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O valor não é tudo
John Bellamy Foster e Paul Burkett (*)
Os rápidos avanços na ecologia marxista nas últimas duas décadas deram origem a extensos debates dentro da esquerda, refletindo conceções concorrentes em teoria e na prática, numa era de crise ecológica e social planetária. Uma área chave de disputa está associada à tentativa de um número crescente de pensadores ambientais radicais de desconstruir a teoria do valor-trabalho a fim de trazer tudo o que existe ao seio de uma única lógica da mercadoria, replicando de muitas maneiras as tentativas dos ambientalistas liberais de promover a noção de “capital natural” e de imputar preços mercantis a “serviços ecossistémicos” (1). Para muitos, nos círculos verdes, Karl Marx e uma longa tradição de teóricos marxistas devem ser criticados por não incorporarem diretamente na teoria do valor os gastos de trabalho físico / energia de natureza extra-humana.
De facto, para vários pensadores ambientalistas de esquerda contemporâneos, como Giorgos Kallis, Dinesh Wadiwel e Zehra Taşdemir Yaşın, não apenas os seres humanos, mas também a natureza / animais / energia produzem valor económico sob o capitalismo (2). Para outros, adotando uma abordagem mais circular, como o ecologista mundial Jason W. Moore, o papel distintivo do trabalho na geração de valor é formalmente reconhecido, mas a “lei do valor numa sociedade capitalista” é definida como “uma lei de Natureza Barata”. A contribuição do trabalho para a produção de valor é vista como epifenoménica, largamente determinada pela mais ampla apropriação de “trabalho” ou energia, no sentido usado na Física, realizada pela teia da vida como um todo (3).
Nesta “nova lei do valor”, como se explica no livro de Moore publicado em 2015, Capitalism in the Web of Life, a base última da valorização é a apropriação capitalista do trabalho “não remunerado” de atores orgânicos e inorgânicos, focalizando-se em particular nas Quatro Pechinchas (força de trabalho, energia, comida e matérias-primas) - ou daquilo a que ele se referiu, dois anos depois, em A History of the World in Seven Cheap Things, escrito com Raj Patel, como as Sete Pechinchas (acrescentando agora a natureza, o trabalho, o dinheiro, as vidas e o trabalho de cuidado, enquanto se subtrai a força de trabalho e as matérias-primas). As quatro ou sete pechinchas (“cheaps”), no seu conjunto, substituem a força de trabalho como a real fundação do valor. Nesta abordagem mais “expansiva” do valor, a teoria do valor-trabalho é relegada para uma existência fantasmagórica, como uma substância etérea, enquanto a base real da valorização passa agora a ser toda a teia da vida - apontando para uma teoria de valor de tudo. E não é essa a verdadeira questão, questiona-se claramente Moore, “O Valor de Tudo” (4)?
Na verdade, as críticas ambientalistas liberais da teoria marxiana do valor remontam aos primórdios da teoria verde contemporânea. Essas críticas repousam sobre a confusão sistemática de dois significados distintos de valor: valor intrínseco (ou o valor que atribuímos às coisas em si e às nossas relações) e valor de mercadoria. Escrevendo em 1973, na sua obra Small Is Beautiful, E. F. Schumacher afirmou que há uma tendência na sociedade moderna para “tratar como sem valor tudo aquilo que não foi feito por nós próprios. Até mesmo o grande Dr. Marx caiu nesse erro devastador quando formulou a chamada «teoria do valor-trabalho»" (5).
Críticas deste tipo cometem a falácia de confundir a crítica de Marx ao valor mercantil capitalista com a questão do valor intrínseco ou com mais amplas noções culturais trans-históricas do valor como mérito. É crucial aqui o reconhecimento de que Marx foi o maior crítico da forma de valor capitalista. Como Moishe Postone observou corretamente em Time, Labor and Social Domination (1993), Marx estava preocupado principalmente com “a abolição do valor como forma social da riqueza” (6). O Capital de Marx procurou assim explicar as relações de valor sob o capitalismo como parte de um processo histórico que as transcende. Ele distinguiu entre a riqueza real que consiste em valores de uso - representando aquilo que ele chamou de “forma natural” dentro da produção - e o valor como valor de troca, isto é, a “forma valor” associada à produção especificamente capitalista (7). O socialismo tem como seu objetivo específico superar esta última estreita forma do valor, de modo a permitir o desenvolvimento de um mundo rico de necessidades, enquanto regula racionalmente o metabolismo entre a humanidade e a natureza.
É, portanto, esta falha em perceber a análise de Marx como crítica - muito afastada nesse aspeto da economia política liberal, cujos conceitos são projetados para validar a ordem existente e são, portanto, apresentados como ideais trans-históricos - que subjaz às equivocadas críticas verdes da teoria marxiana do valor. Marx não procurou defender ou validar as relações de valor capitalistas, muito menos para universalizá-las, estendendo-as a outros domínios da realidade. Em vez disso, na sua perspetiva, o objetivo revolucionário era abolir completamente o sistema de valor mercantil e substituí-lo por um novo sistema de desenvolvimento humano sustentável controlado pelos produtores diretos.
Para Marx, a estreita busca da acumulação baseada no valor de troca, por meio do "roubo" da própria Terra, em detrimento da "necessidade natural eterna", gerou uma falha metabólica na relação entre a sociedade humana e o mais amplo mundo natural do qual aquela era uma parte emergente (8). Juntamente com as relacionadas contradições de classe do capitalismo, essas condições apontavam para a necessidade da expropriação dos expropriadores. Assim, a grande vantagem da crítica ecológica marxista sobre as críticas do capitalismo da teoria verde corrente é precisamente que a primeira se concentra nas bases histórico-materialistas da destruição ecológica contemporânea e aponta os meios para a sua transcendência. Em vez de se opor ao capitalismo com um conjunto de valores ou ideais trans-históricos, seu foco é numa crítica ao atual modo de produção de mercadorias, acumulação e valorização - uma crítica que se estende à implacável degradação, pelo capitalismo, das condições ambientais da existência do homem e do próprio sistema Terra. Na teoria de Marx, o valor (da mercadoria) não é tudo e se distingue da riqueza real (valores de uso) (9).
Mas se estas críticas verdes tradicionais da teoria marxiana são facilmente rebatidas, desenvolvimentos recentes dentro do pensamento pós-humanista, que hoje estão transformando o caráter da teoria verde, foram muito além na sua tentativa de demolição do materialismo histórico clássico. Isso ocorreu através da promoção de dois argumentos intimamente conectados: (1) desconstrução do trabalho social como base de valor, a ser substituído pelo que é visto como uma mais inclusiva teoria de valor fisiológica ou energética; e (2) subsunção de toda a teia da vida, em todos os seus aspetos, à lei do valor da economia mundial de mercadorias. O objetivo de tais análises é a “desestabilização do valor como uma categoria «económica»”, da qual a clássica crítica marxista do capitalismo, com seu foco na dupla alienação do trabalho e da natureza, depende em última instância (10). Em contraste, uma coerente crítica ecológica do capitalismo requer uma compreensão da contradição dialética entre a forma natural e a forma valor inerente à economia mercantil.
Críticas ecológicas pós-humanistas e o conceito de trabalho social de Marx
Embora a economia marxiana tenha sido frequentemente criticada por teóricos verdes de vários tipos por não desenvolver uma teoria fisiológica ou energética de valor, e por detetar valor exclusivamente no trabalho humano, não há teoria económica existente - seja ela a economia clássica, neoclássica, sraffiana ou a ecológica contemporânea - que veja a natureza como produtora direta de valor económico (ou valor acrescentado) na economia capitalista contemporânea. Com pequenas exceções, toda a economia, desde o período clássico até ao presente, percebeu o que a própria natureza fornece, independentemente do trabalho ou serviços humanos, como sendo um “presente gratuito” para a economia - uma ideia que remonta aos teóricos clássicos Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo e Karl Marx, sendo prosseguida na economia contemporânea neoclássica e marxista. A natureza, é claro, fornece a base material da produção e afeta a produtividade, sendo aplicadas rendas a tudo - desde o solo até aos combustíveis fósseis –, as quais entram dessa maneira na determinação de preços; no entanto, o valor da mercadoria, no sentido mais geral, é visto em todas as escolas da economia como sendo um produto distintamente humano, refletindo o funcionamento real da economia capitalista.
Para muitos teóricos ambientalistas que confundem valor intrínseco com valor económico, excluir o trabalho ou a energia animal de uma conceção de valor é simplesmente antropocêntrico. De uma perspetiva marxista clássica, no entanto, a crítica à produção capitalista de mercadorias captura não apenas a lógica interna do processo de acumulação, mas também as limitações e contradições do sistema, marcadas pelas distinções entre, por um lado, a “forma natural” (valor de uso, trabalho concreto e riqueza real) e a “forma valor” (valor de troca, trabalho abstrato e valor) (11). Tanto as contradições económicas como as ecológicas do capitalismo têm a sua origem nas contradições entre o processo de valorização e as bases materiais da existência inerentes à produção capitalista de mercadorias. Negar o caráter historicamente específico do trabalho abstrato como uma forma de trabalho social sob o capitalismo é negar o caráter extremo do processo de valorização sob o capitalismo e toda a extensão da expropriação da natureza que ele implica.
Não obstante, estamos vendo hoje inúmeras tentativas de conceptualizar o valor da mercadoria como produto não apenas do trabalho humano, mas também do trabalho animal em geral e, para além disso, da energia em geral. Wadiwel, criticando Marx, argumenta que o “trabalho animal” deveria ser visto como diretamente análogo ao trabalho humano em seu papel na economia e que há uma “falta de análise do papel valorativo específico dos animais, não meramente como mercadorias, mas como produtores de valor (isto é, trabalhadores)”. Haverá, portanto, necessidade de uma “teoria do valor do trabalho animal” para complementar ou mesmo substituir a teoria do valor-trabalho. Nessa visão, “o corpo e o seu metabolismo” são “fontes de excedentes” que podem ser examinadas pela análise do tempo de trabalho animal dos animais de fábrica. Portanto, haverá uma base fisiológica e energética comum para avaliar a produção de valor que caracteriza tanto os humanos quanto os animais (12).
Kallis escreve em “Do Bees Produce Value?” (um debate com Erik Swyngedouw) que: “o trabalho feito pela natureza deve ser integrado no núcleo da teoria [marxista] da produção de valor sob o capitalismo, não relegado às suas margens, com conceitos como produtividade ou renda.” Como Moore, Kallis insiste que o valor deve ser estendido para o trabalho, no sentido que se lhe dá na Física, onde mede a energia transferida quando uma força é aplicada a um objeto. “Não é óbvio”, pergunta ele, “que o 'tempo de trabalho socialmente necessário' para um pote de mel não é determinado apenas pelo trabalho dos apicultores, mas também pelo trabalho das abelhas?” Nesta visão, “o valor não é produzido apenas por humanos, mas também por ecossistemas e combustíveis fósseis.” Segue-se que “se as abelhas e os combustíveis fósseis desempenham uma quantidade extraordinária de trabalho, sem o qual… o valor total produzido [seria] várias vezes menor”, então deve ser desenvolvida uma teoria do valor “que responda diretamente pelo trabalho que eles fazem.” Uma extensão da teoria do valor-trabalho, sugere ele, poderia incluir como “valor” o que quer que “seja produzido de quem quer que trabalhe (humano ou não humano, pago ou não)” (13).
Yaşın, baseando-se em Moore e em várias reflexões colhidas no livro de Stephen Bunker Underdeveloping the Amazon (1985), critica a teoria da falha metabólica de Marx como sendo dualista, por externalizar a ecologia e não a incorporar diretamente na teoria marxiana do valor. Ela propõe, portanto, uma “teoria do valor da natureza”, que faria exatamente isso. Ela justifica isso por meio de uma surpreendente leitura errada de Marx. Citando a afirmação de Marx de que “é uma tautologia dizer que o trabalho é a única fonte de valor de troca, e consequentemente de riqueza, na medida em que esta consiste em valor de troca”, Yaşın conclui, estranhamente, que Marx está negando que “o trabalho é a única fonte de valor, como é frequentemente assumido” (14). No entanto, Marx está apenas apontando uma tautologia lógica, nada mais. Não há dúvida de que, para Marx, o trabalho abstrato é a única fonte de valor das mercadorias numa economia capitalista, algo que ele reitera vezes sem conta. Em contraste, a riqueza real, distinta do valor, é produto tanto da natureza como do trabalho (15).
No entanto, Yaşın oferece como solução uma teoria do valor da natureza - uma tal que “internaliza a natureza” dentro da ecologia-mundo capitalista, alinhada com Moore (16). Aqui ela se baseia nas críticas de Bunker à teoria do valor-trabalho e à noção de que os recursos extrativos criam valor independentemente do trabalho (e da renda) (17). Para Yaşın, isso fornece “uma lente conceitual da natureza como igualmente formadora de valor” (18). Nessa conceção, a natureza não estará mais fora do capitalismo, em qualquer sentido, mesmo no sentido da externalização da natureza pelo capital. Desse modo, dissolve-se a chamada falha epistemológica entre capitalismo e natureza, incorporada na teoria da falha metabólica de Marx (19). Segundo Yaşın, “a teoria do valor da natureza” é uma perspetiva que incorpora a “energia ecológica” na conceção da criação económica do valor. Como isso realmente funciona em termos económicos não é explicado (20).
Nenhuma destas ideias é nova ou claramente pensada. Embora vistas como críticas a Marx do século XXI, essas mesmas perspetivas foram de facto rebatidas por ele próprio, em seus dias, pois que elas são, nas palavras de Jean-Paul Sartre, pouco mais do que um “rejuvenescimento de… ideias pré-marxistas... um assim chamado ‘ir além do marxismo’, que é apenas um retorno ao pré-marxismo" (21). Isso pode ser visto nos termos das respostas de Marx (e de Engels) aos fisiocratas e a pensadores dos seus próprios dias como Karl Rössler e Sergei Podolinsky. Os fisiocratas franceses, escrevendo para uma sociedade maioritariamente agrícola, viam a terra como a única fonte de riqueza (22). No entanto, embora corretos na sua ênfase na base material da produção, não reconheceram as bases sociais da valorização capitalista pelo trabalho, cuja análise iria caraterizar a economia política britânica. Nos termos de Marx, a doutrina fisiocrática baseava-se numa “confusão do valor com a substância material”, isto é, entre valor de uso (forma natural) e valor de troca (forma valor) (23). No entanto, o modo de pensar fisiocrático permanece como uma constante lembrança da importância da forma natural da mercadoria e da contradição existente entre riqueza real (em termos de valores de uso materiais-naturais) e valor.
Um dos primeiros e mais talentosos seguidores russos de Marx foi o economista Nikolai Sieber (24). No início da década de 1870, Sieber começou a publicar uma série de artigos na revista Znanie (Conhecimento) (25). No primeiro deles, ele respondeu a uma recensão alemã de O Capital de Marx por Rössler, que perguntava retoricamente por que “a comida no estómago de um trabalhador deveria ser a fonte de mais-valia, enquanto a comida devorada por um cavalo ou um boi não deveria” (26). Sieber respondeu que O Capital de Marx estava preocupado com a sociedade humana e não com animais domesticados e, portanto, foi direcionado apenas para a mais-valia criada por seres humanos. Como Marx indicou em suas anotações:
“A resposta, que Sieber não encontra, é que, num caso, a comida produz força de trabalho humana (pessoas) e, no outro, não. O valor das coisas nada mais é do que a relação em que as pessoas estão [socialmente] umas com as outras, que elas têm entre si como expressão da força de trabalho humana despendida. O Sr. Rössler, obviamente, pensa: se um cavalo trabalha mais do que o necessário para a produção de sua força de trabalho cavalar, então ele cria valor exatamente como um trabalhador que trabalhou 12 horas em vez de 6 horas. O mesmo poderia então ser dito de qualquer máquina” (27).
Aqui, Marx aponta para a base do valor no trabalho social, acrescentando que, na contabilidade do valor capitalista, os animais são vistos como máquinas e a sua contribuição para a produção é tratada exatamente da mesma maneira.
Se o próprio Sieber não compreendeu o ponto essencial a princípio, ele o fez posteriormente, talvez em resultado da correspondência que teve com Marx. Em 1877, Yu G. Zhukovskii, um seguidor de Ricardo, criticou Marx por argumentar que apenas o trabalho humano criava mais-valia. Zhukovskii argumentou, como explicado por James D. White, que “tudo o que deu fruto, seja uma árvore, gado ou a terra, todos foram capazes de fornecer valor de troca. Para Zhukovskii, uma das principais fontes de valor era a Natureza” (28). Em resposta a Zhukovskii, Sieber disse que um bom ricardiano deveria ser capaz de compreender que o trabalho humano era a única fonte de valor, o que refletia a divisão do trabalho e a fragmentação da sociedade. No ano seguinte, o economista político liberal clássico Boris Chicherin apresentou essencialmente o mesmo argumento que Zhukovskii (29). Aqui, a resposta de Sieber foi inequívoca, cortando cerce no fetichismo da mercadoria básico da visão liberal clássica:
“Mas para as pessoas parece que as coisas se trocam umas pelas outras, que as coisas mesmas têm valor de troca, etc., e que o trabalho corporificado na coisa dada é refletido na coisa recebida. Aqui reside toda a falta de fundamento das refutações do Sr. Chicherin, e antes dele de Zhukovskii, que nem um nem o outro poderiam entender, ou queriam entender... que Marx apresenta ao leitor toda a doutrina do valor e suas formas não em seu próprio nome, mas como a maneira peculiar pela qual as pessoas, em um dado estágio de desenvolvimento social, necessariamente compreendem suas relações mútuas baseadas na divisão social do trabalho. De facto, todo o valor de troca, toda a reflexão ou expressão dele, etc., representam nada mais do que um mito, enquanto o que existe é apenas trabalho socialmente dividido, que pela força da unidade da natureza humana busca para si mesma uma unificação e a encontra na forma estranha e monstruosa de mercadorias e dinheiro” (30).
Não há racionalidade trans-histórica para o processo de valorização capitalista, nem tal lhe deve ser atribuído. Pelo contrário, este é baseado numa alienação "estranha e monstruosa" do trabalho, juntamente com a alienação e externalização da própria natureza. Aqui é importante entender que, na teoria de Marx, o trabalho concreto, isto é, o trabalho fisiológico - trabalho diretamente envolvido na produção/transformação de valores de uso materiais-naturais, o trabalho de seres humanos individuais dependente de cérebro, sangue e músculos - está em oposição dialética àquele trabalho abstrato sobre o qual se baseia a valorização capitalista (31).
O trabalho concreto é definido por Marx como "uma condição de existência... uma necessidade natural eterna que medeia o metabolismo entre o homem e a natureza e, portanto, da própria vida humana" (32). Trabalho abstrato, em contraste, é um constructo social especificamente capitalista, no qual o trabalho é homogéneo, sendo removidos de todos os seus aspetos físicos, concretos, incluindo o metabolismo do próprio trabalho humano. O valor é então uma espécie de "trabalho 'reificado'” refletindo as equalizações sociais de um trabalho humano homogéneo e abstrato" (33). Marx argumentou que é trabalho abstrato nesse sentido, refletindo uma relação social definida entre os seres humanos, que é a base do valor, não o trabalho fisiológico, concreto. Por essa razão, “nem um átomo de matéria entra na objetividade das mercadorias como valores” (34). Como Isaak Rubin observou nos seus célebres Ensaios sobre a Teoria do Valor de Marx: “o gasto de energia fisiológica como tal não é trabalho abstrato e não cria valor” (35). Para Marx, portanto, o valor, em oposição ao valor de uso, não é alguma qualidade física e universal inerente à produção ao longo da história. Pelo contrário, é a cristalização das relações capitalistas de produção e acumulação. Referir-se a uma teoria do valor animal, fisiológica ou energética é deixar de lado o caráter especificamente reificado do valor na sociedade capitalista, a fonte de sua cada vez mais distorcida “destruição criativa” do mundo em geral.
Mesmo nos dias de Marx, foram feitas tentativas de transformar a teoria do valor-trabalho em teoria geral do valor energético. Entretanto, tais tentativas inevitavelmente falharam na compreensão da base social específica do trabalho abstrato e do valor sob o capitalismo, vendo isso como um mero processo físico. A noção de uma teoria energética do valor foi levantada por um dos primeiros seguidores de Marx, Sergei Podolinsky, muitas vezes considerado o principal precursor, no século XIX, da economia ecológica contemporânea (36). Podolinsky tentou integrar a termodinâmica na análise da economia e levantou a questão da transformação da teoria do valor-trabalho numa teoria energética do valor. Marx estudou de perto o trabalho de Podolinsky, tomando extensas notas sobre ele e comentando-o em cartas a Podolinsky que infelizmente se perderam. Contudo, foi Engels quem forneceu uma avaliação detalhada da análise de Podolinsky em duas cartas a Marx (37). Engels elogiou o argumento de Podolinsky por sua integração da termodinâmica com a teoria da produção, mas criticou Podolinsky por seus cálculos grosseiros de transferências de energia do trabalho agrícola, que excluiu fatores como a energia contida no fertilizante e no carvão utilizado na produção. Engels também observou o fracasso de Podolinsky em compreender as enormes complexidades do cálculo de todos os insumos quantitativos e qualitativos de energia que entram tanto no metabolismo humano, no processo de trabalho humano, quanto na reprodução da força de trabalho. Há pouca dúvida de que Marx e Engels teriam rejeitado fortemente a noção de Podolinsky dos seres humanos como a “máquina termodinâmica perfeita” de Sadi Carnot (38).
Engels, noutros trechos da sua obra, criticou as tentativas de calcular a energia que entrava nos produtos mais simples, para assim gerar uma teoria energética do valor, enfatizando que tais cálculos eram praticamente impossíveis, dada a natureza da produção conjunta (39). Além disso, é claro, os proponentes de uma teoria energética do valor não entenderam, como Marx enfatizou, que o valor económico era uma relação social específica da sociedade capitalista, enraizada na classe e na divisão do trabalho - não uma realidade física universal. Nicholas Georgescu-Roegen, o fundador da moderna economia ecológica do século XX, alinhou com Engels contra Podolinsky, insistindo na irracionalidade de uma teoria energética do valor, que não poderia começar sequer a entender a base social do valor numa economia capitalista (40). Todas as existentes conceções abrangentes de valoração económica, embora diferentes entre si, enfocam necessariamente a base social do valor económico. Para os economistas ecológicos críticos, as contradições da estreita forma valor capitalista criam roturas ecológicas (bem como económicas) inerentes à natureza do sistema. De facto, para Georgescu-Roegen, foi isso que levou à destrutividade ecológica da ordem económica vigente e à criação de problemas ambientais maciços resultantes de sua conceção distorcida de crescimento (41).
Uma abordagem idealista do valor que busque bases trans-históricas de valoração económica, mesmo que baseadas em propriedades físicas, falha em compreender os níveis integrativos e dialéticos que constituem a realidade emergente. As relações económicas da sociedade não podem mais ser explicadas pela energética do que o podem ser por “genes egoístas” (42). Ambos são formas de reducionismo que negligenciam a natureza distintiva da realidade histórica. As tentativas de gerar uma visão mais harmoniosa da realidade, incorporando toda a natureza no sistema de avaliação económica, não percebem que o sistema de produção existente não é harmonioso, mas sim alienado.
Teoria do valor expansivo e o descentramento do valor do trabalho
A tentativa mais ambiciosa de desconstruir a teoria do valor-trabalho a partir de um ponto de vista ecológico da esquerda pós-humanista encontra-se no trabalho de Jason W. Moore, particularmente no seu livro Capitalism in the Web of Life (2015). A análise de Moore teve impacto em Kallis, Wadiwel e Yaşın em suas críticas à teoria marxiana do valor e em seus apelos a uma mais geral teoria do valor fisiológica ou energética (43).
Moore toma como base epistemológica central da sua obra a eliminação dos “dualismos cartesianos”, que ele encontra em toda parte, inclusive na distinção entre sociedade e natureza (44). O objetivo é uma análise social-monista - ou o que ele chama de “visão monista e relacional” - na qual tudo na teia da vida consiste em “agrupamentos entre naturezas humanas e extra-humanas” (45). O objetivo aqui é dissolver, à maneira de Bruno Latour, todas as distinções objetivas (46). Acompanhando esta abordagem, há uma conflação entre vários significados de conceitos. Reconhecendo que existem dois significados clássicos de valor, vistos como valor intrínseco e valor económico (mercadoria), Moore propõe uni-los em uma única análise monista. Oposto aos pontos de vista dos "marxistas", que "desde Marx defenderam... a lei do valor como um processo económico", ele propõe unir em um único quadro tanto o valor económico quanto a ampla análise "desses objetos e relações que a civilização capitalista considera valiosos” (47).
Essa conflação da crítica do valor de Marx com a noção de valor como um padrão cultural amplo, normativo, característico das civilizações em geral, é realizada na análise de Moore por meio de uma metamorfose da noção histórica de Marx da lei do valor em uma categoria trans-histórica. Marx e todos os economistas marxistas subsequentes consideraram a lei do valor como representando as leis do movimento do capitalismo, as características equilibrantes do sistema baseadas no processo de troca de equivalentes e na distribuição de formas de rendimento baseadas na divisão de classes (48). Como explicou sucintamente o economista marxista norte-americano Paul Baran, em Marx:
“A lei do valor [pode ser vista] como um conjunto de proposições que descrevem as características da organização económica e social de uma época particular da história chamada capitalismo. Essa organização é caracterizada pela prevalência do princípio do quid pro quo nas relações económicas (e não apenas económicas) entre os membros da sociedade; pela produção (e distribuição) de bens e serviços como mercadorias; pela sua produção e distribuição por parte dos produtores independentes com a ajuda de mão-de-obra contratada num mercado anónimo, com vista a obter lucro” (49).
Em contraste com a noção de Marx da lei do valor, como aqui descrita, para Moore, “todas as civilizações têm leis de valor – prioridades padronizadas para o que é valioso e o que não é” (50). Embora “lei do valor” seja frequentemente empregue, no trabalho de Moore, de formas que sugerem a sua afinidade com a crítica marxiana, na sua teoria da ecologia-mundo ela se metamorfoseia numa categoria supra-histórica – de uma tal imprecisão que abrange não apenas toda a atividade das civilizações, mas também o trabalho/energia de todo o sistema Terra, ao longo de centenas de milhões de anos, desde que tenha impacto na produção humana.
Relacionado com isso, Moore combina sistematicamente o conceito de trabalho como ele se entende na Física, onde é identificado com gasto de energia, com o trabalho dos seres humanos dentro da sociedade. Desta forma, ele desenvolve um conceito universal de “trabalho não remunerado” apropriado, abrangendo tudo, desde um pedaço de carvão até ao trabalho doméstico. A seu ver, tanto o pedaço de carvão quanto uma mulher dedicada à reprodução social no seu lar, vêm o seu trabalho apropriado sem remuneração (51). De facto, é-nos dito, a maior parte do trabalho no mundo não é remunerado. Isso, é claro, resulta logicamente - independentemente da questão do trabalho de subsistência não remunerado e do trabalho doméstico - de uma conceção em que uma queda de água, uma árvore viva e as marés oceânicas, na verdade, quase tudo aquilo a que chamamos de existência orgânica e inorgânica, desde que se relacione com a produção, deve ser considerado como “não pago” (52). É a apropriação de uma tal existência material não remunerada que Moore vê como a base principal do sistema capitalista, a fonte de seu dinamismo, e que é resumido pela lei do valor. Isso é operacionalizado na sua noção de Natureza Barata. Na sua conceção original das Quatro Pechinchas, a força de trabalho é vista como apenas uma “pechincha” ao lado de outras - numa única ontologia plana que engloba também alimentos, energia e matérias-primas. Na sua conceção posterior das Sete Pechinchas, com Patel, a força de trabalho desaparece completamente para ser incluída na categoria mais geral de "trabalho", que engloba todos os fluxos energéticos e toda a energia potencial de qualquer fonte, orgânica ou inorgânica - a atividade do universo (53).
Da mesma forma, em nome do combate ao dualismo, Moore empenha-se em fundir a natureza e a sociedade, incluindo a primeira dentro da segunda. Qualquer conceção da natureza como um meio ambiente do qual os seres humanos são apenas uma parte, e que é, portanto, parcialmente exterior a eles, é desqualificada, como o é a própria ciência natural. Em seu lugar, são colocadas conceções latourianas de "agrupamentos de naturezas humanas e extra-humanas", e categorias tão amplas quanto a teia da vida, ecologia-mundo, oikeios (uma palavra grega clássica associada a Teofrasto, significando o lugar ou localização adequados de uma planta, apropriada por Moore como uma maneira de evitar termos como natureza e ecologia), e o Capitaloceno (54). Além disso, há referências constantes a dísticos hifenizados, como capitalismo-na-natureza / natureza-no-capitalismo (55). Em tudo isso, o objetivo é incorporar a natureza na sociedade capitalista - ou, no mínimo, reduzir tudo a agrupamentos, redes e imbróglios (56). Tais visões dependem, à maneira latouriana, de uma “ontologia plana” de atores humanos e não-humanos, onde tudo é visto como existindo em um único plano, e constantemente misturado e confundido - meras redes ou teias sem demarcações claras - em oposição a um realismo crítico dialético que enfatiza a complexidade, a mediação e níveis integrados, num universo mutante em evolução (57).
Assim como não pode haver qualquer oposição da sociedade ou do capitalismo à natureza – pois que se alega que isto constitui uma perspetiva dualista -, também não pode haver, no método conflacionista geral de Moore, qualquer crise ecológica distinta da crise económica (58). O problema ecológico só pode ser visto através das lentes da acumulação de capital, não fora dela. É para ser visto em termos de critérios de mercado e não em termos dos efeitos nos ecossistemas e no clima, muito menos na luta pelo desenvolvimento humano sustentável. O conceito de Marx da falha metabólica, que aborda as contradições entre capitalismo e natureza é rejeitado como estando enraizado num entendimento "dualista" (não dialético).
Procedendo com base em tão questionáveis princípios lógicos e metodológicos, a ecologia-mundo de Moore toma como seu principal objeto "uma certa desestabilização do valor como uma 'categoria económica'" (59). Isso é conseguido concebendo o valor como o produto do trabalho no sentido usado em Física, isto é, como energia. Na sua nova e expansiva lei do valor, como ele frequentemente explica, “o valor não funciona a menos que a maioria do trabalho não seja valorizada” (60). Isso, no entanto, é um truísmo na medida em que “a maioria do trabalho” aqui se refere ao trabalho / energia do trabalho de todo o sistema terrestre e, na verdade, o universo como um todo - a antiga energia solar incorporada nos combustíveis fósseis, o trabalho de um rio, o crescimento dos ecossistemas - todo o qual deve ser considerado trabalho ou potencial trabalho "não remunerado". Dado que o trabalho, nos termos da Física, engloba todo o domínio físico, é óbvio que é de maior significado quantitativo do que o mero exercício da força de trabalho (como quer que este seja medido). A energia do trabalho é ínfima ao lado da energia dos combustíveis fósseis. “Carvão e petróleo”, diz-nos Moore, “são exemplos dramáticos desse processo de apropriação do trabalho não remunerado”, constituindo o fundamento real e oculto da lei do valor (61).
Mas o que é exatamente esse não pago em relação ao carvão e ao petróleo? Em economia, o “presente gratuito” que o carvão e o petróleo fornecem é resultado da antiga luz do sol, que remonta a milhões de anos, formando carvão, petróleo e gás natural como fontes de energia de baixa entropia. É isso que dá aos combustíveis fósseis o seu valor de uso. Na base do edifício do valor, para Moore, está o “trabalho acumulado não pago” que ocorre “na forma de combustíveis fósseis produzidos através dos processos biogeológicos da Terra” ao longo de centenas de milhões de anos (62).
Na economia política marxiana, o preço desses recursos é determinado por rendas monopolistas. Tais recursos, que representam valores de uso cruciais para a produção, capazes de aumentar a produtividade do trabalho, adquirem (mas não criam) valor através de rendas baseadas na escassez que são deduções da mais-valia gerada na economia (63). Ao mesmo tempo, a extração, refinação, distribuição, transporte e armazenamento desses recursos na economia de mercadorias envolvem valor acrescentado através do emprego de mão de obra humana. No entanto, nada disso é considerado na análise de Moore. Toda a teoria da renda é excluída. A complexa distinção de Marx entre valor de uso do material-natural e valor / valor de troca é substituída por uma lei singular do valor. O trabalho de um barril de petróleo, de uma queda de água, de um nabo ou de uma vaca é "não pago", sendo então apresentados como a fonte ecológica oculta de valor, subjacente à própria força de trabalho.
“Por boas razões”, escreve Moore, “[Jason] Hribal pergunta: 'Os animais são parte da classe trabalhadora?'” - dado todo o trabalho não remunerado que eles realizam (64). “A relação de capital”, continua Moore, “transforma o trabalho/energia de todas as naturezas em… valor”. Ou, como aprendemos noutro ponto, a lei do valor é, toda ela, sobre “transformar a obra da natureza no valor da burguesia” (65). Na aritmética verde de Moore, o trabalho não pago na forma dos processos biogeológicos da Terra mais o trabalho não pago de subsistência constituem a maior parte do que está subjacente à lei do valor, enquanto a exploração da força de trabalho dentro da produção, por comparação, diminui até à insignificância.
Seria errado, porém, atribuir tudo isso simplesmente à ecologia pós-humanista. Na verdade, o descentramento da teoria marxiana do valor trabalho, operado por Moore, e sua noção de que o trabalho da natureza deve ser tratado como a fonte oculta de valor, derivam em grande parte a partir de várias tendências do pensamento ambiental liberal. Uma fonte fundamental para a sua análise é o tratamento histórico do Rio Columbia dado por Richard White em The Organic Machine (1995). White organiza a sua história de maneira bastante ampla em torno do que ele diz serem “qualidades que os humanos e o Rio Columbia compartilham: energia e trabalho” - embora, ao contrário de Moore, White ressalte que existem “enormes diferenças entre o trabalho humano e o trabalho da natureza”. Ainda assim, White, numa analogia que orienta a sua análise, escreve: “Como nós, os rios trabalham. Eles absorvem e emitem energia, reorganizam o mundo” (66).
De maior importância ainda é a forte adesão de Moore à noção de serviços ecossistémicos não pagos, desenvolvida por economistas neoclássicos liberais, em especial Robert Costanza. Costanza é conhecido por tentar promover uma teoria energética do valor económico dentro de uma perspetiva económica liberal neoclássica, na verdade, uma teoria do custo de produção, enraizada, em última análise, na energia solar. Isso levou Paul Burkett, na sua obra Marxism and Ecological Economics (2009), a referir-se ao extremo “reducionismo”, bem como à irracionalidade histórica, da abordagem de Costanza (67). A tentativa de Costanza de promover uma noção de natureza como valor económico resultou, nos anos 1990, numa grande divisão na revista Ecological Economics, da qual ele foi o editor-chefe. Os teóricos mais radicais, associados ao grande e pioneiro ecologista dos sistemas Howard Odum, argumentaram, com efeito, por uma abordagem que distinguia entre valor de uso / riqueza real e valor / valor de troca, isto é, entre a forma natural e a forma valor, em linhas similares a Marx (utilizando o conceito de Odum de emergia, ou energia encarnada, como uma categoria de valor de uso ou material-natural, contraposta ao valor económico). Odum procurou mais tarde, a este propósito, sintetizar a sua ecologia de sistemas com a teoria marxiana, tendo desenvolvido com base nisso uma teoria de troca ecológica desigual (68).
A abordagem ecológica radical de Odum ia diretamente contra as tendências liberais de Costanza (ex-aluno de Odum). Isso levou a um conflito crescente entre os economistas ecológicos radicais e os cientistas naturais associados a Odum, por um lado, e os teóricos liberais, neoclássicos, em torno de Costanza, por outro. Alf Hornborg, um antropólogo cultural com ligações à teoria marxiana, desempenhou um papel polémico fundamental como crítico da abordagem de Odum na revista, atacando tanto Odum como Marx e tomando o partido de Costanza (69). No final, Odum e seus associados radicais no conselho editorial foram virtualmente banida da revista (70).
Moore, que era um colega mais novo de Hornborg, como pesquisador na Universidade de Lund, na Suécia, em 2008-10, incorporou subsequentemente na sua análise os serviços ecossistémicos e as abordagens de valor energético típicos de Costanza (71). O trabalho de Moore tomou assim a forma de uma versão marxificada do convencional argumento dos serviços ecossistémicos, associado às estimativas feitas por Costanza de dezenas de triliões de dólares fornecidos pelos ecossistemas anualmente à economia mundial - calculados com base na imputação de valores mercantis aos processos naturais (72). Em vez de abordar as contradições ecológicas do sistema capitalista e a oposição inerente entre os valores de uso do material-natural e o valor de troca, como fazem os economistas ecológicos radicais e marxistas, Costanza e a sua equipe de economistas ecológicos liberais escreveram sobre a necessidade de adotar a noção de capital natural. Soluções para as contradições ambientais foram vistas como requerendo a internalização da natureza dentro da economia mercantil. O problema ecológico foi assim reduzido à presunção de que tudo na natureza, na medida em que pudesse ser visto como auxiliando a economia (direta ou indiretamente), tinha valor e precisava de receber um preço - uma visão sustentada pelo conceito de capital natural (73).
A principal inovação concreta de Moore em Capitalism in the Web of Life e noutras obras suas foi procurar inverter a perspetiva de Costanza, argumentando que o capitalismo, ao longo de sua história, está enraizado no facto de que o trabalho extra-humano (assim como muito trabalho humano) é apropriado sem pagamento. No entanto, de uma perspetiva marxiana clássica, é flagrante a enorme debilidade de uma análise que, em grande medida, rejeita a teoria do valor-trabalho - juntamente com as distinções entre valor de uso, valor de troca e teoria da renda - enquanto idealisticamente procura expandir a noção de produção de valor a todo o trabalho/energia na natureza.
A forma natural e a forma valor
A substância do valor numa economia capitalista é, na conceção de Marx, trabalho abstrato. A “forma valor” (ou valor de troca) deve ser distinguida da “forma natural” (ou valor de uso). A forma natural representa a “forma tangível e sensível da existência”, envolvendo propriedades naturais-materiais e técnicas e constituindo riqueza real. A forma valor da mercadoria é a sua “forma social”, que aponta para o conceito geral de valor como uma cristalização do trabalho abstrato (74). É a oposição entre a forma natural e a forma valor, inerente à produção capitalista, que gera as contradições económicas e ecológicas associadas ao desenvolvimento capitalista. Pelo próprio facto de que o capitalismo é um sistema de acumulação, a forma valor passa a dominar completamente a forma natural na produção de mercadorias. “Como atividade útil dirigida à apropriação de fatores naturais, de uma forma ou de outra”, escreve Marx, “o trabalho é uma condição natural da existência humana, uma condição de intercâmbio material [metabolismo] entre o homem e a natureza”. Contudo, toda a mercadoria obtém seu valor de troca, a sua forma valor, precisamente "através da alienação de seu valor de uso", frequentemente levando à destruição do metabolismo entre seres humanos e natureza (75). Daí surge a conceção geral de Marx da falha metabólica, ou do "rompimento irreparável no processo interdependente do metabolismo social, um metabolismo prescrito pelas leis naturais da própria vida" (76).
A lógica do capitalismo, associada à lei do valor, é formalmente racional e, ao mesmo tempo, substantivamente irracional, com os aspetos irracionais assumindo cada vez maior importância. De facto, o capitalismo é baseado no seu início (através da “chamada acumulação primitiva”) na externalização das propriedades naturais. Tais propriedades orgânicas, embora incorporadas na produção como valores de uso e representando a forma natural da mercadoria, são alienadas em sua forma de valor e excluídas do valor, baseadas no trabalho humano abstrato (77). Propriedades naturais, incluindo propriedades humano-naturais, isto é, a existência corpórea humana, são assim abordadas unilateralmente apenas na medida em que facilitam a produção de valor. Um nível adicional de externalização ocorre através da imposição de muitos dos custos da produção à natureza (incluindo a existência humana corpórea, que está fora do circuito de valor) como externalidades, com os respetivos efeitos negativos caindo não apenas sobre o meio ambiente, mas também sobre seres humanos. O resultado é que o capitalismo promove a destruição criativa da própria vida, estendendo-se eventualmente a todo o sistema Terra.
Tentativas a-históricas e idealistas de vislumbrar a internalização e integração dos custos sociais e ambientais no sistema de mercado, ou de ver a natureza como a verdadeira fonte de valor, apenas servem para minimizar o social (incluindo as classes e outras formas de opressão) e as contradições ecológicas do sistema capitalista. O objetivo desse sistema é a acumulação de capital. Colocar um preço numa floresta, para que o seu trabalho/energia deixe de ser “não pago”, isto é, para mercantilizá-la - transformá-la em uns tantos milhões de metros quadrados de madeira em pé - não levará mais provavelmente à salvação da floresta do que a falta de um preço. Isso ocorre porque a questão real não é a chamada tragédia dos comuns, mas o próprio sistema de acumulação de capital. Aves canoras estão morrendo porque os seus habitats estão sendo destruídos pela expansão histórica do sistema - não simplesmente porque são considerados "sem valor" do ponto de vista do mercado. As baleias são mortas para serem vendidas diretamente como uma mercadoria no mercado, enquanto também estão sendo aniquiladas como um efeito colateral da expansão do sistema através da destruição de seus ecossistemas. Tudo isso sugere que o desenvolvimento humano sustentável requer não a incorporação da natureza no sistema de valor, mas a abolição do próprio valor mercantil.
Qualquer forma de análise que busque eliminar as profundas contradições dialéticas entre a forma natural e a forma valor, entre a economia capitalista e o mais amplo metabolismo socioecológico, a fim de imaginar uma integração mais harmoniosa, será inerentemente tolhida numa visão estreita e monista. Isto é, uma visão que falha na compreensão da complexa e interdependente dialética da natureza e da humanidade, na tentativa de reduzir todos os níveis de existência a um "metabolismo singular" (78). Essa falsa harmonia só pode ser, nas palavras de Marx, “o produto chão e empastado de uma reflexão antitética fina e recortada” que procura redesenhar “fronteiras” ao invés de eliminar o sistema que - através da sua externalização e alienação - gerou essas falhas na existência material (79). O que se requer hoje não é uma reavaliação radical da natureza, mas uma transformação ecológica e social revolucionária - um novo domínio da liberdade como necessidade, dirigido à regulação racional do metabolismo entre a natureza e a sociedade pelos produtores associados (80). Aqui é Rodes, salte aqui (81)!
(*) John Bellamy Foster (n. 1953) é professor de Sociologia na Universidade de Oregon (E.U.A.) e o atual diretor da revista marxista norte-americana Monthly Review. Discípulo de Paul Sweezy e continuador da escola de pensamento crítico por este fundada (com Paul Baran e Harry Magdoff), tem publicado numerosos livros sobre a crise ecológica e sua interseção com a economia política do capitalismo. Merecem destaque: The Vulnerable Planet: A Short Economic History of the Environment (1994), Marx’s Ecology: Materialism and Nature (2000), Ecology Against Capitalism (2002), The Ecological Revolution: Making Peace with the Planet (2009), The Ecological Rift: Capitalism's War on the Earth, com Brett Clark e Richard York (2010), What Every Environmentalist Needs To Know about Capitalism: A Citizen's Guide to Capitalism and the Environment, com Fred Magdoff (2011), The Theory of Monopoly Capitalism (2014) e Trump in the White House: Tragedy and Farce (2017). Paul Burkett é professor de Economia na Universidade Estadual de Indiana, Terre Haute, autor de Marxism and Ecological Economics: Toward a Red and Green Political Economy (Haymarket, 2009), Marx and Nature: A Red and Green Perspective (2.ª edição, Haymarket, 2014) e co-autor, com John Bellamy Foster, de Marx and the Earth: An Anti-Critique (Haymarket, 2017). Este ensaio foi publicado no Volume 70, N.º 6 (Novembro de 2018) da revista norte-americana Monthly Review, sendo uma versão ligeiramente revista de um artigo escrito e publicado anteriormente na edição de outono de 2018 da revista britânica International Socialism. A tradução é de Ângelo Novo.
___________ NOTAS:
(1) Jason W. Moore, “The Value of Everything? Work, Capital, and Historical Nature in the Capitalist World-Ecology,” Review 37, nº 3–4 (2014): pp. 245, 261, 280. Sobre capital natural ler Paul Hawken, Amory Lovins e L. Hunter Lovins, Natural Capitalism: Creating the Next Industrial Revolution (Boston: Little, Brown, 1999). Para uma crítica, ler John Bellamy Foster, Ecology Against Capitalism (New York: Monthly Review Press, 2002), pp. 26–43. Sobre serviços ecossistémicos, ler Jason W. Moore, Capitalism in the Web of Life (Brooklyn: Verso, 2015), p. 64; Moore, “The Value of Everything?” p. 261; Robert Costanza et al., “The Value of the World’s Ecosystem Services and Natural Capital,” Nature 387 (1997): pp. 253–60; Robert Costanza et al., “Changes in the Global Value of Ecosystem Services”, Global Environmental Change 26 (2014): pp. 152–58.
(2) Zehra Taşdemir Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature: From the Metabolic Rift to the Value Theory of Nature”, Journal of Peasant Studies 44, nº 2 (2017): pp. 377–401; Giorgos Kallis e Erik Swyngedouw, “Do Bees Produce Value? A Conversation Between an Ecological Economist and a Marxist Geographer”, Capitalism Nature Socialism 29, nº 3 (2018): pp. 36–50; Dinesh Wadiwel, “Chicken Harvesting Machine: Animal Labor, Resistance, and the Time of Production”, South Atlantic Quarterly 117, nº 3 (2018): pp. 527–49; e Dinesh Wadiwel, “On the Labour of Animals”, blogue Progress in Political Economy, 28 August, 2018. Para uma argumentação mais antiga nesta linha, ler Stephen Bunker, Underdeveloping the Amazon: Extraction, Unequal Exchange and the Failure of the Modern State (Champaign, IL: University of Illinois Press,1985).
(3) Moore, “The Value of Everything?” pp. 250, 280. Para uma crítica das opiniões de Moore a este respeito, ler Jean Parker, “Ecology and Value Theory”, International Socialism 153 (2017).
(4) Moore, Capitalism in the Web of Life, p. 70; Moore, “The Value of Everything?” pp. 245, 267; Jason W. Moore, “Value in the Web of Life, or, Why World History Matters to Geography”, Dialogues in Human Geography 7, nº 3 (2017), pp. 327–28; Jason W. Moore e Raj Patel, A History of the World in Seven Cheap Things: A Guide to Capitalism, Nature, and the Future of the Planet (Oakland: University of California Press, 2017).
(5) Ernst F. Schumacher, Small Is Beautiful: A Study of Economics as if People Mattered (London: Blond & Briggs,1973), p. 15.
(6) Moishe Postone, Time, Labor and Social Domination: A Reinterpretation of Marx’s Critical Theory (Cambridge: Cambridge University Press, 1993), p. 27.
(7) Karl Marx, “The Value-Form”, 1867, reimpresso em Capital & Class 2, nº 1 (1978): p. 134.
(8) Karl Marx, Capital, vol. 1, (1867; reimpresso London: Penguin, 1976), p. 133.
(9) Karl Marx, Critique of the Gotha Programme, 1875.
(10) Jason W. Moore, “The Capitalocene, Part II: Abstract Social Nature and the Limits to Capital”, Research Gate (June 2014): 29.
(11) Marx, “The Value-Form”, 134; Karl Marx, A Contribution to the Critique of Political Economy, 1859 ; Isaak Illich Rubin, Essays on Marx’s Theory of Value, (1928; reimpresso Detroit: Black and Red, 1972), pp. 131–58.
(12) Wadiwel, “Chicken Harvesting Machine,” and Wadiwel, “On the Labour of Animals.”
(13) Kallis in Kallis and Swyngedouw, “Do Bees Produce Value?” pp. 36, 39, 44, 47, 49. Kallis foi influenciado por Moore no desenvolvimento de seu argumento de que os combustíveis fósseis e a energia em geral criam valor. Ler Giorgos Kallis, “Socialism Without Growth,” Capitalism Nature Socialism (2017).
(14) Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature,” pp. 378, 394; Marx, A Contribution to the Critique of Political Economy, 36.
(15) Marx, A Contribution to the Critique of Political Economy, pp. 35–36.
(16) Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature,” pp. 378, 389.
(17) Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature,” pp. 389–92; Bunker, Underdeveloping the Amazon, pp. 20–47.
(18) Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature,” pp. 387, 392.
(19) Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature,” p. 378.
(20) Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature,” 397–398.
(21) Jean-Paul Sartre, Search for a Method (New York: Knopf, 1963), p. 7.
(22) Paul Burkett, Marxism and Ecological Economics: Toward a Red and Green Political Economy (Leiden: Brill, 2006), pp. 23–37.
(23) Karl Marx, Theories of Surplus-Value, part 1, (1863; reimpresso Moscovo: Progress, 1969), p. 60.
(24) A seguinte discussão de Sieber baseia-se em John Bellamy Foster e Paul Burkett, Marx and the Earth: An Anti-Critique (Leiden: Brill, 2016), pp. 107–110.
(25) Sobre a economia marxiana de Sieber e a sua crítica da teoria ricardiana, ler Nikolai Sieber, “Marx’s Theory of Value and Money”, 1871, reimpresso Research in Political Economy 19 (2001).
(26) Karl Rössler citado em James D. White, “Nikolai Sieber and Karl Marx”, Research in Political Economy 19 (2001), pp. 5–6.
(27) Karl Marx, “Iz chernovoi tetradi K. Marks,” Letopisi Marksizma 4 (1927): p. 61, citado em White, “Nikolai Sieber and Karl Marx”, p. 6.
(28) White, “Nikolai Sieber and Karl Marx”, pp. 6–7.
(29) Boris N. Chicherin, Liberty, Equality, and the Market (New Haven: Yale University Press, 1998), p. 325.
(30) Sieber como citado em White, “Nikolai Sieber and Karl Marx”, p. 8.
(31) Rubin, Essays on Marx’s Theory of Value, pp. 131–158. A própria possibilidade do trabalho abstrato exige, evidentemente, que o trabalho fisiológico receba em primeiro lugar uma expressão social de equalização ou quid pro quo. Trabalho abstrato e o próprio valor, no entanto, são divorciados de quaisquer elementos fisiológicos. Como escreve Roman Rosdolsky em The Making of Marx’s “Capital”: “O trabalho fisiológico não é ainda trabalho económico” (London: Pluto, 1977), p. 513.
(32) Marx, Capital, vol. 1, p. 133.
(33) Rubin, Essays on Marx’s Theory of Value, p. 153; Marx citado sobre “trabalho humano homogéneo” em Rubin, Essays on Marx’s Theory of Value, p. 148 (citação da edição original alemã de O Capital, vol. 1).
(34) Marx, Capital, vol. 1, p. 138.
(35) Rubin, Essays on Marx’s Theory of Value, pp. 136–137.
(36) Para uma discussão completa da relação Marx-Podolinsky, na qual se baseia a abordagem aqui feita, leia-se Foster e Burkett, Marx and the Earth, pp. 89–136.
(37) Karl Marx e Fredrick Engels, Collected Works, vol. 46 (New York: International, 1993), pp. 410–411.
(38) Sergei Podolinsky, “Human Labour and the Unity of Force,” appendix a Foster e Burkett, Marx and the Earth, pp. 281–282; Foster e Burkett, Marx and the Earth, pp. 110–117.
(39) Karl Marx e Fredrick Engels, Collected Works, vol. 25 (New York: International, 1987), pp. 586–587.
(40) Nicholas Georgescu-Roegen, “The Entropy Law and the Economic Process in Retrospect”, Eastern Economic Journal 12, nº 1 (1986): pp. 8–9; Nicholas Georgescu-Roegen, The Entropy Law and the Economic Process (Cambridge: Harvard University Press, 1971), p. 277; Joan Martinez-Alier, “Some Issues in Agrarian and Ecological Economics, in Memory of Georgescu-Roegen”, Ecological Economics 22, nº 3 (1997): p. 231; Foster e Burkett, Marx and the Earth, pp. 135–136.
(41) Nicholas Georgescu-Roegen, Energy and Economic Myths: Institutional and Analytical Economic Essays (Elmsford, NY: Pergamon, 1976), pp. 33–35.
(42) Richard Levins e Richard Lewontin, The Dialectical Biologist (Cambridge: Harvard University Press, 1987), p. 288; Stephen Jay Gould in A Glorious Accident: Understanding Our Place in the Cosmic Puzzle, ed. Wim Kayzer (New York: W. H. Freeman, 1997), p. 91; Roy Bhaskar, Dialectic: The Pulse of Freedom (London: Verso, 1993), pp. 49–56.
(43) Kallis, “Socialism Without Growth”; Wadiwel, “Chicken Harvesting Machine”; Wadiwel, “On the Labour of Animals”, p. 544; Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature”.
(44) Jason W. Moore, “The Capitalocene, Part I: On the Nature and Origins of Our Ecological Crisis”, Journal of Peasant Studies 44, nº 3 (2017), p. 606; Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 1–7, 19–20, 37; Yaşın, “The Adventure of Capital with Nature”, p. 389.
(45) Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 80, 85–86. A noção de natureza humana e extra-humana “empacotada”, na qual Moore se baseia, é uma formulação latouriana. Leia-se Bruno Latour, Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory (Oxford: Oxford University Press, 2007), pp. 17, 134, 139.
(46) Sobre o caráter latouriano do pensamento de Moore, veja-se Andreas Malm, Progress of this Storm: Nature and Society in a Warming World (Brooklyn: Verso, 2018), pp. 177–96; John Bellamy Foster, “Marxism in the Anthropocene: Dialectical Rifts on the Left,” International Critical Thought 6, nº 3 (2016): pp. 393–421.
(47) Moore, “The Value of Everything?” p. 280.
(48) Marx, Capital, vol. 3, p. 1020; Paul M. Sweezy, The Theory of Capitalist Development: Principles of Marxian Political Economy (New York: Monthly Review Press, 1942), pp. 52–53.
(49) Baran escreveu em Paul A. Baran e Paul M. Sweezy, The Age of Monopoly Capital: Selected Correspondence of Paul A. Baran and Paul M. Sweezy, 1949–1964 (New York: Monthly Review Press, 2017), p. 253.
(50) Moore, “The Capitalocene, Part I”, p. 610; Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 51–58.
(51) Embora nem os processos naturais nem o trabalho doméstico / de subsistência (principalmente realizado por mulheres) contribuam diretamente para a criação de valor na contabilidade capitalista, os dois obviamente não devem ser confundidos entre si. Ler Marilyn Waring, Counting for Nothing: What Men Value and What Women Are Worth (Toronto: University of Toronto Press, 1999) para uma crítica poderosa que evita essas conflações. Sobre Marx, a reprodução social e a expropriação do trabalho doméstico das mulheres, veja-se John Bellamy Foster e Brett Clark, “Women, Nature, and Capital in the Industrial Revolution”, Monthly Review 69, nº 8 (Janeiro de 2018): pp. 1–24.
(52) Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 54, 71.
(53) Moore e Patel, A History of the World in Seven Cheap Things, pp. 24–25.
(54) Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 35–36, 85.
(55) Malm, Progress of this Storm, p. 179.
(56) Para a tradição mais ampla da teoria da esquerda a esse respeito, veja John Bellamy Foster e Brett Clark, “Marx’s Ecology and the Left,” Monthly Review 68, nº 2 (Junho de 2016); Malm, Progress of this Storm, 2018, pp. 23–40.
(57) Graham Harman, Bruno Latour: Reassembling the Political (London: Pluto, 2014), pp. 14, 18, 81.
(58) Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 2, 40–41.
(59) Moore, “The Capitalocene, Part II”, p. 29.
(60) Moore, Capitalism in the Web of Life, p. 54.
(61) Moore, Capitalism in the Web of Life, p. 71.
(62) Moore, “The Value of Everything?”, p. 261.
(63) Para uma discussão sobre teoria marxiana da renda e ecologia, ver Paul Burkett, Marx and Nature: A Red and Green Perspective (Chicago: Haymarket, 2014), pp. 94–103.
(64) Moore, “The Value of Everything?” p. 262; Jason Hribal, “‘Animals Are Part of the Working Class’: A Challenge to Labor History”, Labor History 44, nº 4 (2003).
(65) Jason W. Moore, “The Rise of Cheap Nature”, in Anthropocene or Capitalocene? Nature, History and the Crisis of Capitalism, ed. Jason W. Moore (Oakland: PM, 2016), p. 89; Moore, Capitalism in the Web of Life, p. 71.
(66) Richard White, The Organic Machine: The Remaking of the Columbia River (New York: Hill and Wang, 1995), pp. 3, 6, 108; Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 14–15.
(67) Stephen C. Farber, Robert Costanza e Matthew A. Wilson, “Economic and Ecological Concepts for Valuing Ecosystem Services”, Ecological Economics 41, nº 3 (2002): pp. 382–83; Robert Costanza, “Embodied Energy and Economic Valuation”, Science 210, nº 4475 (1980): pp. 1219–1224; Burkett, Marxism and Ecological Economics, pp. 18–19, 38, 93.
(68) John Bellamy Foster e Hannah Holleman, “A Theory of Unequal Ecological Exchange: A Marx-Odum Dialectic”, Journal of Peasant Studies 41, nº 2 (2014), pp. 223–227.
(69) Alf Hornborg, “Towards an Ecological Theory of Unequal Exchange: Articulating World System Theory and Ecological Economics,” Ecological Economics 25, nº 1 (1998): pp. 130–132; Alf Hornborg, The Power of the Machine: Global Inequalities of Economy, Technology, and Environment (Lanham, MD: AltaMira, 2001), pp. 40–43; Alf Hornborg, Global Ecology and Unequal Exchange: Fetishism in a Zero-Sum World (New York: Routledge, 2011), pp. 17, 104.
(70) Howard T. Odum, entrevistado por Cynthia Barnett, 2001, transcrito em Howard T. Odum Center for Wetlands Publications, Gainesville, FL, pp. 37–39.
(71) Recentemente, Hornborg criticou Moore pelo seu pós-humanismo e por seu marxismo residual. Alf Hornborg, “Dithering While the Planet Burns”, Reviews in Anthropology 46, nº 1 (July 2017): pp. 1–17.
(72) Sobre as frequentes referências de Moore a Costanza, ver, por exemplo, Moore, “The Value of Everything?” p. 261; Moore, Capitalism in the Web of Life, p. 64; Moore, “The Rise of Cheap Nature”, p. 8 - incluindo referências a Costanza et al., “The Value of the World’s Ecosystem Services and Natural Capital”; Robert Costanza et al., “Sustainability or Collapse: What Can We Learn from Integrating the History of Humans and the Rest of Nature?” Ambio 36, nº 7 (2007): pp. 522–527; Costanza et al., “Changes in the Global Value of Ecosystem Services”.
(73) Hawken, Lovins, e Lovins, Natural Capitalism.
(74) Marx, “The Value-Form”, p. 134; Karl Marx, Texts on Method, (Hoboken, NJ: Blackwell, 1975), p. 212.
(75) Marx, A Contribution to the Critique of Political Economy, pp. 36, 45–46.
(76) Karl Marx, Capital, vol. 3, (1894; reimpresso London: Penguin, 1981), p. 949.
(77) Marx, Capital, vol. 1, p. 871.
(78) Moore, Capitalism in the Web of Life, p. 86.
(79) Karl Marx, Grundrisse: Foundations of the Critique of Political Economy (1939; reimpresso, London: Penguin, 1973), p. 887.
(80) Marx, Capital, vol. 3, p. 959; Marx e Engels, Collected Works, vol. 25, pp. 105-6.
(81) G. W. F. Hegel, The Philosophy of Right, (1820; reimpresso, Oxford: Oxford University Press, 1952), pp. 11, 303; Karl Marx, The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte, 1851-52.
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