si próprios. Engels viu que isto não só era desejável como inevitável" (55).
O reconhecimento da importância da dialética da natureza de Engels estendeu-se aos nossos próprios tempos. Os biólogos de Harvard Richard Levins e Richard Lewontin dedicaram o seu agora clássico trabalho The Dialectical Biologist (O Biólogo Dialéctico) a Engels, apoiando-se fortemente, se bem que de forma algo crítica, nalguns pontos, na sua análise (56). Levins e um colega de Lewontin em Harvard, o paleontólogo e teórico evolucionista Stephen Jay Gould, observaram que Engels forneceu o melhor caso do século XIX para a coevolução gene-cultura - isto é, a melhor explicação da evolução humana oferecida durante a própria vida de Darwin, dado que a coevolução gene-cultura é a forma que todas as teorias coerentes da evolução humana devem assumir (57).
Foi o desenvolvimento por Engels de uma dialética de emergência que acabou por se revelar mais revolucionário. O significado desta perspetiva - em termos ontológicos, epistemológicos e metodológicos - foi captado por Needham na sua própria análise seminal de "níveis integrativos" (ou emergência) exposta na sua obra Time, the Refreshing River (Tempo, o Rio Refrescante - um título que remetia para o grande materialista antigo, Heráclito):
“Marx e Engels tiveram a coragem de afirmar que ele [o processo dialético] acontece realmente na própria natureza em evolução, e que o facto indubitável de isso acontecer no nosso pensamento sobre a natureza deve-se a que nós e o nosso pensamento fazemos parte da natureza. Não podemos considerar a natureza a não ser como uma série de níveis de organização, uma série de sínteses dialéticas. Da partícula elementar ao átomo, do átomo à molécula, da molécula ao agregado coloidal, do agregado à célula viva, da célula ao órgão, do órgão ao corpo, do corpo animal à associação social, a série de níveis de organização é completa. Nada mais do que energia (como agora chamamos à matéria e movimento) e os níveis de organização (ou as sínteses dialéticas estabilizadas) a diferentes níveis têm sido necessários para a construção do nosso mundo” (58).
Engels no Antropoceno
É amplamente reconhecido na ciência contemporânea (embora ainda não seja oficial) que a época Holocénica, em tempo geológico, que se estende há quase doze mil anos, chegou ao fim, nos anos 1950, deslocada pela atual época Antropocénica. O início do Antropoceno foi provocado por uma Grande Aceleração dos impactos antropogénicos no ambiente, de tal forma que a escala da economia humana chegou agora a rivalizar com os principais ciclos biogeoquímicos do próprio planeta, resultando em clivagens nas fronteiras planetárias que definem o Sistema Terra como um lar seguro para a humanidade (59). O Antropoceno representa assim o que Lankester tinha anteriormente chamado o "Reino do Homem", no sentido crítico pretendido para esta expressão: isto é, a humanidade era cada vez mais o "perturbador" do ambiente natural à escala planetária. Assim, a sociedade não tinha outra escolha senão procurar a aplicação racional da ciência, e assim a inversão de uma ordem social na qual a ciência foi relegada ao estatuto de simples meio pelo qual "o tesouro e o luxo se abrem aos capitalistas" (60). O que isto significava, nos termos mais contundentes empregues por Engels (e Marx), era que a condição para a regulação racional do metabolismo entre a humanidade e a natureza e, consequentemente, a aplicação racional da ciência, era a transformação do modo de produção e distribuição. Qualquer outro curso convidava à acumulação de catástrofes (61).
É no Antropoceno que a dialética da ecologia de Engels pode ser vista como finalmente chegada ao seu próprio terreno. É aqui que a sua ênfase na interdependência de tudo o que existe, a unidade de opostos, as relações internas, a mudança descontínua, a evolução emergente, a realidade da destruição do ecossistema e do clima, e a crítica de noções lineares de progresso podem ser vistas como essenciais para o próprio futuro da humanidade e da Terra, tal como a conhecemos. Engels estava perfeitamente consciente de que, nas conceções científicas modernas, "toda a natureza está agora também fundida na história, e a história só se diferencia da história natural como o processo evolutivo dos organismos autoconscientes" (62). Na medida em que a humanidade estava alienada do seu próprio trabalho e processo de produção, e portanto do seu metabolismo com a natureza, isto só poderia significar a destruição da natureza, bem como da sociedade. O crescimento quantitativo do capital levou a uma transformação qualitativa da relação humana com a própria Terra, que só uma sociedade de produtores associados poderá abordar racionalmente. Isto estava relacionado com o facto de um determinado e qualitativo modo de produção (como o capitalismo) estar associado a uma matriz específica de exigências quantitativas, enquanto que um modo de produção qualitativamente transformado (como no socialismo), poderia conduzir a uma matriz quantitativa muito diferente.
Engels argumentou que o capitalismo estava a "esbanjar" os recursos naturais do mundo, incluindo os combustíveis fósseis (63). Ele indicou que a poluição urbana, a desertificação, a desflorestação, a exaustão do solo, e as alterações climáticas (regionais) eram o resultado de formas de produção não planeadas, descontroladas e destrutivas, mais evidentes na economia mercantil capitalista. Em consonância com Marx, e Liebig, apontou o enorme problema dos esgotos de Londres como uma manifestação da fratura metabólica, que removeu os nutrientes do solo e os enviou em sentido único para as cidades sobrelotadas, onde se tornaram uma fonte de poluição (64). Sublinhou a base de classe da propagação das epidemias periódicas de varíola, cólera, tifo, febre tifóide, tuberculose, escarlatina, tosse convulsa, e outras doenças contagiosas que estavam a afetar as condições ambientais da classe trabalhadora, juntamente com uma nutrição deficiente, o excesso de trabalho, bem como a exposição a tóxicos e a lesões de todos os tipos no local de trabalho. Salientou, com base na nova ciência da termodinâmica, que a mudança ecológica histórica era irreversível e que a própria sobrevivência da humanidade estava em questão (65). Em termos das atuais relações de produção e do ambiente, escreveu sobre uma sociedade confrontada com a ruína ou a revolução. O assassinato social de trabalhadores em ambientes urbanos e os surtos de fome na Irlanda e na Índia coloniais, foram vistos como indícios de exploração extrema, degradação ecológica e mesmo extermínio por atacado de populações, imediatamente por baixo da lustrosa superfície da sociedade capitalista (66).
Com todos estes fundamentos, Engels, como Marx, argumentou que o metabolismo humano com a natureza deveria ser regulado por produtores associados em conformidade com (ou em coevolução com) as leis da natureza tal como entendidas pela ciência, satisfazendo ao mesmo tempo as necessidades individuais e coletivas. Uma aplicação tão racional da ciência, porém, era impossível sob o capitalismo. Nem o próprio desenvolvimento era controlável sob o capitalismo, uma vez que se baseava em ganhos imediatos e individuais. Para implementar uma abordagem científica abrangente e racional, de acordo com as necessidades humanas e condições ambientais sustentáveis, era necessária uma sociedade na qual pudesse ser posto em operação um sistema de planeamento a longo prazo no interesse de toda a cadeia de gerações humanas (67).
Implícita na análise da Engels, desde o início, estava uma noção daquilo a que podemos chamar o proletariado ambiental. Assim, enquanto o capitalismo se preocupava com a "economia política do capital", a classe trabalhadora, nas suas fases mais oprimidas e também nas suas fases mais radicais, preocupava-se com a totalidade da existência, partindo sempre das necessidades elementares. Chamar aos objetivos dos trabalhadores uma "economia política da classe trabalhadora", como Marx em tempos fez, pode não estar errado, mas seria mais correto, na terminologia atual, dizer que os trabalhadores, nas suas lutas mais revolucionárias, estão primariamente a lutar para criar uma nova ecologia política da classe trabalhadora, preocupada com todo o seu ambiente e condições básicas de vida, o que só pode ser alcançado numa base comunitária (68). Foi isto que foi tão bem capturado em A Condição da Classe Trabalhadora em Inglaterra de Engels, onde se denunciou sistematicamente a poluição do ar e da água, os esgotos contaminados, os alimentos adulterados, a falta de nutrição, os tóxicos no trabalho, as lesões frequentes e as elevadas morbilidade e mortalidade da classe trabalhadora - e viu a luta pelo socialismo como o único caminho genuíno a seguir.
De facto, A Condição da Classe Trabalhadora em Inglaterra levantou questões que estão agora, mais uma vez, a vir à tona no Antropoceno. Para Marx, o trabalho juvenil de Engels veio exercer uma influência duradoura, que o levou a designar as "epidemias periódicas" como uma manifestação da fratura metabólica, juntamente com a destruição do solo. Muitas páginas de O Capital foram dedicadas simplesmente à tentativa de atualizar a análise epidemiológica de Engels, décadas mais tarde (69). Hoje, no contexto da pandemia representada pela COVID-19, estes conhecimentos assumem uma importância renovada, como um lugar a partir do qual se pode começar na longa revolução por um mundo ecossocialista (70). No entanto, para fazer avançar tais análises, é necessário explorar uma ciência (e arte) dialética, enraizada numa conceção da complexa "unicidade" da humanidade e da natureza.
Todas as coisas são vendidas
Engels admirava a poesia de Percy Bysshe Shelley, que ele considerava um "génio". Na sua juventude escreveu sobre "uma ternura e originalidade na representação da natureza como só Shelley pode alcançar" (71). Na abertura das estrofes de Mont Blanc de Shelley, encontramos uma dialética materialista da natureza e da mente não muito diferente da de Engels:
O universo eterno das coisas Flui através da mente, e rola as suas céleres ondas, Agora escuras - agora brilhantes - agora a refletir a desolação - Agora conferindo esplendor, de onde por secretas primaveras A fonte do pensamento humano o seu tributo traz De águas - com um som apenas por metade seu próprio (72).
Como Shelley, que em Queen Mab escreveu sobre a alienação da natureza pela sociedade burguesa, juntamente com o amor - "Todas as coisas são vendidas: a própria luz do Céu / É venal; os pródigos presentes de amor da Terra" - Engels viu a profunda necessidade de reconciliação da humanidade com a natureza, que só uma revolução poderia trazer (73).
1 de novembro de 2020
(*) John Bellamy Foster (n. 1953) é professor de Sociologia na Universidade de Oregon (E.U.A.) e o atual diretor da revista marxista norte-americana Monthly Review. Discípulo de Paul Sweezy e continuador da escola de pensamento crítico por este fundada (com Paul Baran e Harry Magdoff), tem publicado numerosos livros sobre a crise ecológica e sua interseção com a economia política do capitalismo. Merecem destaque: The Vulnerable Planet: A Short Economic History of the Environment (1994), Marx’s Ecology: Materialism and Nature (2000), Ecology Against Capitalism (2002), The Great Financial Crisis: Causes and Consequences, com Fred Magdoff (2009); The Ecological Revolution: Making Peace with the Planet (2009), The Ecological Rift: Capitalism's War on the Earth, com Brett Clark e Richard York (2010), What Every Environmentalist Needs To Know about Capitalism: A Citizen's Guide to Capitalism and the Environment, com Fred Magdoff (2011), The Endless Crisis, com R. W. McChesney (2012), The Theory of Monopoly Capitalism (2014), Trump in the White House: Tragedy and Farce (2017) e The Return of Nature: Socialism and Ecology (2020). O presente ensaio foi originalmente publicado em Monthly Review, Volume 72, N.º 6, novembro de 2020. Todos os direitos reservados. A tradução aqui publicada é de Ângelo Novo. O autor agradece a Fred Magdoff pela sua ajuda em vários pontos deste artigo.
____________ NOTAS:
(1) Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works, vol. 25 (New York: International Publishers, 1975), p. 459.
(2) Paul Blackledge, Friedrich Engels and Modern Social and Political Theory (Albany: State University of New York Press, 2019), p. 16.
(3) Walter Benjamin, Selected Writings, vol. 4, 1938-1940 (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2003), p. 402; Michael Löwy, Fire Alarm: Reading Walter Benjamin’s “On the Concept of History” (London: Verso, 2001), pp. 66-67.
(4) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 145-46, 153, 270; Karl Marx e Frederick Engels, Ireland and the Irish Question (Moscow: Progress Publishers, 1971), p. 142.
(5) Explosões de caldeiras de locomotivas devido a válvulas de segurança defeituosas e desajustadas eram comuns em meados do século XIX. Engenheiros de locomotivas, sob pressão de tempo, muitas vezes travaram ou prenderam as válvulas de segurança, bloqueando assim as válvulas de segurança do comboio, que não abriram ou que eles não conseguiram abrir fisicamente a tempo. Ler Christian H. Hewison, Locomotive Boiler Explosions (Newton Abbot: David & Charles, 1983), pp. 11, 18-19, 36, 49, 54-56, 82, 85, 110.
(6) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 459; John Bellamy Foster, “Capitalism and the Accumulation of Catastrophe”, Monthly Review 63, n.º 7 (December 2011): pp. 5-7; Karl Marx e Friedrich Engels, Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA) IV/31 (Amsterdam: Akadamie Verlag, 1999), pp. 512-15.
(7) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 167; Karl Marx e Friedrich Engels, Marx-Engels Gesamtausgabe (MEGA) IV/18 (Berlin: Walter de Gruyter, 2019), pp. 670-74, 731 (excertos por Marx); Mike Davis, Late Victorian Holocausts: El Niño Famines and the Making of the Third World (London: Verso, 2001); Marx e Engels, Ireland and the Irish Question.
(8) Sobre a noção de extremo produtivismo e, nesse sentido, de prometeísmo, bem como a sua quase total ausência no pensamento de Marx e Engels, ler John Bellamy Foster, The Ecological Revolution (New York: Monthly Review Press, 2009), pp. 226-29.
(9) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 269. Para Marx e Engels, deve se notar, as forças produtivas referem-se a mais do que simplesmente tecnologia. Assim, Marx insistia que o instrumento ou força de produção mais importante eram os próprios seres humanos. Consequentemente, a expansão das forças de produção significou a expansão das habilidades e poderes produtivos humanos. Ler Marx e Engels, Collected Works, vol. 6, p. 211; Paul A. Baran, The Longer View (New York: Monthly Review Press, 1969), p. 59.
(10) Walt Rostow, The World Economy (Austin: University of Texas Press, 1978), pp. 47-48, 659-62.
(11) Sobre o desenvolvimento humano sustentável como uma estrutura que rege o pensamento de Marx e Engels, leia-se Paul Burkett, “Marx’s Vision of Sustainable Human Development”, Monthly Review 57, n.º 5 (October 2005): pp. 34-62.
(12) Eleanor Leacock, introdução a The Origin of the Family, Private Property and the State, de Frederick Engels (New York: International Publishers, 1972), pp. 245.
(13) Marx e Engels, Collected Works, vol. 4, pp. 394, 407; Ian Angus, “Cesspools, Sewage, and Social Murder”, Monthly Review 70, n.º 3 (July–August 2018): p. 38; John Bellamy Foster, The Return of Nature (New York: Monthly Review Press, 2020), pp. 182-95.
(14) Howard Waitzkin, The Second Sickness (New York: Free Press, 1983), pp. 71-72.
(15) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 23; Foster, The Return of Nature, p. 254.
(16) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 270.
(17) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 463-64.
(18) Francis Bacon, Novum Organum (Chicago: Open Court, 1994), pp. 29, 43.
(19) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 461; Karl Marx, Grundrisse (London: Penguin, 1973), pp. 409-10.
(20) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 461.
(21) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 460-61.
(22) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 330-31, 461.
(23) Ray Lankester, The Kingdom of Man (New York: Henry Holt and Co., 1911), pp. 1-4, 26, 31-33; Foster, The Return of Nature, pp. 61-64.
(24) Lankester, The Kingdom of Man, p. 31; Joseph Lester, Ray Lankester and the Making of Modern British Biology (Oxford: British Society for the History of Science, 1995), pp. 163-64.
(25) Ray Lankester, Science from an Easy Chair (New York: Henry Holt and Co., 1913), pp. 365-69.
(26) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 492. A crítica a Engels sobre a dialética da natureza teve suas origens na nota de rodapé 6 de História e consciência de classe de Georg Lukács, embora Lukács, como ele próprio explicou mais tarde, nunca tenha abandonado totalmente a noção de uma "dialética meramente objetiva" e promovesse mesmo uma tal dialética naturalística, baseado mais em Marx do que em Engels, no seu pensamento posterior. No entanto, a rejeição da dialética da natureza tornou-se axiomática para o marxismo ocidental a partir da década de 1920, ganhando força no período pós-Segunda Guerra Mundial. Georg Lukács, History and Class Consciousness (Cambridge, MA: MIT Press, 1971), pp. 24, 207. Ler também Russell Jacoby, “Western Marxism,” in A Dictionary of Marxist Thought, ed. Tom Bottomore (Oxford: Blackwell, 1983), pp. 523-26; Foster, The Return of Nature, pp. 11-22. Sobre o conflito geral a respeito de Engels dentro do marxismo contemporâneo, leia-se Blackledge, Frederick Engels and Modern Social and Political Theory, pp. 1-20.
(27) Como argumentou Roy Bhaskar, a necessidade de considerar o intransitivo ou o reino da transfatualidade estabelece a distinção entre o epistemológico e o ontológico, contra a tendência de grande parte da filosofia contemporânea, incluindo a tradição filosófica marxista ocidental, de promover a falácia epistemológica, característica do idealismo, na qual a ontologia é subsumida na epistemologia. A adesão à falácia epistemológica tornaria qualquer materialismo consistente ou ciência natural impossível. Roy Bhaskar, Dialectic: The Pulse of Freedom (London: Verso, 1993), pp. 397, 399-400, 405.
(28) Isso pode ser visto em The Concept of Nature in Marx de Alfred Schmidt, publicado em 1962, o mesmo ano de Silent Spring de Rachel Carson. O trabalho de Schmidt, um produto da Escola de Frankfurt (influenciado principalmente pelos seus mentores Max Horkheimer e Theodor Adorno), em sua maior parte, negou a dialética da natureza e qualquer reconciliação da humanidade com a natureza, no auge do surgimento do movimento ambientalista moderno. Alfred Schmidt, The Concept of Nature in Marx (London: Verso, 1970).
(29) Este e os seis parágrafos seguintes foram adaptados de Foster, The Return of Nature, pp. 379-81.
(30) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 356.
(31) Peter T. Manicas, “Engels’s Philosophy of Science”, in Engels After Marx, ed. Manfred B. Steger e Terrell Carver (University Park: Pennsylvania University Press, 1999), p. 77.
(32) Craig Dilworth, “Principles, Laws, Theories, and the Metaphysics of Science”, Synthese 101, n.º 2 (1994): pp. 223-47. O princípio da uniformidade (ou uniformitarismo), mais intimamente associado a Charles Lyell, foi desafiado pelo conceito de evolução de Darwin, embora o gradualismo de Darwin minimizasse esse conflito. Stephen Jay Gould e o paleontólogo Niles Eldredge desafiaram o uniformitarismo muito mais radicalmente em sua teoria do equilíbrio pontuado na década de 1980. Ler Richard York e Brett Clark, The Science and Humanism of Stephen Jay Gould (New York: Monthly Review Press, 2011), pp. 28, 40-42. A noção tradicional da perpetuação da substância foi desafiada na época de Engels pelo desenvolvimento do conceito de energia na física. Em relação a ambos os princípios ontológicos e ao princípio da causalidade, onde ele abordou o complexo intercâmbio de causa e efeito, as "leis" dialéticas ou princípios ontológicos de Engels não apenas capturaram as mudanças revolucionárias que ocorriam na ciência da sua época, mas de várias maneiras prefiguraram descobertas posteriores. Sobre as visões de causalidade de Engels, leia-se Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 510.
(33) D. Bernal, Engels and Science (London: Labour Monthly Pamphlets, 1936), pp. 1-2.
(34) Bernal, Engels and Science, p. 5.
(35) Bernal, Engels and Science, pp. 5-7; Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 359 (a tradução segue Bernal).
(36) Hyman Levy, A Philosophy for a Modern Man (New York: Alfred A. Knopf, 1938), pp. 30-32, 117, 227-28.
(37) Este parágrafo foi escrito por Fred Magdoff. Ler também Fred Magdoff e Chris Williams, Creating an Ecological Society (New York: Monthly Review Press, 2017), p. 215.
(38) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 326, 507; E. Ray Lankester, “Limulus an Arachnid”, Quarterly Journal of Microscopical Science 2 (1881): pp. 504-48, 609-49; Foster, The Return of Nature, pp. 56, 249.
(39) Bernal, Engels and Science, pp. 7-8, J. D. Bernal, “Dialectical Materialism”, in Aspects of Dialectical Materialism, por Hyman Levy et al. (London: Watts and Co., 1934), pp. 107-8.
(40) Bernal, Engels and Science, p. 7; Foster, The Return of Nature, p. 242.
(41) Bernal, Engels and Science, p. 7; Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 14.
(42) Todas as três leis informais da dialética de Engels podem ser vistas como relacionadas à emergência, particularmente a primeira e a terceira. A terceira lei informal de Engels, a negação da negação, como Roy Bhaskar argumentou em Dialectics: The Pulse of Freedom, “levanta a questão das ausências ausentes e a reafirmação de elementos perdidos ou negados da realidade. Bernal desenvolveu uma análise da negação da negação em termos do papel dos resíduos que ressurgem e transformam as relações por meio de processos evolutivos complexos”. Roy Bhaskar, Dialectic: The Pulse of Freedom (London: Verso, 1993), pp. 150-52, 377-78; Bernal, “Dialectical Materialism”, pp. 103-4.
(43) Este e o parágrafo seguinte foram redigidos quase na íntegra por Fred Magdoff.
(44) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 126.
(45) Bernal, Engels and Science, pp. 8-10; Friedrich Engels, Ludwig Feuerbach and the Outcome of Classical German Philosophy (New York: International Publishers, 1941), pp. 65-69.
(46) Ilya Prigogine e Isabelle Stengers, Order Out of Chaos (New York: Bantam, 1984), pp. 252-53.
(47) Bernal, Engels and Science, p. 4.
(48) Bernal, “Dialectical Materialism”, pp. 90, 102, 107, 112-17.
(49) Bernal, Engels and Science, pp. 10-12. Com respeito a Engels sobre as origens da vida, Richard Levins e Richard Lewontin escreveram que “o materialismo dialético se concentrou [necessariamente] principalmente em alguns aspetos selecionados da realidade. Às vezes, enfatizamos a materialidade da vida contra o vitalismo, como quando Engels disse que a vida era o movimento de "corpos albuminosos" (ou seja, proteínas; agora podemos dizer macromoléculas). Isso parece estar em contradição com a nossa rejeição do reducionismo molecular, mas simplesmente reflete diferentes momentos num debate em curso onde os principais adversários foram primeiro a ênfase vitalista na descontinuidade entre os reinos inorgânico e vivo, e então a eliminação reducionista dos saltos reais de níveis”. Richard Lewontin e Richard Levins, Biology Under the Influence (New York: Monthly Review Press, 2007), p. 103.
(50) Bernal, Engels and Science, pp. 13-14.
(51) D. Bernal, The Freedom of Necessity (London: Routledge and Kegan Paul, 1949), p. 362.
(52) Bernal, The Freedom of Necessity, pp. 364-65.
(53) Joseph Needham, Time, the Refreshing River (London: George Allen, and Unwin, 1943), pp. 214-15; Engels, Ludwig Feuerbach, p. 12.
(54) Needham, Time, the Refreshing River, pp. 214-15; Marx e Engels, Collected Works, vol. 46, p. 411.
(55) B. S. Haldane, The Marxist Philosophy and the Sciences (New York: Random House, 1939), pp. 199-200; Foster, The Return of Nature, p. 391.
(56) Richard Levins e Richard Lewontin, The Dialectical Biologist (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1985).
(57) Stephen Jay Gould, An Urchin in the Storm (New York: W. W. Norton, 1987), pp. 111-12.
(58) Needham, Time, the Refreshing River, pp. 14-15. Engels escreveu: “É precisamente a alteração da natureza pelo homem, não apenas a natureza como tal, que é a base mais essencial e imediata do pensamento humano”. Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 511.
(59) Ler John Bellamy Foster, Brett Clark e Richard York, The Ecological Rift (New York: Monthly Review Press, 2010), pp. 13-18; Ian Angus, Facing the Anthropocene (New York: Monthly Review Press, 2016); Clive Hamilton, Defiant Earth (Cambridge: Polity, 2017).
(60) Lester, Ray Lankester, p. 164.
(61) John Bellamy Foster, “Capitalism and the Accumulation of Catastrophe”, pp. 1-2, 15-16. Foster, The Return of Nature, pp. 64, 286-87.
(62) Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 516.
(63) Marx e Engels, Collected Works, vol. 46, p. 411.
(64) Frederick Engels, The Housing Question (Moscow: Progress Publishers. 1975), p. 92.
(65) Sobre a abordagem de Engels à termodinâmica, ler John Bellamy Foster e Paul Burkett, Marx and the Earth (Chicago: Haymarket, 2016), pp. 137-203.
(66) Sobre Marx e Engels sobre degradação ecológica e o extermínio na Irlanda colonial, ler John Bellamy Foster e Brett Clark, The Robbery of Nature (New York: Monthly Review Press, 2020), pp. 64-77.
(67) Engels deixou claro que a regulação racional da relação humana com a natureza e, portanto, uma aplicação racional da ciência, só será possível com "uma revolução completa no nosso modo de produção até então existente". Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, p. 462. Sobre a alienação da ciência sob o capitalismo, ler István Mészáros, Marx’s Theory of Alienation (London: Merlin, 1975), pp. 101-2. O papel da ciência sob o capitalismo é ainda mais esclarecido na noção de Richard Levins da "natureza dual da ciência". Richard Levins, "Ten Propositions on Science and Antiscience", Social Text 46-47 (1996): pp. 103-4. A incontrolabilidade do capital é teorizada em István Mészáros, Beyond Capital (New York: Monthly Review Press, 1995), p. 713.
(68) Karl Marx, On the First International, ed. Saul Padover (New York: McGraw-Hill, 1973), p. 10.
(69) Ler Foster, The Return of Nature, pp. 197-204.
(70) John Bellamy Foster e Intan Suwandi, “COVID-19 and Catastrophe Capitalism”, Monthly Review 72, n.º 2 (June 2020): pp. 3-4.
(71) Marx e Engels, Collected Works, vol. 2, pp. 95-101, 497; vol. 4, p. 528. A admiração de Engels por Shelley levou-o a tentar traduzir “Queen Mab”, juntamente com “The Sensitive Plant”, para o alemão. Ler John Green, Engels: A Revolutionary Life (London: Artery, 2008) pp. 28-29, 59. Para um tratamento fascinante da política e da poesia revolucionária de Shelley, ler Annette Rubinstein, The Great Tradition in English Literature (New York: Monthly Review Press, 1953), pp. 516-64.
(72) The everlasting universe of things Flows through the mind, and rolls its rapid waves, Now dark - now glittering - now reflecting gloom - Now lending splendour, where from secret springs The source of human thought its tribute brings Of waters - with a sound but half its own.
Percy Bysshe Shelley, The Complete Poetical Works (Oxford: Oxford University Press, 1914), p. 528.
(73) All things are sold: the very light of Heaven Is venal; earth’s unsparing gifts of love.
Shelley, Complete Poetical Works, p. 773. Marx descreveu Shelley como "essencialmente um revolucionário", uma visão que Engels compartilhava. Edward Aveling e Eleanor Marx Aveling, Shelley’s Socialism (London: The Journeyman, 1975), p. 4.
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