Crise orgânica e revolução passiva:
o inimigo toma a iniciativa

A governabilidade do capitalismo periférico
e os desafios da esquerda revolucionária

 

Néstor Kohan (*)


 

Desde Marx e Engels até Lênin, Trotski e Mao, desde Mariátegui (1), Mella (2), Recabarren (3) e Ponce (4) até o Che Guevara e Fidel, grande parte das reflexões dos marxistas sobre a luta de classes têm girado em torno da necessidade de assumir a iniciativa política por parte dos trabalhadores e do povo.

Mas, o que acontece quando a iniciativa é tomada pelos nossos inimigos? Que fazer quando os segmentos mais lúcidos da burguesia intentam resolver a crise orgânica de hegemonia, de legitimidade política e de governabilidade apelando a discursos e simbologia “progressistas”, colocando-se na cabeça das mudanças para desarmar, dividir, neutralizar e finalmente cooptar ou demonizar os setores populares mais intransigentes e radicais?

Para pensar estes momentos difíceis, tão cheios de matizes, Gramsci elaborou uma categoria: a “revolução passiva”. A tomou emprestada de historiadores italianos, mas lhe deu outro significado.

A revolução passiva é para Gramsci uma “revolução-restauração”, ou seja, uma transformação feita por cima, pela qual os poderosos modificam lentamente as relações de força para neutralizar os seus inimigos de baixo.

Mediante a revolução passiva, os segmentos mais lúcidos da classe dominante e dirigente intentam “meter no bolso” (a expressão é de Gramsci) os seus adversários e opositores políticos incorporando parte de suas reivindicações, mas despojadas de toda a radicalidade e de todo perigo revolucionário. As demandas populares tomam outro significado e terminam trituradas na maquinaria de dominação.

Como enfrentar essa iniciativa? De que maneira podemos descentralizar essa estratégia burguesa?

É relativamente fácil identificar os nossos inimigos quando eles adotam um programa político de choque ou repressão com a cara descoberta. Mas o assunto se complica notavelmente quando os setores do poder intentam neutralizar o campo popular apelando discursivamente a uma simbologia “progressista”. Nesses momentos, navegar no oceano atormentado da luta de classes é mais complicado e delicado...

Dentro deste aglomerado de ondas e marés políticas que se chocam, nem tudo aparece tão nitidamente diferenciado nem delimitado como se pode supor. Na atual conjuntura política latino-americana verificamos, por exemplo, uma notável diferença entre Cuba, Venezuela e possivelmente Bolívia (neste caso, em particular, nem tanto pelas moderadas posições políticas de seu presidente [Evo Morales], mas sim pelos poderosos movimentos sociais que têm por trás), por um lado; com Chile, Argentina e Uruguai, por outro.

Se Cuba e Venezuela encabeçam a rebeldia contra o império, o segundo bloco de nações – localizado no cone sul de nossa América – expressa melhor determinado aggiornamiento (5) do modelo neoliberal. Neste sentido, ainda que cada sociedade particular tenha seus próprios desafios, existem problemáticas gerais que bem valeriam a pena repensar, evitando os cantos de sereia embriagadores – agora hegemônicos – que hoje pretendem atualizar as velhas ilusões reformistas que padecemos fazem três décadas e que tanto sangue, tragédia e dor nos custaram. No caso da Argentina, do Chile e do Uruguai já não se trata hoje em dia da velha e esgarçada “transição pacífica” ao socialismo senão, inclusive, de uma proposta muitíssimo mais modesta: a reforma do capitalismo neoliberal com ares de um suposto “capitalismo nacional” (no jargão de Kirchner) ou “capitalismo a la uruguaya” (para o Uruguai) e assim por diante. Até o tímido socialismo de “transição pacífica” se dilui e o horizonte se estreita com os vãos intentos para adoçar o capitalismo e fazê-lo menos cruel e selvagem...

Nesta situação complexa, no cone-sul latino-americano assistimos um difícil desafio: pensar desde o marxismo revolucionário não a iminência do assalto ao poder ou de ofensiva aberta dos setores populares, mas sim aqueles momento do processo da luta de classes onde o inimigo pretende manter e perpetuar o neoliberalismo de maneira sutil e encoberta. Não pretende fazê-lo de qualquer maneira. Paradoxalmente, as classes dominantes intentam resolver sua crise orgânica, garantir a governabilidade e manter seus suculentos negócios hasteando nossas próprias bandeiras (oportunamente, com outros significados). Resulta mais fácil enfrentar e golpear um inimigo frontal que quer esmagar-nos hasteando bandeiras neoliberais e fascistas (os casos emblemáticos de Pinochet no Chile e Videla ou Menem na Argentina são arquétipos). Mas torna-se extremamente complexo responder politicamente quando o neoliberalismo se disfarça de “progresso”, continua beneficiando o grande capital em nome da “democracia”, dos “direitos humanos”, da “sociedade civil”, o “respeito pela diversidade”, etc., etc., etc.

Estes processos e mecanismos de dominação política utilizados na atualidade pelas classes dominantes do cone-sul latino-americano e seus amos imperiais se assentam em uma prolongada e extensa tradição anterior.

Não surgiram pela arte da magia. Só constituem um “enigma insolúvel” se, como tantas vezes nos sugeriu o pós-modernismo, fazemos abstração de nossa história nacional e continental.

A revolução passiva na história da América Latina

Durante o século XIX, ao longo da conformação histórica dos Estados-nação latino-americanos, se estabeleceu uma singular relação entre Estado e sociedade civil. Diferentemente de alguns esquemas mecânicos e simplistas, supostamente “marxistas” (6), na América Latina a relação entre sociedade civil e Estado tem sido em grande medida diferente ao processo das sociedades européias (7).

Entre nós latino-americanos, não em poucas ocasiões, o Estado não foi um produto posterior que veio reforçar uma realidade previamente constituída sobre suas próprias bases, mas sim, ao contrário, contribuiu de maneira ativa para conformar a sociedade civil. Não se pode explicar, por exemplo, a inserção subordinada e dependente das formações sociais latino-americanas no mercado mundial durante o século XIX desconhecendo a mediação estatal. Não se pode compreender o processo de genocídio dos povos originários de nossa América, o roubo, a expropriação de suas terras e a incorporação da produção agrícola ou mineral ao mercado mundial prescindindo do acionar estatal. Não se pode entender a conformação das grandes unidades produtivas, como as plantações, as minas, as haciendas (8), que combinavam a exploração forçada da força de trabalho com uma produção de valores de troca destinados a troca e a venda no mercado mundial capitalista, deixando de lado o papel ativo jogado pelo Estado. Esse protagonismo central não teve lugar unicamente na denominada acumulação originária do capital latino-americano. Posteriormente, quando o capitalismo e o mercado já funcionavam na América Latina sem andadores nem muletas, o Estado seguiu jogando um papel decisivo.

Dentre as muitas instituições que conformam a estrutura estatal houve uma instituição em particular que ocupou este papel central: o Exército (entendido em sentido amplo, como sinônimo de Forças Armadas) (9). Junto com a repressão feroz de numerosos sujeitos sociais – povos indígenas e negros, gaúchos, llaneros (10), etc. – que resistiram a incorporarem-se como mansa e domesticada força de trabalho, os exércitos latino-americanos também ocuparam, gerenciaram e realizaram tarefas estritamente econômicas.

Esse papel privilegiado e muitas vezes preponderante na América Latina não foi central somente ao longo de todo o século XIX. No século XX o bonapartismo militar (11) ocupou o papel ativo que não jogaram nem podiam jogar as débeis, impotentes e raquíticas burguesias autóctones latino-americanas (injustamente denominadas “burguesias nacionais” por seus apologistas). Diante da ausência de projetos sólidos, pujantes e autenticamente nacionais, as burguesias latino-americanas perderam sua escassa e delgada autonomia, se é que alguma vez a tiveram (12), e terminaram jogando o papel submisso de sócios menores e subsidiários dos grandes capitais. Só podiam desfrutar do pequeno mercado interno e do mercado mundial à condição de acomodar-se com a cabeça baixa e o chapéu entre as mãos nos lugares secundários e nos espaços semivazios que lhes deixaram os capitais multinacionais. É por isso que grande parte das industrializações latino-americanas do século XX foram na realidade pseudo-industrializações, já que não modificaram a estrutura prévia herdada das burguesias agrárias do século XIX (13).

Hoje em dia resulta, para todas as luzes, errônea e fora de foco a falsa imagem e a ilusória dicotomia – construída artificialmente desde relatos encobridores e apologistas – que haveria o enfrentamento “burguesias nacionais, democráticas, industrialistas, antiimperialistas e modernizadoras” versus “oligarquias latifundiárias, tradicionalistas, autoritárias e vendepatrias” (14). Nossa história real, repleta de golpes de Estado, massacres e genocídios planificados, tem seguido um rumo notavelmente diverso ao que postulavam os cômodos “esquemas clássicos” e os complacentes “tipos ideais” construídos a imagem e semelhança das principais formações sociais européias. A história latino-americana desobedeceu a lógica européia; a luta de classes empírica ultrapassa o limitado esquema ideal; o desenvolvimento desigual, articulado e combinado de múltiplas dominações sociais desacreditou os conselhos políticos etapistas que aconselhavam apoiar a uma ou outra fração burguesa (“burguesia democrática” a chamou o reformismo stalinista, “burguesia nacional” a denominou o populismo) contra o suposto inimigo oligárquico. Na América Latina as burguesias nasceram oligárquicas e as oligarquias foram aburguesando-se enquanto se modernizavam. As modernizações não vieram de baixo, mas sim de cima. Não foram democráticas nem plebéias, mas sim oligárquicas e autoritárias. Não foram produto de “revoluções burguesas antifeudais” – como rezavam certos manuais – mas sim revoluções-restauradoras, revoluções passivas impulsionadas pelas oligarquias aburguesadas.

Foram as próprias oligarquias, através do aparato do Estado e em particular das forças armadas, as que empreenderam – a sangue, tortura e fogo – o caminho para modernizar sua inserção sempre subordinada no mercado mundial capitalista (15). O liberalismo latino-americano não foi, como na França dos séculos XVII e XVIII, progressista, mas autoritário e repressivo. Em nossas pátrias destripadas a golpes de baioneta e destroçadas a choques e pauladas, jamais existiu modernização econômica sem repressão política.

As burguesias locais foram historicamente débeis para tornar nossas nações independentes do imperialismo, mas ao mesmo tempo foram suficientemente fortes para neutralizar e impedir os processos de luta social radical das classes populares.

As sangrentas ditaduras latino-americanas – cujas conseqüências nefastas seguimos padecendo até nosso presente – que assolaram nosso continente durante as décadas dos anos 70 e 80 não foram, em conseqüência, um raio inesperado num céu claro ao meio-dia de um dia de verão. Não constituíram uma “anomalia”, uma exceção à regra, o interregno entre dois momentos de normalidade e paz. Foram bem a regra de nossos capitalismos periféricos, dependentes e subordinados a lógica do sistema capitalista mundial.

Novos tempos de lutas e novas formas de dominação durante a “transição à democracia”

Esgotadas as antigas formas políticas ditatoriais mediante as quais o grande capital – internacional e local – exerceu sua dominação e logrou remodelar as sociedades latino-americanas inaugurando em escala mundial o neoliberalismo (16) nossos países assistiram ao que se denominou, de modo igualmente apologético e injustificado, “transições à democracia”.

Já levamos quase vinte anos, aproximadamente, de transição. Não será a hora de fazer um balanço crítico? Podemos hoje seguir repetindo alegremente que as formas republicanas e parlamentárias de exercer a dominação social são “transições à democracia”? Até quando vamos continuar engolindo sem mastigar esses relatos acadêmicos nascidos ao calor das bolsas de estudos da social-democracia alemã e dos subsídios das fundações norte-americanas?

Em nossa opinião, e sem esforço de catequizar nem evangelizar ninguém, a aposta em funcionamento das formas e dos rituais parlamentários diferencia-se amplamente de parecer - ainda que minimamente – uma democracia autêntica. Resulta quase ocioso insistir com algo óbvio: em nossos países latino-americanos, hoje seguem dominando os mesmos setores sociais de antigamente, os de muito dinheiro e de vultosas contas bancárias. Mudou a imagem, mudou a encenação, se transformou o discurso, mas não se modificou o sistema econômico, social e político de dominação. Inclusive se aperfeiçoou (17).

Estas novas formas de dominação política – principalmente a parlamentária – nasceram da luta de classes. Em nossa opinião não foram um presente gracioso de sua grande majestade, o mercado e o capital (como sustenta certa hipótese que termina pressupondo, inconscientemente, a passividade total do povo), mas lamentavelmente tampouco foram unicamente fruto da conquista popular e do “avanço democrático da sociedade civil” que lentamente se vai apoderando dos mecanismos de decisão política marchando até um porvir luminoso (como pressupõem certas correntes que terminam cedendo ao fetichismo parlamentário). Na realidade, os regimes políticos pós-ditadura, na Argentina, no Chile, no Uruguai e no resto do cone sul latino-americano, foram produto de uma complexa e desigual combinação das lutas populares e de massas – em cuja estrela alcança seu zênite a pueblada argentina de dezembro de 2001 – com a resposta tática do imperialismo que necessitava sacrificar momentaneamente algum peão militar da época neolítica para reacomodar os filhos da rede de dominação, mudando para que nada mude.

Com discurso progressista ou sem ele, a missão estratégica que o capital transnacional e seus sócios mais estreitos, as burguesias locais, atribuíram aos governos “progressistas” da região – desde a Frente Ampla Uruguaia e o PJ [Partido Justicialista] de Kirchner até o ajuste de Bachelet no Chile – consiste em conseguir o retorno à “normalidade” do capitalismo latino-americano. Se trata de resolver a crise orgânica reconstruindo o consenso e a credibilidade das instituições burguesas para garantir A ORDEM. Ou seja: a continuidade do capitalismo. O que está em jogo é a crise da hegemonia burguesa na região, ameaçada pelas rebeliões e puebladas – como a da Argentina ou da Bolívia – e sua eventual recuperação.

Em nossa perspectiva, e apesar das esperanças populares, a manipulação de bandeiras sociais, a degeneração dos símbolos da esquerda e a re-significação das identidades progressistas têm atualmente como finalidade frear a rebeldia e canalizar institucionalmente a indisciplina social. Mediante esse mecanismo de aggiornamiento supostamente “progressista” as burguesias do cone sul latino-americano intentam recompor sua hegemonia política. Se pretende voltar a legitimar as instituições do sistema capitalista, fortemente desvalorizadas e desprestigiadas por uma crise de representação política, que já faziam anos que nosso continente não vivenciava. As equipes políticas das classes dominantes locais e o imperialismo se esforçam deste modo, consideravelmente sutil e inteligente, em continuar isolando a revolução cubana (a que se saúda, mas... como algo exótico e caribenho), e seguir demonizando a insurgência colombiana e cortar pela raiz o processo aberto na Bolívia.

Os desafios da esquerda latino-americana antiimperialista e anticapitalista frente sua própria história

Como então enfrentar esse aggiornamiento das formas políticas de dominação, esse intento gatopardista (18) de mudar algo para que a ORDEM siga igual e nada mude profundamente?

Descartada a visão ingênua de um otimismo eufórico que postula no terreno das palavras-de-ordem da agitação um perigoso e falso triunfalismo – qualificando como “avanço revolucionário” os governos de Tabaré Vázquez, Kirchner ou Bachelet -, devemos fazer o esforço para compreender nossos desafios políticos a partir de nossa própria história e nossas próprias necessidades (19). Assim fez Fidel quando encabeçou a revolução cubana, assim o faz Chávez na Venezuela. Assim o fizeram os sandinistas, os salvadorenhos e os tupamaros em suas épocas constitutivas (quando eram radicais e estavam contra o sistema), assim o fazem as FARC e o ELN na Colômbia, e os zapatistas em Chiapas. No cone sul latino-americano devemos encontrar nossa própria perspectiva estratégica e nosso rumo político a partir de nossa própria história. Devemos estudar e levar a sério a história!

Isso implica estar alertas frente a qualquer manipulação oportunista. É certo que todo relato histórico pressupõe construir genealogias no passado para defender e legitimar políticas para o futuro. Mas tudo tem um limite. Não se pode ir ao passado, “meter a mão”, colocar e tirar a gosto e piacere segundo as oportunidades das circunstâncias...

Por exemplo, na Argentina, não se pode colocar nas bandeiras e nos cartazes as imagens de Santucho (20) e do Che Guevara e logo, como por arte da magia, apagar esses símbolos para substituí-los pela foto de Juan Domingo Perón (21). E logo, se modificam as alianças políticas do momento, arquivar rapidamente Perón e voltar a colocar Santucho ou quem convenha nessa ocasião. Sempre com o mesmo sorriso cínico. Como se tudo fosse o mesmo! Isso é pouco sério. Isso é fazer manipulação vulgar da história em função do presente imediato. Assim não se constrói uma identidade política de massas que logre aglutinar a juventude rebelde e a classe trabalhadora combativa em função de um projeto de emancipação radical. Os cubanos designam essas manobras como vulgar “politiquería”. Lênin as denominava “oportunismo”. Em cada um dos países de nossa América há um termo para fazer referência ao mesmo.

A história deve ser nossa fonte genuína de inspiração, não um cômodo salvo-conduto oportunista.

Formação política, hegemonia socialista e internacionalismo

Não devemos somente inspirar-nos na história. Na atual fase da correlação de classes – marcada pela acumulação de forças – necessitamos generalizar a formação política da militância de base. Não somente dos quadros dirigentes, mas de toda a militância popular. Se torna um imperativo combater o clientelismo e a prática dos “punteros” (negociantes da política mediante as prebendas do poder), solidificando e sedimentando uma forte cultura política na base militante, que mire a hegemonia socialista sobre todo o movimento popular. Nos parecem ilusórios e fantasmagóricos os sonhos pós-modernos e pós-estruturalistas que nos convidam irresponsavelmente a “mudar o mundo sem tomar o poder”. Não se podem lograr mudanças profundas sem confrontar as instituições centrais do aparato de estado. Devemos encarar a formação, estrategicamente e a longo prazo – estamos pensando em termos de vários anos e não de dois meses –, de organizações guevaristas de combate.

Por que organizações? Porque o culto cego à espontaneidade das massas constitui uma miragem muito simpática mas ineficaz. Todo o movimento popular que sucedeu à explosão de 19 e 20 de dezembro de 2001 na Argentina diluiu sua energia e terminou sendo fagocitado pela ausência de organização e de continuidade no tempo (organização popular não equivale à somatória de selos partidários que têm como meta máxima a participação em cada contenda eleitoral).

Por que guevaristas? Por que na nossa história latino-americana o guevarismo constitui a expressão do pensamento mais radical de Marx e Lênin e de todo o acervo revolucionário mundial, decifrado a partir de nossa própria realidade e nossos próprios povos. O guevarismo se apropria do melhor que produziram os bolcheviques, os chineses, os vietnamitas, as lutas anti-colonialistas da África, a juventude estudantil e trabalhadora européia, o movimento negro norte-americano e todas as rebeldias de vários continentes. O guevarismo não é decalque nem é cópia, constitui uma apropriação da própria história do marxismo latino-americano, cujo fundador é, sem dúvida nenhuma, José Carlos Mariátegui. Guevara não é uma camiseta. Sua busca política, teórica, filosófica constitui um permanente convite a repensar o marxismo radical desde a América Latina e o Terceiro Mundo. Não se pode reduzi-lo a três ordens ou frases feitas. Inclusive temos pendente um estudo coletivo sério e uma apropriação crítica do pensamento marxista do Che entre nossa militância (22).

Por que de combate? Porque cedo ou tarde toparemos com a força bestial do aparato de Estado e seu ejercicio (23) permanente de força material. Assim nos ensina toda nossa história. Insistimos: deve-se levar a sério a história! Pretender evitar essa confrontação pode resultar muito simpático para ganhar uma bolsa de estudos ou seduzir o público leitor em um grande monopólio da (in)comunicação. Mas a história de nossa América nos demonstra, com uma carga tremenda de drama, que não haverá revoluções de verdade sem o combate antiimperialista e anticapitalista. Devemos preparar-nos a largo prazo para essa confrontação. Não é uma tarefa de dois dias, mas de vários anos. Devemos lutar na batalha ideológica para legitimar no seio de nosso povo a violência plebéia, popular, operária e anticapitalista; a justa violência de baixo frente a injusta violência de cima.

Mas ao identificar o combate como um caminho estratégico devemos aprender os erros do passado evitando a tentação militarista. As novas organizações guevaristas deverão estar estreitamente vinculadas aos movimentos sociais. Não se pode falar “de fora” do movimento de massas. As organizações que encabecem a luta e marquem um caminho estratégico, para lá do dia-a-dia, deverão ser ao mesmo tempo “causa e efeito” dos movimentos de massas. Não só falar e ensinar, mas também escutar e aprender. E escutar atentamente e com o ouvido bem aberto! A verdade da revolução socialista não é propriedade de nenhum selo, se construirá no diálogo coletivo entre as organizações radicais e os movimentos sociais. As vanguardas – perdão por utilizar este termo tão desprestigiado nos centros acadêmicos do sistema – que deveremos construir serão vanguardas de massas, não de elite.

Se durante a luta ideológica dos anos 90 – nos tempos do auge neoliberal – nos vimos obrigados a batalhar na defesa de Marx, remando contra a corrente hegemônica, na década que se abre no ano 2000, um Marx solitário já não é o suficiente. Agora devemos ir além, dar mais um passo e colocar na agenda de nossa juventude Lênin e Che (e todas e todos seus continuadores). Recolocar o Che entre nossa militância implica recuperar a mística revolucionária de luta extra-institucional que nutriu a geração latino-americana no anos 60 e 70.

Temos pendente pensar e exercer a política além das instituições, sem ceder ao falso “horizontalismo” – cujos partidários gritam “que ninguém dirija!” porque na realidade querem ser os dirigentes – nem cair presos na armadilha do reformismo e da chantagem institucional. Nada melhor então que combinar o espírito de ofensiva de Guevara com a inteligência e lucidez de Gramsci para compreender e enfrentar o gatopardismo. Saber sair da política de seita, assumir a ofensiva ideológica e ao mesmo tempo ser suficientemente lúcidos como para enfrentar o transformismo político das classes dominantes que hasteiam bandeiras “progressistas” para dominar-nos melhor.

Como San Martín (24), Artigas (25), Bolívar (26), Sucre, Manuel Rodriguez (27), Juana Azurduy (28) y José Martí (29), como Guevara, Fidel, Santucho, Sendic (30), Miguel Enriquez (31), Inti Paredo (32), Carlos Fonseca (33) e Carlos Marighella (34), devemos unir nossos esforços e vontades coletivas a longo prazo em uma perspectiva internacionalista e continental. Na época da globalização imperialista não é viável, nem possível, nem realista, nem desejável um “capitalismo nacional”.

Não podemos seguir permitindo que a militância devotada – presente em diversas experiências reformistas do cone sul – se transforme em “base de manobra” ou elemento de pressão e negociação para o aggiornamiento das burguesias latino-americanas. Os sonhos, as esperanças, os sofrimentos, os sacrifícios e toda a energia rebelde de nossos povos latino-americanos não podem seguir sendo expropriados. Nós merecemos algo mais que um miserável “capitalismo com rosto humano” e uma imunda modernização da dominação.



Outubro de 2006


 

 


(*) Nestor Kohan é docente e pesquisador da Universidad de Buenos Aires (UBA) e da Universidade Popular Madres de Plaza de Mayo (UPMPM). Autor de diversos livros, como El Capital: Historia y método; Che Guevara: el sujeto y el poder; Ernesto Che Guevara: Otro mundo es posible; Introducción al Pensamiento Marxista. Este artigo foi originalmente publicado em 28 de outubro de 2006, no sítio eletrônico ‘Rebelión’. Título original: “Crisis orgánica y revolución pasiva: el enemigo toma la iniciativa” A tradução para a língua portuguesa é de Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves, Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação stricto sensu em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – Brasil.


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NOTAS:

(1) José Carlos Mariátegui (1895-1930), fundador do comunismo peruano, é um dos mais importantes marxistas latino-americanos. Autor de numerosos escritos, e das obras “Defesa do marxismo” (1928-29) e “Sete ensaios de interpretação da realidade peruana” (1928). [Nota do Tradutor]

(2) Julio Antonio Mella (1903-1929), fundador do Partido Comunista Cubano, foi um dos primeiros comunistas da América Latina a analisar o domínio do imperialismo sobre os países do continente, e sua relação com as ditaduras. Redescoberto após a Revolução Cubana, é autor de “Hombres de la revolución”. [Nota do Tradutor]

(3) Luis Emilio Recabarren (1876-1924), participou no final de 1922 do IV Congresso da Internacional Comunista e do II Congresso da Internacional Sindical Vermelha. É autor de “La Rusia obrera y campesina”, onde critica o regime do Chile à luz do poder soviético. Em 1922, participou da transformação do Partido Obrero Socialista (POS) em Partido Comunista del Chile (PCCh). [Nota do Tradutor]

(4) Aníbal Ponce (1898-1935), marxista argentino, seguidor de José Ingenieros, é autor de diversos trabalhos, entre eles “Humanismo burgués y humanismo proletário” (1935). Ponce era professor de psicologia na Universidade de Buenos Aires, mas teve abandonar o cargo por pressão do governo argentino, que o acusava de fazer propaganda comunista contra o regime. [Nota do Tradutor]

(5) Aggiornamiento, do italiano, significa atualização, revisão, modernização; modificação, emenda, acréscimo; mas também adiamento e prorrogação. [Nota do Tradutor]

(6) Estes esquemas simplistas foram extraídos principalmente de: (a) os estudos de ordem filosófica da década de 1840, críticos da Filosofia do direito de Hegel, onde Marx reprovava a seu mestre por subordinar a sociedade civil ao Estado; e de (b) as análises sociológicas da década de 1850 onde Marx analisou a sociedade francesa e o fenômeno político bonapartista.

(7) Confira o inteligente estudo de Carlos Nelson Coutinho sobre Gramsci na América Latina e particularmente sobre a revolução passiva no Brasil: “As categorias de Gramsci e a realidade brasileira”, in COUTINHO, C. N. Gramsci. Um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. Também pode-se consultar com proveito os trabalhos de Florestan Fernandes sobre a revolução burguesa [A Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5ª ed. São Paulo: Globo, 2006], resumidos por Octávio Ianni: Florestan: sociologia crítica e militante. São Paulo, Expressão Popular, 2004. Juan Carlos Portantiero havia adiantado algumas inteligentes reflexões neste sentido em seu muito citado ensaio “Los usos de Gramsci” (1975) (Buenos Aires, Grijalbo, 1999), mas diferentemente dos autores anteriores, Portantiero terminou ilegitimamente convertendo Gramsci em um curinga social-democrata até limites inimagináveis.

(8) Haciendas, do espanhol, significa simplesmente “fazendas”. Mas o termo hacienda também remete ao caráter histórico da propriedade capitalista, significando fortuna, bens, capital . [Nota do Tradutor]

(9) Confira nosso trabalho “Los Verdugos latinoamericanos: Las Fuerzas Armadas de la contrainsurgencia a la globalización”, ensaio incorporado em nosso: Pensar a contramano. Las armas de la critica y la critica de las armas. Buenos Aires, Editorial Nuestra América, 2006.

(10) Llaneros, do espanhol, significa habitantes de planícies e, no sul do Brasil, são os gaúchos dos pampas. [Nota do Tradutor]

(11) Adotamos esta categoria de Mario Roberto Santucho: Poder burgués, poder revolucionário [1974]. Compilado por Daniel De Santis: A vencer o morir. PRT-ERP Documentos.Buenos Aires, EUDEBA, 1998 (tomo I) e 2000 (tomo II).

(12) Confira o testamento político de Che, quando afirma: “De outra parte, as burguesias autóctones tem perdido toda a sua capacidade de oposição ao imperialismo – se alguma vez a tiveram – e só formam seu vagão de reboque. Não há mais mudanças a fazer; ou revolução socialista ou caricatura de revolução”. “Mensagem aos povos do mundo através da Tricontinental” (diversas edições).

(13) Confira o capítulo “Expansão industrial, imperialismo e burguesia nacional “ do livro de Silvio Frondizi: La realidad Argentina. Ensayo de interpretación sociológica (em dois tomos, Tomo I: 1955 e Tomo II: 1956); Vítor Testa (pseudônimo de Milcíades Pena): “Industrialización, seudoindustrialización y dessarollo combinado”. In Fichas de investigación económica y social, ano I, nº I, abril de 1964. p.33-44. Este artigo foi compilado postumamente em Milcíades Pena: Industrialización y classes sociales en la Argentina. Buenos Aires, Hyspamérica, 1986. p 65 e ss.; e finalmente nosso ensaio: “?Foquismo?: A propósito de Mario Roberto Santucho e o pensamento político da tradição guevarista”. In Ernesto Che Guevara: el sujeto y el poder. Buenos Aires, Nuestra América, 2005.

(14) Os vendepatrias são conhecidos no Brasil como “entreguistas”. [Nota do Tradutor]

(15) Tratando de pensar a conformação social da dominação burguesa na Argentina e América Latina de uma maneira diferente (tanto frente ao reformismo stalinista como frente ao populismo nacionalista), o velho dirigente comunista Ernesto Giudici – que em 1973 propôs a herética unidade do comunismo com as organizações político-militares PRT-ERP e Montoneros – arriscou uma hipótese mais que sugestiva. Sempre há que pensar a história latino-americana, dizia ele, a partir de sua própria cronologia histórica, sem violentá-la no leito de Procusto de cronologias diversas. Feita esta condição, Giudici considerava pertinente uma analogia com as formações sociais européias; já não com a França – modelo d’O 18 brumário de Louis Bonaparte – nem com a Inglaterra – arquétipo empírico que está na base d’O Capital -, mas sim com o prussianismo alemão. A formação histórica do capitalismo na Argentina, por exemplo, se assemelhava muito mais a atrasada Prússia que as modernas França ou Inglaterra. Como na Prússia, a burguesia Argentina vivia fazendo pactos e compromissos com os latifundiários, utilizando o exército como força social privilegiada na política e reprimindo toda vida cultural autônoma. A hipótese análoga do “prussianismo” cumpria nos raciocínios de Giudici um papel muito mais abarcador que a “via prussiana na agricultutra” de que falava Lênin, por contraposição a modernização da agricultura capitalista dos farmers norte-americanos. Confira “Herejes y ortodoxos en el comunismo argentino”, em nosso De ingenieros al Che. Ensayos sobre el marxismo argentino y latinoamericano. Buenos Aires, Biblos, 2000 [há reedição cubana ampliada, 2006].

(16) É bem conhecida a análise do historiador britânico Perry Anderson (ninguém pode acusá-lo de provincianismo intelectual ou de chauvinismo latino-americano), sustentando que o primeiro experimento neoliberal a nível mundial foi, precisamente, o do Chile. Vários anos antes de Margaret Thatcher ou Ronald Regan. Nem por serem periféricas e dependentes, as burguesias latino-americanas caíram em um segundo plano na cena da dominação social. Inclusive em alguns momentos se adiantaram a seus sócios maiores, e inauguraram – com o punho sangrento de Pinochet na política e a mão nada “invisível” de Milton Friedman na economia -, um novo modelo de acumulação de capital de alcance mundial: o neoliberalismo.

(17) Recordemos que para Marx a república burguesa parlamentaria – que ele nunca considerou equivalente a “democracia” – constituía a forma mais eficaz de dominação política. Marx a considerava superior às ditaduras militares ou à monarquia porque na república parlamentaria a dominação é anônima, impessoal e termina fundindo os interesses segmentados dos diversos grupos e frações do capital, instaurando um meio da dominação geral da classes capitalista, enquanto na ditadura e na monarquia é sempre um setor burguês particular que detém o mando, tornando mais frágil, visível e vulnerável o exercício do poder político.

(18) O autor se refere aqui à obra de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, Il Gattopardo, conhecida pela seguinte afirmação: “é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma”. [Nota do Tradutor]

(19) Neste sentido seria conveniente não confundir as necessidades diplomáticas conjunturais de determinados Estados – aos que defendemos da agressividade imperialista e com os quais nos solidarizamos ativamente -, com as necessidades políticas do movimento popular em nossos países do cone sul latino-americano. Apesar de lutarmos pelos mesmo fins antiimperialistas e socialistas, nem sempre o que convém para os Estados amigos é o que convém para os movimentos sociais e populares de nossos países.

Reflexão sobre um exemplo histórico concreto: a Revolução Cubana sofre um embargo criminoso dos Estados Unidos desde ter desafiado o colosso do norte. Praticamente todos os estados do continente, seguindo a pressão ianque, romperam relações com Cuba no início dos anos 60. Um dos poucos que não o fez foi o México. Durante décadas, no México governava o PRI, partido burguês, corrupto e autoritário (surgido do congelamento da revolução mexicana). O PRI mantinha “para fora” uma política de não confrontação com Cuba, o que resulta muito útil diplomaticamente para frear os Estados Unidos. Internamente reprimia o movimento operário, comprava dirigentes, dividia as organizações populares, massacrava estudantes, fazia desaparecer indígenas, etc. Ao fim dos anos 60, surgem organizações guerrilheiras que são massacradas. Anos mais tarde, surge o EZLN contra o PRI. Cuba rompe amarras contra o Estado mexicano? Não, não o pode fazer. Necessita manter relações diplomáticas com o Estado mexicano para evitar o bloqueio ianque, o que resulta plenamente compreensível. Então? O que deve fazer o movimento popular no México? Apelar para a autoridade moral de Cuba para apoiar o PRI? A resposta negativa é mais do que óbvia (não obstante existiram correntes que assim o fizeram durante anos. A vertente de Lombardo Toledano – de nefasta memória – apoiava o PRI com retórica de “esquerda”, apoiava as repressões do governo como “progressistas”, incluído o massacre de Tlatelolco, etc, etc). Sobre estas dificuldades objetivas que o internacionalismo militante não pode desconhecer, confira nosso diálogo-entrevista (realizado junto com o companhiro Luciano Álzaga) ao presidente da Assembléia da República de Cuba Ricardo Alarcón. No portal La Haine e também em Rebelión.

(20) Mario Roberto Santucho (1936-1976), participou ativamente do movimento estudantil argentino nos anos 50 com o Movimiento Independiente de Ciencias Econômicas (MIECE), viajou pela América com sua esposa Ana Maria Vilarreal, esteve em Cuba quando foi anunciado o caráter socialista da Revolução (1961). Santucho, em sua intensa atividade revolucionária, entre outras coisas, organizou o FRIP (Frente Revolucionario Indoamericano Popular, organizado no Peru por Raúl Haya de la Torre) na província de Tucumán (norte da Argentina); foi um dos principais impulsionadores da unidade dos revolucionários do cone sul latino-americano, articulando a Junta de Coordinación Revolucionaria (JCR), que agrupou o MIR (Chile), os Tupamaros (Uruguai), o ELN (Bolívia) e o PRT (Argentina). A ditadura argentina assassinou Santucho em 1976, que, com outros quatro companheiros e companheiras, resistiram até onde puderam ao ataque militar e acabaram seqüestrados. [Nota do Tradutor]

(21) Juan Domingo Perón (1895-1974), foi presidente da Argentina entre 1946 e 1955, e entre 1973 e 1974. Durante o primeiro período ficou conhecido pelas nacionalizações de estradas de ferro, de companhias de gás, telefone e eletricidade; assim como também pelo fato dos trabalhadores terem conquistado direitos, como aposentadoria, férias remuneradas, e assistência médica. A partir de 1952, passa por um período de muitas reivindicações populares que enfraquecem seu governo, e em 1955 é deposto por militares e acaba exilando-se no Paraguai. Após viver na Espanha, volta à Argentina em 1973, quando em outubro, à frente do Partido Justicialista por ele fundado, é eleito presidente mais uma vez. Muito doente, acaba falecendo em julho de 1974. Sua esposa Maria Estela Martinez assume a presidência, mas acaba derrubada por golpe militar em 1976. [Nota do Tradutor]

(22) Apontando nesse sentido e nessa direção, queremos contribuir com um pequeníssimo grão de areia através de nosso Ernesto Che Guevara: El sujeto y el poder e com diversas experiências de formação política em várias cátedras Che Guevara, dentro e fora da universidade, tanto em movimentos de direitos humanos, no movimento estudantil como nas escolas do movimento piquetero.

(23) Ejercicio, do espanhol, significa exercício, função, atividade, mas também manobra militar. [Nota do Tradutor]

(24) José Francisco de San Martín y Matorras (1778-1850) lutou contra a colonização espanhola, participou ativamente nos processos de independência na Argentina, Chile e Peru. [Nota do Tradutor]

(25) José Gervasio Artigas (1764-1850) lutou pela independência da Argentina. [Nota do Tradutor]

(26) Simon Bolívar (1783-1830) lutou para libertar Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia e Peru; seu oficial Antonio José de Sucre (1795-1830) lutou ao seu lado combatendo os espanhóis, e liderou a libertação do Equador, e contribui decisivamente para libertar o Peru. [Nota do Tradutor]

(27) Manuel Javier Rodriguez Erdoíza (1785-1918) lutou pela independência do Chile. [Nota do Tradutor]

(28) Juana Azurduy (1780-1862) lutou pela independência da Bolívia. Há uma pequena biografia sua em linha [Nota do Tradutor].

(29) José Julian Martí Peréz (1853-1895), organizador do Partido Revolucionário Cubano (PRC), foi o grande mártir da Independência cubana. Cuba torna-se independente da Espanha em 1898, mas fica sob o jugo dos Estados Unidos, libertando-se deste na Revolução Cubana (1959). [Nota do Tradutor]

(30) Raúl Sendic (1926-1989), fundador do Movimiento de Libertación Nacional Tupamaros (MLN-T), foi advogado do Partido Socialista Uruguaio, organizou sindicatos de trabalhadores agrícolas no norte do país. As primeiras ações armadas dos Tupamaros ocorreram em 1963; entre 1965 e 1972 os “Tupas” desenvolvem-se bastante e ganharam simpatia especialmente entre os jovens pelas suas ações espetaculares: seqüestros de diplomatas, desapropriações bancárias, execução de torturadores, entre outras. A partir de 1972, os Tupamaros sofrem diversas cisões e são dizimados pela repressão. Os Tupamaros foram magistralmente retratados pelo cineasta Costa-Gavras, no filme État de siège (Estado de Sítio), de 1973. [Nota do Tradutor]

(31) Miguel Enriquez (1944-1974), foi secretário geral e principal teórico do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), que desenvolveu-se consideravelmente durante o governo de Salvador Allende, organizando o Movimento Camponês Revolucionário, O Movimento dos Favelados, a Frente dos Trabalhadores Revolucionários, etc. Depois de 11 de setembro de 1973, data do golpe de Estado no Chile, Enriquez organiza a resistência à ditadura de Pinochet; em 5 de outubro de 1974, morre sob o ataque das forças armadas chilenas. Assim como Che Guevara, Miguel Enriquez é símbolo da luta anticapitalista e antiimperialista. [Nota do Tradutor]

(32) Inti Paredo lutou junto com Che Guevara na campanha da Bolívia, conseguiu sobreviver. [Nota do Tradutor]

(33) Carlos Fonseca (1936-1976), inspirado pela Revolução Cubana, participou de ações armadas contra o regime de Somoza, na Nicarágua, tendo colaborado ativamente para a vitória da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), da qual era membro. [Nota do Tradutor]

(34) Carlos Marighella (1911-1969), militou por muitos anos no Partido Comunista Brasileiro (PCB), preso e torturado diversas vezes no regime de Getúlio Vargas (1930-1945). Após o golpe de Estado de 1964, Marighella não aceita a posição do PCB que não havia optado pela luta armada contra a ditadura, e pede seu desligamento em dezembro de 1966. Em 1967, paraticipou em Cuba da conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade-OLAS. No final de 1968, a ditadura passa a considerar Marighella como “inimigo público número um”. O revolucionário foi assassinado na noite de 4 de novembro de 1969. Marighella é autor de "Por que resisti à prisão" (1965), "A Crise Brasileira" (1966), “Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano” (1969), entre outros escritos. [Nota do Tradutor]