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O Imperialismo no Antropoceno
John Bellamy Foster, Hannah Holleman e Brett Clark (*)
A 21 de maio de 2019, o Grupo de Trabalho do Antropoceno, estabelecido pela Subcomissão de Estratigrafia Quaternária da Comissão Internacional de Estratigrafia, votou, por mais de 60 por cento, para reconhecer a existência da época antropocénica no tempo geológico, a partir de 1950. Definiu esta nova época "cronostratigráfica" como "o período da história da Terra durante o qual os seres humanos têm uma influência decisiva sobre o estado, a dinâmica e o futuro do Sistema Terra". A mudança antropogénica, iniciada em meados do século XX, foi designada como a principal força na evolução acelerada de todo o Sistema Terra. O Grupo de Trabalho do Antropoceno procederá, de seguida, à designação de um "pico dourado" específico, ou localização estratigráfica, que representa o Antropoceno no registro geológico, com o objetivo de conseguir que a nova época seja adotada oficialmente pela Comissão Internacional de Estratigrafia nos próximos anos (1).
Um forte consenso científico internacional está, desta forma, emergindo com respeito à designação da nova época geológica do Antropoceno - um termo que muitas vezes se diz ter sido "cunhado" por Paul Crutzen e Eugene Stoermer em 2000, embora tenha aparecido, pela primeira vez em inglês, décadas antes, em "The Anthropogenic System (Period)" na The Great Soviet Encyclopedia (2). O Antropoceno, na cosmovisão científica, representa uma rotura tanto quantitativa como qualitativa com todas as épocas geológicas anteriores. Mudanças numa escala que pode ser vista como divisora entre grandes épocas geológicas, que antes ocorriam ao longo de milhões de anos, estão agora ocorrendo em apenas séculos, ou mesmo décadas, devido à ação humana. A este respeito, o Antropoceno representa uma forte rotura com a época relativamente estável do Holoceno, dos últimos 11.000-12.000 anos, cujo início marcou o fim da última era glacial.
Na visão do Grupo de Trabalho da Antropoceno e, em geral, dos atuais cientistas do Sistema Terra, o advento da época antropocénica é o produto de uma Grande Aceleração da mudança economicamente impulsionada, ocorrida em meados do século XX, associada ao que por vezes é chamado pelos economistas como a "idade de ouro" do crescimento capitalista, após o Segunda Guerra Mundial. Isso levou à travessia de numerosos limites planetários, gerando várias "brechas antropogénicas" (3).
Os meados do século XX foram também um período da Guerra Fria. Assim, um "marcador primário" do Antropoceno é, justamente, "os radionuclídeos artificiais espalhados em todo o mundo pelos testes de bomba termonuclear no início dos anos 1950" (4). Entre as mudanças históricas associadas à Grande Aceleração estão vastos aumentos, graficamente representados em forma de taco de hóquei: combustão de combustíveis fósseis, emissões de dióxido de carbono, acidificação oceânica, extinções de espécies (e perdas na diversidade biológica em geral), desordens dos ciclos do nitrogénio e do fósforo, depleção da água doce, perda de florestas e poluição química. O resultado é uma emergência ecológica planetária ou crise do Sistema Terra (5).
Hoje não pode haver quaisquer dúvidas sobre a principal força por detrás desta emergência planetária - o crescimento exponencial da economia mundial capitalista, particularmente nas décadas desde meados do século XX. O próprio capital pode ser descrito como uma relação social de valor económico auto-expansível (mercadoria). O capitalismo, ou sistema de acumulação de capital baseado na exploração de classe e conformado com as leis de movimento impostas pela concorrência de mercado, não reconhece limites à sua própria auto-expansão. Não há quantidade de lucro, nem de riqueza, nem de consumo, que seja "suficiente" ou "excessiva" (6). Neste sistema, o ambiente planetário não é visto como um lugar com limites inerentes dentro dos quais os seres humanos devam viver, juntamente com as outras espécies terrestres, mas sim como um reino a ser explorado num processo de expansão económica crescente no interesse do ganho aquisitivo ilimitado, a maioria do qual acaba nas mãos de uns poucos. Os negócios, segundo a lógica interior do capital, devem crescer ou morrer - como deve aliás o próprio sistema.
Assim, o capitalismo promove uma "loucura de razão económica", que pode ser vista como minando a saudável relação metabólica humana com o seu meio ambiente (7). A mera crítica do capitalismo, como sistema económico abstrato, é, no entanto, insuficiente para enfrentar os problemas ambientais atuais. Pelo contrário, é necessário também examinar a estrutura de acumulação à escala mundial, juntamente com a divisão do mundo em Estados-nação concorrentes. Os nossos problemas planetários não podem ser abordados de forma realista sem enfrentar o sistema imperialista mundial - ou o capitalismo globalizado - organizado com base em classes e Estados-nação, e dividido entre centro e periferia. Hoje, isso levanta necessariamente a questão do Imperialismo no Antropoceno.
O Imperialismo Tardio e o Antropoceno
Lucros extra-elevados derivados das rendas imperialistas, drenados a partir da periferia ou do Sul global no processo de produção de mercadorias primárias, como Samir Amin demonstrou, assumem historicamente duas formas: (1) transferências de valor de troca, e (2) transferências de valor de uso (8). Estas últimas podem ser vistas como um processo de imperialismo ecológico, por meio do qual a extração de recursos tem frequentemente devastado os países pobres, que têm sido confrontados com a expropriação (apropriação sem equivalente ou reciprocidade) dos "dons gratuitos da Natureza ao capital" que se encontram nos seus territórios, juntamente com os custos ecológicos da sua extração (9). Segundo Gyekye Tanoh, chefe da Unidade de Economia Política da Third World Network-Africa, com sede em Acra, no Gana, os dados recentemente divulgados pelo Banco de Gana mostram que,
“dos 5,2 mil milhões de dólares de ouro exportados do Gana por empresas mineiras estrangeiras [de 1990 a 2002], o governo recebeu apenas 68,6 milhões de dólares [em] pagamentos de direitos de utilização e 18,7 milhões de dólares em impostos sobre o rendimento das empresas. Por outras palavras, o governo recebeu um total de menos de 1,7% dos retornos globais do seu próprio ouro. Uma vez que estes números subestimam grosseiramente o valor das exportações de ouro, os retornos para o Gana seriam ainda muito menores. O que é ainda mais chocante é que - com base na análise do Banco de Gana - a parte dessa riqueza que vai para as comunidades diretamente afetadas pela mineração é de 0,11%” (10).
Embora o ouro seja um exemplo particularmente claro e dramático, tal pilhagem é um fenómeno geral, presente em variados graus em relação a quase todos os recursos naturais – sejam eles ouro, guano, petróleo, café ou soja - que são sistematicamente drenados do Sul global por corporações multinacionais. O resultado é impor enormes perdas ecológicas e económicas aos países pobres e dependentes - um processo examinado, ao longo dos séculos, em relação ao colonialismo e ao neocolonialismo nas Américas, no livro Veias abertas da América Latina de Eduardo Galeano (11). A contabilidade económica capitalista, que mede valores de troca, mas não valores de uso, tem servido para disfarçar essa parcela da renda imperialista associada à expropriação de valores de uso (12). Portanto, é importante considerar toda a profundidade do roubo ecológico dos povos da periferia - um processo inerentemente violento historicamente associado à "extirpação, escravização e sepultamento em minas" das populações da periferia, que hoje está ligado a outras formas de expropriação e exploração extrema, também de natureza violenta (13).
Nos séculos XX e XXI, o imperialismo tem sido caracterizado pelo domínio de grandes corporações monopolistas. Isto levou V. I. Lenine a identificar a fase imperialista do capitalismo com o capitalismo monopolista (embora reconhecendo expressamente que a "política colonial e o imperialismo", num sentido mais geral, também existia antes disto e mesmo antes do capitalismo) (14). Na sua fase mais recente, desde a década de 1970, o sistema imperialista assumiu a forma de uma crescente predominância do capital monopolista-financeiro, representando um alto nível de globalização da produção na forma de cadeias globais de mercadorias.
Essas cadeias globais de mercadorias estão integradas com uma transferência acelerada a longo prazo de recursos físicos em matérias-primas dos países pobres para os países ricos, com "pegadas materiais" muito maiores, definidas estas como "a alocação global da extração de matérias-primas usadas para a procura final de uma economia". Utilizando a análise da pegada material, verificou-se que, em 2008, 40 por cento da extração total de matérias-primas a nível mundial tinha por objetivo viabilizar o comércio em outros países. Cerca de setenta milhares de milhões de toneladas de matérias-primas foram extraídas naquele ano, a mais alta quantidade até aquele momento, em toda a história. As importações de equivalentes de matérias-primas (materiais primários incorporados) no comércio são mais altas, per capita, nas economias ricas, lideradas pelo Japão, Reino Unido e Estados Unidos da América. A tendência geral nas economias maduras é para um "processo de externalização de processos intensivos em recursos", tornando-as cada vez mais dependentes de importações de equivalentes de matérias-primas do resto do mundo. Ao mesmo tempo, cerca de dois terços do fluxo material total em recursos extraídos, associado às exportações, permanecem nos países exportadores, principalmente como resíduos processados e fluxos de materiais auxiliares, muitas vezes gerando danos ecológicos consideráveis, classificados como externalidades económicas (15).
Embora a China seja muitas vezes designada como o país com a maior pegada material, aproveitando os recursos de todo o mundo, a imagem que assim se transmite é falsa, dado que a China é, de longe, um exportador líquido de matérias-primas em termos incorporados (pegada material). Esse padrão de desenvolvimento, associado aos países do Sul em geral, deixa esses Estados-nação com custos ecológicos desproporcionais, enquanto que, em termos de consumo, os benefícios dos recursos naturais vão principalmente para os países ricos, nas presentes condições dominadas por trocas ecológicas desiguais (16).
Se a pilhagem ecológica ocorreu durante séculos através de vários modos de expropriação e exploração impostos diretamente às colónias e neocolónias no Sul global, os efeitos do imperialismo ecológico também são evidentes em relação aos bens comuns globais, isto é, nos oceanos e na atmosfera. Desde a aprovação da Lei do Mar de 1982, quase metade do oceano do mundo está sob a jurisdição de Estados-nação, principalmente dentro de "zonas econômicas exclusivas". Oitenta e três países, a maioria deles pequenas nações insulares, mas também estados maiores como o Reino Unido e os Estados Unidos da América, agora têm mais oceano do que terra em suas jurisdições territoriais. Isso facilitou a expropriação de recursos oceânicos. Também deu domínio neste reino às principais nações imperialistas, que têm o capital e a tecnologia para saquear esses recursos.
Essas nações centrais também são frequentemente capazes de assumir o controlo e tirar proveito dos Estados periféricos, particularmente com a alavancagem económica proporcionada pela crescente introdução de regimes de privatização da gestão dos oceanos pelos Estados. O resultado nos últimos anos tem sido o que é conhecido como apropriação dos oceanos, afastando pequenas nações e pequenos pescadores e permitindo que corporações multinacionais se movimentem e sobre-explorem tanto os recursos pesqueiros quanto os dos fundos marinhos. Enquanto isso, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos permite que Estados e corporações explorem, para seu próprio benefício, petróleo, gás natural, minerais e metais preciosos, no fundo do mar e sob esse mesmo fundo, em águas internacionais, apesar do facto de isso serem bens comuns oceânicos (17).
Como relator especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, declarou, em 2012, que "o acaparamento dos oceanos" - na forma de obscuros acordos de acesso que prejudicam os pescadores de pequena escala... e do desvio de recursos das populações locais - pode ser uma ameaça tão grave quanto o acaparamento de terras" (18). A apropriação dos oceanos é, portanto, um processo de vedação (“enclosing”) dos bens públicos oceânicos. O Transnational Institut constatou, em 2012, que "frotas de grande escala que operam em zonas marinhas territoriais 'capturam' recursos dos pescadores locais e de toda a cadeia de pessoas que depende das atividades de pesca tradicionais. Os acordos de pesca da União Europeia (UE) com Marrocos, Maurícia, Mauritânia e Estados Insulares do Pacífico, por exemplo, estão a promover este tipo de expropriação" (19). As frotas pesqueiras globais duplicaram a sua capacidade para 3,5 milhões de navios desde a década de 1970, mas o 1% destes que são navios industriais representam até 60 por cento da captura de alimentos marinhos. Os pequenos países insulares muitas vezes recebem uma ninharia pela venda de seus direitos de pesca a frotas internacionais (20).
Aquilo que por vezes é chamado de bens comuns atmosféricos revela as consequências históricas do imperialismo de uma maneira completamente diferente. A mudança climática antropogénica, induzida principalmente pelas emissões cumulativas de dióxido de carbono, desde a Revolução Industrial, obrigou a comunidade mundial a adotar um orçamento climático implícito baseado em limites de emissões de carbono, determinados por níveis máximos aceitáveis de concentração de carbono na atmosfera. Isto significa encontrar uma maneira de voltar a baixar para 350 partes por milhão (ppm) de concentração de dióxido de carbono na atmosfera, dos atuais 414 ppm, mantendo-nos a todo custo abaixo de 450 ppm. O objetivo é limitar o aumento da temperatura média global em relação aos níveis pré-industriais a 1,5ºC - com um aumento de 2ºC (correspondente a 450 ppm) representando o limiar para além do qual a mudança climática provavelmente girará irreversivelmente fora de controle. De acordo com estes parâmetros, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas recentemente solicitou emissões líquidas de carbono zero até 2050, o que daria pelo menos 50% de hipóteses de limitar o aumento das temperaturas médias globais a 1,5ºC.
Atualmente, mais de 60% do carbono permitido por este orçamento - se o mundo pretende apenas ficar abaixo de um aumento de 2ºC na temperatura média global (equivalente a 450 ppm) - foi já emitido para a atmosfera. O prosseguimento da situação atual coloca o mundo numa trajetória que atingirá a bilionésima tonelada métrica de carbono, atingindo o limite de 2º C de aquecimento global médio - implicando mudanças climáticas irreversíveis - em 2035 (21). As emissões de dióxido de carbono são cumulativas, portanto, o que importa é a quantidade que cada país ou região contribuiu. Os Estados Unidos da América, Canadá, Europa (e Eurásia), Japão e Austrália contribuíram juntos com cerca de 61% do total, em comparação com os 13% da China e da Índia juntos. A Rússia responde por mais 7 por cento, e os transportes marítimos e aéreos mundiais por 4 por cento. O resto do mundo é responsável por 15% das emissões cumulativas. Essas disparidades só aumentarão ainda mais, se considerarmos as emissões baseadas no consumo e não na produção (22).
Do ponto de vista do Sul global, isto significa que o espaço atmosférico para o uso de combustíveis fósseis para o seu próprio desenvolvimento já foi ocupado pelos países imperialistas, muito pouco restando para os países do Sul desenvolverem as suas próprias economias. Em princípio, a Convenção das Nações Unidas sobre o Clima, no âmbito do Protocolo de Quioto, havia atribuído muito mais responsabilidade aos países ricos para reduzir as emissões de dióxido de carbono, estipulando que os países do Anexo I reduziriam drasticamente suas emissões à frente dos países em desenvolvimento, com menos emissões cumulativas (23). No entanto, as emissões per capita dos E.U.A. permaneceram em cerca de três vezes a média global e as suas emissões globais continuam a aumentar. Calculando as quotas per capita das emissões cumulativas de dióxido de carbono em 2012, os principais países capitalistas já haviam excedido sua quota justa em 568 mil milhões de toneladas métricas, criando uma enorme dívida ou obrigação de carbono para com os países subdesenvolvidos (24).
Embora os polos estejam aquecendo mais rapidamente do que as regiões de baixa latitude do globo, os efeitos nas latitudes médias e baixas, especialmente nas regiões secas, podem ser muito graves. O aquecimento global está atingindo as regiões mais quentes, de baixa latitude, tropicais e subtropicais da Terra, de forma especialmente dura. Muitos países de baixa latitude estão enfrentando aumentos de temperatura que ameaçam torná-los inviáveis. Assim, as condições do Sistema Terra determinam quais as regiões globais mais afetadas geofisicamente pelas alterações climáticas, sendo os países dos trópicos e subtropicais inicialmente os mais vulneráveis. Um estudo crucial publicado em 2011 nas Environmental Research Letters declarou: "Os países mais afetados pelo aquecimento não são os mais responsáveis por ele. O facto de que o aquecimento local significativo surge primeiro em países com baixas emissões não tem nenhuma causa económica ou social subjacente" (25).
Como afirmam os climatologistas James Hansen e Makiko Sato, "a própria ascensão da temperatura impõe um forte efeito, desproporcionadamente grande, nos países de baixa latitude... As emissões de combustíveis fósseis decorrentes da atividade económica do costume, farão com que algumas regiões do Médio Oriente se tornem praticamente inabitáveis até o final deste século". Os países subtropicais são particularmente vulneráveis à intensificação da seca. Em contraste, os países localizados em latitudes mais elevadas, que são geralmente mais ricos, embora afetados por aumentos na intensidade das tempestades, secas e ondas de calor induzidas pelas mudanças climáticas, podem, em alguns casos, encontrar as suas temperaturas médias se movendo mais em direção ao ótimo global (26).
Mas se os países em regiões mais quentes e de baixa latitude são afetados de forma desproporcional pelo aquecimento global, isso só é agravado pelo facto de que esses países também são geralmente mais pobres, o que é resultado de causas histórico-sociais. Um dos efeitos da mudança climática é, portanto, o exacerbamento das desigualdades globais já existentes. Os efeitos absolutamente catastróficos da mudança climática devem, portanto, surgir primeiro no Sul. O Norte também está ameaçado, mas, pelo menos inicialmente, num menor grau, devido a fatores ambientais e sociais. Uma análise publicada na revista Nature forneceu uma estimativa de referência na qual "o rendimento médio nos 40% de países mais pobres cai 75% até 2100, em relação a um mundo sem mudanças climáticas, enquanto os 20% mais ricos experimentam pequenos ganhos, já que são geralmente mais frios" (27). Embora os números possam ser questionados, a divergência nas tendências é óbvia.
Essa divergência de destinos entre o Norte e o Sul global, fortemente impactada pelas dimensões imperialistas da brecha metabólica, já se está fazendo sentir. Um artigo de Noah S. Diffenbaugh e Marshall Burke, publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences, a 14 de maio de 2019, indicou que "há crescentes provas de que os países ou indivíduos mais pobres são mais negativamente afetados por um clima em mudança, seja porque carecem de recursos para proteção climática ou porque tendem a residir em regiões mais quentes onde o aquecimento adicional será prejudicial à produtividade e à saúde". A combinação de fatores ambientais e sociais sugere que existem algumas "penalidades induzidas pelo aquecimento nos países pobres, juntamente com benefícios induzidos pelo aquecimento em alguns países ricos" (28). A complexidade das condições climáticas e a multiplicidade de perigos que acompanham uma mudança climática abrupta, sugerem que, enquanto os países pobres do Sul irão experienciar efeitos catastróficos, as ameaças aos países do Norte não são de modo algum negligenciáveis. Ainda assim, o fator mais importante na determinação dos resultados diferenciais é, sem dúvida, o social, relacionado com a maior riqueza e, portanto, maior acesso aos recursos por parte do Norte.
Outros fatores de mudança climática também apontam para um maior impacto no Sul global do que no Norte. Pequenos Estados em desenvolvimento insulares, trinta e sete dos quais são membros das Nações Unidas, enquanto outros quinze são classificados como meros territórios, estão todos eles ameaçados pela elevação do nível do mar, como o estão as nações costeiras de baixa altitude, muitas vezes densamente povoadas, como o Bangladesh e o Vietname (29). A perda de "torres de água" que são os glaciares montanhosos e as cabeceiras aquáticas que se comportam como reservatórios, armazenando a água durante o inverno e liberando-a lentamente no verão, terá o seu maior impacto no subcontinente indiano e na China, onde mil milhões ou mais de pessoas podem ter seu abastecimento de água diminuído pelo derretimento dos glaciares do Himalaia (30). As mudanças climáticas podem perturbar as monções com enormes, mas imprevisíveis, consequências. As florestas tropicais, com sua grande diversidade de vida e sua importância para a estabilidade climática regional e global, são especialmente vulneráveis ao aquecimento.
Dada a realidade do imperialismo, a principal resposta das estruturas de poder económico e militar do Norte a esta brecha climática, apontando para vulnerabilidades mais graves à mudança climática no Sul global do que no Norte global, tem sido principalmente dupla: (1) estudar como essas vulnerabilidades no Sul criam novas questões de segurança global, e (2) como podem elas ser exploradas para aumentar o domínio imperial. Isso é mais óbvio no caso dos Estados Unidos da América, onde a nova grande estratégia da administração Donald Trump é uma de "domínio energético" global, através da expansão da produção de combustíveis fósseis e do uso desta para alavancar um maior poder geopolítico e geoeconómico (31). Os militares norte-americanos, entretanto, estão se preparando para uma série de novas vulnerabilidades, relacionadas em particular com o petróleo e à água, e para intervenções para garantir a hegemonia global dos E.U.A. nestas circunstâncias em mudança. Interesses económicos e militares estão trabalhando juntos para criar estratégias de garantia dos meios para proteger cadeias globais de valor e de recursos, de modo a solidificar a Fortaleza América e garantir as suas linhas de abastecimento - trabalhando também com os seus parceiros juniores na tríade, Europa e Japão. Este reposicionamento estratégico do imperialismo no Antropoceno pode ser melhor visto examinando a corrida pelo controle dos recursos naturais em duas áreas: combustíveis fósseis e água.
Imperialismo energético
Em 2018, John Lehman, secretário da Marinha na administração Ronald Reagan, refletindo sobre as duas grandes guerras travadas pelos Estados Unidos da América no Médio Oriente, no final do século XX e na abertura do século XXI, declarou: "Você não vai querer cair na armadilha da esquerda e dizer que nós fomos ao Iraque apenas por causa do seu petróleo, mas dependendo [da] forma como o diz, os custos [destas guerras] podem ser atribuídos à dependência estratégica que temos em relação ao petróleo do Golfo" (32). Por outras palavras, a questão, segundo Lehman, não era apenas as recompensas imediatas do petróleo adicional - uma visão ingénua que ele atribuiu à esquerda - mas a defesa de todo um sistema económico imperial baseado em combustíveis fósseis.
Hoje, após a revolução do fraturamento hidráulico (“fracking”), os Estados Unidos da América estão oficialmente prosseguindo uma estratégia de domínio energético total, no que é visto como uma competição global por combustíveis fósseis, num cenário de rotura ecológica planetária (33). O papel da mudança climática na alteração das condições do domínio imperial norte-americano permeia as discussões militares e de segurança nos E.U.A.. E embora o aquecimento global em si não seja mencionado no documento oficial de 2017 de Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América, a sua própria ausência, conjugada com a insistência em defender a "soberania" dos E.U.A. em relação aos combustíveis fósseis e a crítica de abordagens "anticrescimento" da energia de combustíveis fósseis, apontam para a sua importância primordial na crise antropocénica mesmo aí (34).
A abordagem geral na comunidade militar e estratégica dos E.U.A. é ver a mutação climática como um "multiplicador de ameaças", associada a factos como: instabilidade política, efeitos negativos sobre a disponibilidade e os preços dos alimentos, escassez de água e energia, disseminação de doenças, emergências climáticas extremas, migrações em massa, interrupção do transporte marítimo, colapso económico em nações vulneráveis e aumento das ameaças às cadeias globais de suprimento económicas - especialmente em materiais estratégicos (35). O ponto de vista dominante é o de olhar para fora da Fortaleza América e seus vários bastiões globais, abrangendo os Estados Unidos da América (e Canadá); suas bases militares no exterior, das quais existem mais de seiscentas; suas dependências; seus chamados aliados europeus e japoneses; o Grande Médio Oriente, onde está em guerra perpétua há quase três décadas; e suas várias linhas de abastecimento críticas (36).
Já em 2003, um relatório encomendado pelo Pentágono sobre mudanças climáticas abruptas declarou que era necessário "criar métricas de vulnerabilidade" sobre quais os países que seriam os mais atingidos pelas mudanças climáticas, a fim de possibilitar que os Estados Unidos da América agissem efetivamente na salvaguarda de seus próprios interesses geoestratégicos. Foi sugerido que, nessas circunstâncias, populações relativamente abastadas, com amplos recursos naturais e capacidades de produção de alimentos, como os Estados Unidos da América e a Austrália, seriam provavelmente levadas a construir muros e "fortalezas defensivas" ao seu redor, para manter fora vagas maciças de aspirantes a imigrantes, sem dúvida em nome da defesa de sua soberania nacional (37). Como o relatório explicava,
“a violência e as perturbações decorrentes das tensões criadas pelas alterações abruptas do clima representam um tipo de ameaça à segurança nacional diferente daquele a que estamos habituados hoje em dia. O confronto militar pode ser desencadeado por uma necessidade desesperada de recursos naturais, como energia, alimentos e água, em vez de conflitos sobre ideologia, religião ou honra nacional. A mudança nas motivações para o confronto alteraria quais os países mais vulneráveis e os sinais de alerta existentes para as ameaças à segurança” (38).
À medida que a capacidade de carga do mundo diminui, sob condições climáticas adversas, os autores do relatório indicaram que a guerra se tornaria mais generalizada, produzindo maiores perigos de conflagração termonuclear.
A literatura militar e de segurança nos Estados Unidos da América continuou a promover essa visão estratégica geral, afirmando a realidade das mutações climáticas e focando-se nos meios de fazer avançar a hegemonia global dos E.U.A. no contexto da atual emergência planetária. Implícito nisso está o reconhecimento de que os Estados Unidos da América serão menos diretamente atingidos inicialmente do que a maioria do resto do mundo pelos efeitos do aquecimento global. Washington poderá então concentrar-se em usar seu poder económico, político e militar global, nessas circunstâncias de crescente caos e catástrofe mundial, para avançar a sua própria agenda de domínio de espectro total.
A este respeito, as forças armadas, o Estado imperial e a economia dos E.U.A. permanecem fortemente ligados às grandes corporações norte-americanas de combustíveis fósseis. Isso levou ao desenvolvimento de uma nova estratégia de imperialismo energético, na qual a preeminência dos E.U.A. no controle da energia mundial e o compromisso com a extração máxima de combustíveis fósseis foram colocados no centro dos objetivos de segurança nacional atuais. Com a revolução do fracking, a produção norte-americana de petróleo e gás subiu maciçamente, fazendo com que o governo Barack Obama removesse as regulamentações que limitavam a exportação de petróleo bruto dos E.U.A.. Entre 2015 e 2018, as exportações de petróleo bruto dos E.U.A. quadruplicaram e suas exportações de gás natural líquido aumentaram trinta e cinco vezes. Em 2018, os Estados Unidos da América exportaram dois milhões de barris de petróleo bruto por dia, tornando-se um dos principais exportadores mundiais de petróleo. Ao mesmo tempo, a diminuição da dependência das importações de petróleo permitiu-lhe impor sanções económicas rigorosas às principais potências petrolíferas às quais se opõe, como a Venezuela, o Irão e a Rússia (39).
A administração Trump procurou remover todas as restrições regulatórias que limitassem a expansão da indústria de combustíveis fósseis. Isso resultou numa grande expansão na produção e nas infraestruturas de combustíveis fósseis, com os Estados Unidos da América a emergir como o seu principal produtor no mundo, tanto de petróleo quanto de gás natural. Mesmo enquanto decorrem os debates sobre um Novo Pacto Verde (“Green New Deal”), nos Estados Unidos da América e no mundo como um todo, a expansão global das condutas (“pipelines”) de petróleo e gás triplicou desde 1996, com mais da metade dos projetos de expansão em andamento (e mais de um terço se medidos pelo comprimento das condutas) localizados na América do Norte, conectando pontos de extração com refinarias e terminais de exportação. Os planos de expansão de oleodutos e gasodutos (pré-construção e construção) na América do Norte totalizam atualmente US$232 mil milhões (mais de US$600 mil milhões no mundo todo), com a expansão total da infraestrutura de petróleo e gás a ser superior a US$1 bilião (milhão de milhões) na América do Norte e US$2,9 biliões no mundo todo (40).
O boom das condutas de combustíveis fósseis nos E.U.A. é direcionado às exportações, uma vez que a expansão da extração de petróleo e de gás é muito maior do que o que pode ser absorvido pelo mercado interno. Num cenário baseado nas políticas atuais (ou de “business as usual”), prevê-se que, até 2040, a procura mundial de gás natural em relação aos preços de 2017 aumente 55 por cento, enquanto a procura de petróleo deverá aumentar 26 por cento. Globalmente, "bancos, investidores de capital e detentores de obrigações estão em vias de colocar mais de 600 mil milhões de dólares em apostas num sistema de condutas expandido [que inclui mais de 300 condutas em desenvolvimento a nível mundial] com uma vida útil esperada de 40 anos ou mais" (41).
De acordo com Ted Nace, autor principal de um relatório do Global Energy Monitor sobre a bolha das condutas (“pipeline bubble”), "estas condutas vão consolidar emissões enormes, por 40 a 50 anos cada uma delas, com os cientistas dizendo que temos que mudar em 10 anos. Estas condutas são uma aposta de que o mundo não vai levar a sério a mudança climática, permitindo que a incumbência de petróleo e gás se fortaleça" (42). A infraestrutura de condutas cria uma dependência de um caminho específico, garantindo investimento e apoio para a queima de combustíveis fósseis, encurtando assim drasticamente o horizonte climático associado à bilionésima tonelada métrica de carbono. Só nos Estados Unidos da América, a produção de gás natural possibilitada por essas tubulações, em construção ou em fase de pré-construção, adicionaria mais de meio milhar de milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano até 2040, acima dos níveis de 2017 (43). A ExxonMobil, principal multinacional de petróleo dos E.U.A., declarou que planeia bombear 25 por cento mais petróleo e gás em 2025, em suas operações mundiais, do que em 2017 (44).
É com base nessa expansão das condutas e da produção de petróleo e gás natural que a administração Trump ergueu a sua nova estratégia imperialista de domínio energético global, desafiando todas as preocupações com as mutações climáticas. Como Trump declarou em junho de 2017: "Seremos dominantes. Vamos exportar a energia norte-americana para todo o mundo, a toda a volta do mundo", especialmente para a Ásia. A indústria de combustíveis fósseis salvou a "soberania" dos E.U.A.. A política energética dos E.U.A. é expandir não apenas a produção de petróleo e gás, mas também a produção de carvão em todo o mundo. Os Estados Unidos da América, declarou ele, estavam trabalhando no financiamento fábricas de carvão estrangeiras, na Ucrânia e em outros lugares (45).
O documento da Estratégia de Segurança Nacional dos E.U.A., divulgado em dezembro de 2017, insistia em que a "dominação energéica" - dando aos Estados Unidos da América a posição central em todos os aspetos da produção e consumo globais de energia, com base na "liberação" dos seus abundantes recursos de combustíveis fósseis - era a chave para o crescimento económico e para "combater uma agenda energética anticrescimento que é prejudicial aos interesses económicos e de segurança energética dos E.U.A." (46). Michael Klare observa: "Do ponto de vista da Casa Branca, os E.U.A. estão engajados numa importante luta pelo poder global com nações rivais e, segundo ele, a abundância de combustíveis fósseis do país confere-lhe uma vantagem vital. Quanto mais desses combustíveis a América do Norte produz e exporta, maior é a sua estatura num sistema mundial competitivo, e é justamente por isso que a maximização dessa produção já se tornou um importante pilar da política de segurança nacional do Presidente Trump". Esta "militarização da política energética" não está ocorrendo na ignorância das mutações climáticas ou do advento do Antropoceno, mas baseada numa aposta de que os combustíveis fósseis são os meios para aumentar o poder imperial, sobrepondo-se a todas as outras considerações. Esses meios precisam de ser consolidados, de forma a que nenhuma revolução energética alternativa seja possível (47). A humanidade que se dane.
Em 28 de maio de 2019, o Departamento de Energia dos E.U.A. emitiu um comunicado à imprensa rebatizando o gás natural como gás de liberdade e referindo-se às suas moléculas de dióxido de carbono como "moléculas de liberdade dos E.U.A." (48).
Imperialismo da água
Um dos impactos mais imediatos e profundos das mudanças climáticas para as pessoas em todo o mundo é a aceleração do ciclo global da água, causada pelo excesso de gases com efeito estufa (retenção de calor/energia) na atmosfera. Essencialmente, como disse o escritor científico Richard A. Kerr, desde 1950 "os lugares húmidos estão ficando mais húmidos, enquanto os lugares secos ficam mais secos" (49). Tempestades mais violentas e precipitações excessivas sob a forma de inundações aumentam o risco para a agricultura em regiões húmidas. A crescente ameaça de seca extrema e prolongada em muitas outras regiões do mundo, o facto de que a maioria das terras agrícolas do mundo sofre de altos níveis de degradação e perda de solo, bem como o deslocamento de pessoas devido a esses desastres ecológicos antropogénicos são indicativos de uma nova expansão da desertificação (“dustbowlification”) a um ritmo e escala sem precedentes (50).
Embora o desmatamento seja um conhecido contribuinte para as mudanças climáticas, ele também tem efeitos diretos sobre o ciclo hidrológico mundial. As florestas são componentes críticos do ciclo hidrológico mundial e são responsáveis por fornecer chuvas que dão vida a regiões de todo o mundo. O desmatamento generalizado resulta na perda de "rios gigantes de água no ar" - formados pelo vapor de água libertado na atmosfera pelas vastas florestas do mundo à medida que árvores e outras plantas exalam através da sua folhagem humidade retirada do solo através de sistemas radiculares complexos.
Fred Pearce escreve: "Ao rasparmos o planeta de árvores, corremos o risco de secar esses rios aéreos e as terras que dependem deles para a chuva. Um número crescente de pesquisas sugere que esse impacto até então negligenciado do desmatamento poderia, em muitos interiores continentais, agigantar-se aos impactos da mudança climática global. Poderia secar o Nilo, mutilar a monção asiática e dessecar campos desde a Argentina até o Meio-Oeste dos Estados Unidos da América" (51).
No atual contexto económico imperial, o impacto da aceleração e disrupção do ciclo hidrológico global sobre a disponibilidade diária de água e a produção de alimentos é suficientemente severo para contribuir para que os níveis de fome voltem a aumentar, especialmente na América Latina e na maior parte da África (52). De facto, enquanto a Bain and Company recentemente relatou que, em 2019, "o mercado de bens de luxo continua a brilhar" com "alimentos gourmet e restaurantes finos... a subir 6%", a fome severa é atualmente maior do que em 2014 em todas as regiões, exceto na América do Norte e na Europa (53). Condições invulgarmente secas na América Central são parcialmente responsáveis pelos migrantes que se dirigem para o norte em direção os Estados Unidos da América.
Nesta nova era de Dust Bowl, a poluição, a retirada insustentável de água (especialmente para a produção agrícola, industrial e energética), as infraestruturas inadequadas e deficientes, o desmatamento e o derretimento dos glaciares das montanhas do mundo - o ápice das torres de água terrestres - compõem as grandes ameaças de escassez de água doce e alimentos (54). Um estudo de 2016 publicado em Science Advances indicou que já "cerca de 66% [da população global] (4,0 mil milhões de pessoas) vive sob grave escassez de água... pelo menos 1 mês no ano... O número de pessoas que enfrentam grave escassez de água por pelo menos 4 a 6 meses por ano é de 1,8 a 2,9 mil milhões.... 500 milhões de pessoas enfrentam grave escassez de água o ano todo" (55).
Acrescendo ainda mais aos males dos mais vulneráveis estão os que lucram com a miséria imposta a milhões de pessoas, pela busca da acumulação sem fim. Reconhecendo o potencial de ganho de controlar os recursos cada vez mais escassos e críticos para a vida, "as corporações e investidores dos países ricos estão comprando terras agrícolas estrangeiras e as regalias de água doce que as acompanham". Os Estados Unidos da América são um dos países liderantes nessa senda. Tendências recentes nos negócios internacionais de terras indicam que os investidores "não se apropriam de terras em lugares sem acesso a água", como disse a geógrafa Wendy Wolford. Nas últimas décadas, cerca de 66% dessas compras foram feitas em países com altos níveis de fome. O cientista ambiental Paolo D'Odorico, que ajudou a documentar essas tendências neocoloniais, disse que "em muitos desses países, a soma da água assim apropriada seria suficiente para eliminar a desnutrição" (56).
Esta situação é claramente insustentável para milhares de milhões de pessoas no planeta, levando até mesmo Trump a reconhecer que "a água pode ser a questão mais importante que enfrentaremos na próxima geração" (57). Não é de admirar que, nestas condições, como escrevem estudiosos de assuntos internacionais da Universidade George Washington, os problemas da água sejam um "acelerador da violência" e que "a literatura académica e as previsões de inteligência também levantaram dúvidas de que o estresse hídrico continue a gerar mais cooperação do que conflitos" (58). Um relatório do Centro para o Clima e a Segurança descreve a luta pelo controlo da limitada água doce do mundo e a "armamentização da água" como "epicentros do clima e da segurança" na "nova paisagem geoestratégica do Antropoceno". Por outras palavras, são questões críticas para a segurança global, impactadas por um clima em rápida mudança e afetando regiões em todo o redor do mundo (59).
Diante de tudo isso, os analistas de política externa se concentraram em "quem controla a torneira" e pediram uma abordagem mais agressiva para garantir os interesses estratégicos dos E.U.A. em relação à água, integrando os esforços governamentais e os do setor privado em regiões do mundo inteiro e assumindo a liderança contra a invasão de concorrentes como a China. Eles destacam a centralidade da água e o controle das principais fontes de água doce para alavancar o poder suave e consolidar a hegemonia nas regiões, especialmente sob condições de maior escassez de água (60). É particularmente preocupante o controlo das torres de água do mundo ou dos glaciares e cabeceiras aquáticas das montanhas, que representam mais da metade da água doce do mundo. Esses recursos hídricos são críticos do ponto de vista ecológico, social e económico, porque "todos os grandes rios do mundo têm as suas cabeceiras em terras altas e mais da metade da humanidade depende da água doce que se acumula nas montanhas" (61). O controlo da China sobre o planalto tibetano e o potencial conflito com a Índia sobre projetos de infraestrutura que desviam a água dos usuários a jusante são preocupações particulares. O analista Troy Sternberg escreve que "em ambientes transfronteiriços, a infraestrutura hídrica exemplifica a afirmação de direitos e controle hegemónicos" e "o futuro das torres de água reflete muito bem um jogo de poder, tanto em termos de quem é capaz de controlar e manipular a água, quanto se esse ator pode ou não rejeitar qualquer desafio dos usuários a jusante" (62).
À medida que a escassez de água agrava e o recuo ou desaparecimento dos glaciares se aceleram, com as alterações climáticas, serão cada vez mais intensas as disputas pelo controle dos maiores depósitos de água doce nos picos mais altos do mundo. Os impactos a jusante da retração dos glaciares indicam que a escala das mudanças potenciais é enorme. Mais de 1,4 mil milhões de pessoas dependem da água dos rios Ganges, Indus, Brahmaputra, Yangtze e Amarelo, bem como das reservas de neve e gelo a montante que as alimentam. No entanto, nem todos esses rios parecem estar igualmente sujeitos aos efeitos das alterações climáticas, sendo as bacias Brahmaputra e Indus as mais diretamente afetadas (63).
Em 2012, o gabinete do Diretor de Inteligência Nacional dos E.U.A. divulgou um relatório de avaliação da comunidade de inteligência sobre Segurança Global da Água, destacando riscos e oportunidades particulares de interesse para os Estados Unidos da América em relação às bacias hidrográficas em todo o mundo. O relatório destaca a ameaça do aumento dos problemas de água em países "importantes para os Estados Unidos da América", o que prejudicará o crescimento económico e os objetivos políticos dos E.U.A.. O relatório também descreve as oportunidades que esses problemas apresentam para os Estados Unidos da América, cuja experiência e tecnologia serão procuradas para lidar com os problemas da água, e para as empresas norte-americanas, que lucrarão com o aumento das exportações agrícolas para regiões que se tornarão menos autossuficientes, devido à escassez de água doce. É ressaltado que "o empenhamento ativo dos Estados Unidos da América na resolução dos desafios da água melhorará a influência dos E.U.A. e poderá impedir que outros atores alcancem a mesma influência em detrimento dos E.U.A." (64).
A ênfase no mote "água como uma oportunidade" é um tema proeminente na Estratégia Global da Água de 2017 divulgada pela administração Trump, que observa que "a água é um ponto de entrada para o avanço dos valores democráticos fundamentais". O envolvimento em questões internacionais de água, aí se indica, é uma oportunidade de lucro para o setor privado e uma avenida através da qual é possível "encorajar instituições e organizações globais a promover as melhores políticas e abordagens alinhadas com os interesses dos E.U.A.". As crises hídricas são consideradas oportunidades importantes para promover os interesses dos E.U.A., por meio de ajuda e assistência estratégica ao desenvolvimento (65).
Apesar da estratégia delineada pela atual administração dos E.U.A., analistas do Wilson Center e outros sugerem que o governo dos E.U.A. não está fazendo o suficiente. Eles propõem que "para possibilitar essa direção estratégica na hidrodiplomacia, o presidente deve estabelecer um Centro de Prevenção de Conflitos Hídricos de cariz público-privado. Isso permitiria uma abordagem de governo unificada, enquanto sensibilizava o setor privado para aproveitar as oportunidades económicas assim criadas". Uma tal coordenação através de um centro estabelecido criaria, argumentam eles, "esperança e oportunidades potenciais para mudar o equilíbrio de poder relacionado à água em regiões críticas". Os mesmos analistas argumentam que a consequência inevitável de não implementar o envolvimento total com as questões da água, especialmente num contexto da mudanças climáticas, será o declínio da posição dos E.U.A.. Eles alertam que "se não forem controlados, os efeitos das mudanças climáticas sobre a segurança hídrica da Ásia podem levar os vizinhos da China a se alinharem mais estreitamente com o país que controla a torneira. Esse alinhamento pode prejudicar a presença dos E.U.A. na região e levar a região a uma estrutura de liderança multipolar que favoreça a China. Os formuladores das políticas de defesa e segurança ignorarão as implicações da segurança hídrica na Ásia por sua própria conta e risco" (66).
Entretanto, enquanto analistas da política externa e de segurança dos E.U.A., como Marcus D. King e Julia Burnell, discutem "a armamentização da água num clima em mudança" e realçam que a "comunidade de inteligência dos E.U.A. sugere que, à medida que a água se torna mais escassa, alguns Estados podem começar a empregar a água como uma ‘arma’ interestadual", a noção de que os Estados Unidos da América, enquanto principal potência imperial, se possam envolver em tais ações é deixada completamente fora de consideração. No entanto, Washington apoia plenamente a guerra movida pela Arábia Saudita no Iémen, onde tem armamentizado a água num dos países do mundo com maior escassez hídrica, bombardeando repetidamente barragens, reservatórios e instalações sanitárias, deixando 19 milhões de pessoas no país sem água potável (67).
Enquanto os analistas oficiais da política externa se exercitam sobre os problemas mundiais da água e os potenciais conflitos regionais, nacionais e subnacionais que agora parecem prováveis, ao nível local, ativistas defensores da água e da terra são assassinados impunemente, em números inauditos, pelos sicários de algumas das principais indústrias centralmente implicadas na crise mundial da água: o agronegócio, as indústrias do petróleo e da mineração, caçadores furtivos e madeireiros (68).
Rebeliões à extinção
Não colocar no centro da sua análise a questão do imperialismo no Antropoceno é a maior fraqueza do movimento ecológico ocidental. Muitas vezes se reconhece que os efeitos das mudanças climáticas e da violação dos limites planetários em geral, estão tendo os seus maiores efeitos no Sul global, onde milhões de pessoas já sofrem as consequências desses fenómenos. Isto é muitas vezes ligado à desigualdade global e à longa história do colonialismo e do imperialismo. Também se reconhece que os efeitos prejudiciais do aquecimento global são amplificados pela desigualdade global. Finalmente, alguns, à esquerda, compreendem mesmo que as mudanças climáticas são uma questão planetária que requer uma ascensão global da humanidade para superar a estrutura de poder capitalista que as está impulsionando (69). No entanto, há presentemente muito pouca consciência de que o imperialismo, representando o desnível global abissal inerente ao sistema capitalista mundial, é uma força ativa organizada contra a revolução ecológica, que procura manter o sistema de combustíveis fósseis e o atual regime de máxima degradação ambiental e exploração humana. O imperialismo do século XXI é, nesse sentido, a fase exterminista do capitalismo.
Tudo isso aponta para o facto de que qualquer crítica ao capitalismo que não inclua o imperialismo é insuficiente para enfrentar nossa atual crise epocal. Certamente, qualquer tentativa realista de enfrentar a crise do Antropoceno deve começar por uma crítica geral do capitalismo como um sistema que coloca a acumulação de capital acima de tudo. É isso que constitui a raiz da atual crise climática planetária, criando a necessidade de um movimento anticapitalista dedicado à sustentabilidade ecológica e à igualdade substantiva, isto é, ao socialismo. O facto de que o capitalismo é uma ameaça à sobrevivência humana o torna obsoleto como sistema social.
Contudo, enquanto a crítica ao capitalismo é o ponto de partida, a análise não pode simplesmente se deter aí; ela deve enfrentar a realidade do capital monopolista-financeiro generalizado, que opera à escala mundial, bem como a profunda e sistemática divisão do mundo entre centro e periferia, Norte global e Sul global - uma divisão apenas agravada pelas mudanças climáticas. É neste contexto imperialista mais amplo que o capitalismo existe como um verdadeiro sistema histórico no século XXI, e é isto que deve ser combatido.
Nestas novas condições históricas, sem precedentes, surge rapidamente uma emergente "consciência de espécie", baseada numa identificação com a humanidade no seu todo, e até mesmo com outras espécies, como descrito pelo famoso psicólogo Robert J. Lifton no seu livro The Climate Swerve (70). É esse senso de uma realidade material global compartilhada - surgindo de forma dialética ao lado de novos movimentos nacionalistas revanchistas, associados à mesma crise epocal - que provou ser um importante fator motivador por detrás do movimento britânico de Rebelião à Extinção (“Extinction Rebellion”) e das greves estudantis surgidas em toda a Europa. É cada vez mais compreendido, especialmente pelos jovens, que as nações ricas têm uma responsabilidade histórica pelas mudanças climáticas - juntamente com uma maior capacidade para detê-las com um menor número de sacrifícios - e que isso envolve nada menos que o destino da Terra e da humanidade como um todo. Lifton chama à nova "consciência de espécie" um "desvio", com base na filosofia da indeterminação e da liberdade do grande filósofo materialista Epicuro. O significado, a este respeito, do pensamento desta figura da Antiguidade foi reconhecido pela primeira vez por Karl Marx (71).
Mas um tal desvio, sublinhando as necessidades da humanidade trabalhadora como um todo, para que se torne realidade, deve reconhecer que o capitalismo na sua forma mais concreta, mais intensa e mais mortal, é o sistema imperialista mundial, e só pode ser verdadeiramente combatido nesses termos. Portanto, não pode haver revolução ecológica diante da atual crise existencial se não for anti-imperialista, tirando seu poder da grande massa de humanidade sofredora. O movimento ecológico global deve ser, portanto, um movimento de unificação dos oprimidos, emanado de inumeráveis Rebeliões à Extinção, que conduza à primeira verdadeira Internacional dos trabalhadores e dos povos do mundo. Os pobres herdarão a Terra ou não haverá mais Terra para herdar.
(*) John Bellamy Foster (n. 1953) é professor de Sociologia na Universidade de Oregon (E.U.A.) e o atual diretor da revista marxista norte-americana Monthly Review. Discípulo de Paul Sweezy e continuador da escola de pensamento crítico por este fundada (com Paul Baran e Harry Magdoff), tem publicado numerosos livros sobre a crise ecológica e sua interseção com a economia política do capitalismo. Merecem destaque: The Vulnerable Planet: A Short Economic History of the Environment (1994), Marx’s Ecology: Materialism and Nature (2000), Ecology Against Capitalism (2002), The Ecological Revolution: Making Peace with the Planet (2009), The Ecological Rift: Capitalism's War on the Earth, com Brett Clark e Richard York (2010), What Every Environmentalist Needs To Know about Capitalism: A Citizen's Guide to Capitalism and the Environment, com Fred Magdoff (2011), The Endless Crisis, com R. W. McChesney (2012), The Theory of Monopoly Capitalism (2014) e Trump in the White House: Tragedy and Farce (2017). Hannah Holleman graduou-se na Universidade de Oregon e é atualmente professora assistente de Sociologia no Amherst College em Massachusetts (E.U.A.). Colabora frequentemente em periódicos como Monthly Review, Climate and Capitalism, American Journal of Sociology e The Journal of Peasant Studies. É autora de Dust Bowls of Empire: Imperialism, Environmental Politics, and the Injustice of “Green” Capitalism, Yale University Press, 2018, além de numerosos ensaios, entre os quais, “De-naturalizing Ecological Disaster: Colonialism, Racism, and the Global Dust Bowl of the 1930s” (The Journal of Peasant Studies, Vol. 43, 2016) e, com John Bellamy Foster, “The Theory of Unequal Ecological Exchange: A Marx-Odum Dialectic” (The Journal of Peasant Studies, Vol. 41, 2014) e “Weber and the Environment: Classical Foundations for a Post-Exemptionalist Sociology,” (American Journal of Sociology, maio de 2012). Ativista empenhada, fala regularmente em público sobre temas que vão desde a política ambiental até a teoria social, incluindo o encarceramento em massa, os gastos militares, a desigualdade global, a financeirização e o imperialismo ecológico. É diretora da Monthly Review Foundation. Brett Clark é editor associado da Monthly Review e professor de Sociologia na Universidade de Utah, depois de ter sido professor assistente na North Carolina State University, entre 2008 e 2012. Suas áreas de interesse são Ecologia, Economia Política e Ciência Política. É frequente colaborador da Monthly Review além de publicações como American Journal of Sociology, Social Problems, Social Science Research, Theory and Society, Sociological Inquiry, The Sociological Quarterly, Organization & Environment, Population & Environment, Global Environmental Politics, Urban Studies, Journal of Agrarian Change, Society & Natural Resources, International Journal of Comparative Sociology, Nature & Culture. É autor de diversos livros, incluindo Critique of Intelligent Design: Materialism versus Creationism from Antiquity to the Present (com John Bellamy Foster e Richard York, Monthly Review Press, 2008), The Science and Humanism of Stephen Jay Gould (com Richard York, Monthly Review Press, 2011) e The Ecological Rift: Capitalism's War on the Earth (com John Bellamy Foster e Richard York, Monthly Review Press, 2011). O presente ensaio foi originalmente publicado no Vol. 71, Nº 3 da revista Monthly Review (julho-agosto de 2019). Os autores agradecem a Fred Magdoff por sua ajuda. A tradução é de Ângelo Novo. Traduzido e republicado com permissão da revista Monthly Review. Todos os direitos reservados.
______________ NOTAS:
(1) Anthropocene Working Group, “Results of Binding Vote by AWG”, 21 de maio de 2019. Para uma discussão completa das questões relacionadas com a datação geológica do Antropoceno, consulte-se Jan Zalasiewicz, Colin N. Waters, Mark Williams e Colin P. Summerhayes, The Anthropocene as a Geological Time Unit: A Guide to the Scientific Evidence and Current Debate (Cambridge: Cambridge University Press, 2019).
(2) E. V. Shantser, “The Anthropogenic System (Period)”, in Great Soviet Encyclopedia, vol. 2 (New York: Macmillan, 1973), p. 140; John Bellamy Foster, prefácio a Ian Angus, Facing the Anthropocene (New York: Monthly Review Press, 2016), p. 11.
(3) Clive Hamilton e Jacques Grinevald, ”Was the Anthropocene Anticipated?,” Anthropocene Review, Vol. 2, n.º 1 (2015), p. 67.
(4) Anthropocene Working Group, “Results of Binding Vote by AWG”.
(5) Ian Angus, Facing the Anthropocene, pp. 44-45; J. R. McNeill, The Great Acceleration (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2016).
(6) Fred Magdoff e John Bellamy Foster, What Every Environmentalist Needs to Know About Capitalism (New York: Monthly Review Press, 2014), p. 43.
(7) David Harvey, Marx, Capital, and the Madness of Economic Reason (Oxford: Oxford University Press, 2018).
(8) Samir Amin, Modern Imperialism, Monopoly Finance Capital, and Marx’s Law of Value (New York: Monthly Review Press, 2018), pp. 110–11.
(9) Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works, vol. 37 (New York: International, 1975), pp. 732–33; John Bellamy Foster e Brett Clark, “The Expropriation of Nature”, Monthly Review, Vol. 69, n.º 10 (March 2018), pp. 1-27.
(10) Gyekye Tanoh, entrevista com Tricontinental: Institute for Social Research, in Resource Sovereignty: The Agenda for Africa’s Exit from the State of Plunder, Tricontinental: Institute for Social Research, Dossier n.º 16, maio de 2019; Celina Della Croce, “98,3 Percent of Ghana’s Gold Remains in the Hands of Multinational Corporations”, Salon, 25 de maio de 2019.
(11) Eduardo Galeano, Open Veins of Latin America (New York: Monthly Review Press, 1997).
(12) Há agora uma crescente literatura sobre troca ecológica desigual. Veja-se, por exemplo, Andrew K. Jorgenson e Brett Clark, “The Economy, Military, and Unequal Exchange Relationships in Comparative Perspective”, Social Problems, Vol. 56, n.º 4 (2009), pp. 621–46; John Bellamy Foster e Hannah Holleman, “The Theory of Unequal Ecological Exchange”, Journal of Peasant Studies, Vol. 41, n.º 1-2 (2014), pp. 199-233.
(13) Karl Marx, Capital, vol. 1 (London: Penguin, 1976), p. 915.
(14) V. I. Lenin, Imperialism: The Highest Stage of Capitalism (New York: International, 1939), pp. 81-82, 88.
(15) Thomas O. Wiedmann, Heinz Schandl, Manfred Lenzen, Faniel Moran, Sangwon Suh, James West, e Keiichiro Kanemoto, “The Material Footprint of Nations”, Proceedings of the National Academy of Sciences, Vol. 112, n.º 20 (2015), pp. 6271-76.
(16) Weidmann et. al., “The Material Footprint of Nations”, pp. 6272–73.
(17) Florian Doerr, “Blue Growth and Ocean Grabbing”, Colloquium Paper N.º 18, International Institute of Social Studies, International Colloquium, 4-5 de fevereiro de 2016, pp. 1-20 ; Transnational Institute Agrarian Justice Program, The Global Ocean Grab: A Primer (Amsterdam: Transnational Institute, 2014); Nishan Degnarain e Greg Stone, “83 Countries Are More Ocean than Land”, World Economic Forum, 16 de outubro de 2017; Stefano B. Longo, Rebecca Clausen, e Brett Clark, The Tragedy of the Commodity (New Brunswick: Rutgers University Press, 2015).
(18) “‘Ocean-Grabbing’ as Serious a Threat as ‘Land-Grabbing’ - UN Food Expert”, United Nations Special Rapporteur on the Right to Food, 30 de outubro de 2012.
(19) Transnational Institute Agrarian Justice Program, The Global Ocean Grab, 7.
(20) Doerr, “Blue Growth and Ocean Grabbing”, pp. 6, 8.
(21) V. Trillionthtonne.org. A bilionésima tonelada é medida em termos de toneladas métricas de carbono (não de dióxido de carbono).
(22) James Hansen e Makiko Sato, “Regional Climate Change and National Responsibilities”, Environmental Research Letters, Vol. 11 (2016), p. 6; Glenn P. Peters, “From Production-Based to Consumption-Based National Emission Inventories”, Ecological Economics, Vol. 65, n.º 1 (2008), pp. 13-23; World Resources Institute, “6 Graphs to Explain the World’s Top 10 Emitters”, 25 de novembro de 2014.
(23) Sobre as primeiras negociações climáticas e o fracasso do Protocolo de Quioto, veja-se John Bellamy Foster, Ecology Against Capitalism (New York: Monthly Review Press, 2002), pp. 13-22.
(24) Hansen e Sato, “Regional Climate Change and National Responsibilities”, pp. 5-6; Martin Khor, “The Equitable Sharing of Atmospheric and Development Space: Summary”, apresentação feita ao UNFCCC AWG-LCA Workshop on Equity Bonn, 16 de maio de 2012.
(25) I. Mahlstein, R. Knutti, S. Solomon e R. W. Portmann, “Early Onset of Significant Local Warming in Low Latitude Countries”, Environmental Research Letters 6 (2011), p. 4; Sebastian Bathiany, Vasilis Dakos, Martin Scheffer e Timothy M. Lenton, “Climate Models Predict Increasing Temperature Variability in Poor Countries”, Science Advances, Vol. 4, n.º 5 (2018), pp. 1-10.
(26) Hansen and Saito, “Regional Climate Change and National Responsibilities”, pp. 1, 7.
(27) Marshall Burke, Solomon M. Hsiang e Edward Miguel, “Global Non-Linear Effect of Temperature on Economic Production”, Nature, n.º 527 (2015), p. 238.
(28) Noah S. Diffenbaugh e Marshall Burke, “Global Warming Has Increased Global Economic Inequality”, Proceedings of the National Academy of Sciences, Vol. 116, n.º 20 (2019), pp. 9808–10.
(29) United Nations Security Council, “Issues Facing Small Island Developing States”, 30 de julho de 2015; Degnarain e Stone, “83 Countries Are More Ocean than Land”.
(30) Tony Sternberg, “Water Towers: Security Risks in a Changing Climate”, in Epicenters of Climate and Security: The New Geostrategic Landscape of the Anthropocene, ed. Caitlin E. Werrell e Francesco Femia (Washington, D.C.: Center for Climate and Security, 2017), pp. 20-27.
(31) National Security Strategy of the United States of America, dezembro de 2017, pp. 22-24.
(32) “The Military Cost of Defending the Global Oil Supply”, Securing America’s Future Energy, 21 de setembro de 2018, p. 9.
(33) “The Military Cost of Defending the Global Oil Supply”.
(34) National Security Strategy of the United States of America, 2017; Donald J. Trump, “Remarks by President Trump at the Unleashing American Energy Event”, 29 de junho de 2017.
(35) Susan Maret, “Climate Change and National Security Through the Lens of Key Federal Publications”, Project Censored, 8 de janeiro de 2019; Marcus D. King e Julia Burnell, “The Weaponization of Water in a Changing Climate”, in Epicenters of Climate and Security, pp. 37-40; Robert McLeman, “Migration and Displacement in a Changing Climate,” in Epicenters of Climate and Security, pp. 100-107.
(36) “Blank Spots on the Map: Almost All the U.S. Army’s Secret Military Bases Across the Globe Revealed on Google and Bing”, Daily Mail, 15 de dezembro de 2013.
(37) Peter Schwartz e Doug Randall, "An Abrupt Climate Change Scenario and Its Implications for United States Security", 18 de outubro de 2003; John Bellamy Foster, The Ecological Revolution (New York: Monthly Review Press, 2009), p. 114.
(38) Schwartz and Randall, An Abrupt Climate Change Scenario, p. 14.
(39) Jie Jenny Zou, “How Washington Unleashed Fossil-Fuel Exports and Sold Out on Climate”, Center for Public Integrity, 16 de outubro de 2018; International Institute for Strategic Studies, “U.S. Oil Import Dependence Reaches 60-Year Low”, 11 de dezembro de 2018; U.S. Energy Information Administration, “The United States Remains the World’s Top Producer of Petroleum and Natural Gas Hydrocarbons”, 21 de maio de 2018; “The U.S. Exported 2 Million Barrels Per Day of Crude Oil in 2018 to 42 Destinations”, U.S. Energy Information Administration, 15 de abril de 2019.
(40) Ted Nace, Lydia Plante e James Browning, Pipeline Bubble: North America Is Betting Over $1 Trillion on a Risky Fossil Infrastructure Boom (San Francisco: Global Energy Monitor, 2019).
(41) Nace, Plante e Browing, Pipeline Bubble, pp. 7-8.
(42) Oliver Milman, “North American Drilling Boom Threatens Big Blow to Climate Efforts, Study Shows”, The Guardian, 25 de abril de 2019.
(43) Milman, “North American Drilling Boom”.
(44) “The Truth About Big Oil and Climate Change”, The Economist, 9 de fevereiro de 2019, p. 9.
(45) Trump, “Remarks by President Trump at the Unleashing American Energy Event”.
(46) National Security Strategy, pp. 22-23.
(47) Michael T. Klare, “The Strategy of Maximal Extraction”, Salon, 11 de fevereiro de 2018.
(48) U.S. Department of Energy, “Department of Energy Authorizes Additional LNG Exports from Freeport LNG”, 28 de maio de 2019.
(49) Richard A. Kerr, “The Greenhouse Is Making the Water-Poor Even Poorer”, Science, Vol. 336, n.º 405 (2012), p. 405.
(50) Hannah Holleman, Dustbowls of Empire: Imperialism, Environmental Politics, and the Injustice of “Green” Capitalism (New Haven: Yale University Press, 2018); Hannah Holleman, “No Empires, No Dust Bowls”, Monthly Review, Vol. 70, n.º 3 (julho–agosto 2018); Marian Corera, “The Cost of Climate Change?”, NATO Association of Canada, 26 de setembro de 2018.
(51) Fred Pearce, “Rivers in the Sky: How Deforestation is Affecting Global Water Cycles”, Yale Environment, n.º 360, 24 de julho de 2018.
(52) FAO, IFAD, UNICEF, WFP e WHO, The State of Food Security and Nutrition in the World 2018: Building Climate Resilience for Food Security and Nutrition (Rome: Food and Agriculture Organization, 2018), pp. xiii, 39.
(53) Claudia D’Arpizio, Federica Levato, Filippo Prete, Elisa Del Fabbro e Joëlle de Montgolfier, “The Future of Luxury: A Look into Tomorrow to Understand Today”, Bain and Company, 10 de janeiro de 2019; FAO, IFAD, UNICEF, WFP e WHO, The State of Food Security and Nutrition in the World 2018, pp. iii, 3.
(54) Harry Fountain e Ben C. Solomon, “Glaciers are Retreating. Millions Rely on Their Water”, The New York Times, 16 de janeiro de 2019; Stephen Leahy, “From Not Enough to Too Much, the World’s Water Crisis Explained”, National Geographic, 22 de março de 2018.
(55) Mesfin M. Mekonnen e Arjen Y. Hoekstra, “Four Billion People Facing Severe Water Scarcity”, Science Advances, Vol. 2, n.º 2 (2016).
(56) Brian Bienkowski, “Corporations Grabbing Land and Water Overseas”, Scientific American, 12 de fevereiro de 2013.
(57) U.S. Government Global Water Strategy, 2017, p. 2.
(58) King e Burnell, “The Weaponization of Water in a Changing Climate” in Epicenters of Climate and Security, pp. 68, 70.
(59) Werrell and Femia, (eds.), Epicenters of Climate and Security, pp. 1, 6.
(60) Sherri Goodman e Zoe Dutton, “Who Controls the Tap? Addressing Water Security in Asia”, Council on Foreign Relations, 10 de outubro de 2018; Joshua W. Busby, “Water and U.S. National Security”, Council on Foreign Relations, 18 de janeiro de 2017; “Countdown to Day Zero: Water Scarcity and Security”, Council on Foreign Relations, 1 de junho de 2018.
(61) “The Importance of Mountain Snowpack to Water Resources”, The Water Footprint Calculator, 12 de outubro de 2018; Hanspeter Liniger e Rolf Weingartner, “Mountains and Freshwater Supply”, Unasylva, Vol. 49, n.º 195 (1998); “How Much of the Earth’s Water Is Stored in Glaciers?”, United States Geological Survey.
(62) Sternberg, “Water Towers”, in Epicenters of Climate and Security: The New Geostrategic Landscape of the Anthropocene, pp. 22, 24.
(63) Walter W. Immerzeel, Ludovicus P. H. van Beek, Mark F. P. Bierkens, “Climate Change Will Affect the Asian Water Towers”, Science, Vol. 328, n.º 11 (2010), pp. 1382-85; Alexander M. Milner et al., “Glacier Shrinkage Driving Global Changes in Downstream Systems”, Proceedings of the National Academy of Sciences, Vol. 114, n.º 37 (2017); Harry Fountain e Ben C. Solomon, “Glaciers are Retreating. Millions Rely on Their Water”, The New York Times, 16 de janeiro de 2019. Note-se que existem esforços atuais para fabricar glaciares artificiais durante o inverno usando água corrente.
(64) "Global Water Security", Intelligence Community Assessment 2012-08, 2 de fevereiro de 2012, p. 11.
(65) U.S. Government Global Water Strategy, pp. 5, 10.
(66) Goodman e Dutton, “Who Controls the Tap?”.
(67) King e Burnell, “The Weaponization of Water in a Changing Climate” in Epicenters of Climate and Security; Ahmed Abdulkareem, “Saudi Strikes on UNICEF Water Facility in Yemen Compounds Cholera Risk”, Mint Press, 25 de julho de 2018; Martha Mundy, The Strategies of the Coalition in the Yemen War (Somerville, MA: World Peace Foundation, 2018); “About 19 Million Lack Access to Clean Water in Yemen”, Al Jazeera, 23 de janeiro de 2019.
(68) Jonathan Watts e John Vidal, “Environmental Defenders Being Killed in Record Numbers Globally, New Research Reveals”, The Guardian, 13 de julho de 2017; Elaina Zachos, “Why 2017 Was the Deadliest Year for Environmental Activists”, National Geographic, 24 de julho de 2018.
(69) Asad Rehman, “A Green New Deal Must Deliver Global Justice”, Red Pepper, 29 de abril de 2019; Minerwa Tahir, “Why It Is Important to Connect Anti-Imperialism to Climate Action”, SOAS blog, 1 de maio de 2019.
(70) Robert J. Lifton, The Climate Swerve (New York: New Press, 2017).
(71) Cyril Bailey, “Karl Marx on Greek Atomism”, Classical Quarterly, Vol. 22, n.º 3-4 (1928), pp. 205-6; John Bellamy Foster, Marx’s Ecology (New York: Monthly Review Press, 2000), pp. 52-53.
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