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Os caçadores-recoletores e a evolução humana Nova luz sobre antigos debates
Richard B. Lee (*)
Introdução
Um debate perene em Antropologia tem-se centrado em torno da questão do grau de violência na história da humanidade. Estas discussões fazem parte de um debate filosófico mais amplo sobre o peso relativo da competição/agressão versus cooperação/não violência na evolução humana e, por implicação, na natureza humana. Os adeptos de uma ou outra visão sobre esta questão invocam frequentemente provas de caçadores-recoletores, antigos e modernos. Mas os dados dos caçadores-recoletores são muitas vezes mal lidos ou distorcidos, para se conformarem com a agenda preconcebida do teórico.
Neste artigo de recensão, abordo a questão a partir de duas perspetivas. Primeiro, examino as provas existentes, etnográficas e arqueológicas, para o argumento que coloca a violência e a agressão dos caçadores-recolectores no centro das teorias da evolução humana. E, em segundo lugar, dou um novo olhar a um debate antigo, recorrendo a outros aspetos dos dados dos caçadores-recolectores que estimularam um novo pensamento, empolgante e inovador, que surgiu do mundo da ecologia do comportamento humano e da teoria evolutiva, particularmente através do trabalho de Hrdy (2009) e Narvaez (2014) e dos seus colegas e contemporâneos.
Uma nota sobre a metodologia
Os estudos sobre os caçadores-coletores ocupam um espaço único em Antropologia, atravessando as fronteiras entre Antropologia social e cultural, a Arqueologia e a Antropologia biológica. Os praticantes fazem frequentemente incursões em subcampos adjacentes em busca de problemas não facilmente contidos dentro das subdisciplinas. A evolução humana tem sido uma área problemática, particularmente preocupante para os especialistas em caçadores-recoletores. Enquanto alguns estudiosos invocaram dados etnográficos para reforçar uma ou outra posição específica, outros evitaram-nos, com o argumento de que colocar caçadores-recoletores em tais comparações aproximava-se perigosamente do desacreditado evolucionismo da Antropologia do século XIX. Ciente das armadilhas, passei a maior parte da minha carreira em Antropologia a estudar caçadores-recoletores a partir de perspetivas estritamente etnográficas, ecológicas, políticas e históricas (v., por exemplo, Lee 1979, Leacock & Lee 1982, Lee & Daly 1999, Lee 2016). No entanto, questões cruciais da evolução do comportamento humano continuam a atrair o especialista em caçadores-recoletores para águas excitantes mas potencialmente turvas.
Como estudante de Antropologia Cultural na Universidade da Califórnia-Berkeley, nos anos 1960, tive a sorte de ser exposto a estudos evolutivos humanos com Sherwood L. Washburn, pré-história africana com J. Desmond Clark, etnografia e arqueologia de caçador-recoletor com Robert Heizer, e teorias de parentesco e organização social com Robert Murphy, mais tarde (brevemente) um colega na Universidade de Columbia. Estas diversas influências garantiram que nunca me sentiria inteiramente à vontade com as divisões rígidas entre as subdisciplinas da Antropologia e, em vez disso, estaria sempre aberto a problemas de pesquisa que exigissem que os analistas atravessassem fronteiras e extraíssem fios de duas ou mais destas linhas de investigação.
A aterragem, em 1963, no deserto do norte do Kalahari com os Ju/'hoansi, então conhecidos como os bosquímanos !Kung, exigiu que eu prosseguisse uma abordagem interdisciplinar. Num único estudo, realizei Etnografia segundo a linha clássica malinowskiana, com parentesco e casamento, subsistência e organização social, com a política e a vida económica no centro (Lee 1979). Ao mesmo tempo, através das influências de Washburn e Clark, fiquei atento ao potencial significado evolutivo dos dados dos !Kung. Dado que o seu modo de vida - a caça de bandos selvagens e a recolha de alimentos silvestres - foi outrora o modo universal de existência humana, poderia o estudo dos !Kung e outros caçadores-recoletores modernos oferecer pistas e lançar luzes sobre as condições sob as quais o modo de vida humano evoluiu originalmente? Avaliar o peso relativo da violência e da não-violência nos caçadores-recoletores oferecia um ponto de entrada particularmente convincente. Nos anos 1960, o mundo bio-evolutivo foi abalado pela publicação do livro de Konrad Lorenz On Aggression (1966), que pintou um quadro negro da propensão da humanidade para a violência. A gravidade das questões levantadas é ilustrada na história (verdadeira) que se segue.
O Senador William Fulbright, do Arkansas, um brilhante legislador dos E.U.A. nos anos 1960 e fundador do programa de bolsas de estudo que leva o seu nome, era apenas uma figura pública que se esforçava então por lidar com a importação das teses de Lorenz. Lembro-me vivamente do falecido Irven DeVore a entrar no meu escritório, na Universidade de Harvard. "Acabei de falar ao telefone com o Senador William Fulbright, que ligou de Washington", disse-me DeVore. "Ele perguntou-me «Professor DeVore, se Konrad Lorenz tem razão, como é que vamos alguma vez negociar um tratado de redução de armas nucleares com a União Soviética?»" DeVore assegurou a Fulbright que as opiniões de Lorenz estavam longe de ser universalmente aceites entre os antropólogos, que a violência na história humana era uma variável e não uma constante, e que as suas causas e expressões eram muito mais complexas do que poderiam ser explicadas simplesmente pelo puro instinto animal. As declarações de DeVore pareceram acalmar os nervos do Senador Fulbright, e de facto os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (U.R.S.S.) continuaram a negociar com sucesso uma série de tratados de redução de armas nucleares ao longo dos anos. No entanto, a questão da violência na história humana continuou a animar o debate no âmbito da Antropologia, alimentada pela hipótese do "macaco assassino" de Robert Ardrey, nos seus livros African Genesis (Génese Africana) (Ardrey 1961) e The Territorial Imperative (O Imperativo Territorial) (Ardrey 1966). O interesse foi sustentado pela influente etnografia de Napoleon Chagnon (1968) sobre o "feroz" Yanomamo e, mais recentemente, pelos escritos de Wrangham & Peterson (1996), tais como Demonic Males: Apes and the Origins of Human Violence (Machos Demoníacos: Os Símios e as Origens da Violência Humana). Tenho rotulado este filão persistente dentro da Antropologia e disciplinas relacionadas como a "escola belicosa" (Lee 2014).
O meu próprio trabalho de campo, nos anos 1960 e 70, com os Ju/'hoansi-!Kung San do Botswana arrastou-me para a controvérsia. Como jovem trabalhador de campo, eu era um grande admirador do trabalho da família Marshall com o povo !Kung do Sudoeste de África, as etnografias de Lorna Marshall (1957, 1961), os filmes do seu filho John Marshall (1973), e os escritos da sua filha Elizabeth Marshall Thomas.
Li com grande prazer as memórias clássicas de Liz Thomas (1959) sobre o tempo passado pela sua família no campo, intituladas The Harmless People (O Povo Inofensivo). No entanto, como iria eu conciliar o título do seu livro com as provas que estava a recolher no meu próprio trabalho de campo, sobre o número significativo de homicídios cometidos pelos !Kung? No total, os colegas e eu documentamos cerca de 25 homicídios ao longo de um período de 50 anos. Dada a pequena dimensão da população de base, estes números traduziam-se em taxas de homicídio comparáveis em magnitude às taxas em cidades norte-americanas tão problemáticas como Chicago, Baltimore e Detroit (Lee 1979, pp. 390-400).
Embora não fosse fã da escola belicosa, fui levado por um sentido de responsabilidade científica a publicar estas descobertas e a criticar o trabalho, de resto admirável, de Marshall Thomas. Tenho o prazer de informar que Elizabeth e eu resolvemos as nossas diferenças. Ela reconheceu a possível má orientação do seu título e, como se tornará evidente de seguida, eu vim a apreciar as verdades mais profundas contidas nas suas reflexões sobre a vida dos !Kung (ver, infra, o Apêndice intitulado “Pinker e o caso de estudo dos Ju/'hoansi/!Kung” para um exame mais aprofundado do caso Ju/'hoansi-!Kung e para colocar as suas taxas de homicídio num contexto mais amplo).
Esta controvérsia no seio da pequena comunidade de etnógrafos San motivou-me a compreender melhor as raízes históricas da escola belicosa e dos seus críticos. A questão da violência na sociedade dos caçadores-recoletores tem animado debates filosóficos desde, pelo menos, o século XVII. Na visão evolutiva social de Thomas Hobbes, a vida no "estado da natureza" era "desagradável, brutal e breve" (“nasty, brutish and short”) [Hobbes 1969 (1651)], enquanto Jean-Jacques Rousseau lançou a sua trajetória da humanidade a partir de uma base de "nobre selvagem" [Rousseau 2003 (1749)]. Apesar da publicação de dados muito mais precisos pela Arqueologia e Etnografia do século XX, o debate subjacente permaneceu.
Num livro recente, The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined (Os Melhores Anjos da Nossa Natureza: Porque Tem Declinado a Violência), o psicólogo Steven Pinker (2011), um hobbesiano declarado, acrescentou uma nova reviravolta ao debate. Apesar das falhas profundas da humanidade, argumenta ele, há razões para a esperança - as coisas estão a melhorar. Tal como a famosa figura do Dr. Pangloss, no clássico do século XVIII Candide, de Voltaire, Pinker procurou afirmar que a civilização, se não é o melhor de todos os mundos possíveis, é pelo menos vastamente superior ao estado da humanidade durante a sua longa história de caça e recolha. Em The Better Angels e noutros lugares, Pinker (2002, 2007) baseia-se em estudos recentes que postulam uma linha de base de violência primordial por parte dos povos pré-estatais. Pinker cita estes estudos como constituindo um argumento decisivo a favor da visão hobbesiana.
Qual é a precisão da leitura de Pinker da história e da pré-história humanas? Sobreviverá ao sério escrutínio a que todas as alegações de verdade devem ser submetidas? Na era atual de notícias falsas e factos alternativos, é particularmente urgente abordar esta questão num espírito da integridade científica. A nossa tarefa aqui é finita e exequível: documentar os níveis de violência nas sociedades de caçadores-recoletores, recentes e pré-históricas, e compreender as suas causas e consequências.
Quando tivermos um bom controlo sobre as provas empíricas, então poderemos passar à questão maior: Como é que a presença ou ausência de violência e de guerra nas sociedades de caçadores-recoletores - passadas e presentes - impacta na construção de teorias plausíveis sobre a evolução do comportamento humano?
As fontes de Pinker: a escola belicosa versus a máfia da paz e da harmonia
Em The Better Angels of Our Nature, Pinker tenta traçar os contornos da violência desde os nossos antepassados primatas através da pré-história e da história até aos dias de hoje. Ele argumenta que, malgrado a história dos massacres modernos e de todo o armamento avançado, o mundo está na realidade a ficar mais pacífico. No entanto, para tornar o seu caso ainda que remotamente plausível, ele tem de apresentar taxas de violência exageradamente elevadas para os primeiros períodos de tempo.
Em apoio desta última tese, extraída mais ou menos diretamente do clássico Leviathan de Hobbes [1969 (1651)], Pinker recorre fortemente a várias fontes modernas de dentro da Antropologia: os arqueólogos norte-americanos Lawrence Keeley (1996) e Steven LeBlanc (LeBlanc & Register 2003), e especialmente Richard Wrangham. Em Demonic Males, Wrangham & Peterson (1996) traçam uma linha direta entre as provas existentes para os machos chimpanzés que matam os seus conspecíficos masculinos, através da suposta violência no homo erectus e no arcaico homo sapiens, até às provas indiscutíveis sobre a guerra nas sociedades humanas históricas. Como disseram Wrangham & Peterson (1996), com veemência, "Os modernos humanos [são] os atordoados sobreviventes de um hábito contínuo de 5 milhões de anos de agressão letal" (p. 63).
Keeley e LeBlanc oferecem as suas provas para a existência de guerra frequente em sociedades tribais e de chefatura, na pré-história, apontando para as suas taxas de mortalidade excessivamente elevadas. LeBlanc, em particular, tenta universalizar as suas descobertas, com declarações tais como "precisamos de reconhecer e aceitar a ideia de um passado não pacífico, durante todo o tempo da existência humana" e "de acordo com provas esmagadora, a guerra moldou de facto a história humana" (Le Blanc & Register 2003, p. 8). Estas opiniões fornecem as munições para a tese de Pinker de que há uma linha ininterrupta de agressão desde as sociedades primatológicas, através dos hominídeos, até às sociedades humanas pré-modernas. Pinker adota, de van der Dennen (2005), a frase "máfia da paz e harmonia" para rotular os críticos que desafiam a tese da violência primordial (ver também Bowles 2009). A tese da violência primordial é exata? A tendência a longo prazo para o declínio da violência é, em alguns aspetos, uma tese plausível. Reconhecemos que, em séculos anteriores, Genghis Khan e Átila, o Huno, mataram muitos milhares, para não mencionar os matadouros que foram as expedições ao Novo Mundo de Colombo, Cortez e Pizarro. Mas será justo caracterizar toda a história humana desta forma?
Por muito reconfortante e tranquilizadora que seja, a tese de Pinker de um declínio constante da violência, desde a pré-história até ao presente, sofre de uma grave falha. Ao argumentar a favor de elevadas taxas de mortalidade por guerra ao longo da história e da pré-história, nas sociedades de bandos e tribais, continuando na era dos estados e impérios, Pinker ignora ou contorna um extenso corpo de literatura antropológica que atesta da grande variabilidade na realização de guerras, ao longo da história; mais importante ainda, ele passa completamente ao lado do significado crucial da Revolução Neolítica.
Um vale de lágrimas pré-histórico?
Na sua exposição detalhada da guerra nas sociedades não estatais, Pinker (2011, pp. 40-56) amalgama todas as sociedades pré-estatais sob um título geral e ignora um princípio de Antropologia muito duradouro e bem documentado, nomeadamente, o de que, com poucas exceções, a guerra, como é comummente entendida, é incomum nas sociedades de caça e recolha. A sua evidência e os seus efeitos terríveis só se tornam prevalecentes com as mudanças dramáticas provocadas pela Revolução Neolítica. A domesticação de plantas e animais, a transição da vida nómada para a vida sedentária e o subsequente crescimento da população e do património fixo trouxe mudanças profundas às sociedades humanas, incluindo o aumento das taxas de conflito intergrupais e das suas consequências mortais. Relatos clássicos sobre guerra no Mesolítico e no Neolítico são fornecidos por Haas (1993) para os Anasazi do Sudoeste norte-americano, Roksandic (2004) para o Mesolítico europeu e Flannery & Marcus (2012, pp. 367-76) para o vale de Oaxaca. Outras autoridades que abordaram esta questão incluem Harris e William Divale (Divale & Harris 1976), Cohen (1977), Kelly (2000), Ferguson (1997, 2006), Ferguson & Whitehead (1992), Rowthorn & Seabright (2010) e Fry (2006, 2013). O próprio Keeley (1997) contribuiu para este tópico através da sua própria investigação, documentando a intensificação da violência intergrupal nas culturas LBK (culturas da cerâmica linear ou danubianas), quando agricultores neolíticos sucederam aos caçadores mesolíticos na transição mesolítico-para-neolítico em toda a Europa do Norte.
O que distingue os caçadores-recoletores dos agricultores? Em contraste acentuado com os primeiros agricultores, os seus antecessores viviam mais levemente na terra e, embora a violência estivesse presente, tinham outras formas de resolver os conflitos. Vivendo em densidades muito baixas, os caçadores-recoletores tinham menos coisas por que lutar e, com pouco ou nenhum património fixo a perder, podiam facilmente votar com os pés, dispersando-se para abafar à nascença os conflitos (Lee 1979, pp. 370-400).
A distinção entre sociedades pré-agrícolas e pós-agrícolas não é uma distinção trivial. Durante 95% da história humana vivemos como caçadores-recoletores, e o registo arqueológico, apesar das tentativas de certos investigadores de destacarem as exceções, demonstra, se não a ausência completa de conflitos mortais, os seus níveis estatisticamente muito inferiores.
No centro empírico desta questão estão as provas a favor e contra a existência de elevadas taxas de morte violenta às mãos de outros seres humanos em populações humanas, na ausência de agricultura. Aqui, vamos tomar duas abordagens: primeiro, as provas para a existência de guerra nas sociedades de caça-recolha contemporâneas, das quais há registos; e segundo, as provas arqueológicas para a existência de guerra na pré-história, antes do advento da agricultura.
A etnografia dos povos caçadores-recoletores: os historicamente nómadas e outros
Para esta análise estou em dívida para com o trabalho de Ferguson (2013a,b), Ferguson & Whitehead (1992) e Fry (2006; 2013, pp. 6-12). Alguns estudos pretendem mostrar elevados índices de violência em sociedades históricas de caçadores-recoletores (Keeley 1996, Le Blanc & Register 2003, Bowles 2009). Mas que grupos incluem eles sob a rubrica de caçadores-recoletores? Os caçadores-recoletores historicamente nómadas (C-RHNs), pequenos em escala, móveis e igualitários, refletem mais de perto as características dos ancestrais caçadores-recoletores, um ponto enfatizado por Fry (2006, 2013). Mas a escola belicosa carrega os seus procedimentos de amostragem com grupos que se afastam acentuadamente deste padrão.
Os caçadores-recoletores montados das Grandes Planícies Americanas (De Maillie 2000) e os sedentários não-igualitários da Califórnia (Heizer 1978) e da costa noroeste da América do Norte (Suttles 1990; Flannery & Marcus 2012, pp. 66-87; Daly 2014) demonstraram, todos eles, níveis significativos de comportamentos guerreiros. No entanto, o transporte a cavalo nas planícies, aldeias fixas e paliçadas, típicos destas sociedades, estão completamente ausentes do registo arqueológico dos caçadores-recoletores pré-neolíticos. Mas, pelo menos, estes são efetivamente exemplos de caçadores-recoletores.
A estes casos anómalos, alguns analistas da escola belicosa acrescentam ainda os famosos guerreiros sul-americanos Yanomamo e Jivaro, bem como os agressivos criadores de porcos das Terras Altas da Nova Guiné. Todos são incluídos sob a rubrica de caçadores-recoletores; todos são guerreiros, e no entanto, como agricultores praticantes (e, para a Nova Guiné, criadores de porcos também), não são, categoricamente, caçadores-recoletores. Com procedimentos de amostragem como estes, o nível aparente de presença guerreira é artificialmente elevado. Num programa televisivo TED Talk amplamente divulgado, Steven Pinker (2007) colocou um slide mostrando as alegadas elevadas taxas de mortalidade de sete sociedades alegadamente "caçadoras-recoletoras", com mortes masculinas por violência que variavam entre 8% e 58%. A amostra incluía quatro povos horticultores das Terras Altas da Nova Guiné, os Mae Enga, os Dugum Dani, os Huli e os Gebusi; dois das planícies da América do Sul, os Yanomamo e Jivaro; e apenas um grupo realmente caçador-recoletor, os Murngin (Yolngu) do norte da Austrália (Ryan & Jetha 2010, pp. 183-85). No seu livro de 2011, Pinker aborda as diferenças entre caçadores-recoletores e agricultores, mas ainda carrega mais a sua amostra com casos que não são representativos de C-RHNs [caçadores-recoletores historicamente nómadas]. Por exemplo, na sua tabela "Taxa de Morte em Guerra nas Sociedades Não-Estatais e Estatais" (Pinker 2011, figuras 2-3, p. 53), os 27 casos não-estatais estão fortemente carregados com a Nova Guiné e sociedades agrícolas próximas (12 de 27), bem como índios californianos e das planícies (5 de 27); apenas 5 dos 27 casos se qualificam remotamente como C-RHNs.
Haverá C-RHNs [caçadores-recoletores historicamente nómadas] guerreiros?
Mas e quanto aos exemplos de caçadores-recoletores nómadas de pequena escala que exibem altos índices de comportamento bélico? Da minha própria área de estudo, existem grupos históricos de san/bosquímanos da África Austral que fizeram a guerra. Os Nharo San do século XIX do distrito de Ghanzi, no que é hoje Botswana, e os seus primos na província do Norte do Cabo, da África do Sul, eram famosos na história colonial pela sua destreza no combate (Moodie 1840-1842, Passarge 1907). A sua ferocidade em defesa da sua terra era admirável, mas a sua postura militar, longe de ser uma expressão de agressão inata, era em grande parte um artefacto gerado pelo seu posicionamento histórico, pressionado por bandos predadores de colonos invasores (Marks 1972, Penn 2006, Adhikari 2010).
A tese da zona tribal, de Ferguson & Whitehead (1992), justifica as elevadas taxas de militarismo e violência observadas em sociedades não-estatais pelo seu posicionamento, apanhadas nas terríveis circunstâncias da história colonial. A geralmente cuidadosa recolha de dados de homicídios/guerra de Kelly (2013, pp. 205-9), para caçadores-recoletores, por vezes mistura exemplos C-RHN com não-C-RHN. No entanto, também aponta corretamente que algumas ou todas as alegadas estatísticas de "homicídios" são erroneamente inflacionadas, ao incluir os assassinatos de indígenas por colonos (ver também Fry 2013, p. 17).
Alguns analistas da violência intergrupal em "sociedades de pequena escala" continuam a apoiar a tese belicosa (por exemplo, Pike 2004, Mathew & Boyd 2011, Glowacki & Wrangham 2013). No entanto, numa análise mais aprofundada, as sociedades em questão são nómadas pastores da África Oriental, tais como os Turkana e os Datoga, de uma zona semiárida de crónica violência intergrupal. Categoricamente, não são C-RHNs. Quando estes últimos são examinados de forma agregada, e na ausência de pressões de origem colonial, exibem consistentemente níveis de violência significativamente inferiores aos dos pastores e horticultores.
Guerra entre caçadores-recoletores da Pré-História
Em última análise, as provas de guerra entre caçadores-recoletores recentes podem sofrer de um grande enigma metodológico. Quão seriamente tem o comportamento dos caçadores-recoletores modernos sido moldado pelas forças coloniais que os rodeiam, e será que isso compromete a sua utilidade como janela sobre as condições pré-históricas? Começando com o estudo seminal de Martin Wobst (1978) sobre "a tirania do registo etnográfico", alguns arqueólogos argumentaram que o árbitro final da presença, ausência e frequência de guerra no passado deve ser o registo arqueológico. Um volume recente Violence and Warfare Among Hunter-Gatherers (Violência e Guerra entre Caçadores-Recoletores) (Allen & Jones 2014) centra-se na Arqueologia e encontra provas de violência em vários casos, mas não consegue recolher rigorosamente o material.
Para um exame mais rigoroso das provas, recorremos ao trabalho de Haas, também um arqueólogo com um forte percurso na pré-história da guerra (Haas 1993, 2000). Numa análise importante do problema da violência dos caçadores-recoletores, Haas & Piscitelli (2013, pp. 168-90) dão o passo ousado de desqualificar todas as fontes etnográficas como modelos inadequados para iluminar a guerra na Pré-História profunda. Concordemos ou não com esta posição, estes autores apresentam provas convincentes da ausência de guerra na Pré-História. Em vez de escolherem intencionalmente (“cherry-picking”) locais que alegadamente mostram altas taxas de violência, embarcam no inventário de todos os locais de vestígios precoces do Homo Sapiens, na Europa, Ásia, e África, antes de 8.000 AC.
Entre as provas osteológicas comummente aduzidas como sinais de conflito violento entre humanos, Haas & Piscitelli (2013) citam as seguintes: provas de fraturas do crânio indicando um golpe sofrido; provas de fraturas “de Parry” no antebraço, curadas ou não curadas, indicando a defesa de um golpe; pontas de seta ou pontas de lança incrustadas no osso ou associadas a um enterro. Os autores discutem também fragmentos ambíguos de provas em arte rupestre (pp. 178-81).
Em termos de evidência óssea, Haas & Piscitelli (2013) pesquisaram ambiciosamente 400 sítios paleolíticos com 2.930 esqueletos, recolhidos de uma revisão de mais de 75 fontes publicadas sobre restos esqueléticos na Europa, Ásia e África. Relatam que, numa vasta gama de sítios pré-históricos, há poucas provas de guerra. Evidências claras de alguma violência são encontradas em dois sítios italianos e dois sítios ucranianos, com esqueletos individuais que indiciavam ter neles pontas embutidas. Apenas um único sítio - o ossuário de Jebel Sahaba - no Alto Nilo (Wendorf 1968), com 24 dos seus 58 esqueletos a apresentarem provas sérias de morte violenta, dá algum apoio à tese belicosa. Em nítido contraste, mais de 390 dos 400 sítios do Velho Mundo (97,5%) estão completamente desprovidos de tais sinais (Haas & Piscitelli 2013, p. 181).
Haas & Piscitelli (2013) dizem,
“Em vez de demonstrar a frequência da guerra antiga entre os humanos, a consideração de todo o conjunto de dados arqueológicos mostra o oposto… A comparação do número total de indivíduos conhecidos [restos esqueléticos] antes de 8.000 AC com a pequena amostra que evidencia sinais de violência demonstra a infrequência do conflito no passado antigo. O registo arqueológico não é omisso sobre a presença da guerra na história humana primitiva. De facto, o registo mostra que a guerra era a rara exceção, antes das pressões neolíticas de densidades populacionais maiores e recursos insuficientes para o crescimento populacional” (pp. 182-83).
Dadas as declarações confiantes de Keeley, LeBlanc, Wrangham, e Pinker, a base empírica real para tão categóricas afirmações é surpreendentemente ténue. Qual é a conclusão derivada da ciência real por detrás destas ambiciosas listas encomendadas de sítios e casos que se pretende mostrarem constantes batalhas de caçadores-recoletores guerreiros? Podemos afirmar com alguma confiança que os argumentos a favor da belicosidade primordial não foram justificados. Mais perto do consenso está a declaração de Kelly: "A guerra não é uma condição endémica da existência humana, mas uma característica episódica da história humana (e da pré-história) observada em certos momentos e lugares, mas não noutros" (Kelly 2000, p. 75, citado em Haas & Piscitelli 2013, p. 168). Esta conclusão levanta sérias objeções à grande teoria evolutiva sustentada por Wrangham e outros. As evidências indicam que os primeiros seres humanos, em vez de serem "macacos assassinos", no Pleistoceno e no Holoceno precoce, viveram como caçadores-recoletores relativamente pacíficos durante cerca de 15.000 gerações, desde a emergência do Homo Sapiens moderno até à invenção da agricultura, aproximadamente de 300.000 a 8.000 anos AC. Por conseguinte, existe um grande fosso entre a suposta violência dos nossos antepassados equiparáveis a chimpanzés e a violência documentada da humanidade pós-neolítica. Esta descoberta é claramente antecipada por Knauft et al. (1991), que falava de uma "trajetória evolutiva em forma de U… na violência humana… com a parte baixa da curva a persistir através da maior parte da evolução do Homo Sapiens" (p. 391). Para Knauft, as sociedades humanas simples constituem uma anomalia importante, quando comparadas com as taxas de violência observadas nos chimpanzés e na guerra inter-estatal e moderna” (Knauft et al. 1991, p. 391).
Afinal não é um símio assassino? Construir melhores modelos evolutivos com os dados sobre os caçadores-recoletores
O primeiro dos nossos objetivos nesta recensão foi avaliar os dados da Etnografia e da Arqueologia sobre os caçadores-recoletores, para ajuizar da luz que este corpo de provas lança sobre as teses apresentadas pela escola belicosa. A clara raridade das provas de humanos que matam humanos na Pré-História profunda leva-nos a concluir, essencialmente, que as formas violentas observadas nas sociedades pós-neolíticas, pré-modernas e modernas, são produtos da nossa história recente, sob condições de pressão populacional únicas na história dos últimos 10.000 anos e, portanto, não podem ser vistas como uma herança ininterrupta do nosso passado evolutivo primata.
Esta descoberta deixa uma enorme lacuna na construção teórica e modelação dos principais motores da evolução humana. O modelo da competição e da agressão não é apoiado nem pelo quadro etnográfico contemporâneo dos caçadores-recoletores historicamente nómadas nem pela evidência arqueológica dos caçadores-recoletores do Pleistoceno. Se as pressões seletivas que favorecem a competição e a agressão não estão no centro da evidência evolutiva humana, então como podemos construir melhores modelos que reflitam mais precisamente o que sabemos?
Com a base empírica para a visão belicosa sem apoio, comecemos por reafirmar uma vez mais a questão: O que nos dizem os estudos sobre os caçadores-recoletores recentes sobre o que são os padrões básicos de comportamento social humano, sem as complicações e distorções provocadas pela domesticação de plantas e animais, a vida sedentarizada, e os vastos aumentos em escala e complexidade que sofreu, entretanto, a sociedade humana? Em vez de fazer com que os dados se encaixem num quadro pré-concebido importado de outros lugares, o que é que nos dizem os resultados de um século de cuidadosa investigação etnográfica sobre os C-RHNs do Árctico, da Austrália, da Ásia, das Américas e de África?
A procura de elementos comuns a culturas geográfica e historicamente diversas revela alguns aspetos notavelmente consistentes de parentesco, organização social, subsistência, relações económicas, e gestão de conflitos. Este quadro é construído pelo trabalho de uma variedade de etnógrafos com uma série de pontos de partida metodológicos e teóricos. Que temas comuns oferecem estes observadores, por exemplo, sobre comportamentos centrais como a mobilidade, territorialidade e parentesco, partilha de alimentos, modos de resolução de conflitos, e criação de filhos?
Baseamo-nos na investigação de cinco das regiões do mundo onde se encontram caçadores-recoletores.
- Ásia: sobre os Batek da Malásia peninsular, Endicott & Endicott (2014, Endicott 1979); do sul da Índia, Gardner (2000) sobre a Planície e Bird-David (1990) sobre os Nayaka; Needham (1954) e Brosius (1991) sobre os Penan do Bornéu; e Griffin & Estioko-Griffin (1985) e Peterson (1978) sobre os Agta das Filipinas.
- América do Norte: Briggs (1971) sobre os Inuit, Steward (1938) sobre os Shoeshine, Leacock (1982), Henriksen (1973) e Mailhot (1997) sobre os Montagnais-Neskapi, e Helm (1961) e Asch (1988) sobre os Dene.
- América do Sul: na Venezuela, Arcand (1976, 1977) sobre os Cuiva e Kramer & Greaves (2011) sobre os Pume; Rival (1993) sobre os Huaorani do Equador; Holmberg [1985 (1950)] sobre os Siriono bolivianos; e Hill, Hurtado, Kaplan, e colegas (Hill & Hurtado 1996, Kaplan et al. 1984) sobre os Ach'e do Paraguai.
- Austrália: no deserto ocidental, Tonkinson (1979) e Bliege Bird sobre os Mardu (Scelza & Bliege Bird 2008) e Myers (1991) sobre os Pintupi; Toussaint (1999) sobre os Kimberleys do noroeste australiano; e Dussart (1999) sobre os Walpiri do deserto central.
- África: sobre os pigmeus Mbuti e Efe, Turnbull (1973) e Hewlett (1989); Marshall (1976), Biesele (1993), Wiessner (1982), Draper (1976, 1978), Konner (1976, 2005), Howell (2000, 2010), Lee (1979), e Suzman (2017) sobre os Ju/'hoansi-!Kung; e Woodburn (1968, 1982), Hawkes, O'Connell, e Blurton Jones (Hawkes et al. 1995, 1997, 2001), Blurton Jones (2016), e Crittenden & Marlowe (2008, Marlowe 1999, 2010) sobre os Hadza da Tanzânia.
Tentativas de sintetizar este vasto corpus foram feitas por Damas (1969), Bicchieri (1972), Ingold et al. (1988a, 1988b), Gowdy (1998), Ingold (1999), Kelly (2013), e Barnard (2004, 2011) (ver também Leacock & Lee 1982, Lee & Daly 1999). Mas toda esta síntese se perde quando a escola belicosa tenta espremer dados recalcitrantes para os encaixar nas suas teorias preconcebidas (ver também MacKinnon & Fuentes 2005, Sussman 2013).
Características centrais dos C-RHNs e seu significado para uma reconstrução evolutiva
Quais são, então, algumas das principais características deste diversificado corpo de investigação, proveniente dos cinco continentes?
Mobilidade
Os grupos de C-RHNs dependem da movimentação durante a ronda anual, movimentando-se 3-6 (ou mais) vezes por ano. Estes movimentos têm lugar tanto dentro do "território" tradicional (ver abaixo) como com visitas a parentes em localidades adjacentes. A maioria exibe um ciclo anual de dispersão e de agregação, um padrão reconhecido pela primeira vez há mais de um século por Mauss (1904-1905). Um corolário fundamental desta mobilidade é o facto básico de o mundo social dos grupos se estender muito para além do seu território de origem, e um segundo corolário é a necessidade de manter uma baixa acumulação de património material. A facilidade de movimentos é importante para lidar com os conflitos.
Territorialidade, parentesco, e padrões de residência
A grande maioria destes caçadores-recoletores reconhece a posse de terras com diferentes níveis de definição e demarcação de fronteiras (Kelly 2013, pp. 151-65; Endicott & Endicott 1986). Mas, crucialmente, todos têm parentes e/ou afins em grupos vizinhos, e todos têm mecanismos que permitem o acesso recíproco aos recursos (Mailhot 1997). Os padrões de residência pós-marital são flexíveis, frequentemente reunindo indivíduos não relacionados mas compatíveis (Alvarez 2004, Hill et al. 2011). Dada a variabilidade sazonal e local dos recursos, esta abordagem pragmática da posse da terra e da residência – contra o "imperativo territorial" de Ardrey (1966) - confere uma aptidão evolutiva muito maior do que um sistema de territórios estritamente defendidos baseados no parentesco.
Partilha de alimentos e trabalho
Dentro do grupo local, existem fortes injunções sobre a partilha de alimentos, uma característica chave das sociedades igualitárias (Woodburn 1982). Os alimentos recolhidos movem-se diariamente dentro e entre grupos familiares (Hill 2002). É tomado especial cuidado em partilhar equitativamente a carne de caça (Tonkinson 1979). A mesquinhez é considerada a mais flagrante das faltas e é respondida com murmurações, ridicularização e, se necessário, o ostracismo (o problema dos "andam à boleia"). As relações intergrupais, tão essenciais para a utilização racional da terra e o acesso recíproco aos recursos, são lubrificadas com formas elaboradas de troca de presentes, como o "hxaro" dos Ju'hoansi (Wiessner 1982).
Género e divisão do trabalho
A caça pelos homens e a recolha pelas mulheres são amplamente observadas na prática e profundamente enraizadas na religião, mitologia e visão do mundo (Biesele 1993). Em termos de energia, para além do caso especial do Árctico, o trabalho de subsistência das mulheres também tende a fornecer sempre a maior parte das calorias (Lee 1979). A maioria dos observadores relata o estatuto marcadamente mais elevado das mulheres na sociedade dos caçadores-recoletores, quando comparado com o estatuto da mulher nas sociedades tribais, de chefatura e de nível estatal (Leacock 1982). Nesta última, os observadores observam que o aumento do patriarcado e do domínio masculino estão estreitamente associados ao aumento pós-neolítico da guerra e da complexidade social (Divale & Harris 1976, Rowthorn & Seabright 2010).
Gestão de conflitos
A luta é incomum (por padrões transculturais), mas certamente que ocorre e se intensifica em áreas de pressão colonial (Ferguson & Whitehead 1992). Contudo, com algumas exceções (por exemplo, Ach'e e alguns grupos australianos), os caçadores-recoletores nómadas raramente glorificam o guerreiro ou lhe conferem qualquer estatuto especial. Pelo contrário, os pacificadores são considerados como indivíduos especialmente valiosos. Os C-RHNs praticam modos de resolução de conflitos, incluindo duelos de canções e outras formas de combate ritualizado, e especialmente a fissão grupal como meio de separar as partes em conflito. Estas práticas contrastam fortemente com as de alguns grupos não-C-RHNs, como os índios das planícies, da Califórnia, e da costa noroeste norte-americana, para quem, como vimos, os ataques e a guerra se tornaram valores culturais historicamente importantes (Maschner 1997, Nichols 2013).
Práticas de educação das crianças
Num estudo etnográfico pioneiro, Briggs (1971) descreve as práticas permissivas e cooperativas de educação infantil dos Inuit, em termos muito análogos às observações feitas sobre o Ju/'hoansi por Draper (1976, 1978), havendo observações semelhantes dos Endicotts sobre os Batek da Malásia (Endicott & Endicott 2014), de Hewlett (1991) sobre os Pigmeus, e de Eickelkamp (2011) sobre a Austrália. O castigo físico das crianças é muito raro. Konner (2005) apresenta uma síntese completa das práticas de educação de crianças para seis grupos de povos C-RHNs: os Ju/'hoansi-!Kung, os Hadza, os pigmeus Efe e Aka, os Ach'e do Paraguai, e os Agta filipinos. Demostra-se, assim, uma surpreendente série de pontos em comum entre caçadores-recoletores de diferentes continentes, uma conclusão a que também chegaram outros autores reunidos em Hewlett & Lamb (2005).
Um dos fios comuns que atravessa esta literatura é o fenómeno da "aloparentalidade", o cuidado das crianças por outros indivíduos que não os pais. A prática é omnipresente, especialmente nas áreas de abastecimento e partilha de alimentos (por exemplo, Hawkes et al. 1998, Kramer 2010, Hewlett & Winn 2014). Este fenómeno, universal nos C-RHNs, está em forte contraste com a maioria dos primatas não humanos e representa uma descoberta chave na construção de novas teorias sobre a evolução do comportamento humano. Como ponto crucial, se estes temas centrais fossem encontrados em apenas uma ou duas das sociedades de C-RHNs, seria difícil tecer generalizações a partir delas. No entanto, quando os mesmos temas são observados repetidamente entre os C-RHNs em diferentes continentes, as opiniões que defendem estarmos verdadeiramente a testemunhar características que devem ter raízes profundas no tempo e na cultura ganham credibilidade. Estas descobertas fornecem uma plataforma de dados empíricos para considerar as fontes evolutivas destes pontos comuns.
Trazer o trabalho das mulheres e a educação dos filhos para o centro da modelação evolutiva humana
Que conhecimentos podem ser retirados deste corpo de trabalho e aplicados a algumas das questões centrais da evolução do comportamento humano? Muitas destas características comuns da vida dos caçadores-recoletores têm sido documentadas há muitas décadas, por exemplo por Morgan [1974 (1877), 1881], Sollas (1911), Bicchieri (1972) e Ingold (1999). Com algumas tentativas anteriores notáveis de síntese evolutiva (por exemplo, Zihlman 1978, Zihlman & Tanner 1978, Tanner 1981, Haraway 1990), tem sido criado um impulso para uma incorporação mais sistemática do género na modelização evolutiva do comportamento humano (ver também Hawkes et al. 2018).
Passamos agora ao trabalho de Sarah Hrdy, que se baseou fortemente na etnografia dos caçadores-recoletores para os seus vislumbres, reenquadrando a questão do género e da educação dos filhos na evolução humana de formas inovadoras. Hrdy (1977, 1981), aclamada primatologista e sociobióloga, faz parte de um movimento dentro da Psicologia evolutiva e da Antropologia evolutiva que questiona o privilégio da agressão e da competição na construção de modelos de evolução humana. O trabalho da psicóloga Darcia Narvaez e dos seus colegas proporciona outro centro de atividade nesta área.
A famosa experiência de pensamento de Hrdy "macacos num avião" constitui um argumento poderoso para a descontinuidade radical entre os nossos parentes mais próximos e nós próprios (Hrdy 2009, pp. 1-4). Todos os dias, observa ela, milhares de seres humanos embarcam em aviões para se sentarem em locais extremamente próximos, empacotados 300 ou 400 de cada vez, em voos que vão das 8 às 10 ou 12 horas de duração, e fazem-no sem incidentes. Agora, tente imaginar 400 chimpanzés em circunstâncias semelhantes num avião. Poderia isso acontecer sem grandes tumultos - sem derramamento de sangue, dedos cortados, e pandemónio? Hrdy oferece esta experiência de pensamento para realçar e apontar aos seus pares quão enorme é a distância evolutiva que existe entre nós e os nossos chamados parentes mais próximos. Deste modo, ela desloca a questão principal da síntese evolutiva humana para longe de uma leitura estreita da aptidão darwiniana, que se concentrava na evolução através da competição, do poder e da agressão, em direção à evolução através da cooperação e da educação coletiva das crianças (Hrdy 1999, 2005). As perceções de Hrdy na pedra angular do seu trabalho, que é o livro Mothers and Others (Mães e Outros) (2009), colocam a questão: qual é o desenvolvimento biológico central na evolução humana que subjaz a todas as mudanças - língua, cultura, tecnologia, organização social complexa - que tornaram o Homo Sapiens único no reino animal? A resposta é a evolução do cérebro humano e da inteligência humana.
Contudo, as poderosas pressões de seleção que levaram ao aumento do tamanho do cérebro foram conseguidas a um custo evolutivo severo. A rápida evolução do tamanho e da capacidade do cérebro só pôde ser alcançada por meio de um sacrifício correspondente na aptidão evolutiva de curto prazo: o desamparo sem precedentes da criança humana (Dunsworth & Eccleson 2015). Para combater esta inegável vulnerabilidade, perigosa para a sobrevivência, os antepassados hominídeos tiveram de desenvolver um sistema de amparo e criação de bébés e crianças muito mais coletivo do que qualquer outro primata. Esta adaptação necessária teve ramificações não só nos novos comportamentos de cuidados infantis, mas também na subsistência. Daí a importância que se atribuí ao fenómeno da criação de crianças por aloparentalidade.
Aiello e os seus associados (Aiello 2007, Leonard & Robertson 1994, Aiello & Wheeler 1995, Roebroeks 2007) desenvolveram a hipótese do tecido dispendioso, para explorar mais profundamente as implicações da evolução do cérebro humano para a sua subsistência. Estes investigadores observaram que o cérebro grande e em expansão é um órgão exigente em termos de energia, requerendo até 25% da ingestão calórica total. Ao longo da evolução humana, argumentam eles, à medida que o cérebro se expandia, estes requisitos adicionais eram satisfeitos através da aquisição de alimentos de maior qualidade, tais como a carne e tubérculos subterrâneos, bem como pelos rendimentos calóricos adicionais proporcionados pelo aproveitamento do fogo e da cozedura. Estas inovações gémeas podem ter sido fundamentais para satisfazer as necessidades energéticas do cérebro em expansão (ver também Wrangham 2009).
Nesta perspetiva, a evolução da caça para a subsistência, a fabricação de ferramentas e o domínio e controlo do fogo, tão importantes como são nas teorias anteriores da evolução humana, podem ser melhor vistos como desempenhando um papel crucial, mas subsidiário, na preservação, nutrição e proteção das vidas da criança indefesa e dos seus cuidadores. Poder-se-ia argumentar (como o faz Hrdy 2005) que o próprio futuro da humanidade assentava então no sucesso da criação cooperativa e da adaptação aloparental. As consequências destas mudanças dramáticas no comportamento e subsistência são o cerne da reforma operada por Hrdy entre causa e efeito na evolução humana. O desamparo da criança exigiu grandes aumentos no investimento parental e aloparental. Um desenvolvimento chave foi o prolongamento da vida pós-menopausa para as mulheres, acrescentando os avós como cuidadores (Hawkes et al. 1998). No entanto, o longo atraso na maturidade da criança humana teve consequências ainda mais revolucionárias. A longa dependência de lactentes, crianças e adolescentes criou uma nova psicologia da comunicação social entre adultos e crianças e dos adultos entre si. Este salto quântico no que Hrdy chama "as origens evolutivas da compreensão mútua" envolveu e exigiu um complexo processo de socialização que reduziu drasticamente a agressão. E este desenvolvimento acabou por conduzir a uma espécie de animal que pode coexistir sem incidentes, pressionado a grande proximidade, 400 de cada vez, durante horas, num avião.
Para enfatizar o argumento, o crescimento da inteligência humana exige um afastamento radical da impulsividade dos nossos antepassados equiparáveis a chimpanzés, em favor de um nível de cooperação inigualável no mundo dos primatas. Hrdy argumenta, persuasivamente, que dar prioridade à partilha sobre a competição pelos recursos é a única forma viável de sustentar a rápida evolução da inteligência humana. Estas características cruciais da criação de crianças, partilha de alimentos, acesso recíproco aos recursos e modos de resolução de conflitos estão abundantemente documentadas na literatura etnográfica sobre C-RHNs.
Ao documentar as ligações entre a sua teoria e este corpo de literatura, Hrdy apoia-se diretamente, na sua leitura, sobre a comunhão de práticas existente, entre caçadores-recoletores, na criação de crianças (Hrdy 2009, pp. 73-82). Noutro local, ela afirma que os investimentos feitos em cooperação na criação de crianças e no aprovisionamento, que deram origem à inteligência humana, são, em última análise, os alicerces dos quais a evolução social e cultural subsequente da humanidade tem dependido, incluindo a ascensão das cidades, estados, organizações complexas e tecnologias avançadas.
O trabalho de Hrdy oferece uma poderosa réplica à escola belicosa e coloca um desafio fundamental à afirmação de que "os humanos [são] os sobreviventes atordoados de um hábito contínuo de 5 milhões de anos de agressão letal" (Wrangham & Peterson 1996, p. 63). E ela tem desenvolvido e reconhecido importantes conhecimentos de outros antropólogos que trabalham na área da Ecologia do comportamento humano (por exemplo, Hawkes et al. 1998, Hill 2002, Alvarez 2004, Scelza & Bliege Bird 2008, Kramer 2010; ver também Hawkes et al. 2018).
A psicóloga evolutiva Darcia Narvaez, na Universidade de Notre Dame du Lac (Indiana), também reuniu um grande grupo de peritos e colaboradores, em três volumes recentes, que se concentram em parte na ecologia e organização cultural dos caçadores-recoletores, com ênfase nas suas práticas de criação de crianças (Narvaez et al. 2013, 2014; Narvaez 2014). Ela rotula o modo de criação de crianças dos caçadores-recoletores como "o nicho evoluído desenvolvimentista". No seu volume coeditado, Ancestral Landscapes in Human Evolution: Culture, Childrearing and Social Wellbeing (Paisagens Ancestrais na Evolução Humana: Cultura, Criação de Crianças e Bem-Estar Social) (Narvaez et al. 2014) recorre-se fortemente aos conhecimentos dos antropólogos dos caçadores-recoletores e outros especialistas, tais como Crittenden (os Hadza), Endicott e Endicott (os Batek), Fry (estudos de conflito e paz), Fuentes (etnoprimatologia), Hewlett (os pigmeus Efe, infância), Konner (!Kung, infância nos caçadores-recoletores), e McKenna (adormecimento em conjunto). A socióloga/demógrafa Nancy Howell, em Demography of the Dobe !Kung (Demografia dos Dobe !Kung) (Howell 2000) e Life Histories of the Dobe !Kung (Histórias de Vida dos Dobe !Kung) (Howell 2010), chega a conclusões que apoiam as teses gerais de Hrdy's e Narvaez. Howell concentra-se nos comportamentos adaptativos dos adultos e não na educação das crianças, mas chega a uma conclusão semelhante. Dada a variabilidade espacial e temporal nos recursos enfrentada pelo Ju/'hoansi/!Kung, a única estratégia de sobrevivência viável, argumenta Howell, é que os !Kung pratiquem a partilha generalizada e o trabalho dentro do grupo, mantendo redes sociais próximas e distantes para acesso recíproco aos recursos (ver também Blurton Jones 2016).
Conclusões
Todas estas iniciativas assentam na mesma conclusão central deste artigo, de que embora a guerra e os conflitos mortais façam parte da história humana, são conspicuamente raros nas culturas anteriores a 8.000 AC. A maior frequência de guerra é observada nas culturas e sociedades neolíticas e pós-neolíticas. Portanto, existe uma descontinuidade acentuada entre a guerra tal como a conhecemos e o comportamento dos nossos supostos antepassados pré-humanos e humanos arcaicos.
Esta descoberta reforça o argumento de que a chave da evolução humana é a necessidade de nos afastarmos dos comportamentos agressivos dos nossos antepassados primatas, para proporcionar um ambiente adequado à criação de recém-nascidos com um grau de desamparo sem precedentes. A recompensa evolutiva destas mudanças radicais deu à nossa espécie uma série de vantagens adaptativas, o cérebro humano, e, com ele, saltos quânticos em inteligência. Este nível de inteligência tem sido um pré-requisito absoluto para as realizações subsequentes da humanidade.
Independentemente da posição que tomemos sobre os debates filosóficos que remontam a Hobbes e Rousseau, este tratamento mais sexuado (“gendered”) da evolução humana permite uma melhor adequação aos factos observados, que documentam, em primeiro lugar, a raridade da violência na arqueologia da caça e recolha de Homo Sapiens pré-neolíticos (Haas & Piscitelli 2013) e, em segundo lugar, a etnografia das características centrais dos C-RHNs.
O campo da Antropologia alberga, há muito tempo, uma tensão desconfortável entre as alas socioculturais e bio-evolutiva da disciplina. Há sinais promissores de que esta antipatia está a ser superada, por exemplo, no recente volume Human Origins: Contributions from Social Anthropology (Origens Humanas: Contribuições da Antropologia Social) de vários estudiosos britânicos (Power et al. 2017). Espero que o presente artigo de recensão seja um modesto passo na mesma direção.
O trabalho de Hrdy representa um passo importante da ala biológica. Ela está longe de estar sozinha nesta reaproximação emergente. Os escritos sobre C-RHNs contemporâneos, que foram citados nesta recensão - de observadores como Bird, Blurton Jones, Crittenden, Draper, os Endicotts, Hawkes e O'Connell, Hewlett, Hill e Hurtado, Howell, Konner, Kramer, Lamb, Marlowe, Marshall, e Wiessner - ofereceram uma tapeçaria rica para a síntese feita por Hrdy, Narvaez, e outros. Coletivamente, este corpo de investigação sobre caçadores-recoletores proporciona uma base muito produtiva para a construção de modelos mais coerentes de evolução do comportamento humano.
APÊNDICE
Pinker e o estudo de caso Ju/'Hoansi/!Kung
As sociedades C-RHNs, Caçadores-Recoletores Historicamente Nómadas, não são não-violentas. Eles lutam e por vezes matam, mas existe uma enorme distância entre essa afirmação e a afirmação canónica da escola belicosa de que 5%, 15%, ou mesmo 50% de todas as mortes de caçadores-recoletores são devidas à violência interpessoal. Em The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined, Pinker (2011) examinou especificamente os dados !Kung e fixou a taxa de mortalidade por homicídio dos !Kung em 40,0/100.000 (p. 55); estes níveis são comparáveis às elevadas taxas de homicídio urbano dos E.U.A., que, para 1972, eram de 36,8 para Baltimore e 40,1 para Detroit (Lee 1979, pp. 397-98). Apesar da aparente magnitude da taxa de homicídios Ju/'hoan/!Kung, estes ainda representam apenas 1,0-1,6% do total das suas mortes, em comparação com o valor de 8-58% referido por Pinker em TED Talk. Há diferenças cruciais a considerar. Primeiro, é a questão do acesso das vítimas de agressão nos E.U.A. – ao contrário dos !Kung - a excelentes instalações hospitalares de emergência e centros de trauma. Lois Beckett questionou recentemente: "Embora o número de assassinatos com armas tenha diminuído nos últimos anos, há um debate sobre se isso reflete uma queda no número total de tiroteios, ou uma melhoria no número de vidas que os médicos das urgências conseguem salvar" (Beckett 2014). Em segundo lugar, os 25 homicídios listados representaram todos os !Kung assassinados que o nosso grupo de investigação recolheu. Os !Kung não travaram guerras no século XX, e os norte-americanos e outras nações modernas fizeram-no (e continuam a fazer). Acrescentando aos totais do século XX as mortes de ambos os lados nas Guerras Mundiais, na Guerra da Coreia, na Guerra do Vietname e muitos outros conflitos menores, mais do que triplica as taxas de mortes violentas modernas, que estimo para os europeus, no período 1914-1945, em cerca de 100 por 100.000 habitantes (Lee 1979, p. 399), 2,5 vezes a dos !Kung. Para outras críticas recentes aos números de Pinker, ver Falk & Hildebolt (2017) e Oka et al. (2017).
(*) Richard Borshay Lee (n. 1937) é um antropólogo canadiano, professor emérito na Universidade de Toronto. As suas pesquisas de campo têm incidido sobretudo sobre os povos indígenas do Botswana e da Namíbia, particularmente a sua ecologia e história. Mais recentemente, estudou e empenhou-se também com a sua situação sanitária. Recebeu numerosos prémios e distinções. A revista da Sociedade Canadiana de Antropologia, Anthropologica, dedicou à sua obra o seu Vol. 45, n.º 1 (2003). Para além do seu trabalho estritamente científico e descritivo (essencialmente sobre os !Kung), tem publicado reflexões de âmbito mais geral, que podem ser englobadas no campo da Antropologia marxista em sentido amplo. O seu papel aí tem sido notável como um raríssimo elo de ligação intelectual entre a Antropologia marxista e a Sociobiologia evolutiva (uma disciplina criada pelo inimigo e que, ironicamente, está hoje em condições de desvelar importantes verdades, sempre revolucionárias), que nos parece ser uma linha fundamental de investigação. Com Irven DeVore publicou a importante obra Man the Hunter. Aldine Transaction, 1969, resultante de um simpósio realizado na Universidade de Chicago. Com Eleanor B. Leacock, co-editou Politics and History in Band Societies, Cambridge University Press, 1982. Co-editou ainda, com Richard Daly, The Cambridge Encyclopedia of Hunters and Gatherers, publicado pela primeira vez em 1999. Com Bathseba Opini publicou o livro infantil Africans Thought of It: Amazing Innovations (2011). É membro fundador da associação Anthropologists for Radical Political Change. De particular interesse para os leitores de O Comuneiro, pelo seu fôlego teórico mais amplo, são os seus ensaios “Reflections on Primitive Communism” (1988), “Primitive communism and the origin of social inequality” (1990) e “Demystifying Primitive Communism” (1992). O presente ensaio foi originalmente publicado na Annual Review of Anthropology, Vol. 47: pp. 513-531 (outubro de 2018). A tradução é de Ângelo Novo.
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