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Introdução
A Europa será finalmente alemã ou desfar-se-á? Haverá ainda um último fôlego para a social-democracia, reunida em torno do eixo Piketty-Montebourg? O fascismo é cão que ladra mas não morde? O imperialismo norte-americano tem ainda determinação e meios capazes para dar sequência à sua soberba mediática com agressões efetivas e em profundidade, para lá de alguns adversários de cenário e circunstância por si próprio criados? Caminhamos para um mundo multipolar? O livre-cambismo globalista estará à beira da derrocada? Estamos no limiar de uma nova crise “financeira”? Até quando poderá ela ser postergada por extensão da massa monetária e desdobramento do capital fictício? Para onde se dirige a classe operária chinesa? E a grande massa das classes populares e assalariadas nos países do capitalismo clássico, sujeitas ao austeritarismo? O socialismo do século XXI sairá finalmente do seu berço latino-americano? Qual será o impacto demográfico e político da crise alimentar e climática nos países da periferia africana e asiática? Tantas perguntas, tantos anseios...
Este número de ‘O Comuneiro’ abre com um artigo de Silvia Federici, o que de há muito era devido, tratando-se de uma autora fundamental do nosso tempo e do nosso ideário. Partindo da tradição feminista materialista em intersecção com o marxismo, Silvia convoca-nos a um novo olhar sobre os bens comuns (“commons” na consagrada expressão anglo-saxóxica) e o papel da mulher na luta pela sua defesa e promoção. Prabhat Patnaik é um dos mais lúcidos e penetrantes observadores da época contemporânea. Servindo-se dos melhores instrumentos teóricos disponíveis, com uma capacidade de síntese notável, é capaz de traçar a nossa própria história, à medida que ela se faz, com duas ou três pinceladas aparentemente muito simples.
É com justificado orgulho e júbilo que assinalamos, nas nossas eletrónicas páginas, o regresso do ensaísmo socialista português. E logo por intervenção de um capitão de abril, como o nosso já habitual colaborador Miguel Judas. A ambição e destemor deste pensamento é sempre de assinalar, mesmo quando, em algumas sendas não essenciais, possamos porventura estar convictos de não o podermos acompanhar. Remo Moreira Basto apresenta-nos um bem sustentado e problematizado conspecto das teorias marxistas da crise capitalista. O nosso editor Ronaldo Fonseca faz um retrato dinâmico e empenhado da atualidade política e seus desafios emancipatórios, com particular enfoque na “Nossa América” (Martí).
Em altura em que se assinalam cinquenta anos do golpe militar brasileiro de 1964, Fábio Konder Comparato faz um retrato histórico da participação dos militares na consolidação da formação social atual do país do carnaval. O amor e o incómodo da grande burguesia brasileira com sua brutal ditadura têm merecido destaque. Esta mesma grande burguesia brasileira, entretanto, projeta construir a sua propria esfera subimperialista. Esse é o desafio teórico sobre o qual se tem debruçado a obra mais recente de Virgínia Fontes, de que publicamos ‘A incorporação subaterna no Brasil ao capital-imperialismo’.
O pós-humanismo é o mais recente produto da euforia ideológica burguesa sobrevinda após a queda do “socialismo real”, sendo um dos seus promotores precisamente aquele corifeu que havia ficado famoso com a profecia do fim da História. Agora é o próprio homem que acaba. Pieter Lemmens desmascara este tópico de forma clara e contundente, nomeadamente com apelo ao pensamento de Bernard Stiegler. É deste último autor, novamente em tradução de João Esteves da Silva, que apresentamos, por fim, um texto difícil mas de sumo proveito. Partindo de um diálogo entre Derrida e Deleuze, com trânsito pela Escola de Frankfurt e por Gilbert Simondon, Stiegler mapeia o processo de desindividuação e dissolução dos saberes sociais em curso na sociedade capitalista atual.
Agradecemos toda a divulgação possível do conteúdo deste número do ‘O Comuneiro’, nomeadamente em listas de correio, portais, blogues ou redes sociais de língua portuguesa. Comentários, críticas, sugestões e propostas de colaboração serão benvindos. Agradeceríamos em particular a ajuda voluntária e graciosa de tradutores.
Os Editores
Ângelo Novo
Ronaldo Fonseca
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