A Ecologia de Marx e a Esquerda

 

 

John Bellamy Foster e Brett Clark (*)

 

 

 

Uma das contribuições duradouras da Escola de Frankfurt de teoristas sociais, representada especialmente por A Dialética do Iluminismo (1944) de Max Horkheimer e Theodor Adorno, foi o desenvolvimento de uma crítica filosófica da dominação da natureza. Os teóricos críticos associados ao Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt foram profundamente influenciados pelos escritos de juventude de Karl Marx. No entanto, a sua crítica à exploração da natureza pelo Iluminismo acabou por se estender a uma crítica do próprio Marx, enquanto ele mesmo uma figura iluminista, especialmente em relação ao seu trabalho de maturidade em O Capital. Esta posição foi expressa principalmente no trabalho de Horkheimer e no do estudante de Adorno, Alfred Schmidt, autor de O conceito de Natureza em Marx. Devido, em grande medida, a este livro de Schmidt, a noção de uma perspetiva anti-ecológica em Marx tornou-se profundamente enraizada no marxismo ocidental. Tais críticas também estavam intimamente relacionadas com as questões levantadas a propósito de A Dialética da Natureza de Friedrich Engels, que se dizia ter ampliado indevidamente a análise dialética para além do domínio humano-social. Os ecossocialistas do primeiro estádio, como Ted Benton e André Gorz, adicionaram ainda novas acusações, alegando que Marx e Engels tinham ido longe demais na sua alegada rejeição dos limites naturais de Malthus.

 

Tão abrangente era a crítica da "dialética do Iluminismo", dentro da linha geral da Escola de Frankfurt, e dentro daquilo que veio a denominar-se de "marxismo ocidental" (definido em grande parte pela sua rejeição da dialética da natureza, associada a Engels e ao marxismo soviético), que levou ao distanciamento dos pensadores desta tradição, não só em relação ao Marx posterior, mas também às ciências naturais - e, portanto, à própria natureza (1). Consequentemente, quando o movimento ecológico emergiu, nos anos 1960 e 70, o marxismo ocidental, com sua noção abstrata e filosófica da dominação da natureza, estava mal equipado para analisar as formas cambiantes e cada vez mais perigosas de interação material entre a humanidade e a natureza. Piorando a situação, alguns teóricos marxisantes - como Neil Smith e Noel Castree - responderam a isso invertendo a crítica da Escola de Frankfurt sobre a dominação da natureza com a noção mais afirmativa de "produção da natureza", que concebeu a natureza e seus processos como totalmente subsumidos dentro da produção social (2).

 

As coisas mudaram, no entanto, com a chegada, no final dos anos 1990, de um segundo estádio do ecossocalismo, que retornou à abordagem materialista-ecológica de Marx, e, particularmente, ao seu conceito de "metabolismo social", enquanto também reincorporava elementos do pensamento ecológico de Engels. Este desenvolvimento representou uma ruptura acentuada com a abordagem anterior, influenciada pela Escola de Frankfurt, sobre a questão de Marx e a natureza. Examinando essa história, analisaremos os debates sobre a ecologia marxista que surgiram na esquerda, ao mesmo tempo que apontamos para a possibilidade de uma síntese mais ampla, enraizada nos conceitos de Marx sobre o "metabolismo universal da natureza", o "metabolismo social" e a "rotura" metabólica.

 

Críticas ao conceito de natureza de Marx

 

Em 1997 Paul Burkett descreveu O conceito de Natureza em Marx, de Alfred Schmidt, como "talvez o estudo mais influente da visão de Marx sobre a natureza alguma vez escrito" (3). O livro apareceu na Alemanha em 1962, o mesmo ano em que se publicou A Primavera silenciosa de Rachel Carson, muitas vezes considerado como a ponto de partida do movimento ambiental moderno. O conceito de natureza em Marx começou como uma dissertação em filosofia, escrita por Schmidt entre 1957 e 1960, sob a supervisão de Horkheimer e Adorno, estando "impregnada pela influência da «teoria crítica»" (4). Assim, antecipou o movimento ambiental moderno, tanto histórica como filosoficamente. No entanto, o trabalho de Schmidt, levando o imprimatur da Escola de Frankfurt, viria a moldar as atitudes para com Marx de muitos teóricos da Nova Esquerda, no contexto do crescente movimento ambiental das décadas de 1960-1980. Como disse o geógrafo marxisante Neil Smith em 1984, o livro de Schmidt foi considerado o "estudo definitivo" sobre a natureza em Marx (5).

 

O conceito de Natureza em Marx foi profundamente afetado pelo pessimismo weberiano dominante na Escola de Frankfurt, que considerava a "dominação da natureza" como uma característica intrínseca da modernidade ou "dialética do Iluminismo" (6). Sob a civilização do Iluminismo, declararam Horkheimer e Adorno, "ou os homens se farão uns aos outros em pedaços, ou levarão com eles toda a flora e a fauna da Terra; se a Terra for ainda jovem o suficiente, tudo terá que ser reiniciado de novo em um estádio muito mais baixo" (7). Embora Schmidt tenha trazido uma série de contribuições importantes e positivas para a compreensão da natureza em Marx, foram as suas mais pessimistas conclusões sobre o Marx maduro, no espírito de Horkheimer e Adorno, que se mostraram mais influentes. Rejeitando as perspetivas de teóricos marxistas "utópicos", como Bertolt Brecht e Ernst Bloch, que, com base no jovem Marx, buscavam uma "reconciliação" entre humanidade e natureza através do socialismo, Schmidt concluiu,

 

“O Marx maduro afastou-se das teses [utópicas] expostas em seus escritos de juventude. Na sua vida posterior, não escreveu mais sobre uma «ressurreição» de toda a natureza. A nova sociedade é para benefício do homem apenas, e não há qualquer dúvida de que isso deve ser feito à custa da natureza externa. A natureza deve ser dominada com gigantescas ajudas tecnológicas, e os menores dispêndios possíveis em tempo e trabalho. É para servir todos os homens como substrato material para todos os bens de consumo concebíveis.

 

Quando Marx e Engels se queixam do saqueio profano da natureza, não se preocupam com a própria natureza, mas com considerações de utilidade económica... A exploração da natureza não cessará no futuro, mas as investidas do homem sobre a natureza serão racionalizadas, de modo a que suas consequências remotas continuem a ser capazes de controlo. Desta forma, a natureza será espoliada passo a passo da possibilidade de se vingar das derrotas que lhe são infligidas pelos homens” (8).

 

A última frase é uma referência a Engels, cujas opiniões sobre a necessidade de os seres humanos controlarem as suas relações sociais com a natureza, sob o socialismo, a fim de evitarem crises ecológicas (a que ele se referiu metaforicamente como a "vingança" da natureza), foram interpretadas por Schmidt como um caso de extrema "racionalização" e controle externo sobre a natureza (9). Não havia espaço real em Engels, como não o havia em Marx, insistiu Schmidt, para algo que não fosse uma abordagem unilateral e conquistadora da natureza - apesar das críticas que Engels fez precisamente a uma tal perspetiva. Engels foi reinterpretado como representando uma visão rude e grosseira de dominação unilateral sobre a natureza, com a implicação de que tais visões poderiam ser remontadas ao próprio Marx. No final, o materialismo histórico clássico foi reduzido a uma visão do mundo reificada e mecanicista, que defendeu um instrumentalismo estreito, orientado para um produtivismo sem restrições, como o único possível caminho em frente para a humanidade. O Marx maduro, na interpretação da Escola de Frankfurt, conduziu assim inexoravelmente à mesma gaiola de ferro weberiana, no que respeita à racionalização instrumentalista da natureza, em que se encerraram tanto o capitalismo como o marxismo soviético (10).

 

Os leitores atentos do trabalho de Schmidt ficaram sem dúvida perplexos com as contradições da sua leitura de Marx. É que Schmidt não poderia ter chegado a essas conclusões, numa leitura filosófica a outros títulos sofisticada da teoria da natureza de Marx, sem virar o Marx jovem contra o Marx posterior, Marx contra Engels, Marx contra Brecht e Bloch, e até mesmo, como veremos, o Marx maduro contra o Marx maduro (11). Brilhante como era a análise de Schmidt, foi tingida por uma polémica dupla: primeiro, contra aqueles que procuraram aplicar as amplas perspetivas antropológicas, humanísticas e utopicamente ecologistas do jovem Marx ao Marx posterior; e, em segundo lugar, contra todos aqueles, associados a um materialismo histórico mais clássico, que sugeriram que um caminho de desenvolvimento mais sustentável poderia ser alcançado sob o socialismo (12).

 

O estudo de Schmidt foi ainda comprometido por um fracasso triplo de compreensão das profundezas da crítica de Marx. Em primeiro lugar, a noção determinista de Schmidt sobre a tecnologia e a industrialização sob o capitalismo, e sua transposição automática para o socialismo, obscureceu o significado completo da crítica historicamente especifica de Marx à forma do valor capitalista, em que o valor, emanando exclusivamente do trabalho, estava em contradição com a riqueza, derivada tanto da natureza como do trabalho (13). Para Marx, o objetivo não era uma sociedade voltada para uma expansão quantitativa sem fim (valor de troca), mas para a satisfação de necessidades qualitativas (valor de uso). Em segundo lugar, Schmidt viu a ênfase de Marx no metabolismo entre a natureza e a sociedade como uma ampla "metáfora" filosófica, uma forma de metafísica especulativa. Não foi tratada como uma categoria científica, relacionada com trocas materiais reais e processos sistémicos (termodinâmicos), embora reconhecesse esse elemento em Marx (14). Em terceiro lugar, Schmidt atribuiu a Marx uma concepção de natureza externa como constituída por leis imutáveis e invariantes – isto é, uma conceção passiva, dualista e rigidamente positivista da natureza, na qual mesmo o desenvolvimento evolutivo dentro da natureza (fora da humanidade) se conformava a processos fixos e estreitamente delimitados. A natureza, fora da natureza humana e da sociedade humana, era, nesta visão, tanto passiva quanto mecânica.

 

Apesar de Schmidt ter discutido brevemente um conceito mais dialético da natureza em Marx, em última análise Marx foi interpretado como aderindo, em sua fase madura, a uma visão científica mecanicista-positivista (15). "A atitude do Marx maduro", escreveu Schmidt, "não possui nada da exuberância e do otimismo ilimitado que se encontram na ideia da sociedade futura prescrita nos Manuscritos de Paris. Deveria ser chamada de cética. Os homens não podem, em última instância, ser emancipados das necessidades impostas pela natureza" (16). Assim, Marx se transformou em um precursor do ceticismo, do cansaço do mundo e da divisão dualista entre ciência natural e ciências sociais e entre natureza não humana e sociedade, que caracterizou os próprios mentores de Schmidt, Horkheimer e Adorno. De fato, Adorno chegou a declarar que Marx "subscreveu algo tão eminentemente burguês como o programa de controlo absoluto da natureza" (17).

 

Aderindo a uma perspetiva epistemológica neo-kantiana em relação à natureza e à sociedade, Horkheimer e Adorno, juntamente com Schmidt, rejeitaram tanto a filosofia idealista hegeliana da natureza como a dialética materialista marxista da natureza (associada especialmente a Engels), ao mesmo tempo em que rejeitaram o "otimismo ilimitado" do jovem Marx quanto a uma reconciliação do naturalismo e do humanismo. A dialética, na visão da Escola de Frankfurt, era aplicável apenas ao domínio reflexivo da sociedade e da história humana. A ciência natural, na medida em que era dirigida ao mundo externo, objetivo, além dos seres humanos, era retratada como inerentemente positivista e separada das ciências humanas. Por isso, os primeiros pensadores da Escola de Frankfurt estavam, na sua maior parte, presos nas contradições do que eles próprios chamavam de "dialética do Iluminismo", caindo em um dualismo epistemológico entre a natureza e a sociedade, de onde não haveria saída. Isso não os impediu de desenvolver simultaneamente uma crítica filosófica negativa da dominação do Iluminismo sobre a natureza; mas era uma crítica que não tinha relação significativa com a praxis. Aqui, as suas opiniões estavam mais próximas do conhecido pessimismo crítico de Max Weber em relação ao Iluminismo (18). Como na visão trágica de Weber, a "gaiola de ferro" da racionalidade formal não ofereceu fuga visível, apontando inexoravelmente para o desencanto e a dominação da natureza, contra a qual poderíamos oferecer apenas protestos vazios.

 

Para Horkheimer, a "decadência da civilização" nos tempos modernos decorre do fato de que "os homens não podem utilizar seu poder sobre a natureza para a organização racional da Terra" - um problema que atribuiu à racionalização formal, comum ao capitalismo e ao socialismo e endémica na relação humana moderna com o meio ambiente (19). A decadência da civilização foi associada ao surgimento reaccionário de novas tendências repressivas como o fascismo, em que a "natureza crua", em "revolta contra a razão", representava a animalidade, a primitividade e um darwinismo grosseiro. "Sempre que o homem deliberadamente toma a natureza como seu princípio", escreveu Horkheimer, "ele regride aos usos primitivos... Os animais... não raciocinam... Em suma, somos os herdeiros, para o bem ou para o mal, do Iluminismo e do progresso tecnológico" (20). Uma tentativa vã de escapar a esta armadilha só poderia levar a um mundo de barbarismo. Seguiu-se daí que a noção de Marx de libertação foi inevitavelmente forçada a aderir à visão do Iluminismo do progresso tecnológico implacável como a força determinante da história. Nesse sentido, Horkheimer estava bastante distante do seu colega da Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse, que viu mais espaço para a luta contra o uso repressivo da tecnologia e para o desenvolvimento de um metabolismo humano-ecológico não alienado (21).

 

Schmidt reconheceu, em abstrato, a possibilidade de uma interpretação mais crítico-revolucionária da visão de Marx sobre a natureza (22). No entanto, ele descartou essa leitura, não tanto em função da própria análise de Marx, mas sim da teoria crítica dos meados do século XX, representada por Horkheimer e Adorno. "Devemos perguntar-nos", escreveu ele, "se a sociedade futura [socialismo] não será uma máquina gigantesca, se a profecia de Dialektik der Aufklärung [Dialética do Iluminismo] de que ‘a sociedade humana será um enorme esbulho sobre a natureza’ não virá a ser cumprida, em vez do sonho do jovem Marx de uma humanização da natureza, que, ao mesmo tempo, incluiria a naturalização do homem" (23). O jovem Marx utópico, em sua opinião, foi refutado pelo Marx realista e maduro, que sucumbiu à tecnocrática racionalidade do Iluminismo. Em resultado, o marxismo não ofereceu nenhuma saída para o "enorme esbulho sobre a natureza".

 

O relato de Schmidt sobre o conceito de natureza em Marx, com todas as suas inconsistências e convoluções, apontando uma contradição após outra na análise de Marx, reduziu o materialismo histórico, por fim, a uma visão iluminista repressiva - que reforçou e serviu para justificar o ceticismo, o pessimismo e a alienação mundana da Escola de Frankfurt. Tais visões eram, em muitos aspetos, produto das divisões dentro do marxismo que começaram na década de 1930 e se aprofundaram depois a partir de 1956 (24). O marxismo ocidental, como uma tradição distinta, em grande parte filosófica, tendia a ver o marxismo clássico - particularmente Engels, mas abrangendo o próprio Marx - como sendo prisioneiro do positivismo.

 

Comentando esta tendência, William Leiss, ex-aluno de Marcuse, observou em The Domination of Nature que "o excelente livro de Alfred Schmidt… tenta (sem sucesso) apresentar o marxismo como uma forma extrema de saint-simonismo" – i.e., refletindo uma relação intrinsecamente tecno-industrial com a conquista da natureza (25). Da mesma forma, para Neil Smith, Schmidt descreveu a relação socialista com a natureza, supostamente concebida por Marx, como "muito igual à do capitalismo, exceto que pior: a dominação da natureza" (26). No julgamento mais crítico de Paul Burkett, a análise de Schmidt em O Conceito de Natureza em Marx terminou "em um pântano de desespero ambiental" (27).

 

Apesar destas limitações, Schmidt, no que pode ser considerado a parte mais original e profunda do seu trabalho, centrou o seu argumento no conceito agora famoso de "metabolismo" social e ecológico de Marx. Aqui, ele escreveu: "Marx introduziu uma compreensão completamente nova da relação do homem com a natureza" (28). A categoria de metabolismo, empregue por Marx em relação ao processo de trabalho, permitiu "falar de forma significativa de uma «dialética da natureza»”. A noção de metabolismo social apontou assim para o que o próprio Marx considerou a possibilidade de uma "síntese superior" na relação homem-natureza (29).

 

No entanto, o argumento do metabolismo de Marx foi finalmente marginalizado nas partes posteriores da análise de Schmidt (30). Schmidt sugeriu que a noção de metabolismo de Marx, como mediação dialética entre a natureza e a sociedade através do trabalho e da produção, implicava o recurso a uma forma de especulação metafísica - de tal ordem que constituiria uma ontologia negativa, não-histórica (31). Ele atribuiu erroneamente o uso por Marx do conceito de metabolismo principalmente à influência do cientista materialista cruamente mecanicista Jacob Moleschott - ao invés de Roland Daniels e Justus von Liebig, os dois pensadores a que Marx apelou mais diretamente. Schmidt viu tudo isto como pré-burguês, no sentido de uma tentativa utópica retrógrada e quase mística de ressuscitar uma unidade passada e mecanicista, levando-o a descartar o que anteriormente tinha descrito como uma significativa dialética da natureza (32).

 

Não conseguindo compreender a complexidade total e o alcance das possibilidades abertas pelo conceito de metabolismo social de Marx - uma abordagem que era, ao mesmo tempo, filosófica, político-económica e fisiológica - Schmidt rejeitou-o como uma categoria metafísica, metafórica e mecânica, refletindo uma "dialética peculiarmente não histórica do processo do metabolismo", uma "forma cíclica rígida da natureza" que era "anterior ao homem" (33). Reconhecendo que Marx havia introduzido uma dialética materialista que ligava a natureza à sociedade, a produção/reprodução humana às suas condições materiais-naturais de existência, Schmidt, no entanto, recuou, desejando evitar a questão de uma dialética da natureza. Ele limitou assim a dialética a um domínio social abstraído.

 

Esta visão genérica do conceito de natureza de Marx foi prosseguida e reforçada, de várias maneiras, no ecossocalismo de primeiro estádio que surgiu nos anos 1970 e 80. Os primeiros pensadores ecosocialistas, seguindo Schmidt, criticaram Marx e o marxismo por terem minimizado os limites naturais do crescimento econômico e, portanto, as restrições ecológicas. Eles promoviam assim ecleticamente "a ecologização do marxismo" ao enxertar na análise de Marx as noções neo-malthusianas de restrições ambientais, juntamente com pontos de vista puramente éticos da interrelação natureza-humanidade, associados à ecologia profunda e ao "ecologismo" (34). Embora constituíssem uma importante autocrítica por parte de teóricos da esquerda, estes argumentos geralmente evitavam qualquer exame minucioso dos fundamentos do materialismo histórico, particularmente onde estivessem envolvidas questões de ciência natural.

 

"O ressurgimento do marxismo nas décadas de 1960 e 1970" assumiu como adquirida, na avaliação crítica do historiador Eric Hobsbawm, "a não aplicação do pensamento de Marx (distinto do de Engels, que era considerado como separável e diferente) ao campo das ciências naturais" (35). O novo marxismo deste período, diferentemente de períodos anteriores de materialismo histórico, "deixava as ciências naturais totalmente de lado". As análises abrangentes de Marx das condições naturais subjacentes à produção e à economia capitalista foram geralmente elididas em estudos do seu trabalho, ou descartadas como desinteressantes e inessenciais - mesmo nas primeiras avaliações ecossocialistas.

 

A esquerda ocidental concluiu que uma perspetiva ecológica ocupava, na melhor das hipóteses, apenas um lugar marginal no materialismo histórico de Marx e foi largamente descartada em suas últimas obras económicas (36). Expressando o que era então a visão geral no marxismo ocidental, Perry Anderson escreveu, em 1983, que "problemas da interação da espécie humana com o seu ambiente terrestre [estavam] essencialmente ausentes do marxismo clássico" (37). Esta afirmação, no entanto, anulava não apenas as volumosas discussões de Engels sobre a relação dos seres humanos com seu ambiente natural-físico, mas também as extensas discussões sobre relações naturais-materiais e sobre ciência natural – e, dentro destas, preocupações ecológicas – produzidas pelo próprio Marx (38).

 

Para um importante ecossocialista de primeiro estádio, como Ted Benton, Marx havia descarrilado na sua crítica a Malthus, até ao ponto de mostrar uma "relutância em reconhecer ‘limites impostos pela natureza’ ao desenvolvimento humano". O próprio Malthus foi, entretanto, criticamente reapropriado no processo de "ecologização do marxismo" (39). André Gorz declarou que o socialismo, como movimento, estava "no seu estertor final", tolhido pelo seu estreito produtivismo, herdado do marxismo clássico, e pela falta de uma visão "reflexiva e modernista" das relações entre a natureza e a sociedade (40). Do mesmo modo, o economista marxista James O'Connor, editor da revista Capitalism Nature Socialism, declarou que "Marx insinuou, mas não desenvolveu, a ideia de que possa haver uma contradição do capitalismo que leve a uma teoria ‘ecológica’ das crise e da transformação social" (41). Alain Lipietz, escrevendo precisamente em Capitalism Nature Socialism, avançou ainda mais, declarando que Marx subestimou "o caráter irredutível... dos constrangimentos ecológicos" e adotou “a ideologia bíblico-cristã da conquista da natureza" (42).

 

Estes pensadores ecossocalistas de primeiro estádio, atribuem geralmente as supostas lacunas ecológicas na economia política de Marx a falhas intrínsecas na sua teoria trabalhista do valor. Uma vez que "todo o valor era derivado da força de trabalho", escreveu o sociólogo ambiental Michael Redclift, "era impossível [para Marx] conceber um limite ‘natural’ para as forças produtivas materiais da sociedade" (43). No entanto, o que Redclift e outros não conseguiram notar foi que era essa mesma unilateralidade da forma de valor no capitalismo que se encontrava no centro da crítica de Marx, associada à contradição entre riqueza (derivada de valores de uso materiais-naturais) e valor ou valor de troca (que deixa completamente de lado a natureza). Para Marx, uma vez que seja reconhecido que a natureza – constituindo, juntamente com o trabalho, uma das duas fontes de toda a riqueza - não estava incluída no cálculo do valor capitalista, sendo tratada como um "presente gratuito... ao capital", era impossível não reconhecer tanto a existência de limites naturais como a tendência destrutiva do capital para os ultrapassar, em seu impulso interminável de acumulação (44).

 

Os ecossocalistas de primeiro estádio, portanto, perceberam erroneamente a crítica de Marx ao capitalismo como, na melhor das hipóteses, neutra em relação às questões ecológicas e, na pior das hipóteses, antiecológica - mesmo tendo o jovem Marx aludido à possibilidade de uma unidade de naturalismo e humanismo. No entanto, o próprio socialismo, na opinião desses pensadores, permanecia essencial, principalmente pela sua crítica à exploração do trabalho. Os primeiros pensadores ecossocialistas enxertaram assim os conceitos verdes na análise histórico-materialista, criando uma construção híbrida, semelhante a um centauro. No caso de Benton, talvez o porta-voz mais articulado do ecossocalismo do primeiro estádio, certos elementos da crítica da economia política de Marx, como a sua hostilidade política aos "argumentos malthusianos sobre ‘limites naturais’"; a prioridade dada à teoria do valor; a sua negligência dos processos ecológicos; e o seu suposto "prometeanismo", ou produtivismo extremo, todos "obstruíram o desenvolvimento do materialismo histórico como uma teoria explicativa da crise ecológica". Essas deficiências presumidas do marxismo exigiam uma "colaboração interdisciplinar entre um materialismo histórico revisto e a ecologia" (45).

 

No entanto, tão louvável quanto possa parecer à superfície um tal programa, sem uma exploração e reconstrução exaustivas da análise do próprio Marx da dialética natureza-sociedade, a esperada síntese superior poderá acabar apenas como uma salada eclética, em que o poder crítico da tradição histórico-materialista seria totalmente perdido. Mais importante ainda, as críticas a Marx na teoria ecossocialista de primeiro estádio, eram muitas vezes distorcidas, não só na sua compreensão das conceções ecológicas de Marx, mas na adoção de pontos de vista (por exemplo, malthusianos) que eram antagónicos a uma ecologia marxista plenamente desenvolvida.

 

A produção da natureza: um novo excecionalismo humano

 

Outros teóricos da esquerda tomaram uma via completamente diferente, distante da Escola de Frankfurt e do ecossocialismo do primeiro estádio. O geógrafo Neil Smith aderiu à estrutura básica da interpretação que Schmidt fez de Marx, mas procurou virá-la do avesso, afirmando que Schmidt tinha, ele próprio, avançado uma "conceção quintessencialmente burguesa da natureza a partir da sua leitura de Marx". Se O conceito de Natureza em Marx havia defendido que o Marx maduro ficou preso no determinismo tecnológico e no produtivismo extremo que caracterizava a dialética do Iluminismo, Smith ofereceu uma leitura muito mais positiva, retratando a visão de Marx como sendo de "produção da natureza" ou de constante reinvenção e transformação da natureza através da produção. Como reconheceu um seguidor de Smith, Noel Castree, Smith procurou resolver o problema com uma causalidade unidirecional desde a produção até a natureza, levando a uma perspetiva "hiperconstrucionista". A natureza foi reduzida a um conceito passivo. A análise de Smith da produção da natureza, disse Castree, "analisou mais como o capitalismo produz a natureza e menos como a natureza produzida afeta o capitalismo" (46). Para Smith, nas palavras de Castree, "a natureza se torna interna ao capitalismo" (47). Este tipo de monismo antropomórfico subsumiu a natureza quase completamente dentro da sociedade, em um esforço para resolver o problema do "dualismo", que Smith e Castree acusaram de caracterizar quase todas as outras visões do problema ambiental (48).

 

Assim, na perspetiva de Smith sobre a dominação da natureza, invertida em relação à da Escola de Frankfurt, a natureza como um todo foi imaginada, em termos quase baconianos, como cada vez mais produzida por seres humanos para os seus próprios fins. Era possível, argumentou ele, falar de uma “verdadeira subsunção da natureza" na sua totalidade dentro da produção humana. O final do século XX, proclamou ele, marcou a penetração da sociedade no último "remanescente de uma natureza reconhecidamente externa". Na verdade, não haveria agora já mais qualquer natureza significativa, em qualquer lugar, apartada dos seres humanos: "A natureza não é nada se não for social”. "A produção da natureza ", nas palavras de Smith, foi “capitalizada ‘até o fim’". Desta perspectiva, a produção histórica da natureza representava "a unidade da natureza para a qual o capitalismo conduz". Nesta crescente unidade gerada pelo capitalismo, a "primeira natureza" (isto é, a natureza no seu mais elementar) foi "produzida a partir de dentro e como parte de uma segunda natureza" (ou seja, a natureza transformada pela sociedade). Smith efetivamente descartou qualquer reconhecimento de uma "natureza externa" como uma força dinâmica e evolutiva, fora e para além, muitas vezes interagindo com a própria humanidade. Considera uma tal visão como "dualismo", "fetichismo da natureza" e "lavagem da natureza". A própria ciência natural deveria ser recriminada por isso, por se concentrar nas "assim chamadas leis da natureza", situadas fora da sociedade (49).

 

"Dado o próprio tratamento de Marx sobre a natureza", Smith chegou a argumentar, "pode não ser irrazoável ver em sua visão também uma certa versão do dualismo conceitual da natureza" (50). O próprio Marx foi, portanto, parcialmente culpado pelo aparecimento do "apocalipticismo de esquerda", que Smith identificou com o ambientalismo contemporâneo, com suas perspetivas dualistas (51).

 

Castree seguiu a mesma linha que Smith, emergindo como um grande proponente da abordagem da produção da natureza, embora de forma ligeiramente mais matizada. Castree afirmou que "Marx não forneceu, ele próprio, um estudo sistemático da natureza. Esta tarefa foi deixada para Alfred Schmidt" (52). O brilhantismo da análise de Schmidt, para Castree, refletiu-se no fato de ele ter detetado uma "falha fundamental" em Marx. Embora "Marx aparentemente visasse um equilíbrio harmonioso entre a natureza e a sociedade" em sua "visão utópico-antecipatória", isso apontou para "um subtexto de uma vontade de poder: isto é, uma afeição pela tecnologia ao serviço do bem-estar humano que poderia involuntariamente se transformar na dominação da natureza e, ironicamente (de acordo com Adorno e Horkheimer) na dominação dos próprios seres humanos" (53). Seguindo Smith, Castree aplicou a acusação de "dualismo" a quase todos os analistas marxistas das relações natureza-sociedade, do marxismo clássico ao presente – não poupando o próprio Marx, cuja graça salvadora, segundo Castree, será a de ter inspirado a conceção unificadora de Smith sobre a "produção da natureza" (54). Nesta visão, a perspetiva da produção da natureza eliminou o dualismo decorrente da separação da natureza subsumindo a natureza na sociedade. No entanto, a maioria dos ecosocialistas contemporâneos, sugeriu Castree, não conseguiu incorporar este avanço de Smith e "reintroduziu a suposta separação da natureza" em suas abordagens a Marx (55).

 

A análise da produção da natureza, declararam Smith e Castree, tinha ido além do marxismo clássico, na medida em que rejeitava a ideia de "natureza externa", que havia infetado até mesmo A Dialética da Natureza de Engels. "Como Smith observa corretamente", declarou Castree, "a natureza separada da sociedade não tem sentido" (56). Uma abordagem marxista desenvolvida neste domínio rejeitará as noções de natureza "universal" e "externa", uma vez que tais conceções levavam inevitavelmente a incursões de naturalismo e dualismo. Nesta base, Smith e Castree descartaram inteiramente a visão de Marx de uma dialética materialista e aberta, na qual os seres humanos e a sociedade fazem parte da natureza e existem dentro dela, numa relação complexa, mediada e coevolutiva (57).

 

O argumento da produção de natureza foi, por sua vez, enraizado numa conceção binária que fazia defrontar dualismo e monismo. Nesta visão, carente do conceito de mediação dialética, para escapar do dualismo, era-se forçado a escolher entre uma "doutrina monista da natureza universal", ou, no extremo oposto, uma doutrina monista da produção da natureza pela sociedade (às vezes tem uma nuance adicional por referência à "coprodução" e a uma realidade dupla ou hifenizada) (58). A escola da produção da natureza escolheu a última alternativa: um construtivismo monista e hiper-social, em que a natureza e as condições naturais estão inteiramente subordinadas à produção humana. Esta é, em essência, a visão que os sociólogos ambientalistas criticam como excecionalismo humano - a noção antropocêntrica de que os seres humanos estão, em grande parte, isentos das leis naturais ou podem transformá-las imperialisticamente conforme lhes aprouver (59).

 

O resultado lógico foi a crítica de Smith ao apocalipticismo ambiental, dirigida ao movimento ambientalista. Escrevendo em 2015 sobre as consequências políticas da análise da produção da natureza de Smith, Castree observou que "certas variantes de políticas ambientais e corporais, operando fora das universidades, estão agora [como o próprio Smith] dispensando a ‘natureza’ como um referente ontológico". Aqui ele cita o livro Break Through dos proeminentes ecologistas modernistas Michael Shellenberger e Ted Nordhaus (60). "Em um sentido genérico", declarou Castree, "isso reflete a insistência de Smith de que precisamos de novos termos de discurso político radical" (61).

 

Ironicamente, Castree deixou por referir que a análise de Shellenberger e Nordhaus representa exatamente o oposto: novos termos de discurso político reacionário. O Breakthrough Institute, que Shellenberger e Nordhaus dirigem, é o principal grupo de reflexão ideológica dos Estados Unidos dedicado à promoção de uma modernização ecológica capitalista. Como autodesignados "pós-ambientalistas", os pensadores associados ao Breatkthrough Institute vêem a inovação tecnológica e os mecanismos de mercado como a solução para todos os problemas ambientais, totalmente compatível com o crescimento económico ilimitado e a acumulação de capital. Eles são, portanto, críticos acerados da ecologia radical e do ambientalismo em geral (62).

 

Marx, metabolismo e rotura metabólica

 

Para escapar de tais visões unilaterais – sejam elas idealistas ou mecanicistas, monistas ou dualistas – que, desde Schmidt, dominaram muita análise à esquerda da relação natureza-sociedade, é necessário recorrer à própria ecologia de Marx, na qual a conceção materialista da história e a conceção materialista da natureza formaram uma unidade dialética. Ao escavar os fundamentos ecológicos do materialismo histórico clássico, os teóricos ecossocialistas do segundo estádio, desde o final da década de 1990, se moveram muito para além dos equívocos anteriores, criando a base para uma síntese ecológica mais ampla. Aqui, a análise centrou-se sobre a abordagem dialética implícita no esquema triádico de Marx: "o metabolismo universal da natureza", o "metabolismo social" e a rotura metabólica (63).

 

Embora, como na análise de Marx, ainda faça sentido abstratamente diferenciar a natureza e os processos naturais do processo de trabalho e produtivo, não existe já nenhuma natureza pura, intocada pela sociedade humana; nem existe nenhum reino puro da sociedade, livre das terríveis consequências materiais-naturais das ações humanas. Na era antropocénica, é, portanto, ainda mais necessário explorar as complexas e dialéticas interconexões naturais-sociais entre o sistema terrestre como um todo e o capitalismo como um sistema alienado de reprodução social metabólica dentro desse sistema terrestre. Hoje, o impulso para a acumulação de capital está perturbando o metabolismo planetário em níveis cumulativamente mais elevados, ameaçando impactos irreversíveis e catastróficos para inúmeras espécies, inclusive a nossa. É na teorização desta dialética ecológica e social, e no desenvolvimento de uma praxis significativa para abordá-la, que a análise de Marx tem provado ser indispensável.

 

O ecossocalismo do segundo estádio procurou retornar a Marx e às questões terrenas. O objetivo era se basear nos fundamentos ecológicos do materialismo histórico clássico para desenvolver uma crítica socio-ecológica mais unificada. O sociólogo marxista britânico Peter Dickens estava entre aqueles que deram passos iniciais para abrir essa análise. Em seu livro de 1992 intitulado Society and Nature: Towards a Green Social Theory, ele se concentrou nos escritos juvenis de Marx, como os Manuscritos Económicos-Filosóficos, insistindo em que este trabalho fornece informações fundamentais sobre como a organização, os processos e as relações do sistema capitalista alienaram a humanidade da natureza. Ele susteve que a compreensão das pessoas sobre a natureza tende a ser moldada pelas suas experiências vividas dentro de uma sociedade dominada pela produção de mercadorias. Embora ainda mantenha algumas das marcas típicas do ecossocalismo do primeiro estádio, como a hipótese de que Marx, em seus trabalhos de maturidade, ignorou em grande medida os limites naturais e promoveu um produtivismo extremo, o trabalho de Dickens, no entanto, representou um ponto de viragem. Ele criticou a simples enxertagem de posições de ecologia profunda em um marxismo revisto. Ele insistiu na necessidade de ampliar o método de Marx, que inclui uma avaliação histórico-materialista e dialética da relação entre a sociedade e a natureza. A partir de uma orientação crítico-realista, ele explicou que as propriedades e limites emergentes no mundo biofísico devem ser reconhecidos e que o sistema capitalista estava "sobrecarregando esses ecossistemas auto-regulados e esticando-os até um ponto que eles [poderiam] não ser mais capazes suportar" (64).

 

Os estudos ecossocialistas do segundo estádio questionaram a tendência de colocar o jovem Marx contra o Marx maduro, Marx contra Engels e a ciência natural contra a ciência social. Paul Burkett explicou que ideias ecológicas elementares ocorrem ao longo de toda a obra de Marx, embora a linguagem em que elas se expressam tenha mudado. Marx deslocou-se, ao longo de seus estudos, de conceitos altamente "abstratos" para outros "mais consistentemente históricos e sociais-relacionais" (65). Burkett também apontou que Marx e Engels estavam ambos comprometidos com uma "abordagem materialista e social-científica da natureza”, que serviu de base para ampliar e desenvolver suas análises, criando oportunidades de trabalho complementar entre as ciências sociais e naturais (66). Por outras palavras, eles insistiram em empregar uma conceção materialista da história e uma concepção materialista da natureza como contrapartes necessárias (67).

 

Seus esforços para analisar as interações e transformações na relação dialéctica natureza-sociedade foram grandemente aprimorados pelo uso da análise metabólica de Marx. Aqui, a crítica de Marx à economia política se fundiu com sua avaliação das relações ecológicas, iluminando a interpenetração da natureza e da sociedade, bem como a escala e os processos através dos quais essas interações se desenvolveram historicamente. Marx incorporou sistemas socioeconómicos na ecologia e estudou explicitamente o intercâmbio de matéria e energia entre o ambiente envolvente e a sociedade (68). A economista ecológica Marina Fischer-Kowalski propôs que a análise socio-metabólica, decorrente do trabalho de Marx, possa iluminar o acoplamento de humanos e sistemas naturais, porque ela "corta através da ‘grande divisão’ entre as ciências naturais... e as ciências sociais" (69). O engajamento e o desenvolvimento do esquema triádico de Marx - metabolismo da natureza, metabolismo social e rotura metabólica - ajudaram a solidificar o segundo estádio das análises ecossocialistas e serviram de trampolim para o terceiro estádio, com o resultado de que esta metodologia é amplamente utilizada para enfrentar muitos dos desafios ecológicos mais prementes de hoje.

 

Ao desenvolver sua análise metabólica, Marx se baseou em uma longa história científica e intelectual. No início do século XIX, os fisiologistas introduziram o conceito de metabolismo para examinar os processos bioquímicos entre uma célula e seus arredores, bem como as interações e trocas entre um organismo e o mundo biofísico. O médico e comunista Roland Daniels, que foi amigo e camarada de Marx, ampliou o uso do conceito de metabolismo para inteiros complexos de organismos, prenunciando a sua aplicação na análise de ecossistemas (70). Embora o trabalho de Daniels não tenha sido publicado durante mais de um século, devido à sua morte prematura aos trinta e poucos anos (ele contraiu pneumonia enquanto estava na prisão durante os julgamentos dos comunistas de Colónia), a ideia genérica que ele apresentou seria, por meio de investigações de outros pensadores, a base para examinar níveis mais altos de organização e interdependência, incluindo o intercâmbio de matéria e energia entre as sociedades humanas e o ambiente envolvente. O químico alemão Justus von Liebig ajudou a generalizar o conceito de metabolismo, utilizando-o para estudar a troca de nutrientes entre a Terra e os seres humanos (71). Ele explicou que o solo exigia nutrientes específicos - como nitrogénio, fósforo e potássio - para produzir vegetação. À medida que as plantas cresciam, absorviam os nutrientes do solo. Para se manter a fertilidade do solo, esses nutrientes terão de ser reciclados de volta para a terra.

 

Marx, que seguia de perto as descobertas e debates científicos, incorporou o conceito de metabolismo em sua crítica à economia política, explicando que empregava a palavra para denotar "o processo ‘natural’ de produção como a troca material [Stoffwechesel] entre o homem e a natureza" (72). Ele reconheceu que os seres humanos são dependentes da natureza e "não podem criar nada sem ela" (73). Pois que "a própria Terra é um instrumento universal... uma vez que fornece ao trabalhador o chão sob os seus pés e um ‘campo de trabalho’ para o seu próprio processo particular" (74). Como resultado, existe uma "interação metabólica" necessária entre os seres humanos e a Terra. O trabalho serve como "um processo entre o homem e a natureza, um processo pelo qual o homem, através de suas próprias ações, medeia, regula e controla o metabolismo entre ele próprio e a natureza" (75). O processo de trabalho, incluindo o intercâmbio com sistemas ecológicos, é influenciado pelos sistemas económicos e instituições sociais dominantes, definindo o que Marx considerava como o metabolismo social.

 

A visão de mundo complexa, matizada e ecológica da formulação de Marx é evidente em sua concepção do "metabolismo universal da natureza" e do metabolismo social (76). O "metabolismo universal da natureza" representava o amplo mundo biofísico (77). Ciclos e processos específicos constituem e ajudam a regenerar as condições ecológicas. A sociedade humana existe dentro do metabolismo terrestre, interagindo continuamente com seu ambiente natural externo na produção de bens, serviços e necessidades. Como resultado, o metabolismo social opera dentro do mais amplo metabolismo universal. Sob a produção mercantil capitalista, essa relação assume uma forma tão alienada que gera crises ecológicas, manifestando-se como uma "rotura" no metabolismo entre a sociedade e a natureza (ou disjunturas dentro do metabolismo social e do metabolismo universal mais amplo). Isso exige a "restauração" dessas condições necessárias. "O limite natural" para a produção humana, como afirmou Lukács, seguindo Marx, "só pode recuar, não pode nunca desaparecer completamente" (78).

 

Marx evitou subordinar a natureza à sociedade, ou vice-versa, permitindo-se assim evitar "as armadilhas tanto do idealismo absoluto como da ciência mecanicista" (79). A sua análise metabólica reconhece que os seres humanos e o resto da natureza estão em constante interação, resultando daí influências, consequências e dependências recíprocas. Estes processos emergem dentro de um todo relacional, termodinâmico, o metabolismo universal da natureza.

 

Os seres humanos transformam a natureza através da produção. No entanto, "eles não o fazem exatamente como querem; em vez disso, fazem-no em condições herdadas do passado (da história natural e social), permanecendo dependentes da dinâmica subjacente da vida e da existência material" (80). Cada modo de produção gera uma ordem metabólica social distinta que influencia o intercâmbio e a interpenetração entre sociedade e sistemas ecológicos (81). A ordem metabólica social do capital, por exemplo, é expressa como um sistema histórico único de relações sócio-ecológicas desenvolvidas dentro de um modo capitalista de organização social. Os sistemas sociais humanos, no processo de produção e manutenção das condições de vida e socioculturais, estabelecem trocas com os sistemas ecológicos, em que se baseiam e no seio dos quais trabalham.

 

No entanto, dentro da ordem metabólica social do capital, este processo se materializa de forma diferente dos outros sistemas socioecológicos anteriores. As atividades práticas da vida são moldadas pela expansão e acumulação de capital. O economista marxista Paul Sweezy explicou que, “na busca do lucro... os capitalistas são levados a acumular cada vez mais capital e isso se torna seu objetivo subjetivo e a força motora de todo o sistema económico" (82). A compulsão para acumular leva a ciclos contínuos de destruição criativa (e criação destrutiva), à medida que novos métodos produtivos e distributivos são desenvolvidos e recursos exploráveis são avançados para alimentar energeticamente a indústria e fabricar mercadorias. As necessidades do capital são impostas à natureza, aumentando as provações colocadas aos sistemas ecológicos e a produção de resíduos.

 

Para ilustrar essa análise sócio-metabólica, é útil considerar como Marx, com base no trabalho de químicos e agrónomos, analisou as transformações associadas à produção agrícola capitalista. Ele explicou que “a fertilidade do solo não é uma qualidade tão natural como se poderia pensar, está intimamente ligada às relações sociais da época” (83). Em muitas sociedades pré-capitalistas, os animais da fazenda eram diretamente utilizados na produção agrícola. Eles foram alimentados com grãos da fazenda, e seu estrume rico em nutrientes foi reincorporado no solo como fertilizante. As pessoas que viviam no campo consumiam principalmente alimentos e fibras das fazendas próximas. Os seus resíduos foram também integrados no ciclo dos nutrientes, ajudando a manter a fertilidade do solo.

 

Este intercâmbio metabólico particular foi em grande parte transformado pelo movimento das vedações (“enclosure movement”), pelo surgimento dos novos sistemas industriais e pelas relações sociais associadas ao desenvolvimento capitalista. Surgiu uma divisão mais ampla e alienada entre a cidade e o campo, à medida que alimentos e fibras das fazendas eram cada vez mais enviados para mercados distantes, transferindo os nutrientes de um local para outro. Os nutrientes nos alimentos foram desperdiçados e tratados como meros resíduos acumulados, como poluição, nas cidades e nos rios (84). Liebig, em suas Cartas sobre Agricultura Moderna, argumentou que essas condições sociais emergentes contribuíram para a rotura do ciclo de nutrientes do solo. Na introdução à edição de 1862 de sua obra Agricultura Orgânica em sua aplicação à Química e à Fisiologia (mais conhecida como Química Agrícola), ele descreveu as modernas práticas agrícolas intensivas da Grã-Bretanha como um sistema de "roubo" que esgotou os nutrientes contidos no solo (85). Em O Capital, Marx sugeriu igualmente que as novas práticas agrícolas, incluindo a aplicação da energia industrial, aumentaram a escala das operações, transformando e intensificando o metabolismo social, enquanto exacerbaram a depleção dos nutrientes do solo (86).

 

Em resultado disso, argumentou Marx, a agricultura capitalista de grande escala progressivamente "perturba a interação metabólica entre o homem e a Terra" (87). Juntamente com os vários mecanismos utilizados para intensificar a produção e aumentar os lucros, criou uma "rotura" metabólica no ciclo nutritivo do solo, "roubando o solo" e "arruinando as fontes mais duradouras dessa fertilidade" (88). Enquanto violava o metabolismo universal associado ao ciclo nutritivo do solo (também concebido como uma lei de restituição), a rotura prejudicava a fertilidade do solo e as condições que suportavam a sociedade humana. Estes nutrientes derivados do consumo de alimentos e fibras nos centros urbanos do mundo capitalista foram perdidos para o solo e transformados em meros resíduos que poluem as cidades.

 

Refletindo sobre a industrialização da agricultura, Marx lamentou que "a agricultura já não encontra as condições naturais da sua própria produção dentro de si mesma, naturalmente, surgidas espontaneamente e prontas a usar; elas existem antes como uma indústria independente e separada dela - e, com esta separação, todo o conjunto complexo de interconexões em que essa indústria existe, é arrastado para a esfera das condições da produção agrícola" (89). Na discussão sobre "A génese da renda da terra capitalista", no volume três de O Capital, Marx explicou que a compulsão para a acumulação de capital "reduz a população agrícola a um mínimo cada vez mais reduzido e confronta-a com uma população industrial cada vez mais concentrada em grandes cidades; desta forma produz condições que provocam uma rotura irreparável no processo interdependente de metabolismo social, um metabolismo prescrito pelas leis naturais da própria vida. O resultado disso é um desperdício da vitalidade do solo, que é difundido pelo comércio muito para além dos limites de um único país" (90).

 

No século XIX, a rotura no ciclo nutritivo do solo colocou um problema ambiental significativo para a agricultura e as sociedades europeias. Numerosas tentativas foram feitas para encontrar meios acessíveis de enriquecer o solo. Ossos foram moídos e espalhados pelos campos. Quantidades maciças de guano e nitratos foram importados do Peru e do Chile para a Grã-Bretanha e outras regiões do Norte global, para sustentar a produção agrícola (91). As relações sociais associadas a esta rotura metabólica expandiram-se do nível local para os níveis nacional e internacional, enquanto que o espólio do campo e de terras distantes foi transferido para os centros urbanos do Norte global. Imediatamente antes da Primeira Guerra Mundial, o processo de produção de nitratos através da fixação de nitrogénio da atmosfera foi desenvolvido, permitindo a produção em larga escala de fertilizantes nitrogenados artificiais. No entanto, a falta de reciclagem dos nutrientes ainda contribui para o esgotamento contínuo do solo por práticas agrícolas intensivas. Como resultado, a rotura metabólica no ciclo nutritivo do solo continua a ser um problema persistente da ordem metabólica social moderna (92).

 

O livro publicado por Peter Dickens em 2004, Society and Nature: Changing Our Environment, Changing Ourselves, destacou os avanços importantes do segundo estádio do ecossocialismo, especialmente a centralidade de uma conceção histórico-materialista da natureza e da sociedade, a dialética natureza-sociedade e a análise metabólica. Analisa uma ampla gama de obras de Marx, explorando a profundidade da ecologia de Marx. Considera a forma como diferentes modos de produção envolveram diferentes exigências e interações com o ambiente envolvente, e explica - com base em estudos anteriores sobre a "A Teoria de Marx da Rotura Metabólica" - que "a noção de uma rotura ecológica, separando a humanidade e a natureza e violando os princípios de sustentabilidade ecológica, continua a ser útil para a compreensão dos riscos sociais e ambientais de hoje" (93). De forma importante, Dickens mostrou como estender essa análise aos problemas ambientais contemporâneos, especialmente aqueles associados às cidades. Ele propôs que "três problemas metabólicos" flagelam as cidades modernas, a saber, "a provisão de um abastecimento de água adequado, a eliminação efetiva dos esgotos e o controle da poluição do ar". Esses problemas sublinham como "o metabolismo da humanidade com a natureza não está sendo destruído, mas [está] sendo sobrecarregado, no contexto de um determinado tipo de organização social e espacial" (94).

 

A pesquisa metabólica marxista continua a prosperar. De muitas maneiras, como o falecido Del Weston defendeu em The Political Economy of Global Warming, a "fenda metabólica está no cerne da crítica ecológica de Marx ao capitalismo, denotando a disjuntura entre sistemas sociais e o resto da natureza" (95). Foi empregue para analisar relações metabólicas e roturas ecológicas nos contemporâneos sistemas agrícolas, climáticos, oceânicos, hidráulicos e florestais (96). Outros teóricos usaram o conceito de rotura metabólica e, em geral, o materialismo ecológico de Marx para desenvolver um "ecofeminismo marxista" que explora a relação entre distúrbios na natureza e nas relações de género (97).

 

Grande parte deste trabalho examina como o metabolismo social do capitalismo, enquanto sistema global, criou problemas ambientais específicos na era moderna ao transgredir o metabolismo universal da natureza. A intensificação do metabolismo social exige mais energia e matérias-primas, gerando uma série de contradições e distorções ecológicas (98). Outros analistas consideram como, à medida que o capitalismo enfrenta problemas ou obstáculos ambientais - como a falta ou o esgotamento de recursos naturais particulares - persegue uma série de mudanças e correções tecnológicas para manter sua expansão. Desta forma, os problemas ambientais são solucionados pela incorporação de novos recursos no processo de produção, pela mudança da localização da produção ou pelo desenvolvimento de novas tecnologias para aumentar a eficiência. No entanto, longe de remediar as roturas ecológicas, tais mudanças muitas vezes simplesmente criam novos problemas cumulativos, gerando disrupções adicionais em uma escala maior (99). É claro que a necessária "restauração metabólica" requer uma revolução social e ecológica para derrubar a ordem metabólica social do capital - visando a criação de uma sociedade superior, em que os produtores associados regulem racionalmente o metabolismo social de acordo com os requisitos do metabolismo universal da natureza, permitindo simultaneamente o cumprimento de suas próprias necessidades humanas (100).

 

Marx e natureza no Antropoceno: rumo a uma síntese crítica

 

Horkheimer e Adorno escreveram A Dialética do Iluminismo durante a Segunda Guerra Mundial enquanto estavam exilados nos Estados Unidos. Eles conceberam a obra como um relato da extrema dominação da natureza e dominação da humanidade que caracterizava todos os países em guerra, todos os quais eram, de várias maneiras, herdeiros do Iluminismo. Foi seguido, vários anos depois, pelo Eclipse da Razão de Horkheimer, que argumentava que, através do fascismo na Europa e do darwinismo social nos Estados Unidos, a dominação da natureza provocara uma "revolta da natureza", que estava sendo aproveitada de maneira reacionária para reforçar a dominação tanto da natureza como da sociedade. Para Horkheimer, "sempre que a natureza é exaltada como um princípio supremo e se torna a arma do pensamento contra o pensar, contra a civilização, o pensamento manifesta uma espécie de hipocrisia, e assim desenvolve uma consciência desconfortável... De fato, o regime nazista, como uma revolta da natureza, tornou-se uma mentira no momento em que se tornou consciente de si mesmo como uma revolta. Lacaio da civilização muito mecanizada [do capitalismo] que professou rejeitar, assumiu as medidas inerentemente repressivas deste último” (101).

 

O darwinismo social surgiu, argumentou Horkheimer, como "a principal criação do Iluminismo", e assim representou uma força repressiva aproveitada para uma revolta naturalista contra a civilização da máquina, que criou uma repressão ainda maior. O resultado, escreveu ele, foi uma enorme tragédia faustiana. "A história dos esforços do homem para subjugar a natureza", explicou, "também é a história da sujeição do homem ao homem" (102). No entanto, insistiu ele, não havia volta atrás: "Nós somos os herdeiros, para o melhor ou o pior, do Iluminismo e do progresso tecnológico. Opor-se a estes para regredir a estádios mais primitivos não alivia a crise permanente que eles provocaram. Pelo contrário, tais expedientes conduzem de formas historicamente razoáveis a formas totalmente bárbaras de dominação social" (103). Projetando um argumento filosófico idealista e altamente abstrato, ele concluiu que "o único modo de auxiliar a natureza é libertar o seu pensamento independente, aparentemente oposto" (104).

 

Foi nesse contexto, como indicado acima, que Schmidt escreveu The Concept of Nature in Marx. Tal como na obra de Horkheimer e Adorno, Schmidt tratou a dialética do Iluminismo como uma forma de dominação da natureza, de onde praticamente não havia escapatória. Schmidt insistiu que Marx, como Hegel, considerava o processo de trabalho como mera "superação e ludíbrio da natureza" (105). Mesmo quando Marx apontou, de acordo com Schmidt, a natureza como "coprodutora" com o trabalho, foi no contexto da promoção de fins humanos estreitos (106). As necessidades da natureza externa eram inteiramente "estranhas" a toda a perspetiva de Marx. A "filosofia da esperança" marxista humanista de Ernst Bloch era, portanto, na realidade, uma busca utópica sem esperança, que se transformou em uma "visão apocalíptica" vazia (107).

 

Smith aceitou as principais formulações da análise de Schmidt, ao inverter a crítica da Escola de Frankfurt e promover a "produção da natureza" como o ideal marxista - uma visão que, conforme Smith reconheceu, não pode ser encontrada no próprio Marx. Aqui, o problema da dominação da natureza simplesmente desapareceu, ante a incessante expansão da produção humana da natureza. Ele descartou, assim, como "apocalipticismo de esquerda", a resistência crescente do movimento ambiental a esta exploração económica insustentável da natureza, condenando esse chamado "apocalipticismo" ainda mais absolutamente do que Schmidt o fizera na crítica da "visão apocalíptica" de Bloch. A natureza, na visão de Smith, estava cada vez mais desprovida de qualquer realidade, fora de sua produção por seres humanos (108).

 

É aqui, no entanto, que descobrimos, por meio do contraste com o monismo social da tese da produção da natureza, o potencial liberatório que ainda resta no trabalho dos pensadores mais resolutamente socialistas-humanistas associados à Escola de Frankfurt. Pois que, em sua preocupação com o domínio da natureza ao lado do domínio da humanidade, os representantes da Escola de Frankfurt mais críticos e orientados para a praxis nunca deixaram de notar as contradições do capitalismo e a possibilidade de transcender a realidade contemporânea. Nos inícios da atividade do Instituto de Pesquisas Sociais, em Frankfurt, em 1932, Erich Fromm, em seu artigo seminal "O Método e a Função de uma Filosofia Social Analítica", apontou a noção de Marx do processo de trabalho como uma relação metabólica, uma dialética integrada da natureza e da sociedade (109). Aqui, ele ressaltou o significado do livro de Nikolai Bukharin, Materialismo Histórico (1925), muitas vezes desclassificado pelo seu materialismo mecanicista, por sua visão sobre este aspecto da análise de Marx.

 

Georgy Lukács, escrevendo apenas alguns anos após História e Consciência de Classe (em seu manuscrito sobre “Seguidismo e Dialética”, de 1925-26) - embora isso refletisse em parte a sua rotura com o marxismo ocidental - argumentou que uma dialética significativa da natureza em Marx estava incorporada em sua teoria do processo de trabalho como relação metabólica entre a humanidade e a natureza. Além disso, o fato de que "a vida humana se baseia no metabolismo com a natureza" significou, para Lukács, que "certas verdades que adquirimos no processo de realização deste metabolismo têm uma validade geral" (110).

 

Marcuse, o mais diretamente ecológico dos primeiros pensadores da Escola de Frankfurt (embora isso se tenha manifestado sobretudo em seus escritos posteriores), declarou: "A história também é fundada na natureza. E a teoria marxista, entre todas, tem a menor justificação para ignorar o metabolismo entre o ser humano e a natureza e para denunciar como uma conceção ideológica regressiva a insistência sobre esse solo natural da sociedade" (111).

 

Na visão dissidente e mais esperançosa de Marcuse, em relação à Escola de Frankfurt, enraizada nos Manuscritos Económicos-Filosóficos de Marx, era possível conceber um movimento de libertação ecologicamente fundado. "O que está acontecendo", escreveu ele em Counter-Revolution and Revolt, "é a descoberta (ou melhor, a redescoberta) da natureza como um aliado na luta contra as sociedades exploradoras em que a violação da natureza agrava a violação do homem. A descoberta das forças libertadoras da natureza e do seu papel vital na construção de uma sociedade livre se torna uma nova força na mudança social" (112).

 

Peter Dickens também se inspirou nos escritos de juventude de Marx, enfatizando, no seu livro inicial já acima citado, Society and Nature: Towards a Green Social Theory, que uma sociologia da libertação ecológica poderia ser desenvolvida com base no trabalho do jovem Marx. Em seu livro posterior, Society and Nature: Changing Our Environment, Changing Ourselves, Dickens criticou Horkheimer e a "medonha crítica anti-Iluminismo" de Adorno como puro "pessimismo" (113). Em vez disso, Dickens argumentou por uma visão mais positiva, ecológico-revolucionária, enraizada na teoria de Marx da rotura metabólica. "A formação inicial [naturalista-humanista] de Marx", observou ele,

 

“levou-o a empreender nada menos que uma análise do que agora seria chamado de «sustentabilidade ambiental». Em particular, ele desenvolveu a ideia de uma «rotura» na relação metabólica entre a humanidade e a natureza, vista como uma característica emergente da sociedade capitalista... A noção de uma rotura ecológica, separando a humanidade e a natureza e violando os princípios da sustentabilidade ecológica continua a ser útil para a compreensão dos riscos sociais e ambientais de hoje” (114).

 

O objetivo, em última análise, tinha necessariamente de ser a criação de uma sociedade sustentável e igualitária, capaz de "consertar a ‘rotura metabólica’ entre a natureza e a sociedade" (115).

 

Ainda assim, nem todos à esquerda concordariam com os ecossocialistas de segundo estádio a este respeito; nem com a necessidade de se concentrar na questão da rotura ecológica ou da dominação da natureza engendrada pela sociedade capitalista. De acordo com Smith, escrevendo no anuário Socialist Register de 2007, a Escola de Frankfurt - referindo-se principalmente a Horkheimer, Adorno e Schmidt - sempre concebeu dualisticamente a "dominação da natureza" como "uma condição inevitável do metabolismo humano com a natureza". Da mesma forma, "essencialistas ecológicos [o seu termo para os ecologistas radicais em geral] reconhecem um esforço paralelo de dominação, mas não o vêem como inevitável, mas como uma escolha social destrutiva". Em contraste, a própria tese de Smith de “produção de natureza" rejeitou ambas estas chamadas visões dualistas: "A tese da dominação da natureza [abrangendo as duas perspetivas] é um beco sem saída... as únicas alternativas políticas são uma anti-social (literalmente) política da natureza ou a resignação a uma dominação mais gentil e cuidadosa" (116). Para Smith, "a externalidade e a universalidade da natureza... não devem ser tomadas como dados ontológicos. A ideologia da natureza externa e universal remete a um mundo supostamente edénico, pré-humano ou supra-humano" (117).

 

Na verdade, Smith, em nome do combate ao dualismo, chegou a descartar toda a luta ecológica para mitigar as mudanças climáticas, escrevendo: "No fim de contas, a tentativa de distinguir as contribuições sociais (isto é, antropogénicas) em relação às naturais para a mudanças climáticas não é apenas um debate de tolos, mas uma filosofia de tolos: deixa sacrossanta a divisão entre a natureza e a sociedade - a natureza a um canto, a sociedade no outro -, que é precisamente o mantra do pensamento ocidental moderno que a ‘produção da natureza’ procurou desacreditar. Não é preciso ser um ‘negacionista do aquecimento global’... para ser cético sobre a forma como um público mundial está sendo compungido para aceitar onda sobre onda de mudanças técnicas, económicas e sociais, enquadradas como necessárias para a sobrevivência planetária imediata" (118). Nesta base, condenou o que ele denominou de "tom apocalíptico de catástrofe ambiental iminente", associado a muita ciência e ao movimento ambiental (119).

 

Invertendo a tese crítica da dominação da natureza da Escola de Frankfurt e transformando isso numa noção acrítica de produção da natureza (uma espécie de monismo social antropomórfico), Smith, Castree e outros pensadores de formação semelhante, efetivamente desnaturalizam a teoria social ao extremo, impondo-nos palas ecológicas (120). O que assim se exclui é uma perspetiva dialética mais desenvolvida, apontando para a alienação da natureza sob o capitalismo.

 

Em contrapartida, o valor duradouro do materialismo ecológico de Marx, incorporando conceitos tão críticos como o metabolismo universal da natureza, o metabolismo social e a rotura metabólica, é que ele aponta numa direção coevolutiva e correvolucionária - destacando a necessidade de uma nova ordem de reprodução metabólica social enraizada em igualdade substantiva (121). Aqui, a necessidade social e a natural, a ciência natural e a ciência social, a humanidade e a Terra, se tornam uma totalidade humanamente mediada, em uma luta universal mais ampla - uma luta que aponta para uma dialética revolucionária da humanidade e da Terra, em que o resultado de que necessitamos é um mundo de desenvolvimento humano sustentável. É desta síntese mais elevada das várias críticas ecológicas e sociais marxistas - construída sobre os fundamentos do materialismo histórico - que hoje precisamos mais do que tudo.

 

 

 

 

 

(*) John Bellamy Foster é editor da revista Monthly Review e professor de Sociologia na Universidade de Oregon. Seu livro mais recente, em co-autoria com Paul Burkett, é Marx and the Earth: An Anti-Critique (Brill, 2016). Brett Clark é professor associado de Sociologia na Universidade de Utah e o autor, com Stefano B. Longo e Rebecca Clausen, de The Tragedy of the Commodity (Rutgers University Press, 2015). Este artigo é uma versão substancialmente revista de “Marx’s Universal Metabolism of Nature and the Frankfurt School: Dialectical Contradictions and Critical Syntheses”, publicado em James S. Ormrod, (ed.), Changing Our Environment, Changing Ourselves (Londres: Palgrave MacMillan, 2016), pp. 101-35. Nesta versão, sob o título “Marx’s Ecology and the Left, foi publicado originalmente no N.º 2 do Vol. 68 (junho de 2016) da revista Monthly Review. Tradução de Ângelo Novo.

 

 

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NOTAS:

 

 

(1) Russell Jacoby, “Western Marxism,” in Tom Bottomore (ed.), A Dictionary of Marxist Thought (Oxford: Blackwell, 1983); Fredric Jameson, Valences of the Dialectic (London: Verso, 2009), pp. 6–7; John Bellamy Foster, Brett Clark e Richard York, The Ecological Rift (New York: Monthly Review Press, 2010), pp. 215–25.

 

(2) Noel Castree, “Marxism and the Production of Nature”, Capital and Class, n.º 72 (2000), pp. 5–36; Neil Smith, Uneven Development (Athens: University of Georgia Press, 2008).

 

(3) Paul Burkett, “Nature in Marx Reconsidered”, Organization & Environment, n.º 2 (1997), p. 164.

 

(4) Alfred Schmidt, The Concept of Nature in Marx (London: New Left Books, 1970), p. 9.

 

(5) Smith, Uneven Development, pp. 31-2.

 

(6) Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, The Dialectic of Enlightenment (New York: Continuum, 1972).

 

(7) Horkheimer e Adorno, The Dialectic of Enlightenment, p. 224.

 

(8) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 154–55. A idéia de uma "reconciliação" da natureza e da humanidade era um tema constante da Escola de Frankfurt. Na prática, no entanto, assumiu a forma de críticas negativas de várias maneiras de conciliar a natureza com a humanidade e a sociedade. Ver Martin Jay, The Dialectical Imagination (New York: Little, Brown, 1973), pp. 267–73.

 

(9) Frederick Engels, “Dialectics of Nature”, em Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works, vol. 25 (New York: International Publishers, 1975), pp. 460–64; Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 155–56, 160.

 

(10) As referências aqui feitas à crítica da Escola de Frankfurt à "dialética do Iluminismo" (e a Marx e a natureza) referem-se principalmente a Schmidt, bem como a Horkheimer e Adorno. Exclui - a menos que indicado de outra forma - o mais notável Herbert Marcuse, que, apesar de refletir algumas das mesmas tendências, responderia de forma afirmativa e dialética ao crescimento do ambientalismo na década de 1970.

 

(11) Sobre as críticas de Schmidt a Bloch e a Brecht, veja-se Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 124–28, 154–63. Ver também Bertolt Brecht, Tales from the Calendar (London: Methuen, 1966), Ernst Bloch, The Principle of Hope, vol. 1 (Cambridge, MA: MIT Press, 1986).

 

(12) O primeiro dos dois ataques polémicos foi diretamente referido por Schmidt. O segundo não foi obra do próprio Schmidt sendo simplesmente um produto de sua estrita adesão à crítica do marxismo ocidental ao materialismo dialético. Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 9.

 

(13) Schmidt reconhece o significado filosófico da visão de Marx da natureza como fonte final de toda a riqueza, sem perceber sua importância para a crítica político-económica e ecológica de Marx. V. Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 77-78. Sobre a teoria do valor e a crítica ecológica de Marx, veja-se Foster, Clark e York, The Ecological Rift, pp. 53-64.

 

(14) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 76, 80, 88–90.

 

(15) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 15, 59, 63–64, 90, 98, 139, 157, 162.

 

(16) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 139.

 

(17) Theodor W. Adorno, Negative Dialectics (New York: Continuum, 1973), p. 244.

 

(18) John Bellamy Foster e Hannah Holleman, “Weber and the Environment”, American Journal of Sociology, vol. 117, n.º 6 (2012), pp. 1660–62.

 

(19) Horkheimer citado em William Leiss, The Domination of Nature (Boston: Beacon, 1974), p. 154.

 

(20) Max Horkheimer, The Eclipse of Reason (New York: Continuum, 1974), pp. 123–27.

 

(21) Veja-se Herbert Marcuse, Counter-Revolution and Revolt (Boston: Beacon, 1972), pp. 59–78; The Aesthetic Dimension (Boston: Beacon, 1978), p. 16.

 

(22) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 154.

 

(23) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 156; ver também Jay, The Dialectical Imagination, pp. 259, 347.

 

(24) O "marxismo ocidental" surgiu como uma tradição específica no Ocidente, definida em parte pela rejeição da dialética da natureza. Ver Jacoby, “Western Marxism,” pp. 523–26.

 

(25) Leiss, Domination of Nature, p. 217.

 

(26) Smith, Uneven Development, p. 44.

 

(27) Burkett, “Nature in Marx Reconsidered”, p. 173.

 

(28) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 78–79.

 

(29) Karl Marx, Capital, vol. 1 (New York: Vintage, 1976), p. 637.

 

(30) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 11.

 

(31) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 88.

 

(32) Marx tomou inicialmente a sua ampla noção ecológica de metabolismo a partir do trabalho do seu amigo, o médico Roland Daniels, que pode ter sido o primeiro a apontar para uma ampla perspetiva ecossistémica. Veja-se Roland Daniels, Mikrokosmos (New York: Peter Lang, 1988), p. 49. (Kohei Saito foi o primeiro a chamar a nossa atenção para isso em correspondência pessoal. Também agradecemos a Joseph Fracchia por suas traduções do alemão a esse respeito). Mais tarde, a análise de Justus von Liebig do problema do solo, na qual ele incorporou o conceito de metabolismo, mostrou-se decisiva para Marx. Veja esta discussão em John Bellamy Foster, Marx’s Ecology (New York: Monthly Review Press, 2000), pp. 147–54; Kohei Saito, “The Emergence of Marx’s Critique of Modern Agriculture: Ecological Insights from His Excerpt Notebooks”, Monthly Review, vol. 66, n.º 5 (October 2014), pp. 25–46. Apesar da afirmação de Schmidt de que Marx tomou a sua análise do metabolismo de Jacob Moleschott, não há quaisquer provas disso, enquanto evidências consideráveis sugerem a confiança de Marx em outros pensadores. Veja-se Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 86–88.

 

(33) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, pp. 11, 76, 90, 176. Reiner Grundmann considerou o argumento do metabolismo de Marx como a mais forte das três abordagens das questões ecológicas (a primeira sendo "produção capitalista como causa de problemas ecológicos" e a segunda a alienação da natureza). No entanto, Grundmann, como Schmidt, interpretou o argumento do metabolismo de Marx em simples termos instrumentalisto-mecanicistas, perdendo assim de vista a sua complexidade e falhando a compreensão da importância da teoria de Marx sobre a crise ecológica. Veja-se Reiner Grundmann, Marxism and Ecology (Oxford: Oxford University Press, 1991), pp. 90–98, 121–22.

 

(34) Veja-se Ted Benton (ed.), The Greening of Marxism (New York: Guilford, 1996); Mark J. Smith, Ecologism (Minneapolis: University of Minnesota Press, 1998), pp. 71–73.

 

(35) Eric J. Hobsbawm, “Preface”, em Brenda Swann e Francis Aprahamian (eds.), J. D. Bernal (London: Verso, 1999), p. xix.

 

(36) Sobre o problema da apropriação, ver John Bellamy Foster, “Marx’s Theory of Metabolic Rift”, American Journal of Sociology, vol. 105, n.º 2 (1999), pp. 391–96.

 

(37) Perry Anderson, In the Tracks of Historical Materialism (London: Verso, 1983), p. 83.

 

(38) Russell Jacoby vê a divisão que ocorreu no marxismo em termos de suas apropriações distintas de Hegel. "O marxismo soviético", escreveu ele, "foi regularmente sustentado por um Hegel científico, enquanto o marxismo europeu foi regularmente sustentado por um Hegel histórico". Ver Russell Jacoby, The Dialectic of Defeat (Cambridge: Cambridge University Press, 1981), pp. 57–58.

 

(39) Ted Benton, “Marxism and Natural Limits”, New Left Review, n.º 178 (1989), pp. 55, 60, 64.

 

(40) André Gorz, Capitalism, Socialism, Ecology (London: Verso, 1994), pp. vii–9, 29, 100; Gorz, Ecology as Politics (London: Pluto, 1983).

 

(41) James O’Connor, Natural Causes (New York: Guilford, 1998), p. 160.

 

(42) Alain Lipietz, “Political Ecology and the Future of Marxism”, Capitalism Nature Socialism, vol. 11, n.º 1 (2000), pp. 74–75.

 

(43) Michael Redclift, Development and the Environmental Crisis (New York: Methuen, 1984), p. 7.

 

(44) Karl Marx, Capital, vol. 3 (New York: International Publishers, 1967), p. 745; ver também Paul Burkett, “Nature’s ‘Free Gifts’ and the Ecological Significance of Value”, Capital and Class, n.º 23 (1999), pp. 89–110; Burkett, “Nature in Marx Reconsidered”, pp. 173–74.

 

(45) Ted Benton, “Introduction to Part Two”, em Ted Benton (ed.), The Greening of Marxism, pp. 103–10.

 

(46) Castree, “Marxism and the Production of Nature”, pp. 27–28.

 

(47) Castree, “Marxism and the Production of Nature”, p. 28; Noel Castree, “Marxism, Capitalism, and the Production of Nature”, em Noel Castree e Bruce Braun (eds.), Social Nature (Malden, MA: Blackwell, 2001), pp. 204-05.

 

(48) Castree aponta essas contradições na análise de Smith, ao mesmo tempo em que argumenta que a abordagem de Smith sobre produção da natureza é basicamente aquela sobre a qual os teóricos marxistas deviam apoiar-se – ainda que de uma forma mais matizada.

 

(49) Smith, Uneven Development, pp. 31, 44–47, 78–91, 244–47; Neil Smith, “Nature as an Accumulation Strategy”, Socialist Register 2007 (New York: Monthly Review Press, 2006), pp. 23–28.

 

(50) Smith, Uneven Development, p. 31.

 

(51) Smith, Uneven Development, p. 247.

 

(52) Noel Castree, “The Nature of Produced Nature: Materiality and Knowledge Construction in Marxism”, Antipode, vol. 27, n.º 1 (1995), pp. 16–18.

 

(53) Castree, “The Nature of Produced Nature”, p. 17.

 

(54) Castree, “Marxism and the Production of Nature”, pp. 9–10, 21.

 

(55) Castree, “Marxism and the Production of Nature”, p. 8. Deve-se assinalar que, como Smith e Castree já haviam criticado Marx por ser dualista, aquilo de que os ecossocialistas realmente estavam sendo acusados aqui não era de uma interpretação errada de Marx, mas de um fracasso em se conformar com a própria teoria da produção monista de Smith. Ao contrário de tais pontos de vista, a nossa própria avaliação é de que nem Marx nem seus principais seguidores eram dualistas. Em vez disso, o que Smith e Castree em suas visões do mundo mecanístico-monistas confundiram com o dualismo era realmente uma análise dialética da interpenetração de opostos.

 

(56) Castree, “Marxism and the Production of Nature”, p. 17.

 

(57) Castree, “Marxism and the Production of Nature”, pp. 13–15; e “The Nature of Produced Nature”, pp. 20–21, 24. Castree refere-se abstratamente a "materialidade da natureza", mas nega a sua "externalidade" ou "universalidade", posição que ele caracteriza como "essencialista".

 

(58) Castree, “Marxism and the Production of Nature”, p. 17; Jason W. Moore, Capitalism in the Web of Life (London: Verso, 2015), pp. 46, 80–86.

 

(59) Veja-se William R. Catton Jr. e Riley E. Dunlap, “Environmental Sociology: A New Paradigm”, American Sociologist, vol. 13 (1978), pp. 41–49; John Bellamy Foster, “The Planetary Rift and the New Human Exemptionalism”, Organization & Environment, vol. 25, n.º 3 (2012), pp. 1–27.

 

(60) Noel Castree, “Capitalism and the Marxist Critique of Political Ecology”, em Tom Perreault, Gavin Bridge e James McCarthy (eds.), The Routledge Handbook of Political Ecology (London: Routledge, 2015), p. 291; Michael Shellenberger e Ted Nordhaus, Break Through (New York: Houghton Mifflin, 2007).

 

(61) Castree, “Capitalism and the Marxist Critique of Political Ecology”, p. 291.

 

(62) Em seu trabalho mais recente, Castree apoia-se muito na análise do filósofo e sociólogo francês Bruno Latour, um membro importante do Breakthrough Institute.

 

(63) Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works, vol. 30 (New York: International Publishers, 1975), pp. 54–66; Karl Marx, Capital, vol. 3 (London: Penguin, 1991), p. 949.

 

(64) Peter Dickens, Society and Nature: Towards a Green Social Theory (Philadelphia: Temple University Press, 1992), p. 80, ver também pp. 76–81, 175–95 para a discussão mais ampla acima referida.

 

(65) Paul Burkett, Marx and Nature (New York: St. Martins Press, 1999), pp. 8–9.

 

(66) Burkett, Marx and Nature, p. 9.

 

(67) Foster, Marx’s Ecology.

 

(68) Foster, Marx’s Ecology; Foster, Clark e York, The Ecological Rift.

 

(69) Marina Fischer-Kowalski, “Society’s Metabolism: The Intellectual History of Material Flow Analysis, Part I, 1860–1970”, Journal of Industrial Ecology, vol. 2, n.º 1 (1998), p. 62.

 

(70) Saito, “The Emergence of Marx’s Critique of Modern Agriculture”.

 

(71) Justus von Liebig, Letters on Modern Agriculture (London: Walton and Maberly, 1859), pp. 175–83, 220; Saito, “The Emergence of Marx’s Critique of Modern Agriculture”; Foster, Marx’s Ecology, 160–62.

 

(72) Karl Marx, Texts on Method (Oxford: Blackwell, 1975), p. 209; ver também Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works, vol. 24 (New York: International Publishers, 1975), p. 553.

 

(73) Karl Marx, Economic and Philosophic Manuscripts of 1844 (New York: International Publishers, 1964), p. 109.

 

(74) Marx, Capital, vol. 1, pp. 286-87.

 

(75) Marx, Capital, vol. 1, p. 283.

 

(76) John Bellamy Foster, “Marx and the Rift in the Universal Metabolism of Nature”, Monthly Review, vol. 65, n.º 7 (December 2013), p. 8.

 

(77) Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, pp. 54–66.

 

(78) Georg Lukács, Labour (London: Merlin Press, 1980), p. 34.

 

(79) Foster, “Marx and the Rift in the Universal Metabolism of Nature”, p. 8.

 

(80) Foster, “Marx and the Rift in the Universal Metabolism of Nature”, p. 8.

 

(81) Foster, Marx’s Ecology; Foster, Clark e York, The Ecological Rift; István Mészáros, Beyond Capital (New York: Monthly Review Press, 1995).

 

(82) Paul Sweezy, “Capitalism and the Environment”, Monthly Review, vol. 56, n.º 5 (October 2004), pp. 86–93.

 

(83) Karl Marx, The Poverty of Philosophy (New York: International Publishers, 1971), pp. 162–63.

 

(84) Foster, Marx’s Ecology; Erland Mårald, “Everything Circulates”, Environment and History, vol. 8 (2002), pp. 65–84; Marx, Capital, vol. 1.

 

(85) Liebig, Letters on Modern Agriculture, pp. 175–83, 220; Foster, Marx’s Ecology, pp. 149–54.

 

(86) Marx, Capital, vol. 1, pp. 637–39.

 

(87) Marx, Capital, vol. 1, pp. 637–38.

 

(88) Marx, Capital, vol. 1, pp. 637–38; Capital, vol. 3, p. 949.

 

(89) Karl Marx, Grundrisse (New York: Penguin, 1993), p. 527.

 

(90) Karl Marx, Capital, vol. 3 (New York: Penguin, 1991), p. 949.

 

(91) Brett Clark e John Bellamy Foster, “Ecological Imperialism and the Global Metabolic Rift: Unequal Exchange and the Guano/Nitrates Trade”, International Journal of Comparative Sociology, vol. 50, n.os 3–4 (2009), pp. 311–34.

 

(92) Fred Magdoff, “Ecological Civilization”, Monthly Review, vol. 62, n.º 8 (January 2011), pp. 1–25; Phillip Mancus, “Nitrogen Fertilizer Dependency and its Contradictions: A Theoretical Exploration of Social-Ecological Metabolism”, Rural Sociology, vol. 72, n.º 2 (2007), pp. 269–88.

 

(93) Peter Dickens, Society and Nature: Changing Our Environment, Changing Ourselves (Cambridge, UK: Polity, 2004), p. 81; John Bellamy Foster, “Marx’s Theory of Metabolic Rift”, American Journal of Sociology, vol. 105, n.º 2 (1999), pp. 366–405.

 

(94) Dickens, Society and Nature: Changing Our Environment, pp. 84–85.

 

(95) Del Weston, The Political Economy of Global Warming (New York: Routledge, 2014), p. 66.

 

(96) Kelly Austin e Brett Clark, “Tearing Down Mountains: Using Spatial and Metabolic Analysis to Investigate the Socio-Ecological Contradictions of Coal Extraction in Appalachia”, Critical Sociology, vol. 38, n.º 3 (2012), pp. 437–57; Brett Clark e Richard York, “Carbon Metabolism: Global Capitalism, Climate Change, and the Biospheric Rift”, Theory and Society, vol. 34, n.º 4 (2005), pp. 391–428; Rebecca Clausen e Brett Clark, “The Metabolic Rift and Marine Ecology: An Analysis of the Oceanic Crisis within Capitalist Production”, Organization & Environment, vol. 18, n.º 4 (2005), pp. 422–44; Matthew T. Clement, “A Basic Accounting of Variation in Municipal Solid-Waste Generation at the County Level in Texas, 2006: Groundwork for Applying Metabolic-Rift Theory to Waste Generation”, Rural Sociology, vol. 74, n.º 3 (2009), pp. 412–29; Ryan Gunderson, “The Metabolic Rifts of Livestock Agribusiness”, Organization & Environment, vol. 24, n.º 4 (2001), pp. 404–22; Stefano B. Longo, “Mediterranean Rift: Socio-Ecological Transformations in the Sicilian Bluefin Tuna Fishery”, Critical Sociology, vol. 38, n.º 3 (2012), pp. 417–36; Stefano B. Longo, Rebecca Clausen e Brett Clark, The Tragedy of the Commodity (New Brunswick: Rutgers University Press, 2015); Fred Magdoff, “Ecological Civilization”; Mancus, “Nitrogen Fertilizer.”

 

(97) Pamela Odih, Watershed in Marxist Ecofeminism (Newcastle upon Tyne, UK: Cambridge Scholars, 2014); Ariel Salleh, “From Eco-Sufficiency to Global Justice” em Salleh (ed.), Eco-Sufficiency and Global Justice (London: Pluto, 2009), pp. 291–312.

 

(98) Paul Burkett, Marxism and Ecological Economics (Leiden: Brill, 2006); Foster, Clark e York, The Ecological Rift.

 

(99) Brett Clark e Richard York, “Rifts and Shifts”, Monthly Review, vol. 60, n.º 6 (November 2008), pp. 13–24; Longo, Clausen e Clark, The Tragedy of the Commodity; Weston, The Political Economy of Global Warming; Richard York e Brett Clark, “Critical Materialism: Science, Technology, and Environmental Sustainability”, Sociological Inquiry, vol. 80, n.º 3 (2010), pp. 475–99; Richard York e Brett Clark, “Nothing New Under the Sun? The Old False Promise of New Technology”, Review: A Journal of the Fernand Braudel Center, vol. 33, n.os 2–3 (2010), pp. 203–24.

 

(100) Para uma excelente elaboração a partir do conceito de Marx de “restauração metabólica”, ver Weston, The Political Economy of Global Warming, pp. 168–78. Ver também Rebecca Clausen, “Healing the Rift , Monthly Review, vol. 59, n.º 1 (May 2007), pp. 40–52; Rebecca Clausen, Brett Clark e Stefano B Longo, “Metabolic Rifts and Restoration: Agricultural Crises and the Potential of Cuba’s Organic, Socialist Approach to Food Production”, World Review of Political Economy, vol. 6, n.º 1 (2015), pp. 4–32; Fred Magdoff e John Bellamy Foster, What Every Environmentalist Needs to Know About Capitalism (New York: Monthly Review Press, 2010).

 

(101) Horkheimer, Eclipse of Reason, p. 123.

 

(102) Horkheimer, Eclipse of Reason, p. 105.

 

(103) Horkheimer, Eclipse of Reason, p. 127.

 

(104) Horkheimer, Eclipse of Reason, p. 127. Sobre a questão do que é que Horkheimer quis dizer com a “revolta da natureza” do nazismo, ver Franz Josef Bruggemeier, Marc Cioc e Thomas Zeller (eds.), How Green Were the Nazis?(Athens, OH: Ohio University Press, 2005).

 

(105) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 157.

 

(106) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 162.

 

(107) Schmidt, The Concept of Nature in Marx, p. 162.

 

(108) Smith, Uneven Development, p. 247.

 

(109) Erich Fromm, The Crisis of Psychoanalysis (Greenwich, CT: Fawcett, 1970), pp. 153–54. Ver também Nikolai Bukharin, Historical Materialism (New York: International Publishers, 1925).

 

(110) Georg Lukács, A Defence of ‘History and Class Consciousness’: Tailism and the Dialectic (London: Verso, 2003), pp. 96, 106, 113–14, 130–31; Georg Lukács, History and Class Consciousness (London: Merlin, 1968), p. xvii; Georg Lukács, Conversations with Lukács (Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 1974), p. 43.

 

(111) Herbert Marcuse, The Aesthetic Dimension (Boston: Beacon, 1978), p. 16.

 

(112) Marcuse, Counter-Revolution, pp. 59–60.

 

(113) Dickens, Society and Nature: Changing Our Environment, p. 10.

 

(114) Dickens, Society and Nature: Changing Our Environment, p. 80.

 

(115) Dickens, Society and Nature: Changing Our Environment, p. 144.

 

(116) Smith, “Nature as an Accumulation Strategy”, pp. 24–25.

 

(117) Smith, “Nature as an Accumulation Strategy”, p. 23.

 

(118) Smith, Uneven Development, p. 244.

 

(119) Smith, “Nature as an Accumulation Strategy”, pp. 27–29; Smith, Uneven Development, p. 247.

 

(120) Ver Moore, Capitalism in the Web of Life, pp. 85–86. Moore apresenta uma visão social "monista e relacional", enraizada em um conceito metafórico de "metabolismo singular" e definido em termos de um pacote único de relações "natureza"-sociedade, no qual ele equipara o capitalismo a "ecologia mundial", rejeitando a própria teoria de Marx de uma rotura metabólica.

 

(121) Sobre coevolução, ver Richard B. Norgaard, Development Betrayed (London: Routledge, 1994). Sobre correvolução, ver David Harvey, The Enigma of Capital (Oxford: Oxford University Press, 2010), pp. 228–31. Sobre uma nova ordem de reprodução metabólica social, ver Mészáros, Beyond Capital, pp. 170–77.